SNS, que futuro ? (2)
A pormenorizada discriminação do Avicena sobre o âmbito de acção das principais seguradoras na área da saúde e, paralelamente, as condicionantes que á sua volta gravitam, são impressionantes. LINK E, os potenciais excluídos, decorrentes do progressivo envelhecimento da população/aumento da esperança de vida, desenham, no horizonte da prestação de cuidados de saúde, uma gritante iniquidade.
hospital da luz não é para ricos- José roquete
Todavia, a sugestão de questionar o futuro do SNS LINK , não se acoita na inauguração do novo HL que, per si, não é importante. É, sim, pelo que representa em termos da definição de uma estratégia público/privada. Estratégia que preferia ser baseada na discussão de políticas sociais, conceitos, de programas, de objectivos e não de uma confrontação com dados estatísticos que, como se pode ver no seu último comentário, são inquietantes, para não dizer, ameaçadores. Apesar, ou mau grado, o modesto (sejamos contidos) desenvolvimento económico-social do País.
Em jeito de complementaridade, e porque o ócio de um fim-de-semana a isso proporciona, adianto-me no exercício daquilo que julgo ser imprescindível, isto é, tentar alinhar conceitos, inventariar questões, questionar soluções, mesmo aquelas que são, aparentemente, evidentes ou básicas. É preciso entendermo-nos sobre as questões primárias que, a meu ver, são essenciais. Estas questões serão corriqueiras ou redundantes para economistas da saúde ou para os gestores. Não são tão evidentes, ou tão lineares, para o universo dos profissionais de saúde, muito menos serão para os utentes do SNS, ou para os "clientes" de outros sistemas (seguros, p. exº.).
De modo paulatino e sistemático constatamos uma progressiva redução do espaço de intervenção (em termos de organização, gestão e prestação de serviços) pública do Estado. Se no aspecto económico esta “desestatização” está baseada e fundamentada em termos de “razões de mercado”, nomeadamente em tempos de globalização, no sector social as coisas não poderão passar-se de igual modo. Aqui, ou defendemos, ou negligenciamos, aquilo a que podemos chamar obrigações do Estado. Esta será a fronteira entre a nossa visão de País e da organização do Estado. A pressão política para o "encolher" ou afastar dessas obrigações é extremamente visível no Portugal de hoje. Basta seguir com atenção o percurso e o tipo de intervenção do grupo “Compromisso Portugal” e verificar como constantemente se deriva para a “conquista para o mercado” de áreas afectas ao sector público. É o corolário da mensagem, repetidamente, propalada: “menos Estado, melhor Estado”.
A fragilidade financeira do Estado (orçamento), os constrangimentos das finanças públicas (deficit controlado independentemente dos ciclos económicos), a perda de mecanismos internos de compensatórios (moeda), a complexidade contabilística (multiplicidade de contas e problemas de controlo), a dificuldade em definir objectivos (planeamento) etc., tornam o Estado vulnerável à estratégia do sector privado, interessado em alargar o mercado, de acordo com um primordial objectivo empresarial, legítimo – o lucro.
A entrada do sector privado em áreas tradicionalmente do domínio público (sector social), levanta, quase sempre, perante os cidadãos, inquietantes interrogações. O cerne deste inevitável questionamento situa-se na compatibilidade, diria mesmo, na competência e na vocação, da iniciativa privada em assegurar as obrigações da universalidade, que informam e enquadram as grandes prestações sociais neste momento afectas ao Estado. Estou a pensar na Saúde e Educação. A inevitável lei da oferta e da procura, que pontifica no mercado, não funciona quando o produto tem (deve) de ser dirigido a todos os cidadãos. É neste quadro, que temos visto surgir, em diversos sectores de âmbito público, as entidades reguladoras. O seu grande objectivo será, portanto, garantir a equidade e a acessibilidade no sistema existente (SNS) e nos investimentos, (complementares, para usar a filosofia oficial) neste âmbito. Deverá ser, em todos os momentos, a sede onde se gerará plataformas de convergência nas finalidades e especificidades e, de um rigor e inflexibilidade, na fiscalização entre os objectivos políticos e sociais do Estado e a prossecução dos interesses empresariais. Nunca uma concertação dos múltiplos interesses económicos e corporativos residentes, ou futuros, nesta área.
