sexta-feira, junho 15

Negócio da Saúde

foto GH n.º 27
(...) Nos hospitais e centros de saúde do Serviço Nacional de Saúde, por seu lado, não havendo formalmente a noção de lucro, afirma-se com frequência que existem ineficiências – poderia-se realizar muito mais, prestar mais assistência à população, com os recursos existentes. Ou, para os actuais níveis assistenciais, gastar menos recursos. Só que se o Ministério da Saúde paga, alguém recebe. E se recebe mais do que o estritamente necessário, então há aqui lucro, escondido sobre a forma pagamentos excessivos, vulgo desperdício. link

O argumento de que a saúde não é negócio serve frequentemente apenas para fomentar a falta de preparação do Estado numa relação com partes para as quais a prestação de cuidados de saúde é uma actividade profissional (e logo negócio). Aliás, a falta de profissionalismo na gestão das relações que estabelece é um dos problemas do Estado português, em geral.

Resulta daqui que é melhor reconhecer que a prestação de cuidados de saúde é um negócio, mesmo no sector público. Deve ser organizado tendo em vista que o objectivo último é a saúde dos cidadãos. Os parceiros desse “negócio” são tanto as empresas que vendem bens e serviços, como os profissionais de saúde envolvidos.
pedro pita barros, DE 15.06.07

A desorganização, a falta de profissionalismo é surpreendente em muitos HHs do SNS. Apesar da intervenção de sucessivas vagas de AH.
Geralmente a informação é inexistente ou escassa e pouco fiável. Por vezes, deparamos com áreas em que os dados abundam, mas sem informação sistematizada. A contabilidade analítica hospitalar é perfeita inutilidade, pois não permite conhecer com o mínimo rigor quem gasta o quê e como.
Sistemas de aquisição e distribuição de bens de consumo e uso hospitalar fragmentados, desprovidos de racionalidade económica, incapazes de satisfazer as necessidades dos utilizadores.
A panóplia de equipamentos, acessórios e consumíveis, autêntico bricabraque de marcas e representações, torna difícil/impossível a assistência técnica, indispensável para assegurar o seu funcionamento contínuo em condições de segurança.
O acesso às consultas estende-se desde o guichet de atendimento (para os parvos), corredores fora até ao tasco da frente (onde chicos espertos traficam facilidades). Os senhores doutores abrilhantam o sistema atendendo utentes nos corredores a caminho dos MCDTS.
O turista estrangeiro achará, certamente, o atendimento muito típico, mourisco, e, se não for de gravidade, levará boas que contar para a sua terra sobre a informalidade do sistema de saúde português.
Infelizmente EPE, PPP, privados, estão em vias de aniquilar estes locais de peregrinação.
Vem aí o negócio, à séria, devidamente organizado da Saúde, para o português titular de seguro doença.

6 Comments:

Blogger tonitosa said...

"A desorganização, a falta de profissionalismo é surpreendente em muitos HHs do SNS. Apesar da intervenção de sucessivas vagas de AH."

Levado o texto "à letra" eu diria que "a minha alma está parva".

"APESAR DA INTERVENÇÃO DE SUCESSIVAS VAGAS DE AH"?!...

Quanto ao resto, aos problemas enumerados, não posso estar mais de acordo com o Xavier.
Destaco o facto de continuarmos a ignorar os relatórios e contas dos HH (sejam EPE's ou outros) quando o mês de Junho já vai a meio! E nem os relatórios de 2005 estão todos publicados no site dos "hospitaisepe"!
A informaçãpo disponibilizada, como já todos percebemos, é só a que convém ao MS, e quando convém aos seus objectivos de "show off".
Às vezes trata-se de falta de informação; outras de ocultação de informação.

12:16 da manhã  
Blogger xavier said...

Caro tonitosa,
Uma grande surpresa!
Não esperava encontrar hospitais assim.
Mas continuo a pensar que os AH são os maiores gestores da Saúde.
Um abraço

12:39 da manhã  
Blogger Clara said...

Queremos o Xavier a escrever, como tão bem sabe, estes apontamentos pitorescos da nossa Saúde.

12:57 da manhã  
Blogger saudepe said...

Achei este artigo do PPB fraquito.

O negócio nunca esteve arredado da prestação pública de cuidados, como sabemos.

Quando se fala em negócio da saúde também todos nós sabemos que tem um sentido pejorativo.

Também sabemos que o que determina o mercado é a lei da oferta e da procura. E em Saúde, na prestação pública de cuidados, esta lei sofre fortes constrangimentos devido ao Estado ser simultâneamente prestador, regulador e financiador do sistema.

