A urgência portuguesa
jornal público, 27.02.07
(...) Até porque, é importante perceber isto, para os cidadãos locais, desde Macedo de Cavaleiros a Espinho, as urgências hospitalares são muitas vezes a parte mais visível e mais utilizada do Estado. link O seu desaparecimento provoca uma sensação de quebra contratual do Estado para com os seus cidadãos, o que os deixa raivosos e injustiçados. No momento da perda, a maioria destes cidadãos não quer o discurso da lucidez, da “despesa excessiva”, do “abuso do uso”. Todos sabemos que os portugueses estão mal habituados, pois abusam das urgências, recorrendo a elas mesmo que não necessitem. Porém, isso não é apenas culpa dos maus hábitos dos cidadãos, mas também do Estado, que não os soube dirigir para os centros de Saúde que os podiam atender. Portanto, quando lhes dizem que as urgências vão desaparecer lá da terra, eles sentem-se defraudados.
Um liberal diria: deixá-los protestar, deixá-los chiar, mas vão acabar por se calar! O problema é que não há liberais em Portugal. Nem Cavaco Silva (no buzinão ou na TAP), e muito menos Barroso, Portas ou Santana, fizeram isso. Sempre que houve “resistências”, os políticos portugueses recuaram, com receio de levantamentos populares. No fundo, todos sentiram que a quebra de contrato social sentida pelas populações era perigosa.
Por mais desesperante que seja a situação financeira do Estado, qualquer ímpeto reformista chocará sempre contra esta evidência: os portugueses habituaram-se ao Estado que têm e dificilmente abrem mão de muitos dos seus direitos. Hábitos destes, bons ou maus, raramente se conseguem mudar. O drama português é, e será nas próximas décadas este: as regras do euro conduzem à inevitabilidade de cortes profundos na despesa, e os cortes na despesa chocam frontalmente com a relação que os portugueses têm com o Estado e o que esperam dele. É um nó extremamente difícil de desatar, e que corre o risco de desgastar tremendamente a nossa democracia.
Domingos Amaral, DE 28.02.07
Um liberal diria: deixá-los protestar, deixá-los chiar, mas vão acabar por se calar! O problema é que não há liberais em Portugal. Nem Cavaco Silva (no buzinão ou na TAP), e muito menos Barroso, Portas ou Santana, fizeram isso. Sempre que houve “resistências”, os políticos portugueses recuaram, com receio de levantamentos populares. No fundo, todos sentiram que a quebra de contrato social sentida pelas populações era perigosa.
Por mais desesperante que seja a situação financeira do Estado, qualquer ímpeto reformista chocará sempre contra esta evidência: os portugueses habituaram-se ao Estado que têm e dificilmente abrem mão de muitos dos seus direitos. Hábitos destes, bons ou maus, raramente se conseguem mudar. O drama português é, e será nas próximas décadas este: as regras do euro conduzem à inevitabilidade de cortes profundos na despesa, e os cortes na despesa chocam frontalmente com a relação que os portugueses têm com o Estado e o que esperam dele. É um nó extremamente difícil de desatar, e que corre o risco de desgastar tremendamente a nossa democracia.
Domingos Amaral, DE 28.02.07
Etiquetas: Urgências
2 Comments:
Dêem-se aos portugueses condições idênticas à média das dos cidadãos europeus; dêem-lhes poder de compra e "dinheiro para gastos" e veremos como, tal como os ricos e poderosos, eles deixam de ir para a porta do Centros de Saúde e SU's dos HH, esperar horas e horas por um simples consulta.
Passam a ir ao médico particular, não tenhamos dúvidas.
Vou repetir até à exasatão: O "povo" português é do que mais vai ao médico e do que tem pior saúde na UE!
Até onde os vícios instalados são mais fortes que a racionalidade e o dever?
Até onde a iliteracia tantas vezes voluntária se sobreporá ao mínimo de aceitação de princípios reformadores inevitáveis?
O povo quer?
Dá-se ao povo!
O povo tem.
O povo critica.
Anuncia-se que o povo tem de ceder racionalmente. O povo endoidece.
É mesmo o povo ou algum diabo à solta?
Ainda ninguém percebeu que o 25 de Abril foi há 33 anos, o SNS aumentou exponencialmente os seus gastos e já não dá para esticar mais?
Será que se defende a velha máxima revolucionária de que se morrermos, morremos juntos?
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