Entrevista de MD à MIH
Manuel Delgado, presidente da APAH, tem sido, quanto a mim, a surpresa mais positiva do processo de reforma em curso, confirmando nesta entrevista à revista Medicina Interna, uma vez mais, a evolução, maturidade e independência crescente do seu pensamento sobre os problemas da saúde.link
MI: Como vê o trabalho da comissão que está a estudar a reestruturação das urgências hospitalares?
MD: É uma boa iniciativa ter-se criado esta comissão para estudar as urgências, até porque tudo o que tenha na base um estudo e uma visão minimamente objectiva e assente em critérios técnicos é sempre bom, para termos uma decisão política em função das circunstâncias e dos pequenos interesses, lobbies ou conveniência político-partidária.
Não concordo que se atribua à urgência a importância que se lhe dá no sistema, mas em Portugal temos um vício de forma, atribuindo importância às urgências porque as temos cheias, não de casos urgentes, mas de casos que deviam ter outra sede. E daí temos problemas.
As urgências não são o ponto essencial de um sistema de saúde. Pelo contrário. Nos sistemas mais organizados a urgência é uma questão marginal. Só lá vai quem tem um problema grave ou súbito.
MI: O que é que explica tanta procura das urgências?
MD: A Medicina Geral e Familiar muito fraca, que não dá apoio às pessoas, as portas de entrada nas consultas hospitalares muito deficientes, com marcações tardias, as listas de espera enormes, os tempos de espera por consultas, com as pessoas a interiorizarem que na urgência vão sempre ser observadas, que dali saem com qualquer coisa.
MI: Que reflexões faz do trabalho já apresentado pela comissão?
MD: O grupo de trabalho apresentou o seu relatório e, no essencial, reconheço-lhe algumas virtudes, no essencial ao arrunmar a casa em termos de níveis de urgência, básica, polivalente e intermédia.
O relatório tem algumas falhas em termos de análise, por um lado no saber o que acontece às populações que vão perder a urgência, para onde é que elas vão, e, por outro lado, não estuda em profundidade, porque, se calhar, não era essa a sua missão, o problema do socorro no momento do acontecimento, e o transporte, que são duas questões essenciais em urgências.
No essencial o trabalho tem aspectos muito positivos, define pontos de abertura e de fecho, aumentou até o número de urgências, fechou algumas em locais complicados, como na zona centro litoral do País, o que pode provocar um afluxo concentrado a alguns sítios, o que não foi estudado.
MI: E em relação à contestação que tem sido feita, que comentários faz?
MD: A contestação é natural, mas há uma regra que todos temos de assumir. Os recursos não podem estar à porta de cada um e de todos. Não é possível, nem é desejável, porque não há dinheiro e porque em profissões tão melindrosas como a Medicina ou a enfermagem exige-se muita experiência e conhecimento, e se nós dispersamos tudo por pequenas experiências, depois o pessoal técnico não tem competência.
Por estas razões, é óbvio que temos que concentrar recursos, devemos ter cartas hospitalares que definam com rigor onde fica o quê. Infelizmente, em Portugal somos permissivos nisto, e é chocante ver um país aflito sem dinheiro para a Saúde, dispersá-lo.
Se uma população concreta está mais distante dos recursos, se isso acontece devemos compensar essa população em termos de transporte. Para além disso, as populações mais afastadas dos centros tecnológicos, devem ter um reforço de competências ao nível da medicina básica, de proximidade, em serviços comunitários.
Hoje é mais fácil e mais legítimo concentrar meios e recursos do que era há 50 anos e colocar junto das populações a medicina familiar.
O médico de família não pode viver a 100 quilómetros da população, e isso tem que ser corrigido. Temos de criar condições que obriguem os profissionais a viver junto das populações. Há países onde a medicina familiar obriga a viver junto das populações .
MI: Como vê o trabalho da comissão que está a estudar a reestruturação das urgências hospitalares?
MD: É uma boa iniciativa ter-se criado esta comissão para estudar as urgências, até porque tudo o que tenha na base um estudo e uma visão minimamente objectiva e assente em critérios técnicos é sempre bom, para termos uma decisão política em função das circunstâncias e dos pequenos interesses, lobbies ou conveniência político-partidária.
Não concordo que se atribua à urgência a importância que se lhe dá no sistema, mas em Portugal temos um vício de forma, atribuindo importância às urgências porque as temos cheias, não de casos urgentes, mas de casos que deviam ter outra sede. E daí temos problemas.
