quinta-feira, janeiro 4

Rude Golpe



A publicação da portaria n.º 3-B/2207 (02.01.07) - regulamentação do processo de pagamento da comparticipação do Estado no PVP dos medicamentos dispensados a beneficiários do SNS (decreto-lei n.º 242-B/2006, de 29 de Dez) e da portaria n.º 1/2007, (02.01.07) - aprovação do Regulamento de Gestão do Fundo de Apoio ao Sistema de Pagamentos do SNS, vêm pôr fim à actividade de intermediário financeiro da ANF.
Vamos ver até que ponto, nos próximos tempos, esta medida afectará a fidelidade (união) dos associados da ANF.

16 Comments:

Blogger xavier said...

A Associação Nacional de Farmácias (ANF), presidida por João Cordeiro, está a ameaçar as farmácias com a possibilidade de o Governo deixar de cumprir, nos primeiros meses, os 30 dias previstos para o pagamento das comparticipações dos medicamentos, sem comissões de encargos. Por isso, escreveu às farmácias, em Dezembro, a pedir a “assinatura urgente” de um aditamento que autoriza a cedência dos créditos à Finafarma, uma sociedade de factoring criada pela ANF para efectuar os pagamentos.

Como contrapartida, a Associação Nacional de Farmácias “pretende pagar às farmácias em oito dias, para manter a quota de 1,5 por cento”, cobrada pela antecipação do pagamento em 22 dias. “É uma forma encapuzada de justificarem a manutenção da quota”, que, segundo Ferro Batista, “já não faz sentido”.

Confrontado com a forma como a ANF está a conduzir o caso, fonte do Ministério da Saúde disse que “estão criadas as condições para que as farmácias dispensem a intermediação financeira da ANF”, mas reconheceu que estas “são livres” de decidir como agir.

Já João Cordeiro, presidente da ANF, adiantou ao CM que vai reunir com as “farmácias na próxima semana” para explicar a situação e só depois fará declarações públicas
CM 03.01 07

Na minha opinião se o Fundo do SNS conseguir assegurar pontualmente os pagamentos (trinta dias) às farmácias (vai haver um período mais ou menos longo de teste), estas irão abandonar aos poucos a sua fidelidade à ANF.

É que quando toca a dinheiro (1,5% sobre o valor da facturação é muito dinheiro) ...

1:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Bom... como economista, tenho de fazer umas contas de "sumir": 1.5% por uma antecipação do recebimento em 22 dias equivale a uma "taxa de juro anual" de cerca de 28%.

Tenho ideia que muitos farmacêuticos nunca fizeram estas contas...

3:17 da tarde  
Blogger NM said...

Essas contas, caro rinoceronte, já todos os Farmacêuticos as fizeram, mas tb já fizeram contas muito mais dificeis de fazer, tais como contar tostões e vêr que não tinham dinheiro para pagar ordenados, pois o nosso querido estado não pagava à alguns meses as quantias devidas. Os Farmacêuticos tinham que ir de noite (felizmente não sou desse tempo) para a porta das ARS para tentar receber de manhã quando as portas abrissem. O estado não é nem nunca será "pessoa" de bem.

Quem nos garante que este ou outro MS não vai deixar de pagar ás Farmácias a qualquer altura?

Será que não é preferível pagar este 1,5% e ter a certeza que recebemos sempre a horas?

Não nos podemos esquecer que a ANF não é só cobrar 1,5%, também oferece aos associados inúmeros serviços de inquestionável interesse.

È legitimo questionar João Cordeiro, por algumas medidas que tem tomado, mas todos os proprietários de Farmácia devem muito à ANF e consequenemente a João Cordeiro.

As Farmácias são hoje o que são graças à ANF, é bom que os Farmacêuticos não se esqueçam disso, pois a debandada geral é o que o ministro quer. Se isso acontecer será o fim da ANF e das Farmácias, tal como as conhecemos até aqui.

4:01 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O poder de lobby da ANF está apenas relacionado com a pretensa (mas nunca demonstrada) capacidade desta associação inibir a abertura de novas farmácias. CC surge como o MS que mais enfrentou a ANF. Mas não abriu uma única farmácia. Com muito menos show-off, Manuela Arcanjo abriu mais de 200 farmácias...

5:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Já agora, caro Rinoceronte, uma achega a esse seu cálculo: se as farmácias recorressem ao factoring para receber pagamentos em atraso do Estado, tendo em conta as taxas actualmente em vigor, ao fim de cerca de 7 meses ficaria mais barato o recurso à ANF! É que os 1,5% só se pagam uma vez e os juros do factoring surgem todos os meses...!
É precisamente o péssimo comportamento do Estado enquanto pagador que dá o poder à ANF: é completamente impossível saber se os 1,5% serão utilizados para uma antecipação de 22 dias, 22 meses ou mais (várias vezes o Estado excedeu 2 anos de atraso na dívida)... e bem tolos serão os que para poupar uns tostões no imediato estão a arriscar milhões a longo prazo!

5:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro nm: garanto-lhe que, profissionalmente, já ajudei alguns farmacêuticos a fazer estas contas (e que eles nunca as haviam equacionado).

Quanto aos "inúmeros serviços de inquestionável interesse", penso que são prestados no âmbito da "quota fixa", mas peço o favor de me corrigir se eu estiver enganado.

Se admitirmos que aquilo a que se chama quota variável é apenas um produto financeiro (e de cobertura de risco de crédito sobre o Estado, como muito bem chama a atenção), penso que existem no mercado soluções bem mais baratas. Note que aquilo que a ANF propõe não é mais do que uma antecipação do pagamento a que se adiciona um seguro de crédito.

Como o post de xavier refere, a Finafarma é uma sociedade de factoring. Existem muitas outras empresas deste tipo, atentas a este mercado.

Apesar do que acabei de escrever, admito (e percebo) perfeitamente que haja factores de natureza subjectiva e corporativa (sem sentido pejorativo), associados ao papel histórico desempenhado pela ANF, que levem muitos farmacêuticos a continuar "fiéis" à Associação. Julgo que é incontestável a qualidade do serviço que a Associação tem prestado às farmácias. Eu só coloquei em causa o respectivo custo.

5:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Guidobaldo:

Num blogue desta natureza e sobre este tema, só posso ter a pretensão de dar algum contributo de natureza técnica (do ponto de vista financeiro), para um "farmacêutico de oficina" ponderar esta visão com todos os outros factores que considere relevantes para as suas "decisões de gestão".

6:01 da tarde  
Blogger JFP said...

Xavier... digo-lhe apenas que usar a palavra "ameaçar" poderá não ser a forma mais correcta de ser imparcial. Pode sempre em alternativa assumir a sua posição...

Quanto ao valor da quota variável. Parece-me que estão todos muito preocupados com a quantia, mas esquecem-se que falamos de uma associação privada de admissão facultativa. Não estamos a falar de um Ordem ou instituição semelhante. Só está quem quer. Podemos também referir que o apoio prestado ao associado é de tal forma competente e alargado que há quem diga que até daria mais. Bem sei que são poucos. Mais: uma quota variável é a melhor forma de tornar a contribuição de cada farmácia equatitativa. Quem mais ganha mais paga e todos recebem o mesmo.

Quanto à questão das contas: há de facto farmacêuticos que não as fazem, ou porque não querem, ou porque não sabem. Mas, como todos sabemos, quem tem unhas toca guitarras.

Por último de referir o que se passou na Madeira. O Governo Regonal da Madeira esteve alguns anos sem pagar às farmácias as compraticipações dos medicamentos (louco o Alberto João) e, tomem nota, não faltou um único medicamento à população madeirense. Ahhh... malvada ANF... então aguentaste o barco da Madeira e não disseste nada... não capitalizaste o sucedido... E esta hein...

Um abraço a todos e em especial ao rinoceronte pela sua amabilidade.

7:07 da tarde  
Blogger Peliteiro said...

Olhe que não Xavier, olhe que não abandonarão a "fidelidade" à ANF.
Por três razões fundamentais:
1- A renda dos 1,5% paga muito mais que o adiantamento da massa.
2- Só quem for parvo é que acredita no Estado-bom pagador.
3- Last but not least, quem sair perde o quinhão do património da Associação.

Assim, como eu já disse várias vezes, Correia de Campos perde sempre, 15 a 0, 15 a 0...

12:56 da manhã  
Blogger xavier said...

Caro JFP.
Não fui eu que utilizei o termo "ameaçar" mas sim o Correio da Manhã, donde transcrevi o texto:
«A Associação Nacional de Farmácias (ANF), presidida por João Cordeiro, está a ameaçar as farmácias»...

Quanto a esta matéria, o que há a questionar daqui para a frente, é a situação dos outros fornecedores (credores) do Estado, cujos pagamentos não são efectuados a 30 dias nem garantidos por fundos especiais.

