quinta-feira, outubro 27

Meta falhada

Em vez de diminuir, procura dos serviços de urgência continua a aumentar Ministro queria menos 225 mil urgências este ano, mas, só entre Janeiro e Agosto, fizeram-se mais quase 200 mil atendimentos. Hospital de Matosinhos arranca com projecto para ajudar doentes crónicos complicados e aliviar a urgência.
 A procura dos dispendiosos e muitas vezes sobrelotados serviços de urgência (SU) continua a aumentar em Portugal e a um ritmo cada vez mais acelerado, contrariando os objectivos do ministro da Saúde. Nos primeiros oito meses deste ano, fizeram-se perto de 4,3 milhões de atendimentos nestes serviços vocacionados para receber casos graves, mais 195 mil do que no mesmo período do ano passado. Um aumento de 4,8%, agravando uma tendência que contraria as expectativas de Adalberto Campos Fernandes. O governante anunciou em Janeiro que estava prevista uma redução em 3,7% (menos 225 mil) dos episódios de urgência até ao final do ano. 
O problema é que uma parte substancial destes doentes poderia, em teoria, ter sido atendida nos centros de saúde ou outros locais sem ter de recorrer a serviços com a complexidade e os custos dos SU hospitalares. Veja-se o caso da região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) onde, nos primeiros oito meses deste ano, quase metade dos doentes (46,6%) não foram triados como casos urgentes, segundo os mais recentes dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS). Atribuiram-lhes pulseiras brancas (falsas urgências), azuis (não urgentes) e verdes (pouco urgentes), de acordo com a triagem de Manchester efectuada à entrada dos SU. 
Esta região foi também aquela onde a procura mais cresceu neste período (6,6%). No resto do país, a percentagem de casos não urgentes ou pouco urgentes é inferior a 40%, à excepção do Alentejo, mas representa, ainda assim, mais de um terço do total. 
O aumento da procura dos SU já tinha sido assinalado em Agosto passado, quando foram conhecidos os dados do primeiro semestre. O ministro da Saúde sublinhou então que era necessário deixar passar mais tempo para se poder sentir o impacto da contratação, em curso, de novos médicos para os centros de saúde. Mas a situação agravou-se entretanto. Durante os meses de Julho e de Agosto passados, eventualmente por causa do calor, o aumento da procura ainda foi mais acentuado. Os responsáveis da ACSS tinham também adiantado que estava em preparação uma série de medidas para contrariar o problema. Medidas que passam pela atribuição de incentivos, em 2017, aos centros de saúde que consigam um maior controlo dos seus doentes crónicos, de forma a evitar a descompensação e agudização das patologias, porque se sabe que é este tipo de problemas que muitas vezes os leva a ter de recorrer aos SU. 
 A Unidade Local de Saúde de Matosinhos antecipou-se entretanto e arrancou esta semana com um projecto anunciado como “inovador” que pode vir a aliviar a procura do SU e que passa por uma nova forma de resposta aos chamados doentes crónicos complexos, que serão apoiados por uma equipa que inclui um enfermeiro “gestor de caso”, na prática uma espécie de procurador de saúde do paciente. Delinear programas de saúde e sociais para dar resposta aos chamados utilizadores frequentes (os que vão mais de quatro vezes por ano às urgências) para evitar a agudização da sua situação clínica é uma estratégia que faz todo o sentido, considera o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Alexandre Lourenço, que não se surpreende com o aumento da procura dos SU. Especulando que a ligeira diminuição das taxas moderadoras, em vigor desde o início do ano, pode ter tido “um efeito marginal” neste fenómeno, o administrador acentua que as principais explicações são estruturais. “Com o agravar da situação social e o envelhecimento da população é natural que a procura aumente”, diz Alexandre Lourenço, para quem uma das soluções passará pelo alargamento dos horários dos centros de saúde.
 Uma vez que o maior pico da procura se verifica habitualmente as oito e as dez da noite, os centros de saúde deviam estar abertos até às 22 horas, mesmo que isso implique os médicos comecem a trabalhar mais tarde, diz. “Não basta ter mais médicos, é preciso reorganizar o trabalho”, enfatiza. 
O fenómeno do sobreconsumo de urgências já está mais do que diagnosticado. Um recente estudo revelou que Portugal é o país da OCDE (no conjunto de 27 países estudados) com mais episódios de urgência per capita. Em 2015, os gastos com urgências hospitalares ascenderam a 350 milhões de euros para um total de mais de 6,1 milhões de atendimentos.
 Jornal Publico 24/10/2016 
 Como alguém já disse: enquanto uns procuram uma Medicina baseada na evidência, por cá insiste-se na Medicina baseada na Urgência. Seremos masoquistas, incompetentes ou um pouquinho das duas coisas?
Tavisto

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sábado, janeiro 2

Apagar fogos

Hospitais no limite pagam até mil euros a médicos por urgência 
Muitos hospitais portugueses estão por estes dias "a atingir os máximos da sua capacidade de resposta", alertou o secretário de Estado da Saúde. 
Para colmatar as carências de médicos nas urgências, várias unidades de saúde em Coimbra e Lisboa estão a tentar reforçar a sua equipa de profissionais com salários mais atrativos. 
Segundo o Diário de Notícias, vários hospitais recorreram a empresas de prestação de serviços para preencher ou alargar as escalas de urgência e no estão a oferecer até 42 euros à hora. 
No dia 4, por ser segunda-feira e uma data tão próxima da passagem de ano, espera-se que a afluência às urgências seja grande e se os médicos quiserem fazer um turno de 24 horas o valor a receber chegará aos mil euros. 
Há também hospitais a tentar contratar médicos de família, oferecendo pagamentos que podem chegar ao triplo do habitual, medida que desconforta o presidente Associação Portuguesa das Unidades de Saúde Familiares. 
“Quando em 1982 foi criada a carreira dos médicos de família esta trouxe uma grande vitória, que foi permitir que os médicos se dedicassem a 100% ao seu ficheiro de doentes", disse João Rodrigues. 
O também membro do Sindicato dos Médicos da Zona Centro disse ainda que já foi enviado um pedido de esclarecimento ao ministro da Saúde sobre o caso. Económico link 
……………………………… 
Será que situações como esta não têm solução racional e custo-efectivo ??? 
Por que afluem os doentes às urgências dos grandes hospitais públicos como “muçulmanos a Meca”? 
Por que continuam a ocorrer situações de procura que se assemelham a medicina de catástrofe, sem que nada o justifique ? 
Por que se concedem tolerâncias de ponte afastando os profissionais do local de trabalho durante quatro dias ? Não deverá ser este assunto de resolução prioritária para o actual Ministério da Saúde ? 
 Tavisto