Temos de ser objectivos e constatar que, o rumo político do País, encaminha-se (à revelia de concepções ideológicas) no sentido de abrir – independentemente das declarações de circunstância do poder - as portas à iniciativa privada. O Hospital da Luz significa, antes de tudo, uma antecipação deste caminho. O sector financeiro e empresarial é exímio na antecipação e na interpretação precoce de cenários (políticos e económicos). Ver as habituais reacções das bolsas de valores.
Trabalhamos (a grande maioria dos profissionais de saúde) num SNS que fundamenta (deve fundamentar) as suas grandes opções na universalidade do sistema. Com o horizonte da universalidade, o sector público, necessita de redobrados esforços para manter níveis optimizados de eficiência e desempenho. Actuar em nichos de mercado é diferente. Finalmente, comparar resultados ou performances públicas e privadas, havendo estes condicionalismos a infectar os 2 sistemas (ou 2 modelos), é passar ao lado da realidade.
Como compatibilizar, então, estas tendências evolutivas do “mercado da Saúde” com a defesa da universalidade e equidade se as actividades de regulação do mercado são incipientes, no nosso País?
É, na minha opinião, necessário (re)equacionar praticamente tudo…
Isto é:
1º.) Debater o futuro do SNS tendo o Estado como financiador, pagador, prestador e regulador;
2º.) Acordar (depois de discutir) nos parâmetros e nas propostas sobre a sustentabilidade do SNS (estudo que tarda em aparecer);
3º.) Definir e caracterizar o âmbito de “mercado da saúde”;
4º.) Definir, fortalecer e autonomizar (do Estado) as balizas para uma efectiva regulação do sector;
5º.) Clarificar e desenvolver (universalizar) os processos de contratualização e parcerias.
Só com base nas múltiplas respostas e compreensão dos conceitos é possível planificar um “programa para o futuro” que passará, exactamente, pela questão primordial: SNS, que futuro?
E nesse programa saber quem é quem e para o que está. Assim, o utente saberá com o que conta, os trabalhadores do serviço de saúde as linhas com que se cozem, os “agentes intermediários do financiamento” (Estado e/ou seguradoras) conhecerão o seu âmbito, limites e obrigações e os prestadores estarão em condições de adoptar e executar contractos programa, anuais ou plurianuais.
O que o HL veio sugerir é a vigência de um esquema contaminado no seio deste pilar social do Estado. Enquanto, não se faz esta discussão e não se definem as balizas reguladoras deste particular “mercado de saúde”, desenvolvem-se iniciativas cada vez mais poderosas e processam-se vultuosos investimentos, na ausência de estratégias. O dito “empreendorismo” não funciona assim – pelo que alguma coisa estará errada. O “empreendorismo funcional” a que nos começamos a habituar aposta nas PPP’s. Gere, aufere lucros e não corre riscos. Este novo passo em frente (o investimento num “grande” H. privado) é uma inflexão estratégica, tanto mais desconcertante, quanto é verdade, que não são visíveis evidentes sinais de desenvolvimento económico-social em Portugal.
Para já não posso aceitar o “triple play” que começa a desenhar-se. Assim: Os grupos financeiros como financiadores + as seguradoras (dependentes deste) como intermediárias + as “holdings” daí derivadas (seguradoras+bancos) como entidades prestadoras. Neste caminho, haja ou não “agilização”, ou eventuais potenciações (sinergias) resultantes da integração e verticalização do mdelo de financiamento, com os projectos ou objectivos, o utente de um “qualquer sistema de saúde” (não me circunscrevo ao SNS), estará sempre desprotegido, fragilizado.
Defendo um apertado controlo (regulação) e a “separação de águas” destes poderosos actores no domínio do financiamento, intermediação e fornecimento de bens sociais, como é a Saúde, garantindo assim a eficiência, a segurança, a qualidade.
Aqui , levantam-se as habituais questões:
Como concertar tudo isto com a equidade e a universalidade dos serviços, sem tropeçar nos interesses do sector privado?
Como será possível, neste contexto, defender o SNS, enquanto um dos pilares sociais do Estado?.
