quarta-feira, fevereiro 28

Urgências: para pior já basta assim...












(...) Os protocolos recente e apressadamente assinados entre Correia de Campos e alguns presidentes de Câmara de municípios onde o governo pretende fechar a respectiva urgência hospitalar, podem desmobilizar o protesto popular. Desse ponto de vista, a operação de charme lançada pelo governo até pode ser bem sucedida. link Mas os protocolos, só por si, não resolvem nem garantem que este processo de requalificação das urgências se traduza numa melhoria dos cuidados de urgência, num acesso mais fácil e num atendimento de maior qualidade. E não garantem por três razões: primeiro, porque quase todos eles são provisórios, são temporários e, portanto, não asseguram que no futuro se mantenham as soluções agora prometidas; segundo, porque o seu conteúdo incide sobre outras áreas da prestação de serviços que nada têm a ver com o funcionamento dos serviços de urgência; e por último, mas a mais relevante, porque não são os protocolos que podem garantir que o governo não opte por começar a montar a rede pelo que é mais fácil - os encerramentos, quando devia começar pelo que é mais preciso e inadiável: a instalação e requalificação dos actuais hospitais e serviços para os quais está previsto o estatuto de urgência polivalente.
Este é politicamente o principal perigo do processo desencadeado por Correia de Campos. Tanto mais que a sua implementação não está articulada com o reforço da rede de emergência pré-hospitalar, nem tão pouco com as mudanças em curso na organização dos cuidados primários de saúde, cujos reflexos no aumento da sua capacidade assistencial ainda não se fazem sentir.
Perante os riscos deste processo - e em contraponto à teimosia do governo e à pesca à linha a que Correia de Campos se tem dedicado, manda o bom senso e a inteligência que a requalificação dos serviços de urgência comece pelas urgências polivalentes e pelo sistema de emergência hospitalar. Enquanto a instalação da rede não estiver concluída, as urgências hospitalares que o governo quer fechar devem manter-se em funcionamento, no seu modelo actual ou de urgências básicas ( ou mesmo de SAPs), funcionando até às 20 ou 24h, conforme as situações.
João Semedo

5 Comments:

Blogger tonitosa said...

E houve quem dissesse que este humilde comentador "lança atoardas do mais baixo nível"?!
Leiam, caros colegas comentadores, esta apreciação do Dr. João Semedo, que pelos vistos também só está a lançar atoardas...

11:33 da tarde  
Blogger Saúde Oral said...

Acho que isto faz tudo parte de mais uma nova manobra propagandística deste governo, engenhoso como nenhum outro o foi neste capítulo.

Do tipo: a electricidade vai subir quase 20%!! Aflições, angústias pelo país todo, de calculadora em punho e coração na garganta. Finalmente, a "excelente" notícia. Este governo "benemérito" permite que "apenas" suba uns "meros" 6-7%. Aleluia, viva o governo!

Isto vai ser parecido. Fala-se da vergonha que é o mau atendimento nas Urgências de Évora, com carências de pessoal e de meios físicos? Fala-se na indignidade do atendimento em corredores e em cima de cadeiras de rodas, às vezes de pé, por não haver lugar para sentar as pessoas? Conversas íntimas à frente da populaça toda presente? Fala-se que os enfartes agudos do miocárdio são mal tratados em Évora, não que não haja Cardiologistas suficientes, mas porque se teima em não abrir uma Unidade de Hemodinâmica que fizesse as necessárias e mais que comprovadamente vantajosas angioplastias (sabe-se isso há já mais de uma dezena de anos...), correntes nas grandes cidades do Litoral, e que melhoram em muito a mortalidade e a morbilidade dos doentes com esta patologia? Fala-se que a Unidade de AVC (1ª causa de morte e morbilidade em Portugal) ainda está incapacitada de fazer trombólise (o melhor tratamento) por falta de aparelho de Ressonância Magnética? Mas que estas acabam por ser feitas na mesma, só que tarde demais para a administração do tratamento, num estabelecimento privado ali ao lado (CDI) a preço de ouro, para efeitos meramente diagnósticos e não terapêuticos (onde está a poupança?)? Fala-se na ausência de capacidade de monitorização nas enfermarias da saturação do oxigénio (um mero aparelhito que se enfia no dedo, relativamente barato...) nos doentes com insuficiência respiratória? E de tantos outros aparelhos básicos (esfignomanómetros para medir a tensão arterial, seringas infusoras, etc...)? Fala-se em optimizar o recurso às Urgências Centrais, sendo que bastaria para tal a obrigatoriedade do doente vir com carta do médico de família (claro que para isso seria necessário que os mesmos estivessem a trabalhar em SAP's), pagando mais em caso contrário (um preço de consulta)? Podendo-se então (e só então), naqueles sítios, reduzir ou optimizar o pessoal, que já não teria a afluência mal encaminhada que constitui a maioria das "Urgências" dos dias que correm. Não se fala nos casos sociais que entopem as enfermarias, doentes que não saem de lá por não terem para onde ir, sem retaguarda nenhuma (a não ser nos líricos documentos atirados não se sabe bem de onde para a comunicação social), ocupando vagas que se deveriam destinar a doentes agudos, que assim ficam prejudicados na abordagem às suas doenças que requerem tratamento urgente. Não se fala da vergonha que é a separação física do Hospital de Évora, que obriga a que, se alguém desmaia no Patrocínio, tenha que ligar ao CODU de Lisboa a explicar a situação, que comunica aos bombeiros de Évora a necessidade de transferir o doente... para o outro lado da rua! Ou que seja necessário chamar uma ambulância de cada vez que um doente precisa de fazer uma radiografia. Ou que seja necessário chamar uma ambulância de cada vez que, de noite, seja necessário mandar sangue para análises no laboratório... do outro lado da rua!

