Dar a Cara
José Sócrates vai estar hoje na apresentação dos resultados da operação de desentupimento dos tribunais lançada pelo Governo em 2006. link
São bons resultados, por isso Sócrates vai aparecer, colando-se à reforma lançada pelo Ministério da Justiça. Fossem as notícias más, Sócrates não seria tão disponível. Há quem chame bom senso político a este sentido de oportunidade. Talvez seja verdade.
Talvez o instinto de sobrevivência seja uma característica fundamental num chefe de governo. Santana Lopes era o oposto. Santana padecia de um genuíno instinto suicida. Corria para a má publicidade como os maus avançados se precipitam para a baliza: sempre em fora-de-jogo. Há, no entanto, outra maneira de olhar para a agenda do primeiro-ministro. As más notícias ficam quase sempre para os outros. As boas são capitalizadas por ele com atraentes cenários em pano de fundo.
Este fim-de-semana houve um bom exemplo desta gestão. Atacado pelos autarcas por causa das urgências, Correia de Campos passou sábado e domingo em negociações para sair do saco de gatos em que se enfiou por inabilidade política. Na mesma altura, publicaram-se informações sobre a decisão de Sócrates chamar a si a gestão do dossiê. Verdadeiro? Falso? Não se sabe. O primeiro-ministro ainda não falou sobre o assunto central das últimas semanas. Apesar de Correia de Campos ser dos melhores ministros da Saúde dos últimos anos, apesar de estar disposto a abrir guerras em todas as frentes para controlar um monstro de mil caras e corporações, o primeiro-ministro não lhe deu, agora, um inequívoco sinal de confiança. Pelo contrário, ao saber-se que pretende gerir pessoalmente o processo de encerramento das urgências deixa subentender que Correia de Campos falhou.
É verdade. Correia de Campos geriu mal o processo. Se estava disposto a negociar, não deveria ter libertado o estudo que recomendava o encerramento de 15 urgências. Como é óbvio, lançou o pânico. Deixou que os autarcas ficassem reféns da histeria popular. É natural: toda a gente quer ter um hospital, uma escola, uma esquadra de polícia, uma auto-estrada grátis e os melhores serviços do mundo ao pé de casa. Naturalmente, esse delírio não é viável. Nem sequer é aconselhável. Racionalizar os meios públicos não é o mesmo que racioná-los. O fecho de urgências e maternidades, a concentração de especialidades médicas em certos hospitais (nos melhores, em vez de todos fazerem o mesmo sem critério) e o controlo das despesas com medicamentos podem, afinal, ser boas escolhas. A ideia é gastar menos e melhor. Mas tudo isto tem de ser bem justificado. Correia de Campos é um bom decisor e um mau explicador. Sócrates deveria ajudá-lo, não afundá-lo. É isso que se espera do primeiro-ministro: que apareça nos momentos difíceis, não apenas nos sorridentes. Assim, fica mal na foto. O que não seria sequer inteiramente justo para Sócrates.
André Macedo, DE 26.02.07
São bons resultados, por isso Sócrates vai aparecer, colando-se à reforma lançada pelo Ministério da Justiça. Fossem as notícias más, Sócrates não seria tão disponível. Há quem chame bom senso político a este sentido de oportunidade. Talvez seja verdade.
Talvez o instinto de sobrevivência seja uma característica fundamental num chefe de governo. Santana Lopes era o oposto. Santana padecia de um genuíno instinto suicida. Corria para a má publicidade como os maus avançados se precipitam para a baliza: sempre em fora-de-jogo. Há, no entanto, outra maneira de olhar para a agenda do primeiro-ministro. As más notícias ficam quase sempre para os outros. As boas são capitalizadas por ele com atraentes cenários em pano de fundo.
Este fim-de-semana houve um bom exemplo desta gestão. Atacado pelos autarcas por causa das urgências, Correia de Campos passou sábado e domingo em negociações para sair do saco de gatos em que se enfiou por inabilidade política. Na mesma altura, publicaram-se informações sobre a decisão de Sócrates chamar a si a gestão do dossiê. Verdadeiro? Falso? Não se sabe. O primeiro-ministro ainda não falou sobre o assunto central das últimas semanas. Apesar de Correia de Campos ser dos melhores ministros da Saúde dos últimos anos, apesar de estar disposto a abrir guerras em todas as frentes para controlar um monstro de mil caras e corporações, o primeiro-ministro não lhe deu, agora, um inequívoco sinal de confiança. Pelo contrário, ao saber-se que pretende gerir pessoalmente o processo de encerramento das urgências deixa subentender que Correia de Campos falhou.
É verdade. Correia de Campos geriu mal o processo. Se estava disposto a negociar, não deveria ter libertado o estudo que recomendava o encerramento de 15 urgências. Como é óbvio, lançou o pânico. Deixou que os autarcas ficassem reféns da histeria popular. É natural: toda a gente quer ter um hospital, uma escola, uma esquadra de polícia, uma auto-estrada grátis e os melhores serviços do mundo ao pé de casa. Naturalmente, esse delírio não é viável. Nem sequer é aconselhável. Racionalizar os meios públicos não é o mesmo que racioná-los. O fecho de urgências e maternidades, a concentração de especialidades médicas em certos hospitais (nos melhores, em vez de todos fazerem o mesmo sem critério) e o controlo das despesas com medicamentos podem, afinal, ser boas escolhas. A ideia é gastar menos e melhor. Mas tudo isto tem de ser bem justificado. Correia de Campos é um bom decisor e um mau explicador. Sócrates deveria ajudá-lo, não afundá-lo. É isso que se espera do primeiro-ministro: que apareça nos momentos difíceis, não apenas nos sorridentes. Assim, fica mal na foto. O que não seria sequer inteiramente justo para Sócrates.