- Bastará bradar pela boa gestão de recursos (técnicos e humanos), pelo aumento da produtividade, pelo combate ao desperdício, racionalização dos custos, eficiência da resposta,…
- Ou, será necessário também (mais e melhor) investimento, apostar em modernas tecnologias (modernizar), avaliar continuamente a qualidade, educar (para a saúde) e informar os utentes, aplicar-se na prevenção, criar incentivos, responsabilizar os profissionais de saúde (tratá-los como actores e parceiros na consolidação do SNS),?
O SNS é, indubitavelmente, alvo de uma investida do sector privado porque apresenta notórios sintomas de debilidade. Mas, no fundo, está doente.
Como sabemos tratar sintomas, não cura doenças.
hospital da luz não é para ricos- José roquete
Todavia, a sugestão de questionar o futuro do SNS LINK , não se acoita na inauguração do novo HL que, per si, não é importante. É, sim, pelo que representa em termos da definição de uma estratégia público/privada. Estratégia que preferia ser baseada na discussão de políticas sociais, conceitos, de programas, de objectivos e não de uma confrontação com dados estatísticos que, como se pode ver no seu último comentário, são inquietantes, para não dizer, ameaçadores. Apesar, ou mau grado, o modesto (sejamos contidos) desenvolvimento económico-social do País.
Em jeito de complementaridade, e porque o ócio de um fim-de-semana a isso proporciona, adianto-me no exercício daquilo que julgo ser imprescindível, isto é, tentar alinhar conceitos, inventariar questões, questionar soluções, mesmo aquelas que são, aparentemente, evidentes ou básicas. É preciso entendermo-nos sobre as questões primárias que, a meu ver, são essenciais. Estas questões serão corriqueiras ou redundantes para economistas da saúde ou para os gestores. Não são tão evidentes, ou tão lineares, para o universo dos profissionais de saúde, muito menos serão para os utentes do SNS, ou para os "clientes" de outros sistemas (seguros, p. exº.).
De modo paulatino e sistemático constatamos uma progressiva redução do espaço de intervenção (em termos de organização, gestão e prestação de serviços) pública do Estado. Se no aspecto económico esta “desestatização” está baseada e fundamentada em termos de “razões de mercado”, nomeadamente em tempos de globalização, no sector social as coisas não poderão passar-se de igual modo. Aqui, ou defendemos, ou negligenciamos, aquilo a que podemos chamar obrigações do Estado. Esta será a fronteira entre a nossa visão de País e da organização do Estado. A pressão política para o "encolher" ou afastar dessas obrigações é extremamente visível no Portugal de hoje. Basta seguir com atenção o percurso e o tipo de intervenção do grupo “Compromisso Portugal” e verificar como constantemente se deriva para a “conquista para o mercado” de áreas afectas ao sector público. É o corolário da mensagem, repetidamente, propalada: “menos Estado, melhor Estado”.
A fragilidade financeira do Estado (orçamento), os constrangimentos das finanças públicas (deficit controlado independentemente dos ciclos económicos), a perda de mecanismos internos de compensatórios (moeda), a complexidade contabilística (multiplicidade de contas e problemas de controlo), a dificuldade em definir objectivos (planeamento) etc., tornam o Estado vulnerável à estratégia do sector privado, interessado em alargar o mercado, de acordo com um primordial objectivo empresarial, legítimo – o lucro.
A entrada do sector privado em áreas tradicionalmente do domínio público (sector social), levanta, quase sempre, perante os cidadãos, inquietantes interrogações. O cerne deste inevitável questionamento situa-se na compatibilidade, diria mesmo, na competência e na vocação, da iniciativa privada em assegurar as obrigações da universalidade, que informam e enquadram as grandes prestações sociais neste momento afectas ao Estado. Estou a pensar na Saúde e Educação. A inevitável lei da oferta e da procura, que pontifica no mercado, não funciona quando o produto tem (deve) de ser dirigido a todos os cidadãos. É neste quadro, que temos visto surgir, em diversos sectores de âmbito público, as entidades reguladoras. O seu grande objectivo será, portanto, garantir a equidade e a acessibilidade no sistema existente (SNS) e nos investimentos, (complementares, para usar a filosofia oficial) neste âmbito. Deverá ser, em todos os momentos, a sede onde se gerará plataformas de convergência nas finalidades e especificidades e, de um rigor e inflexibilidade, na fiscalização entre os objectivos políticos e sociais do Estado e a prossecução dos interesses empresariais. Nunca uma concertação dos múltiplos interesses económicos e corporativos residentes, ou futuros, nesta área.