As urgências não são o ponto essencial de um sistema de saúde. Pelo contrário. Nos sistemas mais organizados a urgência é uma questão marginal. Só lá vai quem tem um problema grave ou súbito.
MI: O que é que explica tanta procura das urgências?
MD: A Medicina Geral e Familiar muito fraca, que não dá apoio às pessoas, as portas de entrada nas consultas hospitalares muito deficientes, com marcações tardias, as listas de espera enormes, os tempos de espera por consultas, com as pessoas a interiorizarem que na urgência vão sempre ser observadas, que dali saem com qualquer coisa.
MI: Que reflexões faz do trabalho já apresentado pela comissão?
MD: O grupo de trabalho apresentou o seu relatório e, no essencial, reconheço-lhe algumas virtudes, no essencial ao arrunmar a casa em termos de níveis de urgência, básica, polivalente e intermédia.
O relatório tem algumas falhas em termos de análise, por um lado no saber o que acontece às populações que vão perder a urgência, para onde é que elas vão, e, por outro lado, não estuda em profundidade, porque, se calhar, não era essa a sua missão, o problema do socorro no momento do acontecimento, e o transporte, que são duas questões essenciais em urgências.
No essencial o trabalho tem aspectos muito positivos, define pontos de abertura e de fecho, aumentou até o número de urgências, fechou algumas em locais complicados, como na zona centro litoral do País, o que pode provocar um afluxo concentrado a alguns sítios, o que não foi estudado.
MI: E em relação à contestação que tem sido feita, que comentários faz?
MD: A contestação é natural, mas há uma regra que todos temos de assumir. Os recursos não podem estar à porta de cada um e de todos. Não é possível, nem é desejável, porque não há dinheiro e porque em profissões tão melindrosas como a Medicina ou a enfermagem exige-se muita experiência e conhecimento, e se nós dispersamos tudo por pequenas experiências, depois o pessoal técnico não tem competência.
Por estas razões, é óbvio que temos que concentrar recursos, devemos ter cartas hospitalares que definam com rigor onde fica o quê. Infelizmente, em Portugal somos permissivos nisto, e é chocante ver um país aflito sem dinheiro para a Saúde, dispersá-lo.
Se uma população concreta está mais distante dos recursos, se isso acontece devemos compensar essa população em termos de transporte. Para além disso, as populações mais afastadas dos centros tecnológicos, devem ter um reforço de competências ao nível da medicina básica, de proximidade, em serviços comunitários.
Hoje é mais fácil e mais legítimo concentrar meios e recursos do que era há 50 anos e colocar junto das populações a medicina familiar.
O médico de família não pode viver a 100 quilómetros da população, e isso tem que ser corrigido. Temos de criar condições que obriguem os profissionais a viver junto das populações. Há países onde a medicina familiar obriga a viver junto das populações .
Entrevista de Manuel Delgado, presidente da APAH, revista Medicina Interna, Hoje, n.º 3, Janeiro 2007
12 Comments:
O socorro no momento do acontecimento, e o transporte, duas questões essenciais em urgências.
O ministro da saúde devia ter referido na sua comunicação que vai completar o estudo com a avaliação dos meios de socorro e trnsporte. Como aliás fez em relação a Odemira.
Mas a pressa de fechar é tanta...
Faça-se um pequeno exercício: recuemos a 2004 e façam-se as mesmas perguntas a MD.
Quais seriam as suas respostas?
MD, nesta entrevista, assume mais uma vez, e talvez de forma mais clara, o papel de "A VOZ DO DONO".
O que não surpreende. Ele é, afinal, um dos Boys de CC e só pontualmente e porque crê que assim se torna credível, finge destoar das posições do Governo.
Voltando à carga...
Que eu tenha lido ou ouvido, não conheço uma só palavra de crítica aos HH EPE's com MD como emissor.
Ora, tendo presente que entre um modelo SA e um modelo EPE as diferenças ou não existem ou são pouco acentuadas, que terá passado pelo "cabeça" de MD que nunca encontrou motivos para criticar os EPE's, ao contrário do que fez no passado (com os HH SA's).
Um exemplo: lembremos as críticas recorrentes às "benesses" dos gestores dos SA's feitas pelo presidente da APAH.
As coisas são hoje diferentes? Em quê de significativo?
Tendo sido alargado o leque de viaturas de uso pessoal aos Directores Clínicos e Enfermeiros Directores porque razão MD não disse uma palavra?