Ou seja, não se fala de praticamente nada, a não ser da ameaça do fecho de alguns SAP's, em alguns casos a partir de determinadas horas. Daqui a uns tempos, vai-se dizer que afinal não fecham todos, e que alguns até nem passam a fechar mais cedo, e todos ficam satisfeitíssimos com mais esta "vitória" para a saúde dos cidadãos portugueses.

Não se vão os anéis todos, e ficam os dedos. O problema é que a mão está toda podre, e ninguém a trata. A bem dizer, nem se fala sequer nela. E é esta a grande vitória propagandística deste governo.

É a vida....

(Fonte: Retirado da Internet)

1:11 da manhã  
Blogger e-pá! said...

O acertado e pertinente comentário do Dr. João Semedo que não colide com o esforço que foi feito, e conseguido, no programa "Prós e Contra" no sentido do esclarecimento da população.
Aliás, o desencanto do PSD assenta nisso. Uma persistente desinformação sobre este tema servia, no imediato, a estratégia política do PSD (publicamente anunciada).
Na realidade, CC tardou em perceber isso, tendo incialmente enveredado por uma política de confrontação gratuita (nomeadamente com os autarcas).

Mas o texto do Dr. João Semedo debruça-se, com pertinência, sobre a calendarização, a sequência e o ordenamento dos acontecimentos referentes à montagem das novas redes. E isto é extremamente importante. Mais importante e mais rigoroso do que, como CC se "atreveu", prever que no 2º. semestre de 2007 ou no início de 2008, algo estará a funcionar.
O desenvolvimento do proposto pela comissão técnica quanto à requalificação das urgências - que não mereceu oposição frontal - tem, obrigatóriamente, de obedecer a "timings" e a estratégias políticas de divulgação e de continuação do esclarecimento.

Os timings, implicam, antes de tudo, o não desmantelamento da estrutura existente, neste momento, no terreno. Depois, porque os recursos não são vastos, a paulatina "montagem" da(s) nova(s) rede(s), incluindo aí, os serviços de emergência pré-hospitalar. Parece sensato que a construção deste imenso "puzzle", a implantar no terreno, comece pelas urgências polivalentes e os SUMC. Ambos, terão de "aguentar" os primeiros embates resultantes das mudanças.
Na fase de transição, há necessidade de gerir e aferir os fluxos de doentes estimados. Isto é, a sua quantificação, qualificação (situações urgentes e emergências) e todo o modelo de funcionamento da rede pré-hospitalar (INEM, VMER's, SIV's, etc). Depois, a articulação e a coordenação dos meios e dos recursos humanos a envolver nestas operações. Finalmente, a montagem e a integração dos SUB (como estão concebidos ou redimensionados) neste complexo esquema.
A complementar esta demorada montagem deverá ser testada a rede de referenciação das urgências, a eficiência do CODU e a funcionalidade do anunciado "call center" do MS.

Até lá, nada deve (pode) ser mexido, sem causar graves perturbações nas populações.
E aqui, os protocolos do MS com as Câmaras devem garantir e assegurar que assim será. Mais, tratando-se de uma área sensível como é a saúde, será prudente haver um periodo de sobreposição entre o novo e o velho, com os custos inerentes a esse facto. Em saúde os "imprevistos" são (ou devem ser considerados) a normalidade.

A divulgação e o esclarecimento têm de ser orientadas no sentido de devolver a confiança (abalada, não vale a pena esconder) aos utentes. O esclarecimento deve insistir nas virtudes do novo sistema (qualidade dos serviços e segurança dos utentes) e abandonar a "ameaça" do encerramento súbito dos SAP's e/ou de SASU'S. Devem explicar o que são as "consultas abertas", para que servem, qual o período de funcionamento e aferir a sua capacidade de resposta às situações agudas não urgentes. Devem, ainda, pressupor uma aceleração do processo de mudança dos cuidados primários de saúde (muito lento e condicionado) e garantir ganhos efectivos, a curto e médio prazo, na cobertura assistencial do País. Esta é a maneira de transmitir (dar corpo) o conceito de proximidade.

CC vai, portanto, precisar
de muito mais tempo de antena para convencer, elucidar, manter informados, ...
Os protocolos não bastam. Por si só, adiam os problemas e, pior, protelam a indispensável reorganização.
As negociações com as Câmaras devem ser pactos politicamente datados. Referem-se ao "período de transição".

CC venceu a primeira batalha, mas (ainda) não ganhou a guerra!

1:37 da manhã  
Blogger Clara said...

A Manif de ontem em Arcos de Valdevez, reunindo cerca de 5000 pessoas, demonstra que, efectivamente, CC, depois de se ter encurralado, apenas ganhou uma batalha, estando longe de ganhar a guerra.

O ministro da saúde vai ter de aplicar-se quanto ao método de implementação da mudança e nas negociações com os autarcas.
O mau momento da relação CC/primeiro ministro, parece ter sido superado e José Sócrates na discussão de ontem no Parlamento, finalmente, deu a cara pela Guerra das Urgências.

9:47 da manhã  
Blogger lisboa dakar said...

Alguém me sabe explicar a diferença entre "consultas abertas" e sacus, sasus, catus e outros "Us"?
Será a diferença a retirada dos "Us" do nome?
Serão as ofertas diferentes em número, qualidade?
Serão os utilizadores diferentes em número, gravidade, exigência?

8:46 da tarde  

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