sexta-feira, agosto 17

Reforma da Saúde, damage control


No local onde passo férias, faço todos os dias 15 Kms para ter acesso a jornais diários: JP, DN, JN e DE. O DE, além do MB, cada vez melhor. Hoje, dia de crónica do PKM, "Assim comia Descartes" com o Allen (o Woody), numa alegoria ao "monstro". Tenho amigos que dizem que o PKM é excelente pessoa. Embora o seu sentido de humor, num esforço para fazer sentido, saia um tanto esquisito. link

A valer a pena, a excelente entrevista do António José Teixeira ao VPV, "pessimista profissional", o nosso mais irreverente cronista, donde retirei estes dois suculentos pedaços:
link
(...) Que avaliação faz da marcha do Governo de José Sócrates?
Marcha bem e marcha mal. Sócrates é um bombeiro. Foi chamado numa altura em que a casa estava a arder. Deitou água na casa. As reformas na saúde e na segurança social não são reformas. São operações de damage control para a sobrevivência do sistema, mas por detrás não há uma visão política. Ou seja, voltamos à velha questão: o que é que o Estado deve fazer e o que é que não deve fazer? Ele não tem a menor ideia. E como não tem uma ideia, não tem uma direcção. A fé no Estado providência ou o «modelo social europeu» vem da incapacidade de definir o que o Estado deve fazer. Talvez leve ainda dez, vinte anos, até se perceber o que é indispensável que o Estado faça. Nesta altura, há duas posições: uma que diz que o Estado não deve fazer nada ou quase nada e outra que quer salvar o Estado como está. Não concordo com uma coisa nem outra. (...)
E o papel da imprensa?
Não há hoje em Portugal um grande jornal de referência, como foi o Diário de Notícias. Não há um jornal que determine a opinião e influencie o governo. O único que há é o Público e não é muito forte. E talvez o Diário Económico… Devia haver grandes jornais de referência. A televisão não tem a possibilidade analítica da imprensa. Fazem muita falta contra-poderes na sociedade, contributos de racionalidade, limites ao oportunismo dos governos. A polémica sobre a OTA, por exemplo, foi saudável, apesar de não ter sido muito clara.
DE 16.08.07

6 Comments:

Blogger Clara said...

VPV como a investigação dá muito trabalho, decidiu dedicar-se a coisas mais rasteirinhas. Perdeu-se o historiador, ganhou-se o cronista amargo que arrasa tudo e todos, ao sabor da inspiração do chá matinal.
Sócrates é "shallow" e a reforma da Saúde "damage control". Fica bem empregar estes inglesismos.
O que VPV, muitas vezes faz, ao contrário do que tenta parecer, é superficial, refugiado em metáforas e trocadilhos para pacóvio apreciar.
O que VPV faz bem é o Bota Abaixo, sem pudor, tal como a sua "amiga" Filomena Mónica. Verdadeiras almas gémeas de arrogância e vaidade.

10:52 da manhã  
Blogger Clara said...

O trabalho do António José Teixeira, como era de esperar, é excelente.

10:55 da manhã  
Blogger saudepe said...

Eu, se fosse o PKM, parava as crónicas no DE por uns tempos, para reflectir e descansar.

10:58 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Gosto da irreverência de VPV, porque ela representa um olhar sobre as coisas ou, extrapolando, sobre a sociedade, com a originalidade e a argúcuia de quem pensa pela sua cabeça, diria mesmo, de quem usa a criatividade, lado a lado com umm espirito mordaz e acutilante, na interpretação dos factos e dos fenómenos sociais e culturais deste País.
Agora, tentar posicionar VPV, no campo político, só pode conduzir a um desastre.

Basta ler o que afirmou a António José Teixeira:
" Não sou um liberal ortodoxo. O ideal é criar um máximo de liberdade sem prescindir de certas funções sociais do Estado, nomeadamente a saúde e a segurança social. Não sou partidário do Estado Providência, que se intromete em tudo e domina tudo. Nem de um Estado liberal que não garanta o suporte social que as pessoas precisam na saúde e na segurança social. A saúde tornou-se tão cara e sofisticada que não pode ser deixada às seguradoras ou à poupança do cidadão comum, o mesmo se diga da segurança social. Uma sociedade civilizada não pode deixar morrer alguém que não tem dinheiro para fazer uma operação. Os velhos não podem ser abandonados..."