Até podia apoiar a decisão de CC (sim de CC, que também achava isso uma benesse) mas de quem considerava a "viatura de uso pessoal" como uma benesse, seria de esperar que, agora como Gestor do HPV, acabasse com essa benesse!
Na verdade BEM PREGA FREI TOMÁS...
Cá estámais um exemplo de catavento e de verdadeiro jogo de cintura.
Então não é que agora MD concorda com CC e até faz o favor de explicar de forma clara e politicamente correcta que as alterações nas urgências são um mal necessário?
CC que se cuide pois os seus herdeiros já se perfilam e vão marcando presnça para que o PM se lembre deles no sentido de mudar a mosca mas continuar tudo na mesma....
O que esta entrevista demonstra é que Manuel Delgado, embora companheiro de route de CC, leal a CC, sabe pensar com a sua cabeça.
Não é um verbo de encher.
Depois não podemos censurar ao MD ter um discurso político escorreito. E, isto só abona a favor do preidente da APAH.
A lealdade a CC não o obriga a copiar os defeitos do grande chefe.
Era o que faltava.
O ressabiamento do tonitosa em relação a MD, nós sabemos donde vem.
Após a apresentação com pompa e circunstância dos dados dos HH SA, Manuel Delgado proferiu alto e bom som para quem o quis ouvir:
Estão TODOS ALDRABADOS!
E, estavam mesmo!
Saudepe,
Toquei-lhe na ferida! Está visto.
Olhe, é a vida!
Quem continua ressabiado é você, porque não podendo encontrar fundamentos para refutar o meu comentário, resolveu ir mexer em algo que já aconteceu há mais de dois anos. E ainda por cima, também nessa matéria, sem fudamentação.
Leia o relatório do IGIF/Hospitaisepe sobre as contas de 2004 e 2005. Veja as Contas dos hospitais. E como certamente percebe algo de Contabilidade (se não perceber então nada feito) verá onde estão as contas "aldrabadas". Eu, apesar de tudo sou mais benevolente com os seus "camaradas" gestores dos EPE's e apenas lhes atribuo as qualidades de "contabilidade criativa". Não fora isso, meu caro, e 2005 seria o descalabro!
Retirem-se os aumentos dos Subsídios à Exploração (uma espécie de saco azul) e veremos para onde vão os resultados de exercício da generalidade dos HH EPE's. E o que se verifica em Proveitos e Custos Extraordinários é certamente um hino à criatividade contabilística.
E já agora, se puder, dê uma espreitadela às contas do Hospital dirigido pelo (seu amigo) MD. Podendo chegar a conclusões idênticas em relação aos outros...quase todos os outros.
Saudepe,
Recordo-lhe que uma das grandes questões levantadas pelo MS/CC, na AR, no início de 2005, tinha a ver com a criatividade contabilística para esconder Custos com Pessoal na Conta de FSE's. E fê-lo apresentando o exemplo de um hospital onde tal afirmação era claramente falsa (digo eu).
Pois bem, verifique-se o que se passou em 2005 em Custos com Pessoal e FSE's. Será que o senhor Ministro da Saúde ou os seus colaboradores já tiveram tempo para olhar para as contas dos HH EPE's e em particular no que se refere àqueles custos?
Se o fizeram, a que se deve o seu silêncio?
E MD que dirá das Contas do seu próprio hospital?
Estes são os factos. E, Saudepe, contra factos...não há mesmo argumentos.
Tonitosa no seu habitual estilo rancoroso, nostálgico dos tempos gloriosos dos HHs SA, voltou a delirar.
Esqueceu-se de referir, por exemplo, que este Governo iniciou funções em Abril 2005 e que a preparação/programação da actividade deste ano pertenceu ao anterior Governo.
Mesmo assim, globalmente, os resultados dos HHs mantiveram-se dentro dos parâmetros previstos.
E que dizer de 2006 em que pela primeira vez o orçamento da saúde, ao fim de largos anos, foi cumprido.
Gostava que o Tonitosa demonstrasse aqui na SaudeSA, em relação ao exercício de 2005 do hospital Pulido Valente, aonde é que estão os dados de contabilidade criativa?
O tonitosa é useiro e veseiro em lançar atoardas sobre a actual gestão, não apresentando, no entanto,nunca quaisquer dados que comprovem as suas afirmações.
Ainda recentemente, referiu que no Hospital de Santa Maria se fazia contabilidade criativa. Comprove, se é capaz o que afirma. Os colaboradores e leitores da saudesa ficar-lhe-ão eternamente gratos.