1:10 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

A questão é exactamente essa Xavier! CC criou um fundo especial para pagar a um sector cujos prestadores encontraram uma solução para sobreviver ao Estado-caloteiro, cobrando ao Estado apenas os mesmos juros cobrados pela banca (e não os muito mais elevados juros legais, como teriam direito).
Ou seja, não me parece que esteja ainda demonstrado que o Estado possa poupar dinheiro com a criação deste novo fundo.
A criação deste fundo é uma decisão unicamente política, que cria desigualdades no tratamento aos fornecedores do Estado, que não era necessária, que dificilmente terá efeitos práticos significativos e que até poderá sair mais cara que o sistema anteriormente em vigor!
Poderá ser causa de perplexidade o facto dos farmacêuticos alinharem nos 1,5% e acredito que isso seja especialmente difícil de compreender para o Rinoceronte ou para os economistas em geral. No entanto, há vários outros factores em jogo, para além dos financeiros (em que mesmo assim a ANF sai mais barata quando a dívida excede 7 meses): a forte capacidade negocial da ANF cria importantes economias de escala para as farmácias (em comunicações e diversos outros serviços) e o preciosíssimo apoio técnico, científico e de gestão em múltiplas áreas. Além disso, todo o espírito de ajuda mútua e apoio constante da ANF aos associados cria um clima de grande segurança e tranquilidade, que como sabemos, são importantíssimos para qualquer negócio.
Ou seja, na minha opinião, 1,5% é um preço perfeitamente justo para todos os serviços que a ANF disponibiliza. Se eu fosse proprietário de uma farmácia, obviamente seria associado da ANF.
No entanto, como muito bem o Guidobaldo alerta, o Estado não ganha ou perde nada com o facto dos proprietários de farmácias optarem entre gastar parte do seu dinheiro com a ANF, em Ferraris ou em colares de pérolas... para quê esta preocupação e este fervor legislativo sem quaisquer resultados práticos? Para quê passar pela humilhação de ver a ANF ganhar todas estas pequenas batalhas?
Só o populismo justifica todo este desperdício de energia governativa!

10:09 da manhã  
Blogger xavier said...

Caro MS Peliteiro,
Sobre esta mátéria penso que foi a estocada final.
Penso que os associados da ANF não são obrigados a pagar os 1,5%, não beneficiando, neste caso, como é evidente, do sistema de adiantamentos da ANF, mas mantendo os restantes direitos.

Vladimiro Jorge Silva,
Compreendo os seus argumentos.
Como o Estado se atrasava a pagar as comparticipações às farmácias, a ANF resolveu o problema passando a servir de intermediária entre o Estado e as farmácias.

Agora, "injustamente", CC decidiu por termo a esta ligação passando as ARS daqui em diante a pagar dirctamente às farmácias.

É evidente que a actuação neste domínio foi essencialmente política mas legítima.
Abundam exemplos de casos em que os Estados democráticos sentiram necessidade de intervir para controlar o "poder excessivo" de entidades que de certa forma passaram a interfer com o exercício normal do poder político.

Vendo o lado positivo. Talvez seja o início de um processo, que é necessário desenvolver, que leve o Estado a deixar de ser caloteiro, condição essencial para tornar a nossa economia competitiva.

Nas dívidas do Estado e das autarquias, predomina o pagamento a mais de 120 dias. As empresas privadas nacionais pagam num prazo entre 60 a 90 dias e as estrangeiras num prazo inferior (entre 30 e 60 dias),

Se o MS conseguir cumprir o que se propõe e começar a pagar no prazo de trinta dias às farmácias, talvez o exemplo passe a ser seguido por outros sectores de actividade do Estado e, assim, por diante, estimulando também as empresas privadas a pagar a trinta dias.
Um abraço

12:03 da manhã  
Blogger Peliteiro said...

Xavier, estocada final? Olhe que não, olhe que não...

Eu aposto na ANF. Quer arriscar um jantar no "A ver navios"?

Um abraço.

3:40 da tarde  
Blogger JFP said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

7:53 da tarde  
Blogger JFP said...

Finalmente...

Caro xavier o lema de uma conhecida marca de automóveis fica-lhe a matar.

"Un constructeur sort ses griffes."

7:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A questão é que neste momento a ANF já não precisa que o Estado seja caloteiro para justificar a sua existência...
Além disso, os farmacêuticos são como S.Tomé: ver para crer. É que os governos e os ministros vão e vêm, aparecem e desaparecem. Mas as contas para pagar no final do mês aparecem sempre no mesmo dia... seria um acto de gestão profundamente temerário confiar no governo nesta fase. Até porque ficou recentemente demonstrado que não há nada que dê mais popularidade do que chatear os farmacêuticos. E de 4 em 4 anos há eleições...

10:44 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home