domingo, junho 10

Luta social dos nossos dias



É preciso entender de uma forma clara a complexidade da luta social dos nossos dias, perceber as prioridades estratégicas e não perder tempo a lutar contra moinhos de vento .

A agenda do governo de direita PSD/PP era bem diferente da agenda do actual governo socialista e como tão bem sabe quanto eu, nunca teve como prioridade o Plano Nacional de Saúde, elaborado na continuidade das Estratégias de Saúde do Governo PS Maria de Belém/Sakellarides e abandonadas pela Manuela Arcanjo. O PNS levado a cabo pela equipa de Pereira Miguel, foi apenas tolerado e nunca constituiu uma prioridade de LFP, donde saiu como se sabe 40 programas, 120 indicadores, agora agrupados em prioridades. Só quem não está no terreno é que não percebe o trabalho que se tem desenvolvido, na área das doenças do aparelho circulatório, cancro, idosos e agora na saúde mental, com aprovação dos programas de saúde escolar e dos adolescentes, etc... A mim também me interessa o futuro do SNS, só que para mim defender o SNS, é pô-lo a funcionar melhor, com maior eficiência e maior eficácia, melhorar a acessibilidade aos serviços, racionalizá-los na gestão, mais equitativos e de excelência.

Desenvolvi actividade sindical mais de 20 anos, como delegado sindical, dirigente sindical (regional/federativo) e fui dirigente da central sindical, habituei-me a respeitar dirigentes sindicais, como Manuel Carvalho da Silva, pelo seu conhecimento do "Trabalho" e pela forma como tem sabido manter um equilíbrio entre as correntes minoritárias (católicos, socialistas, bloquistas, renovadores) e a corrente comunista maioritária. A complexidade da luta social e as mudanças verificadas nas duas últimas décadas, colocam importantes questões ao mundo sindical, a redução do número de grandes empresas, a fraqueza do mundo industrial, o tecido social português onde as PME constituem 76% do emprego e 57% do volume de negócios e obrigam os sindicatos a encontrarem novos rumos. Foi assim que a CGTP se viu nos últimos anos "capturada pelos interesses" dos sindicatos da função pública, para além do STAL, FNSFP, a FENPROF(muitos sindicalizados e boa capacidade financeira) e o SEP (menos sindicalizados mas boa capacidade financeira) e "entalada" entre várias contradições: necessidade de se reformar e dotar-se de dirigentes capazes de discutirem empresa a empresa direitos e reivindicações; novo Código do Trabalho; nova liderança do PCP; conflitos entre a maioria comunista e Carvalho da Silva. A greve não foi geral, teve uma fraca adesão, mesmo em sectores tradicionais, como os enfermeiros, ou a educação e merecerá uma análise profunda por parte dos intervenientes, veja-se a dificuldade no balanço das adesões por parte de carvalho da silva, os números divulgados no site da greve, e as declarações de Miguel Portas. Veja-se o guião para a Greve Geral na Saúde link:

1. A PRIVATIZAÇÃO DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE (SNS) - O Serviço Nacional de Saúde está a ser esvaziado de serviços e espoliado de profissionais a favor dos hospitais e clínicas privados dos bancos e seguradoras.
Encerram maternidades, urgências, centros de saúde e hospitais públicos. Em muitas localidades onde desapareceram ou diminuíram os serviços públicos, florescem clínicas e hospitais privados, só acessíveis a um número restrito de cidadãos. A pretexto da reorganização das unidades de saúde promove-se a sua fusão e insiste-se na construção de hospitais em regime de parceira público-privado com o objectivo de favorecer os lobbies económicos e financeiros. Em vez de se investir nos cuidados de saúde primários, na promoção da saúde e na prevenção da doença, privilegia-se a componente do tratamento da doença: situação que poderá vir a agudizar-se com a transferência de competências desta área de cuidados para as autarquias que não têm competências para assumir uma gestão integrada numa visão global do SNS, nem condições económicas para manter um serviço com este nível de exigência.

2. AS TAXAS DO NOSSO DESCONTENTAMENTO - O número de taxas moderadoras já ultrapassa as 370. Os seus valores continuam a ser aumentados acima da inflação, como aconteceu com:
As consultas e urgências nos hospitais distritais (3,64% e 3,33%, respectivamente) O serviço domiciliário teve um agravamento de 4,65%. O electrocardiograma 42,86% (passou de 0,70 para 1€). O arranque de uma unha encravada agora implica o pagamento de 28,15€. O internamento hospitalar, até 10 dias passou a custar 5€/dia Um acto cirúrgico ambulatório custa 10€. AS FAMÍLIAS PORTUGUESAS JÁ PAGAM, EM MÉDIA, 40,5% COM AS DESPESAS TOTAIS DE SAÚDE (CONTRA 24% DA MÉDIA EUROPEIA). DEPOIS DESTES AUMENTOS SERÃO AINDA MAIS PENALIZADAS."

Com este jargão é difícil convencer as pessoas a fazerem greve
, mesmo quando se recorre a números incorrectos. Os dados da OCDE 2006 referentes a 2004 dizem que 72,5% das despesas totais em saúde são públicas. O discurso do "bota-abaixo" dos arautos da desgraça, dos que veêm na reforma dos CS e na criação das USF's o principio da privatização do sistema, dos que recusam discutir novos sistemas de incentivos (exemplo do SEP e FNSFP na negociação das USF's), só pode conduzir a luta social a um beco sem saída. Espero sinceramente que este "aquecer de motores" não resulte em rateres, prenúncio de carro avariado.
Avicena

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