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domingo, setembro 8

Paulo Macedo,sempre de cernelha

Sobre a governação  de Paulo Macedo, escrevia recentemente um colega AH no FB: «Há aspectos comportamentais do Ministro que não me agradam: não assume nenhum problema. Acossado, sai de cena. Pega os bois de cernelha. É um financeiro. Não é um gestor. Um financeiro estabelece tectos na despesa, controla e força ao respeito dos limites estabelecidos. Um gestor sabe que o ambiente e a participação são condição imprescindível para o cumprimento da missão das organizações.  O SNS, se está em perigo, é porque não está a ser gerido. Ao falar de alto e repetir-se as pessoas distraem-se do facto da sua política estar a conduzir objectivamente o SNS para um trambolhão de consequências não imagináveis.»
A reforma da "Urgência  Metropolitana  de Lisboa” link, o mais recente exemplo de retirada a toda a vela do ministro da saúde (dá jeito, então, ter um presidente da ARS como Luís Cunha Ribeiro, link), parece reduzida a um mero esquema de concentração de algumas especialidades, a implementar de forma faseada (em suaves prestações mensais).
O último comunicado do MS no Portal da Saúde sobre a “Reorganização das urgências noturnas na área metropolitana de Lisboa” link justifica o esforço com a  necessidade de melhorar o modelo de governação clínica dos hospitais (eufemismo de “cortes a eito”).
Assegurando que «todos os Serviços de Urgência na região de Lisboa continuarão a ter a mesma capacidade de atendimento de doentes emergentes e urgentes para a generalidade das situações clínicas, com a capacidade de resposta competente e especializada que os utentes se habituaram a encontrar.»(eufemismo de cortes de acesso)
E prossegue: «A concentração de serviços apenas envolverá um conjunto restrito de especialidades que foi determinado pela análise do tipo e frequência da casuística, durante a noite, que beneficia da intervenção dessas especialidades em contexto de urgência.»(eufemismo levantamentos feitos em cima do joelho).
Tendo a preocupação, a terminar, de assegurar: «Em Lisboa, com a reorganização em curso, não haverá quaisquer encerramentos de Serviços de Urgência e os utentes deverão continuar a recorrer ao Serviço de Urgência a que habitualmente se dirigiam na sua zona de residência.»(eufemismo de encerramentos).
Dir-se-ia que Paulo Macedo  tem "medo de existir"
Clara Gomes

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sábado, agosto 31

Reforma hospitalar para quê?


Este ministério tem como única preocupação a redução da despesa à custa do SNS. É neste objetivo que se insere a concentração das urgências na área metropolitana de Lisboa. Entretanto vai pondo a salvo da inevitável degradação dos cuidados prestados, o sector privado, protegendo os subsistemas públicos, e as PPP, poupando-as à racionalização (melhor dito, racionamento) financeira.
Lá mais para a frente, quando os níveis de degradação das estruturas hospitalares do SNS se tornarem irreversíveis, haverá uma boa justificação para alterações de fundo ao atual modelo de SNS.
Tavisto