Temos de ser objectivos e constatar que, o rumo político do País, encaminha-se (à revelia de concepções ideológicas) no sentido de abrir – independentemente das declarações de circunstância do poder - as portas à iniciativa privada. O Hospital da Luz significa, antes de tudo, uma antecipação deste caminho. O sector financeiro e empresarial é exímio na antecipação e na interpretação precoce de cenários (políticos e económicos). Ver as habituais reacções das bolsas de valores.
Trabalhamos (a grande maioria dos profissionais de saúde) num SNS que fundamenta (deve fundamentar) as suas grandes opções na universalidade do sistema. Com o horizonte da universalidade, o sector público, necessita de redobrados esforços para manter níveis optimizados de eficiência e desempenho. Actuar em nichos de mercado é diferente. Finalmente, comparar resultados ou performances públicas e privadas, havendo estes condicionalismos a infectar os 2 sistemas (ou 2 modelos), é passar ao lado da realidade.
Como compatibilizar, então, estas tendências evolutivas do “mercado da Saúde” com a defesa da universalidade e equidade se as actividades de regulação do mercado são incipientes, no nosso País?
É, na minha opinião, necessário (re)equacionar praticamente tudo…
Isto é:
1º.) Debater o futuro do SNS tendo o Estado como financiador, pagador, prestador e regulador;
2º.) Acordar (depois de discutir) nos parâmetros e nas propostas sobre a sustentabilidade do SNS (estudo que tarda em aparecer);
3º.) Definir e caracterizar o âmbito de “mercado da saúde”;
4º.) Definir, fortalecer e autonomizar (do Estado) as balizas para uma efectiva regulação do sector;
5º.) Clarificar e desenvolver (universalizar) os processos de contratualização e parcerias.
Só com base nas múltiplas respostas e compreensão dos conceitos é possível planificar um “programa para o futuro” que passará, exactamente, pela questão primordial: SNS, que futuro?
E nesse programa saber quem é quem e para o que está. Assim, o utente saberá com o que conta, os trabalhadores do serviço de saúde as linhas com que se cozem, os “agentes intermediários do financiamento” (Estado e/ou seguradoras) conhecerão o seu âmbito, limites e obrigações e os prestadores estarão em condições de adoptar e executar contractos programa, anuais ou plurianuais.
O que o HL veio sugerir é a vigência de um esquema contaminado no seio deste pilar social do Estado. Enquanto, não se faz esta discussão e não se definem as balizas reguladoras deste particular “mercado de saúde”, desenvolvem-se iniciativas cada vez mais poderosas e processam-se vultuosos investimentos, na ausência de estratégias. O dito “empreendorismo” não funciona assim – pelo que alguma coisa estará errada. O “empreendorismo funcional” a que nos começamos a habituar aposta nas PPP’s. Gere, aufere lucros e não corre riscos. Este novo passo em frente (o investimento num “grande” H. privado) é uma inflexão estratégica, tanto mais desconcertante, quanto é verdade, que não são visíveis evidentes sinais de desenvolvimento económico-social em Portugal.
Para já não posso aceitar o “triple play” que começa a desenhar-se. Assim: Os grupos financeiros como financiadores + as seguradoras (dependentes deste) como intermediárias + as “holdings” daí derivadas (seguradoras+bancos) como entidades prestadoras. Neste caminho, haja ou não “agilização”, ou eventuais potenciações (sinergias) resultantes da integração e verticalização do mdelo de financiamento, com os projectos ou objectivos, o utente de um “qualquer sistema de saúde” (não me circunscrevo ao SNS), estará sempre desprotegido, fragilizado.
Defendo um apertado controlo (regulação) e a “separação de águas” destes poderosos actores no domínio do financiamento, intermediação e fornecimento de bens sociais, como é a Saúde, garantindo assim a eficiência, a segurança, a qualidade.