O mercado da saúde é pois um mercado especial onde falha a concorrência.

Este mercado não concorrencial, protegido, está em transformação acelerada, uma vez que o Estado está a bater em retirada em relação ao seu papel de prestador directo de cuidados.

O objectivo anunciado para esta debandada é a obtenção de melhores níveis de eficiência através da criação de um mercado concorrencial da Saúde.

Neste novo quadro de relações de produção parece mal chamar à Saúde um negócio, nos termos em que tem vindo a ser utilizado.

Vai daí o dr. Pita Barros propôs-se tentar limpar a má imagem do conceito neste artigo do DE, explicando tudo com inexcedível paciência, tim tim por tim tim.

A verdade nua e crua é que o sector público foi explorado ao longo dos tempos por políticos e compadrios descarados. Agora que o leite da vaca secou, chegou a altura de entregar a carne aos privados.

A propósito deste comentário: Já comprou o seu seguro de saúde?

1:50 da tarde  
Blogger cotovia said...

A Saúde tem sido gerida por muitos compadrios.
De AH, também.
A é amigo de B; C é colega de curso de D; B é do partido de D; H é protegida de FR; E e F conheceram-se na pista de ski da serra nevada.
Selecções destas deixam muito a desejar quando se trata de fazer gestão.

O sector privado não é melhor. No lugar de seleccionar os melhores alunos que saem das universidades, são os filhos família que arranjam emprego.

2:04 da tarde  
Blogger tonitosa said...

PPB faz uma análise que começa por quase convencer-nos de que a saúde, ou melhor, os cuidados de saúde são um negócio e como tal, o lucro é um seu objectivo.
Na verdade ao referir que o SNS não tem como objectivo o lucro (dirão muitos), o autor diz: “na verdade não estou tão certo”.
E surge a confusão!
Entramos numa espécie de “trocadilho” de PPB para defender que a saúde é um negócio onde existe o lucro.
E isto só é compreensível porque se não cuidou de precisar o conceito de “Serviço Nacional de Saúde”. E confundem-se os objectivos das empresas e das entidades privadas fornecedoras de bens e prestadoras de cuidados de saúde com os objectivos do SNS.
Teremos que ter presente a evolução do conceito de bens e serviços públicos e fazer a distinção clara entre cuidados de saúde enquanto prestados pelo Estado (bem público) e prestados por particulares, sendo os cuidados de saúde, hoje, pacificamente aceites como bens semi-públicos.
Ora, uma coisa são os interesses e objectivos do Estado; outra, os interesses e objectivos dos particulares. E só nos deste segundo grupo existe (legitimamente) o objectivo do lucro.
E mesmo em saúde o lucro é defensável para quem investe em equipamentos e produção de medicamentos e outros bens necessários à prestação de cuidados, como alternativa à aplicação dos seus “capitais” noutras actividades (eventualmente em simples aplicações financeiras). O que é inaceitável é o chamado lucro anormal (em qualquer actividade mas na saúde em particular).
Já quanto ao SNS (Estado) o seu objectivo é a prestação de cuidados de saúde como, de resto, afirma o próprio PPB (“o objectivo último é a saúde dos cidadãos”).
Mas na sua relação com o comprador (SNS/Instituições) os particulares realizam um negócio (com expressão na venda de bens e prestação de serviços) e nos preços praticados está objectivamente o lucro como parcela incluída naqueles. O SNS procurará adquirir os bens e serviços ao menor preço não para que no seu “negócio” (prestação de cuidados) o seu lucro seja maior, mas antes para que o seu “custo” (na prestação de cuidados) seja o menor possível (eficiência).
PPB parece defender a ideia de que havendo desperdício no SNS os particulares facturam mais, e com isso terão maior lucro (lucro total, digo eu). E é verdade. Mas, ainda assim, não me parece correcto que se confunda a necessidade de uma gestão mais eficiente do SNS com a ideia de que a apropriação pelas próprias instituições ou dos seus profissionais confira ao “negócio” (visto do ponto de vista do SNS) o lucro como objectivo.

PS: Xavier,
Não me referia às capacidades, qualidades e competências dos AH. Sendo que, reitero a minha opinião: não os únicos capazes de "gerir" estabelecimentos de saúde e em particular hospitais. E podem ser os "maiores gestores da Saúde" o que não significa que sejam os melhores. Alguns estarão a esse nível; outros nunca deviam ocupar os lugares. Como outros não-AH's, obviamente.
O que me mereceu destaque foi a referência a "sucessivas vagas" que deveriam, consequentemente, ter produzido melhores resultados.
Aceite um abraço e o meu apreço.

1:52 da manhã  

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