"Urgência  Metropolitana  de Lisboa" link

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domingo, agosto 25

Urgências de Lisboa, Trapalhadas do costume

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sábado, agosto 24

Urgência hospitalar da Grande Lisboa

O absurdo e as reformas
Resolver o problema da Saúde pelo prisma da urgência é um erro. Ninguém cuidou em ouvir os responsáveis dos serviços e das estruturas profissionais e académicas que têm o dever de ter uma opinião informada”.
As reformas, do Estado e serviços, são indispensáveis. Poupar, claro, mas racionalizar, mobilizar vontade e inteligência para novos desafios e objetivos realistas. Não poderão ser só intenção, aparência para engano de outrem, cardápio de lugares comuns, ruído sem ideias. Têm de ir à substância das coisas com uma missão clara: servir melhor e com mais eficácia. É como o agricultor, cortar ramos secos, podar a árvore para crescer e dar melhores frutos. Na Educação e na Saúde, áreas da minha intervenção profissional, os sinais são encorajadores mas as preocupações enormes. A reorganização do sistema de ensino superior público teve um impulso notável com a fusão das duas universidades em Lisboa. Quebrou-se um mito que dominou o pensamento público: que a mudança só era possível a partir de impulso exterior. Bem sabemos que o passo dado é o princípio de um caminho mobilizador de vontades, das instituições, dos talentos, com novos projetos de cooperação e de abertura ao sistema produtivo, cujo impacto será positivo na sociedade portuguesa. Daqui resultará racionalização e economia. Raciocínio semelhante se poderá transpor para a Saúde. Precisamos de visão global para a reforma da Saúde, pois medidas parcelares sectoriais não chegam, porque esbarram a montante e a jusante com bloqueios insuspeitados. Está a capacidade instalada no sector da Saúde bem aproveitada? Concentrar unidades tem sido política seguida em toda a parte. O rationale é linear: potenciam-se recursos, concentram-se competências, com isso aumenta-se a provisão de serviços por profissionais com mais experiência e conseguem-se melhores resultados. Foi assim em Londres, onde na minha especialidade, a cirurgia vascular, se fundiram unidades, limitando a dispersão das competências e aumentando a eficácia e efetividade do serviço prestado. Dizem-me que foi uma boa iniciativa. Absurdo é fazer por partes, ignorando o todo, quebrando a estrutura, reorientando-a para outras finalidades, como o que se anuncia: compactação de serviços de urgência designada por urgência metropolitana de Lisboa. Resolver o problema da Saúde pelo prisma da urgência é um erro, outro, que seduz periodicamente os decisores. Obviamente, não posso ser contra o conceito subjacente: concentração de recursos e competências, isto é, de experiência, para se ganhar expertise e mais qualidade. O problema é que não são só guias de marcha, são doentes graves e, com a rotação mensal (?) anunciada, confusão para o sistema de transportes, hesitação para onde enviar, desprezo por hábitos de trabalho comum e de comunicação. Nas especialidades cujas urgências são pesadas, associadas a graves situações de trauma, com risco de vida tanto maior quanto menos pronta e adequada for a atuação terapêutica, não será um absurdo rodar de mês a mês o hospital de referência? Ainda por cima, quando é possível concentrar competências em dois polos hospitalares de Lisboa, com a sua rede de referenciação estabilizada e comunicação fácil entre as equipas? Não se percebe o risco de converter estes serviços em unidades de produção para a urgência, com impacto negativo na atividade programada, incremento nas listas de espera e depois, maior despesa na compra de serviços ao sector privado? Em Londres, o assunto mobilizou a sociedade científica e o Colégio de Cirurgia para uma proposta de restruturação global e não apenas a urgência. O absurdo em Portugal é que, como presidente do Colégio, pronunciei-me a pedido do bastonário, perante decisões tomadas e após clamor justificado dos sindicatos e da Ordem. Ninguém cuidou em ouvir os responsáveis, dos serviços e das estruturas profissionais e académicas, que têm o dever de ter opinião informada. Assim não há reforma séria que resista! E que pensar do facto de as instituições públicas em PPP estarem isentas de participar neste esforço coletivo? Outro absurdo!

Fernandes e Fernandes, Diretor da Faculdade de Medicina de Lisboa, Expresso 24.08.13

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Novas urgências


Médicos criticam falta de estudos sobre novas urgências e desafiam ministro para debate
Os médicos criticaram hoje a ausência de estudos que comprovem a falta de profissionais, a vantagem de concentrar especialidades e a poupança, na base da criação da urgência metropolitana nocturna de Lisboa, desafiando o ministro para um debate público.
Para a Ordem dos Médicos (OM), “todo o processo foi conduzido secretamente, com o único fito de esconder as suas fragilidades e os problemas potencialmente graves que vão recair sobre as vítimas urgentes e emergentes da Grande Lisboa". Por isso, desafia o ministro da Saúde a promover um debate público, considerando que a questão é “demasiado importante para ser sigilosamente decidida por quem não sabe o que é uma urgência hospitalar”.
Numa reacção a declarações feitas pelo presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) à comunicação social, o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, considerou que foram “declarações públicas muito pouco acertadas”. Ao Diário de Notícias, o presidente da ARSLVT, Luís Cunha Ribeiro, explicou que a concentração de várias especialidades numa só urgência – rotativa entre Santa Maria e São José – visa “garantir às populações uma resposta melhor do que a que existia”. O responsável referia-se a “especialidades em que não existem recursos humanos suficientes – com poucos médicos com menos de 50 anos – com uma casuística baixa” e exemplifica com o caso da oftalmologia, que afirma receber diariamente, entre as 00h e as 8, onze atendimentos em toda a região de Lisboa. Luís Cunha Ribeiro refere ainda que a cirurgia vascular conta com três médicos com menos de 50 anos em Santa Maria, nenhum no Amadora-Sintra e a ausência dessa especialidade à noite, no Garcia de Orta e São Francisco Xavier.
A Ordem dos Médicos contrapõe que a ARSLVT nunca apresentou estatísticas das urgências, nem estatísticas que comprovem a falta de profissionais, para sustentar as afirmações que justificam a reorganização das urgências nocturnas. Quanto às declarações que Cunha Ribeiro fez ao Correio da Manhã, segundo as quais esta medida “é um ato de gestão de dinheiros públicos”, o bastonário sublinha o reconhecimento de que esta é uma medida de gestão de dinheiro, mas critica mais uma vez a falta de estudos que indiquem “se o grau de poupança” compensa “as disfuncionalidades do sistema, as confusões de referenciação, os custos dos transportes entre instituições e o prejuízo dos tempos de atendimento às vítimas, que são inevitáveis”.  Comentando a comparação que é feita pela ARSLVT com a Urgência Metropolitana do Porto, onde o Hospital de São João concentra, há quatro anos, as urgências nocturnas  José Manuel Silva afirma que essa urgência “tem problemas” e lembra que a população abrangida não é comparável em termos quantitativos. “A Urgência Metropolitana do Porto serve metade da população que será abrangida pela Urgência Metropolitana de Lisboa”, pelo que deveria haver duas urgências, e “tem problemas que nunca houve interesse em auditar”. Como exemplo, refere o facto de a urgência de otorrinolaringologia (ORL) e a urgência de Gastroenterologia estarem em hospitais separados, respectivamente São João e Santo António, “o que coloca problemas nos casos de corpos estranhos no esófago”. O bastonário assinala ainda que aquela urgência não concentra as especialidades de neurologia e cirurgia vascular, ao contrário do que vai ser feito em Lisboa, sem ser feito "qualquer estudo e contra o parecer dos colégios da especialidade”.
JP 23.08.13
Mais um expediente para reduzir a capacidade de oferta do SNS e encaminhamento de doentes para o sector privado.