Esta tirada sugeriu-me uma imagem de VPV:
- sentado (como habitualmente) numa mesa do Gambrinus, entre dois Whiskys, incapacaz de decidir se vai complementar o seu imprescindível aperitivo com um prato de carne ou peixe.
Nestas circunstâncias, o melhor é pedir uma omoleta!
Isto é, nem carne nem peixe...

12:40 da tarde  
Blogger Joaopedro said...

Sócrates é superficial como Cavaco. Não percebem o país, não percebem os problemas do regime.

Inteiramente de acordo.

Cavaco Silva (e a sua Maria), presidente é confrangedor. Para lá de hipocrisia e pequenos golpes de astúcia nada mais resta.
A imagem do Portugal dos pequeninos, tacanhos e manhosos peninsulares.

3:39 da tarde  
Blogger e-pá! said...

La Grande Bouffe kuteeviana
ou
a bulimia do sistema

Continua a ser muito difícil, para mim, interpretar a prosa de PKM.
Não conheço a personagem de “carne e osso” mas, as referências de que me recordo, aduzidas por terceiros, são essencialmente ambíguas, quando não pouco abonatórias. Enfim, um “caldo de impressões” que, reconheço, podem conduzir-me a uma “reserva” preconceituosa, necessariamente, pouco virtuosa, muito apriorística.
Mas, vou lendo, com alguma regularidade, os seus artigos no DE. Sei que tem livros publicados, pelo menos terá publicado recentemente um, mas confesso que não tive oportunidade de o ler. Provavelmente aí, explanará, com maior detalhe e precisão, o seu pensamento.
Resta-me, para dirrimir a dúvida, encomendar o livro.

Voltando aos escritos de PKM no DE. Estes, que muito embora possam ser uma pequena parcela do seu labor produtivo em termos de investigador sobre Gestão da Saúde, vão revelando um emaranhado de concepções (muitas delas avulsas) e involuntariamente espelhando o seu posicionamento político e social, sobre estas questões.
Não me parece possível esconder, por muito mais tempo, o seu perfil. Aliás, a primeira denúncia do seu posicionamento, o percalço revelador, surge marginalmente aos seus escritos no DE. É numa entrevista à revista “Visão” – na sequência da sua demissão da comissão sobre a sustentabilidade financeira do SNS – onde questionou CC sobre a existência (na cabeça do Ministro) de um plano estratégico “secreto” para a Saúde em Portugal, já que não conferia qualquer credibilidade ao programa de Governo, nessa área. Este foi um passo em falso, na permanente técnica de dissimulação de PKM onde, pelo meio, aparecem, aqui e acolá, rasgados elogios ao Ministro. Haveria (ou deveria haver), na clarividente premonição de PKM, um “outro” plano estratégico. Atrevo-me a suspeitar que renegando o actual PNS – que considera pródigo, passadista e não perfilhável por este Ministro – uma sub-reptícia via liberalizante, mais flexível que vinha mesmo a calhar. Aquilo a que os neo-liberais gostam de chamar de mudança de padrão, ou se quisermos, “novo paradigma” (para o SNS).

Ninguém é inocente neste Mundo. É bom que assim seja, já que a inocência transformou-se numa parca virtude que, muitas vezes, se esconde por detrás de silêncios e omissões, quando não, de ilusões. Convém, portanto, que à margem destas falsas inocências, ou ao arrepio das elucubrações científicas emanadas de fantasmagóricas “torres de marfim”, na aparência politicamente “neutras”, se explicitassem os interesses. É isso que – em PKM – continua em débito, sem ser iludível.

Como continuar a iludir a realidade?
Filosofando, numa matriz cartesiana, sobre o ser!
Valorizando – apanhando a dica de Wood Allen - a dimensão “res extensa”, i.e., aquela que caminha, respira e come. Logo, a que pode tornar-se obesa.
Escondendo, maltratando, a “res cogitans” - a que pensa.

Por quanto tempo mais viveremos na ignorância do "erro de Descartes"?

3:46 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home