Aqui , levantam-se as habituais questões:
Como concertar tudo isto com a equidade e a universalidade dos serviços, sem tropeçar nos interesses do sector privado?
Como será possível, neste contexto, defender o SNS, enquanto um dos pilares sociais do Estado?.
- Bastará bradar pela boa gestão de recursos (técnicos e humanos), pelo aumento da produtividade, pelo combate ao desperdício, racionalização dos custos, eficiência da resposta,…
- Ou, será necessário também (mais e melhor) investimento, apostar em modernas tecnologias (modernizar), avaliar continuamente a qualidade, educar (para a saúde) e informar os utentes, aplicar-se na prevenção, criar incentivos, responsabilizar os profissionais de saúde (tratá-los como actores e parceiros na consolidação do SNS),?
O SNS é, indubitavelmente, alvo de uma investida do sector privado porque apresenta notórios sintomas de debilidade. Mas, no fundo, está doente.
Como sabemos tratar sintomas, não cura doenças.
É-Pá
Etiquetas: E-Pá
8 Comments:
Não li o "artigo" como devia. Estou cansada, as considerações são densas, (embora fáceis de entender) e, como é sabido, o que se retém de cada "notícia" é o início e o fim.
A propósito do fim:
"Como sabemos tratar sintomas, não cura doenças." - queria dizer o seguinte:
1) Sem sinais ou sintomas avaliados torna-se impossível o diagnóstico e logo, a necessária, adeaquada e correcta "intervenção" sobre os mesmos, na procura se não da cura tendencial, pelo menos da minimização dos efeitos dos tais sinais e sintomas;
2) A não ser num estadio mais que muito avançado da ciência e da civilização, ou se quisermos do homem, nunca haverá "cura", apenas acções tendentes à reparação mais ou menos prolongada e, mais ou menos conseguida, tipo "remendo", um "enxerto" na existência que sabemos efémera.
Houvesse cura e não haveriam recidivas.
Houvesse cura e cada problema "resoLvido" estaria para sempre eliminado. E... sabemos que não é assim!!!
É certeira a análise do É-Pá quando refere que este investimento do ESS atinge o coração do SNS.
O último estado de arte dos cuidados de saúde, até esta data, poderia considerar-se como praticado nos HHs do SNS.
Com a abertura do Hospital da Luz o sector privado toma a dianteira em relação à prática da medicina pesada e da utilização de tecnologia de ponta.
E lá temos o nosso Eusébio, o pantera negra, dos magriços e do Benfica,envolvido numa operação de marketing bem delineada de promoção do recém aberto hospital da luz.
A abertura do Hospital da Luz em relação à prestação de cuidados de saúde no nosso país é efectivamente um marco, pois daqui em diante nada será como dantes.
Segundo números do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) de 2006 e 2007, foram entre 300 e 500 os médicos que pediram licença sem vencimento de longa duração (pode ir até dez anos) ou exoneração da função pública, um número que era residual em anos anteriores.
Muitos foram trabalhar para o sector privado em exclusivo, algo que quase não acontecia, explica o dirigente do SIM, Carlos Arroz. Houve também 400 médicos que se reformaram no ano passado, um número dentro do normal, desconhecendo-se quantos terão ido para o sector privado, nota o sindicalista.
O modelo da saúde privada está a mudar. Durante anos funcionou com as sobras dos horários dos médicos do público, que trabalhavam de manhã no hospital e à tarde em clínicas. A tendência é hoje para a criação de quadros próprios de médicos e enfermeiros, comenta Téofilo Leite, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada. Roquette, director clínico do Hospital da Luz, diz que dos cerca de 200 médicos que trabalham na unidade, 120 estão em exclusivo. A maior parte tem mais de 55 anos e pediu licença sem vencimento, estava à beira da reforma ou já estava reformada, explica.
Os recrutados em exclusividade não são novatos. Pelo contrário, "vamos buscar cabeças de cartaz", pelo seu "know-how, prestígio", explica Jorge Mineiro, director clínico do Hospital CUF Descobertas (Grupo Mello Saúde), ortopedista que deixou o Hospital de Santa Maria este ano. Mais de metade dos clínicos da unidade estão em exclusivo (são cerca de 60 em 120).
jp 24.04.07
Já tem dois meses de atraso mas nem por isso perdeu interesse.