Manuel Delgado faz parte de um lote de AH, dos melhores que a ENSP produziu, que têm por cunho o o conhecimento profundo da área da saúde e o sentido do dever de verdadeiros servidores públicos como o professor Mantas, Vasco Reis, Fernanda Dias, Francisco Ramos.
O presidente da APAH tem sabido estar neste dificil processo à altura dos acontecimentos, actuando com raro sentido político de forma a prestigiar a classe dos AH.
Se bem estão recordados mesmo aqui na saudesa, MD não foi poupado, reagindo sempre de forma acertada com inteligência e moderação.
O Tonitosa está a fazer os "power point" para nos dar uma lição sobre a contabilidade criativa dos HHs EPE.
Se ousar, vai ter o LFP à perna, orgulhoso da contabilidade SA.
Ah, velhos tempos ...
O que nós, nos divertíamos !
Então Tonitosa, venha de lá essa demonstração.
É do "power point"? enguiçõu ? Tem dificuldade com a utilização das novas tecnologias?
Ou tudo não passou de papo furado?
O Tonitosa, faz-me lembrar o Patinha Antão naquela célebre visita ao hospital de Faro.
Saudepe,
Você quer mesmo música afinadinha! Não é isso?
Eu acho que há coisas a que nem vale a pena responder... mas...dada a sua persistência, tome lá. Sirva-se.
É capaz de negar que MD foi dos que criticou as ditas benesses dos seus antecessores? É capaz de provar que ele (e os outros) não têm agora as ditas benesses?
Curioso é que o Saudepe começa mesmo por reconhecer que os dados de 2005 não são bons...e depois vem dizer que isso se deve ao facto de o actual governo só ter iniciado funções em Abril de 2005.
Mas então de Abril a Dezembro não decorrem 75% do ano?
Eu até poderia, pelas mesmas razões que você invoca, dizer que se CC tivesse tomado posse mais cedo, os resultados seriam ainda piores.
O Saudepe desconhece que durante meses e meses (em 2005) os CA's dos HH SA's/EPE's não tiveram qualquer reunião com os responsáveis da Saúde ( governantes e ARS's)?
E quanto ao Orçamento de 2006, meu caro, ainda não se conhecem os dados. Mas depois do significativo "aumento" introduzido em 2005 (Orçamento Rectificativo), CC não tem quaisquer desculpas para não apresentar uma execução sem défice. Mas...aguardemos, porque ao que se sabe as dívidas a fornecedores aumentaram e os prazos de pagamento deterioraram-se. E isso também conta...e muito. Aliás fica sempre por saber-se a verdadeira dimensão da dívida da saúde.
Quanto a demonstrar, você é que deve demonstrar que os dados publicados pelo IGIF a que me refiro não estão lá.
Mas estão e provavelmente outros haverá que, se fôssem divulgados, ainda mais interrogações suscitariam. Dou-lhe, no entanto o benefício da dúvida de o Saudepe fazer deles a interpretação que muito bem entender. Mas quem sabe um pouco de Contabilidade e de Análise Financeira não deixará de ter muitas e muitas interrogações a colocar. Digo mesmo, se os Relatórios e Contas de 2004 e 2005 fossem apresentados a qualquer instituição bancária para sustentar um hipotético pedido de financiamento, qualquer analista de risco colocaria em causa o rigor e a solidez da evolução apresentada.
Saudepe,
Demonstre onde estão os dados aldrabados dos HH SA's? Porque você, como voz do dono (de MD), diz que estavam aldrabados. Logo, diga onde. E nem precisa de se esforçar muito! Homem, vá aos dados publicados pelo IGIF ou na página ... hospitaisepe... e diga lá que dúvidas ou aldrabices apresentam.
Sabe, é que se os dados de 2004 estavam aldrabados, a sua comparação com os dados de 2005 leva exactamente à conclusão que estes estarão ainda mais aldrabados.
Compare os valores, rubrica a rubrica, de 2004 e 2005) e de boa-fé, tirará as evidentes ilações.
E quanto ao Hospital de Santa Maria, só lhe digo que sei do que falo.
Sabe uma coisa: em gestão empresarial não há milagres! O que parece não ser o caso dos HH EPE's.
PS: perante as notícias que hoje se conheceram em matéria de "privatização" da Administração Pública (Saúde incluída) teremos aí um bom motivo para esperar algumas reacções "violentas" daqueles que em 2003 tanto apreguaram a desgraça da temida privatização dos HH SA's.
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