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segunda-feira, agosto 19

Uma só urgência hospitalar para a zona da Grande Lisboa

ou o desmascaramento final de uma política de ódio ao direito constitucional e humano à saúde?
Foi divulgada recentemente na comunicação social a decisão da A.R.S. de Lisboa e Vale do Tejo de colocar em funcionamento, a partir do próximo dia 2 de Setembro, uma única urgência hospitalar em toda a zona da Grande Lisboa durante o período nocturno, encerrando todas as outras.
Face à gravidade da situação que irá ser criada e às inevitáveis consequências que daí advirão e que são de fácil previsão, o Sindicato dos Médicos da Zona Sul/FNAM decidiu tomar a seguinte posição:
1- A decisão agora anunciada revela um profundo desprezo ministerial pelas necessidades assistenciais de um conjunto muito significativo de cidadãos que não se circunscreve à zona geográfica anunciada.
Como sabemos, existem múltiplas situações clínicas que de toda a zona sul do país são enviadas para as urgências dos hospitais centrais de Lisboa.
Ao contrário do que foi sendo apregoado nos últimos meses pela propaganda ministerial sobre uma hipotética reestruturação das urgências da cidade de Lisboa vem agora a revelar-se que o real objectivo se estende a toda a zona da Grande Lisboa, tornando-se claro que não existe qualquer estudo prévio que fundamente tais propósitos nem sequer uma avaliação do impacto que eles terão na população atingida.
2- Os argumentos utilizados pela citada A.R.S. para justificar tal decisão referem-se à escassez de recursos humanos e ao envelhecimento dos respectivos quadros, o que não tem qualquer correspondência com a realidade objectiva dos factos.
Existem médicos mais jovens que continuam a aguardar por concursos públicos e que têm formas precárias de trabalho sem qualquer possibilidade de evolução técnico-científica.
Aquilo que está realmente em causa é uma política ministerial, desde há muito premeditada, para encerrar gradualmente o maior número possível de instituições públicas de saúde.
3- Também recentemente, cerca de meia centena de USF da zona da Grande Lisboa vieram denunciar que essa A.R.S. lhes estava a impor exigências "de redução de custos para níveis que podem colocar em causa a qualidade, a segurança e a equidade dos cuidados prestados".
Ora, todos sabemos que o recurso em maior ou menor grau às urgências hospitalares está directamente relacionado com a capacidade de resposta dos centros de saúde e, em particular, da medicina geral e familiar.
Com esta redução de custos, é fácil prever que o recurso às urgências hospitalares pode ser a única via de acesso à prestação de cuidados para muitos cidadãos da zona da Grande Lisboa.
E aí, a medida do Ministério da Saúde é encerrar em larga escala a quase totalidade das urgências hospitalares durante o período nocturno.
4- A actual equipa do Ministério da Saúde tem desenvolvido um plano dissimulado de amplos cortes cegos na saúde, muito para além dos compromissos assumidos pelo Governo junto da chamada Troika.
Apesar desses cortes indiscriminados, ainda recentemente a auditoria do Tribunal de Contas veio mostrar que o resultado líquido do exercício do SNS relativo a 2011 continuava a apresentar um brutal agravamento de largas dezenas de milhões de euros.
Este facto, por si só, mostra que a gestão ministerial tem pautado a sua acção por meros cortes nas funções assistenciais aos cidadãos.
5- Apesar da referida medida ser apresentada como relativa ao período nocturno  não podem subsistir quaisquer dúvidas que isso constitui uma etapa inicial que rapidamente conduzirá à sua integral aplicação durante todo o período diário.
6- Torna-se já escandaloso o sistemático comportamento do Ministro da Saúde que em vez de assumir as medidas iníquas idealizadas por uma política governamental de liquidação das políticas sociais e do Estado Social se esconde atrás dos seus nomeados nos órgãos de gestão dos serviços de saúde reservando-lhes a eles o papel de anunciadores e de supostos decisores perante a opinião pública sempre que estão em causa medidas impopulares.
É fácil prever num contexto desta gravidade que a drástica redução da capacidade de atendimento a nível das urgências irá traduzir-se, inevitavelmente, por situações muito delicadas no plano humano.
O Sindicato dos Médicos da Zona Sul/FNAM continuará a desenvolver todos os esforços para impedir o desenvolvimento desta acção clara de liquidação do SNS e do direito constitucional à saúde.

SM – Sindicato dos Médicos da Zona Sul/FNAM ,  Lisboa, 19/8/2013

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sábado, agosto 17

Concentração das Urgências (2)