No texto seguinte MB do DE, lamenta-se com amargura dos maus tratos infligidos pelos comentadores da SaudeSA.
Camaradas, vamos lá a ter maneiras, e tratar melhor o MB, porque esta vida são dois dias e CC só há um...
O editorial do André... e o SaúdeSA
O editorial do André Macedo, na segunda-feira, no Diário Económico, recolhia, esta noite, 25 comentários no SaudeSA. Confesso que sou um dos muitos leitores assíduos deste óptimo blog, que de vez em quando se refere a mim (em termos nem sempre elogiosos, mas tudo bem, quem vai à guerra dá e leva, e não me chateio com isso).
O que eu acho fantástico na generalidade dos comentadores é não perceberem nada de jornalismo. E não faz mal, porque não têm de perceber, mas para um jornalista, é fabuloso ver como é que os leitores interessados na Saúde interpretam os textos. Por exemplo, a manchete de segunda-feira, que dizia que a Saúde ia ter resultados positivos pela segunda vez consecutiva, era interpretado como um frete ao ministro, em vésperas de jornadas parlamentares.
Só para esclarecer, já agora, que a notícia surge pura e simplesmente de uma frase que o ministro da Saúde disse no final da semana passada, já no fim da conferência de imprensa em que anunciou o plano para combater a epidemia de gripe que por aí anda. Correia de Campos disse que as contas iam ser boas, e que a obrigação de respeitar o PEC tinha sido cumprida.
Não foi 'passada' pelo gabinete de comunicação, eu não fui o único a ouvi-la, estavam lá aí uns 20 jornalistas, mas como ninguém noticiou isso no dia seguinte (eu incluído), achei por bem inquirir sobre como estavam as contas. E foi-me confirmado que, de facto, não havia défice do exercício. E é isso que está escrito no texto que suporta a manchete e potencia o editorial.
Portanto, não há teoria da conspiração, nem favor ao ministro (mas claro que o ministro há-de ter gostado, assim como não gostou - garanto - da manchete de que revelava as recomendações preliminares da comissão liderada por Jorge Simões).
PS - Questão diferente é saber o que vai o ministro fazer quando receber as recomendações da comissão sobre o financiamento do SNS. Estou muito curioso para saber o que aí vem, e ainda mais para saber como vai ser recebida pela opinião pública e publicada...
Isabel Vaz, presidente da Espírito Santo Saúde em entrevista ao Semanário Económico:
A classe médica não aprecia a ideia mas, um hospital privado é como uma fábrica e a única forma de ser competitivo é “fazer mais com menos, mantendo a qualidade”.
Na próxima semana os beneficiários da ADSE já podem recorrer ao Hospital da Luz que tem a Medis, a AdvanceCare, os a BES Seguros, a Allianz e a Victoria como clientes
A afirmação de que o SNS ...no fundo está doente, com que o É-Pá termina o seu texto leva-me a trazer aqui alguns dados que ajudam (creio) ao diagnóstico.
São títulos e notícias de hoje do Jornal Público que vale a pena ler.
vejamos:
1. Centenas de médicos trocam hospitais públicos pelos privados;
2. Desvio de doentes do público para o privado;
3. ...Outra das razões que levaram à demissão foi a a cumulação de um passivo na gestão do hospital que poderá chegar aos 58 milhões de euros...
De acordo com o ex-administrador dos HUC, este défice deve-se em grande parte aos atrasos do MS no pagamento de verbas contratualizadas com o HUC;
4. "Obras no Hospital de S. José motivam protesto do pessoal do serviço de urgência".
"...A situação está a gerar descontentamento nos profissionais de saúde, que acusam a administração de não proporcionar aqs condições necessárias para assegurar os correctos procedimentos no atendimaneto, observação e tratamento de doentes";
5. Retirado depois do pedido para fotografar um insólito cofre à espera do doente;
6. Grávida dadora de sangue teve de pagar taxa;
Ainda no mesmo sentido pode ler-se no Diário Económico:
"Demissões nos Hospitais
São João, no Porto, Curry Cabral, em Lisboa e agora os Hospitais da Universidade de Coimbra. São estas as administrações que já apresentaram ao Ministro da Saúde a demissão por razões diferentes.
