terça-feira, junho 12

Os pequenos HHs do interior (2)

Hospital de AmaranteCaro Avicena, não posso deixar de concordar com a maioria dos pontos referidos no seu post link mas tenho de fazer algumas correcções em relação a alguns pressupostos que induziram a sua resposta.

1º - Não estou a falar dos pequenos hospitais do Litoral (ex: Estarreja, Ovar, Águeda ou São Joao da Madeira) onde a realidade demográfica e a facilidade em encontrar médicos que queiram ali trabalhar não se compara com a realidade do interior (ex: Trás-os-Montes), pois, embora entre a maioria dos pequenos HH e os seus Hospitais de referência exista pouco tempo de distância, o mesmo não se passa com o tempo entre o domicilio, de uma população idosa sem “mobilidade” própria ou pública tendo que recorrer sistemáticamente ao uso de taxis, e o acesso aos cuidados de saúde.

2º – Parte-se do pressuposto que a maioria dos médicos destes Hospital vivem para as horas extraordinárias quando na realidade os desperdicios em horas sucedem mais nos grandes hospitais como referiu o Dr. Cabrita (cirurgião geral) no programa “prós e contras”, dando o exemplo do que se passa em Coimbra e seguramente tambem no Porto e em Lisboa com a duplicação de serviços e o baixo ratio de doentes/médico. É frequente encontrar os médicos destes pequenos hospitais a trabalhar em regime de prevenção (que foi a opção proposta por CC nos acordos que fez para os encerramentos dos SAP) e muitas dessas horas extraordinárias são feitas por médicos vindos dos Hospitais centrais que vão ali prestar serviço, nomeadamente de noite aos fins de semana.

3º – Concordo plenamente com a aposta no ambulatório e no hospital de dia para os pequenos Hospitais, mas para ser o ambulatório que CC deseja (comparável com o que se faz por ex: em Espanha) considero que para não deixarem fugir os jovens médicos que já lá estão têm de proporcionar-lhes as condições necessárias para a formação, estágios em unidades nacionais e no estrangeiro, pois, apesar de se ver esses projectos a avançar em relação a estruturas e equipamento, os recursos humanos têm sido esquecidos em todo este processo de mudança. Parece-me mais facil manter quem está e quer trabalhar nesses locais, do que esvaziar os hospitais e ter de começar tudo do zero, na contratação e captação de recursos, que é um processo moroso e dificil. Um bom exemplo é o empenho do governo em dar equivalências ao curso de medicina aos colegas estrangeiros emigrados para desta forma arranjar clinicos gerais para os centros de saude que se foram desertificando.

4º – Pressupôs que eu concordava com a manutenção destes Hospitais no mesmo formato o que não é real. Quem me dera a mim que houvesse mais rapidez no processo de certificação dos Hospitais, pois a qualidade é um processo de inovação dinamizador de ganhos de eficiência, através da alteração de procedimentos e processos que podem levar à poupança de recursos e desta forma participar na promoção da sustentabilidade do SNS que neste momento passa apenas por uma estratégia de contenção (que atinge os cuidados prestados ao doente) e ataque directo a bolsa dos utentes que fazem certamente parte dos “stakeholders” que supostamente deviam ser “protegidos”.

ES

1 Comments:

Blogger cotovia said...

A política relativamente aos pequenos HHs do interior e litoral tem sido a sua integração em Centros Hospitalares, extinguindo desta forma a sua autonomia como entidade jurídica e financeira.

Sob o ponto de vista funcional o objectivo claro desta mudança é ir reduzindo paulatinamente a sua dimensão e especialização técnica até a sua extinção ou transformação em hospitais de rectaguarda.

Se esta política poderá ser aceitável em relação aos hospitais do litoral é de todo repudiável em relação aos hospitais do interior onde a acessibilidade das populações aos cuidados de saúde é deficiente como prova o estudo de Ana Paula Santana Rodrigues- "geografias da saúde e do desenvolvimento. Evolução e tendências em Portugal".Coimbra: Almedina.

Esta política de encerramentos, recuos, abandono, vai deixar o interior do país, cada vez mais longe da rota do desenvolvimento.
Naturalmente os indicadores de saúde não deixaram de fazer repercutir a curto prazo os efeitos desta política de terra queimada tanto no ensino como na saúde.

11:58 da manhã  

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