O Governo pretende implementar  uma única urgência nocturna na zona da grande Lisboa, no período nocturno  entre as 20:00 e as 08:00 horas. A partir do dia 02.09.13 as especialidades de oftalmologia, cirurgia vascular, cirurgia plástica, neurologia, gastroenterologia, psiquiatria e grandes traumatizados passarão a funcionar unicamente nos Hospitais de Santa Maria ou São José. Assim, um grande número de  valências passarão a funcionar somente no Hospital de Santa Maria ou de São José, reduzindo drasticamente o acesso dos utentes do SNS aos cuidados hospitalares.
Acresce que a urgência do Hospital Garcia de Orta (polivalente), na prática, já não dispõe da totalidade das especialidades inerentes a uma urgência polivalente. Actualmente os  doentes com doença vascular  são  reencaminhados para o Hospital de Santa Maria ou de São José.
«A ordem acusa o Ministério da Saúde de estar a prejudicar os doentes com esta reorganização dos Serviços de Urgência quando vai ter como poupança, pelo fecho daquelas valências, cerca de 60 mil euros por ano.
Os médicos dizem que o adiamento do tratamento de um número indeterminado de doentes irá causar, além de um prejuízo grave para o seu conforto, um pior prognóstico clínico, o que irá acarretar uma acumulação de trabalho nas consultas e atendimentos aos doentes e uma pior rentabilidade da actividade dos serviços hospitalares.
É inquietante a concentração das urgências nocturnas de Lisboa, sem estudos a fundamentar essa decisão e sem avaliar as consequências para os doentes. A Ordem dos Médicos é favorável a um grau adequado de reorganização das urgências, com base em argumentos técnicos, mas estranha o secretismo do processo. Um péssimo sinal economicista.
Alegadamente, na base desta reorganização esteve o número insuficiente de médicos e o baixo número de urgências nesse período. Ora, estes dados não foram divulgados, para que pudessem ser honestamente confirmados. São, por conseguinte, de duvidar.
No que ao número de médicos diz respeito, a Ordem dos Médicos considera a alegação falsa, pois o número de médicos que trabalham no SNS tem aumentado. Quanto a dados estatísticos da Saúde, a Lei do Directório do Lápis Azul impede a sua divulgação, facilitando a manipulação da informação pelo Ministério da Saúde.» CM 15.08.13

Mais uma bagunçada do ministro da saúde para mostrar serviço à troika. Uma acção ao jeito deste governo,  onde impera a falta de  informação e transparência com a ajuda da Lei do Directório do Lápis Azul (despacho n.º 9635/2013 link), urdida nas costa dos cidadãos contribuintes e dos profissionais da saúde a pretexto da poupança de uns escassos milhares de euros, em prejuízo do acesso dos doentes do SNS.
Clara

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terça-feira, março 13

Um doloroso e urgente

“calvário”, sem ressureição….
Nós (portugueses) somos prolixos em “resolver” problemas com comissões. Sempre que existem conflitos entre o Estado e a sociedade. Esta distorção é tanto mais evidente quando, na verdade, as “comissões” acabam por propor intervenções do Estado, com afectações de recursos públicos e, finalmente, nunca há avaliações.
Em Portugal, cedo se verificaram distorções na acessibilidade ao SNS. Carências estruturais dos cuidados primários de saúde – que perduram há decénios - originaram um “consumo” extraordinário de cuidados de urgência. Durante muitos anos – e será ainda hoje essa a realidade – a cobertura nacional (entenda-se “universal”) foi assegurada pelas urgências, i. e., pelos Hospitais.

Ao longo dos anos 80 nasceram os SAP’s que acabaram por provocar uma dupla perversão: dos cuidados primários de saúde e da emergência hospitalar. Misturou-se no mesmo saco urgências pré-hospitalares, hospitalares e emergências médico-cirúrgicas. Este “esquema” (exemplo acabado da descoordenação) teve múltiplas consequências. Primeiro, camuflou o deficit de cuidados primários, nomeadamente a falta de estruturas locais de profissionais de saúde (nomeadamente médicos e enfermeiros). Depois sobrecarregou os Hospitais que escorregarem para um modelo de prestação de cuidados estranho ao conceito de “urgência”, enquanto cuidado inadiável, agudo, imprevisível e imediato. Deste somatório nasceram custos, também, extraordinários, nomeadamente, relativos à hipertrofia da dimensão dos serviços de urgência hospitalares e a “retracção” da capacidade de resolução de situações agudas (não emergentes) nos cuidados primários.

O problema, como facilmente se depreende, residia na base. Isto é na insuficiência dos cuidados prestados nos Centros de Saúde. Então, tornou-se evidente, perante a incapacidade de dotar os CPS de meios humanos e técnicos que haveria necessidade de “disciplinar” a rede de urgências. Atacou-se o problema pelas suas consequências descurando as causas.

Nos anos 90 (há muitos anos) cria-se a Comissão Nacional de Reestruturação das Urgências e esse “caminho” foi sofrendo ao longo dos tempos diversos updates.
Em 2001 é reactivada esta “comissão” que entretanto se mantinha “adormecida” (não por culpa da comissão mas pelas múltiplas condicionantes políticas) para, em 2006, lançar-se de novo ao trabalho com um composição credível estudar um modelo de reestruturação que mereceu uma ampla discussão pública durante o ano de 2007.
Finalmente, do meritório trabalho desta Comissão foi publicado o despacho n.º 5414/2008 do MS de 28 de Janeiro
link que estabeleceu os “pontos de rede”, bem como um escalonamento de competências e de tipos de cuidados (urgência básica, urgência médico-cirúrgica e urgência polivalente).

Correia de Campos impulsionou em paralelo com a Comissão de Reestruturação das Urgências uma ampla reforma dos cuidados de saúde primários cujo emblema é, como sabemos, as USF’s. Esta foi uma política correcta nos seus princípios que viria a claudicar – politicamente acentue-se - por outros motivos: um desorganizado encerramento dos SAP’s, uma conflitualidade desnecessária com profissionais da saúde (múltiplos) a pressão do lobby das autarquias, a falta de concertação com o aparelho partidário (que não esteve no terreno a explicar os encerramentos das maternidades e dos SAP’s) e, ainda, uma ríspida relação com a imprensa. O Ministro compreendeu – como afirmou então – que “não sentia existirem condições para continuar no cargo…”
link