Ao que "consta" existem mais casos de hospitais que estão em desacordo com os contratos programa que lhe foram propostos, não estando disponíveis para os assinar.
São na verdade situações que nos permitem pensar que muita coisa vai mal no SNS.
É caso para se perguntar:
PARA ONDE VAI O SNS?
Há dias assim!...
Hoje tive mais tempo do que o habitual (férias são férias...) para ler os jornais.
E do que li, não resisto a deixar aqui mais um comentário.
Na área reservada a publicidade (Classificados) do Jornal Público, estão publicados dois anúncios do Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE, no mínimo caricatos.
Dizem assim:
"Anúncio
Por despacho do Conselho de Administração deste Centro Hospitalar de 21/02/07, foi anulado...o Concurso Público nº ....relativo a prestação de serviços de vigilância das instalações do Centro Hopsitalar de Lisboa - Zona central para o ano de 2006";
........
Anúncio
Por despacho do Conselho de Administração deste Centro Hospitalar de 21/02/07, foi anulado...o Concurso Público nº ....relativo a prestação de serviço de transporte de doentes do Centro Hopsitalar de Lisboa - Zona central para o ano de 2006".
Estamos na verdade perante um verdadeiro paradigma da eficácia dos serviços do Centro Hospitalar a que os anúncios se referem;
concursos para prestação de serviços em 2006 foram anulados em 21 de fevereiro de 2007, ou seja dois meses depois de ter terminado o ano durante o qual os serviços deveriam ter sido prestados! E foram precisos mais dois meses para serem publicitados os despachos de anulação!
Porém, e como se aquilo não bastasse, o mesmo jornal reserva-nos ainda uma outra surpresa: a publicitação de Concurso Público Internacional promovido pelo mesmo Centro Hospitalar para "Manutenção e Assitência Técnica ao Equipamento Informático" durante o ano de 2007, informando-se no mesmo anúncio que o acto público do concurso ocorrerá no dia 14 de Junho de 2007.
Ou seja, é de prever que, sendo um concurso de elevado envolvimento financeiro, a análise das propostas e outras questões burocráticas remetam a decisão lá para o terceiro trimestre de 2007(ou mais) sobre um concurso que vigorará até ao final do ano.
Assim é que é trabalhar!...
De qualquer modo ao CA do CH é preciso "sustê-lo".
Com o seu sorriso inocente, o ministro Correia de Campos, vai pacientemente cortando o oxigénio ao Serviço Nacional de Saúde. Torna os portugueses personagens de Charles Dickens: aqueles que se arrastam em ruas sujas e onde se procura sobreviver às doenças. Confúcio dizia que a harmonia era fundamental numa sociedade. E a saúde faz parte dela. E é isso que se está a destruir.
Dou um exemplo. Por razões de saúde, tenho de ir ciclicamente ao médico de família. Nos últimos meses tudo tem sido mais penoso: depois de uma triagem, que agora demora, muitas vezes, mais uma hora do que antigamente, lá consigo ficar à espera de ser atendido pelo médico.
Com isto se passam horas, em que não trabalho (e, depois, o Governo pede produtividade...). Perguntei o que se passou. "Simples", responderam, "um dos administrativos reformou-se e a entrada de outro está congelada. Dois médicos de clínica geral e o que existia para crianças foram para o serviço privado e como não há ordens para os substituir, o meu médico, por exemplo, tem as urgências e teve de reduzir o número de doentes fixos, porque agora também tem de ver as crianças e as grávidas". Resultado: atrasos e mais atrasos. É assim que se asfixia, sorridentemente, o serviço público.
Nada é inocente. É assim que Correia de Campos, tornando os serviços públicos tão maus, devido à falta de meios, conseguirá que todos digam tão mal deles que quererão outros. Que não sejam públicos. Está a conseguir o seu objectivo.
FERNANDO SOBRAL
Jornal de Negócios (24/04/2007)
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