André Macedo, DE 26.02.07
7 Comments:
A mim nunca me passaria pela cabeça, alguma vez, comprar um carro usado a José Sócrates.
Temos que começar a debater mais a actuação de JS aqui na SaudeSA.
BOlllllaaaaaaaaaaaaaaaaassssssssssssss!!!
Finalmente alguém chegou ao ponto!!!
Estava a ver que não!
Será isto frieza de político vencedor?
Neste ponto JS tem muito a aprender com o José Mourinho.
Tirando os jogadores que entram em rota de colisão, JM protege, estimula e defende os elementos da sua equipa.
Será que este comportamento de JS é indicativo de ruptura insanável com CC?
Não contem connosco, todavia, para o conservadorismo amolecido de modelos ultrapassados, dispendiosos, inseguros para o cidadão e sobretudo enganadores na falsa disponibilidade. Um modelo de especialidade e urgências ao pé da porta de cada um, simplesmente não existe. Propô-lo seria irresponsável, perpetuá-lo será hipotecar o futuro. Nada mudar, seria uma covardia que os nossos Cidadãos não tolerariam, quando se apercebessem da dimensão do logro. LINK
Cerimónia assinatura dos Protocolos com os municípios
Ontem, no debate havido na RTP 1 (prós e contra), avançou-se muito no esclarecimento público da questão da re-estruturação das urgências.
Ontem, levantaram-se questões prementes e oportunas sobre os cuidados primários de saúde, a estruturação da urgência pré-hospitalar e a futura rede de referenciação.
Ontem, transmitiu-se ao País, uma imagem de responsabilidade política, a par da competência técnica de todos intervenientes do debate (a começar pelos membros da Comissão Técnica);
Ontem, os autarcas tiveram a oportunidade de apresentar questões, problemas, anseios e receios, mostrando um elevado grau de civismo;
Ontem, o Ministro da Saúde foi didáctico e teve uma boa prestação política. Deu a cara ao manifesto e mostrou que foi capaz de aprender com a "crise" que, em última análise, criou.
Finalmente, ontem, o programa foi para o ar tarde e a más horas...
No Prós e Contras desta noite Correia de Campos beneficiou da melhor sessão de esclarecimento que poderia ter a favor da sua reforma das urgências. A presença dos dois representantes da comissão técnica foi essencial para mostrar os enormes benefícios da reforma e a falta de fundamento da sua contestação.
A estratégia ministerial de oferecer compensações a quem perde os SAP sem ser contemplado com uma urgência básica é francamente bem sucedida, como ficou patente pelos testemunhos de alguns presidentes de câmara municipal. Para os recalcitrantes ficou a alternativa: ou entram em negociações e obtêm alguma contrapartida, ou prosseguem a contestação e ficam sem nada...
Vital Moreira - Causa Nossa
Valeu a pena ter perdido (ganho) três horas a ver o «prós e contras». Tratou-se de verdadeiro serviço público pelo esclarecimento, pela informação transmitida e pelo debate de ideias que proporcionou.
Os dois elementos da Comissão (Drs. José M. Almeida e Luís Campos) brilharam pelo conhecimento técnico e serenidade (sábia) dos esclarecimentos que prestaram. Todos ficamos a saber que o relatório foi elaborado gratuitamente como o serão as duas partes subsequentes que o irão complementar: Definição da Rede de Referenciação (hierarquia, fluxos); Organização interna dos SU e do fluxo interno de doentes.
Concordo com o É-pá: «avançou-se muito no esclarecimento público da reestrutruração das urgências e levantaram-se questões prementes». Todas tiveram resposta, baseada em elementos técnicos e em informação quantitativa, não apenas em conversa.
Saíram menos bem os 2 médicos «opositores», como foram chamados, que se apresentaram com um discurso:
a) Muito corporativo, reindivicando mais pontos de urgência e mais lugares para médicos;
b) Algo demagógico/irresponsável: manter todos os SAP actuais, «urgências em ruptura», «nós internistas é que somos responsáveis pelo 12º lugar atribuído pela OMS ao SNS», insistência na regulamentação da "consulta alargada" mas nada dizer quanto aos SAP actuais, etc.
JMS após reconhecer que o artigo que escreveu no Público sobre a «urgência caótica dos HUC» se referia a um dia apenas (!!) disparou numa fúria leonina, não do clube que esse anda de juba caída, mas de membro da OM e campeão da reinvindicação (tudo para todos). Porém foi obtendo respostas técnicas e foi esmorecendo até que um médico de Valença, opositor da reestruturação, o pôs KO. Esse clínico defendeu a seguinte tese: o problema não é ter 1 ou 2 médicos à noite nos SAP da província/«mundo rural» mas muitos médicos em Lisboa, Porto e Coimbra. Deu como exemplo «a cidade de JMS onde há 100 médicos á noite para 35 doentes!».
JMS não mais abriu a boca (note-se que a sua intervenção inicial foi a reinvidicar a abertura de mais SAP para evitar a ruptura da urgência em Coimbra!).
O MS esclareceu depois que na maioria das zonas rurais não havia falta de médicos de família (há 1 médico para 1300 ou 1400 pessoas) mas sim nalgumas cidades (deu o exemplo de Setúbal) e reconheceu que seria difícil fechar um dos 2 hospitais de Coimbra (nada disse quanto à possibilidade de articulação dos hospitais para disponibilizarem uma urgência apenas).
Comprovou-se a boa vontade dos autarcas mas também a sua ignorância do que estava em causa e dos efeitos da solução proposta. A culpa não é deles com certeza, mas o que é essencial é que todos ficaram (ficámos) esclarecidos.
O único ponto negativo foi a hora em que o programa foi para o ar («...tarde e a más horas», como refere o E-PÁ).
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