Ana Jorge, que lhe sucedeu no MS, tinha sobre os SAP’s e as Maternidades um passado (político) obscuro
link . Tal nebulosidade foi importante para trazer alguma acalmia, nomeadamente, ao poder autárquico e proporcionou-lhe as condições políticas necessárias para gerir suavemente as reformas encetadas Correia de Campos. Esta travessia por mares mais calmos teve consequências. Uma travagem no encerramento dos SAP’s, o desinteresse pela instalação dos serviços de urgência programados e um abrandamento da abertura de novas USF’s. Um período de “pousio” que conjugou dois factores relevantes: uma profunda crise financeira e orçamental que comprometeu o investimento e o “descontrolo” das contas da Saúde link (situação que já vinha detrás link). Quando Ana Jorge abandona funções em 2011 com a queda do XVIII Governo Constitucional a situação da Saúde em Portugal encontrava-se num pungente impasse e submersa em múltiplas petições em defesa do SNS… link; link; link,…

Com a posse do XIX Governo Constitucional o novo Ministro Paulo Macedo cria uma nova comissão de reavaliação da rede nacional de urgências. A Comissão para a Reavaliação da Rede Nacional de Emergência e Urgência (2011), despacho n.º 13377/2011
link onde se evocam razões demográficas (Censo 2011) para a sua necessidade. O despacho mostra alguma sensatez ao incumbir a Comissão de estudar “os casos em que a rede não foi implementada e avaliar as razões” bem como verificar a “adequação de prosseguir com encerramentos e deslocalizações já previstos e deslocalizações ainda não efectuadas”.

A missão primordial desta nova Comissão seria, no entanto, como se escreve no preâmbulo do diploma: “Avaliar o estado de implementação da rede de emergência pré-hospitalar e das urgências hospitalares, nomeadamente a distribuição territorial existente, as condições de acesso, a composição das respostas existentes e as consequências dos processos de encerramento e deslocalização de SAP e serviços de urgência…” (item 2 a) do citado despacho).

Quem der uma vista de olhos no longo elencar de serviços de urgência que deveriam integrar a rede segundo o Despacho n.º 5414/2008, não precisa de esforçar-se muito para ter uma visão arrepiante da execução e operacionalidade nos diferentes Serviços previstos (Serviços de Urgência Básica /SUB; Serviços de Urgência Médico Cirúrgica /SUMC e Serviços de Urgência Polivalente /SUP). No capítulo dos SUB (incluindo os SUB1 e 2) que, no seu conjunto, abrange mais de quatro dezenas de unidades a situação será de marasmo, para não lhe chamar de calamitosa.

O despacho n.º 13377/2011 tem toda a razão de ser, enquanto instrumento de avaliação da capacidade instalada nos últimos 3 anos, na vertente das urgências. Não se compreende o pudor que levou a evocar razões demográficas (Censo de 2011) escamoteando as razões financeiras e orçamentais, que condicionam drasticamente os necessários investimentos. Ninguém compreenderá o encerramento dos SAP’s se não surgirem SUB’s com um grau de eficiência na prestação de cuidados de urgência (básicos) elevado e de acordo com as expectativas criadas. Provavelmente, em nome da racionalização (e não do racionamento) poderá tornar-se necessário reequacionar serviços de urgência bem como uma melhor e mais eficaz articulação com a urgência pré-hospitalar. Mas, primeiro, a avaliação!

Tudo isto até podia parecer muito “saudável” se, pelo meio, não tivesse existido um Grupo Técnico para a Reforma Hospitalar que, inopinadamente, decidiu meter a colherada no candente assunto das urgências
link. Entre uma listagem de propostas e sugestões é importante destacar este parágrafo:
“Respeito pela missão do Serviço de Urgência, ja considerada em legislação há 10 anos mas frequentemente esquecida. Embora se possa reconhecer a necessidade do aprofundamento da valorização dos Cuidados de Saúde Primários como a base do SNS, é certo que se têm verificado avanços importantes na sua capacidade de resposta com a implementação de formas inovadores de organização e gestão. E igualmente certo que
estudos científicos demonstram a segurança de meios de triagem das situações que se apresentam nos Serviços de Urgência. São ainda relevantes experiencias de outros Países onde a missão especifica do Serviço de Urgência é mais bem acautelada, com maior beneficio para o funcionamento dos serviços em causa e poupança em recursos humanos, materiais e financeiros. Nomeadamente, é de encarar a hipótese de selectivamente limitar a acessibilidade de doentes não urgentes aos serviços que têm por responsabilidade o tratamento das situações urgentes e emergentes.”

Como todos entendemos a Comissão Mendes Ribeiro entrou em terrenos movediços. Isto é, no campo de acessibilidade selectiva por motivos de “poupança em recursos humanos, materiais e financeiros” (sic no texto) e não por razões de oferta organizada e eficiente que aparentemente deveria existir no terreno (se tivesse sido desenvolvido o determinado no despacho n.º 5414/2008 do MS de 28 de Janeiro). Na verdade, a Grupo Técnico de Reforma Hospitalar andou com o carro à frente dos bois. A avaliação só terá sido efectuada (desconhecemos) pela Comissão para a Reavaliação da Rede Nacional de Emergência e Urgência (2011).

In Público (09.03.2011), Pág. 4 /Destaque, em notícia assinada por João d’Espiney (sem link disponível) refere-se que o Ministro Paulo Macedo não vai divulgar o relatório final apresentado pela Comissão “ a fim de evitar o ruído suscitado em torno de algumas das propostas apresentadas no relatório da reforma hospitalar…”
Mais uma comissão que cumpre o trágico destino de fazer a montanha parir um rato. Mais uma vez os profissionais de Saúde vão assistir a reestruturações na Saúde invocando nobres e sacrossantos motivos, na mais completa ignorância das suas objectivas e reais fundamentações. É deste modo que “trabalham” as “superstruturas “ de decisão na Saúde em Portugal. Mas creio que o “ruído” de fundo dificilmente será abafado. Como estamos em tempos pascais este será um doloroso e urgente calvário…sem ressurreição.
Esperemos que não seja longo!

E-Pá!

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segunda-feira, junho 14

Obviamente, demitam-se…

Num país normal onde pontificasse o sentido de responsabilidade dos dirigentes da administração pública não restaria outro caminho que não fosse a demissão. É certo que nós não estamos, neste momento da vida pública, a viver num país normal.

Urgências pediátricas mantém-se 24 horas na Península Setúbal
link link

A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo anunciou hoje que as urgências pediátricas vão continuar a ser asseguradas 24 horas por dias nas três unidades da Península de Setúbal.

A ARSLVT reuniu hoje com os Conselhos de Administração e Directores de Serviços de Pediatria dos Hospitais da Península de Setúbal para reavaliar a situação, depois de o Centro Hospitalar de Setúbal ter transmitindo a disponibilidade deste hospital em assegurar as escalas de pediatras para os serviços de urgência.

«Verificando-se que o Centro Hospitalar de Setúbal e o Centro Hospitalar de Montijo-Barreiro estão em condições de assegurar as escalas de pediatras, garantindo o normal funcionamento da Urgência Pediátrica, a ARSLVT não vê neste momento a necessidade de reorganizar o horário das Urgências Pediátricas no período do verão, mantendo-se assim os Serviços de Pediatria em funcionamento ao longo das 24 horas do dia», refere em comunicado enviado à Lusa.

setubalense

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sábado, junho 12

Os insondáveis desígnios da ARSLVT...

A ARSLVT terá caído na tentação de transmutar desejos em realidades.

Das informações hoje divulgadas pelo HH de Setúbal depreende-se que, perante óbvias [e esperadas] carências estivais, [a ARSLVT] não terá dado um passo para ultrapassar [naturais] obstáculos. E, agora, perante os arranjos conseguidos que terão permitido colmatar [contornar] as insuficiências de recursos humanos, e a consequente disponibilização de profissionais de saúde [médicos pediatras e enfermeiros] no sentido de resolver o problema assistencial entretanto criado, mantêm-se [a ARSLVT] barricada [possivelmente incomodada] na sua quinta [na Av. Estados Unidos da América, em Lisboa]. Esperam [sentados], estes preclaros dirigentes regionais da Saúde, com enfado, que lhe tragam - à mão - comprovativos [preto no branco] da viabilidade dessa solução.

Resta, por último, aos profissionais e aos utentes da zona de influência do HH de Setúbal, não deitarem antecipadamente foguetes. A “questão pediátrica” a Sul do Tejo pode, somente, ter entrado em stand by.
De seguida, a ARSLVT poderá [deverá?] levantar problemas relativos às determinações do MS [sobre medidas de austeridade] que – como é público - incluem a redução de horas extraordinárias. E, tudo, pode voltar ao princípio onde o que pontificava era o Verbo.
Sendo assim, as crianças-utentes continuarão a ser encaminhadas para a superlotada urgência em Almada [HH Garcia de Orta] e o leitmotiv da apressada [e polémica] solução, desnuda-se.

Já dizia Descartes:
Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis...

O fácil foi pôr o assessor de imprensa a dar a cara [por alguma razão foram "poupados" à penalização de 5%]
E os problemas [da ARSLVT] para além de difíceis, continuariam insondáveis...

E-Pá!

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segunda-feira, abril 26

O problema das Urgências

1.º - «Os gastos dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em horas extraordinárias totalizaram os 211,1 milhões de euros até ao final de Setembro, o que traduz um acréscimo de 4,6 por cento face aos 201,8 milhões de euros de igual período de 2008.» link

2.º - «O Governo quer acabar com os tarefeiros nas urgências e admite aumentar o número de horas de trabalho dos médicos das actuais 35 para as 40 semanais. As cinco horas por semana a mais seriam para fazer urgências, além das habituais 12.» link

3.º - «Há médicos sem habilitações nas equipas das urgências porque chumbaram nos exames da especialidade de medicina interna", afirmou Pilar Vicente ao CM,adiantando que o problema, que atinge os hospitais de Almada, Amadora-Sintra, Centro Hospitalar de Lisboa (São Francisco Xavier e Egas Moniz) já foi denunciado ao ministério da Saúde.» link

Alguém disse que, nós portugueses, substituímos o conceito de medicina baseada na evidência para o de medicina baseada na urgência. É neste sector que se reflecte a nossa incapacidade organizativa em matéria de cuidados de saúde. Sendo o SU o último reduto de quem necessita de cuidados assistenciais e a eles não consegue aceder por outra via, é nele que se espelha a ineficiência do sistema.
Ao SU acorrem doentes que não conseguem resposta atempada do seu médico de família (muitos infelizmente); os que não conseguem aceder a uma consulta de especialidade de outra forma (cada vez mais); os enviados pelos serviços internos do próprio hospital, por necessitarem de observação por outra especialidade não disponível de outra forma; os observados/transferidos em unidades privadas (algumas com urgência aberta e sem internamento); e, finalmente, os que verdadeiramente a ele deveriam recorrer: os acidentados ou acometidos de doença súbita com risco de vida imediato.

Nos países com medicina organizada, são estes últimos que praticamente recorrem ao SU. Assim, as equipas médicas na urgência são reduzidas tendo como papel principal o diagnóstico imediato da situação e a estabilização dos parâmetros vitais. Uma vez feito o estadiamento clínico, é aos serviços internos do hospital que compete tratar o doente em causa. Neste País, não é assim que se passa. Os SU funcionam quase como um hospital dentro de próprio hospital, o que leva frequentemente a ter de aumentar os quadros profissionais ou, última moda, a contratar médicos tarefeiros, para responder às necessidades crescentes do SU.
Neste contexto não admira que os gastos dos hospitais em horas extraordinárias não parem de crescer. E, também aqui, pretende resolver-se um problema essencialmente organizacional pela via administrativa.

tavisto

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sexta-feira, outubro 2

Loja de conveniências


Em meados de 2008, a Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação das Urgências (CTAPRU) pedia a extinção à ministra da saúde, Ana Jorge, por considerar cumpridos os seus objectivos link

De então para cá, o processo de requalificação das urgências, link refém das negociações efectuadas com os responsáveis autárquicos, muitas remodelações, novas unidades, ambulâncias e helicópteros depois, parece convertido, segundo Luís Campos (DN 28.09.09), a loja de conveniências.

O próximo MS deve, naturalmente, saber que o desenvolvimento de um processo equilibrado de reformas é condição indispensável para garantir o futuro do SNS.

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domingo, janeiro 18

Reforma das urgências


TMQual o dossier mais difícil que herdou de Correia de Campos?
Ana Jorge
— Pela sua mediatização e conflituosidade, talvez o das urgências
Tempo Medicina 19.01.09

«Desde que Ana Jorge assumiu a pasta da Saúde, fecharam as urgências dos hospitais de Vila do Conde e de Estarreja, em Novembro, sem grandes manifestações populares. E abriram oito SUB em centros de saúde (com Correia de Campos só tinha arrancado o de Odemira).
Mas o que contribuiu seguramente para acalmar os protestos da população foi a quase paragem do fecho nocturno dos SAP dos centros de saúde. No mandato de Ana Jorge, só dois SAP encerraram, o de Caminha e o do Cadaval, e não por imposição, mas de morte natural, por não haver médicos em número suficiente para assegurar o funcionamento durante 24 horas.
Agora, há mais 46 SAP para fechar à noite (os que têm menos de 10 utentes de madrugada e que se situam sobretudo no Centro e no Norte, sendo que em alguns a média de atendimento é inferior a uma pessoa por noite), admite o Ministério da Saúde (MS).» (…)
JP 11.01.09

Tão dificil... que a solução parece ter sido quase congelar o processo até à próxima maioria absoluta.

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quarta-feira, setembro 10

Crise das urgências


Então não se sabia já que havia empresas de “out sourcing” a cobrar cem euros à hora pela prestação de trabalho médico? E que a organização de muitas das equipas de urgência dos HH do SNS são verdadeiras mantas de retalhos? link
O que é novidade é a pública indignação do bastonário da OM, dos administradores hospitalares e do MS .

A situação que actualmente se vive tem por base uma grave distorção. Como se sabe, os médicos (horário completo) estão obrigados a prestar 12 horas da carga horária semanal nas urgências. Todas as horas prestadas além destas 12 horas são pagas como trabalho extraordinário. Dada a falta de pessoal, os médicos acabam por fazer um número exagerado de horas nas urgências, pagas como trabalho extraordinário o que agrava os custos e compromete a qualidade da prestação destes serviços.

Uma das soluções para tentar contornar este problema foi a criação de equipas fixas de médicos «intensivistas» (especialistas em urgências) em full-time de forma a libertar os especialistas para as consultas e os serviços das diversas especialidades (hospital de Santa Maria) link.
Os críticos deste modelo acusam as administrações hospitalares de pretenderem com esta medida reduzir essencialmente os custos através da substituição de equipas de especialistas, altamente diferenciadas, por médicos menos habilitados, que só prestam serviço nas urgências, sem salvaguardar devidamente a qualidade das prestações .

Sem qualquer contributo importante para a discussão, o bastonário da OM, como é seu timbre, limita-se a disparar em todas as direcções. Não se esquecendo de lembrar que "não foram os médicos que inventaram a empresarialização dos hospitais".
Não senhora.
Depois de terem inventado as listas de espera, que mais poderiam aspirar!
Para apaziguar as coisas, a ministra da saúde comprometeu-se a regular a situação dentro em breve .
A dedicação exclusiva do pessoal médico, vinculado ao serviço público, poderia ajudar. Se não tivesse a oposição da classe médica rendida às virtudes do mercado.
E ninguém ousaria criticar aquela prática restritiva, numa altura em que a administração Bush acaba de nacionalizar a Fannie Mae e a Freddie Mac, duas megas empresas privadas do crédito hipotecário.

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segunda-feira, junho 16

Rede de Referenciação


Da Urgência

Ainda a propósito da garantia dada por José Sócrates, sábado (14.06.08), que as reformas no Serviço Nacional de Saúde são para manter, apesar da contestação, link talvez seja oportuno lembrar o primeiro ministro que a rede de referenciação da Urgência já está «ao nível operacional» (depois de adaptada às alterações efectuadas pela tutela ao mapa de Urgências) e que a sua colocação no terreno apenas está dependente da decisão dos órgãos competentes do Ministério da Saúde. link

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domingo, maio 18

Urgências

Tempo de executar
«Em Portugal somos mais ou menos bons a inventar projectos, somos menos bons a implementá-los e, normalmente, somos péssimos a acompanhá-los, mas para este projecto vingar vai ter de haver acompanhamento»
António Marques, presidente da (CTAPRU,
TM 19.05.08

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sábado, maio 10

CTAPRU

A Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação das Urgências (CTAPRU) pediu à ministra da Saúde a sua extinção, por considerar que estão cumpridos os objectivos. link

Exemplar. Até a sair de cena.

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sábado, março 29

Mapa das Urgências




É para cumprir. link
A ministra da Saúde, Ana Jorge, inaugurou a nova urgência do Hospital de S. Miguel, em Oliveira de Azeméis, (29.03.08), um investimento do Ministério da Saúde de cerca de meio milhão de euros. Oportunidade para garantir, uma vez mais, que o mapa da rede de urgências hospitalares «é para cumprir». link Para logo acrescentar que «a breve prazo falaremos de Anadia, mas o mapa publicado é para cumprir». link
Pequenos recuos neste campo minado, pagam-se caro.

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