Manuel Delgado
Uma extensa e surpreendente entrevista ao Semanário Económico link
Os custos com pessoal subiram, qual é a influência dos médicos?
É significativa. Não posso precisar mas, por exemplo, no que respeita às horas extraordinárias dos médicos representam 75% a 80% das horas extraordinárias que se pagam no hospital. Depois há as cirurgias adicionais para doentes em espera, que são pagas à peça e entram nas contas de remuneração de pessoal.
Estes custos serão revistos?
Estes valores podem baixar, desde logo, através da moralização da hora extraordinária que não pode continuar a ser como um complemento remuneratório para o profissional ter uma vida mais desafogada.
E os ordenados dos médicos?
Primeiro temos que regular a hora extraordinária, muitas das horas extraordinárias fazem-se por interesse dos profissionais e não por necessidade dos hospitais. Mas para que isto seja combatido temos que criar formas de ter remunerações um pouco mais elevadas em função do mérito e não da posição no hospital.
É o fim das carreiras?
Há hoje remunerações superiores ao que as pessoas merecem, um grande desiquilíbrio que tem que ser corrigido. É, de facto, o modelo de carreiras que está em causa.
Tem algum fundo de verdade a saída de muitos médicos para o sector privado?
É ingenuidade pensar que o sector privado pode absorver os médicos do sector público, não têm mercado para isso. Há cerca 130 mil funcionários no sector público da saúde o sector privado se tiver se tiver 2% a 3% exclusivamente no privado já é muito.
Mas podem desviar os melhores?
Alguns dos melhores sim, mas não creio que haja impacto significativo na actividade pública. O sector privado tem capacidade para pagar mais, mas há outras motivações que talvez sejam mais relevantes: a capacidade de trabalhar com um volume de doentes que lhes permite uma maior diversificação nas patologias. No privado a sua actividade é mais confinada em termos de especialização, volume e experiência.
É significativa. Não posso precisar mas, por exemplo, no que respeita às horas extraordinárias dos médicos representam 75% a 80% das horas extraordinárias que se pagam no hospital. Depois há as cirurgias adicionais para doentes em espera, que são pagas à peça e entram nas contas de remuneração de pessoal.
Estes custos serão revistos?
Estes valores podem baixar, desde logo, através da moralização da hora extraordinária que não pode continuar a ser como um complemento remuneratório para o profissional ter uma vida mais desafogada.
E os ordenados dos médicos?
Primeiro temos que regular a hora extraordinária, muitas das horas extraordinárias fazem-se por interesse dos profissionais e não por necessidade dos hospitais. Mas para que isto seja combatido temos que criar formas de ter remunerações um pouco mais elevadas em função do mérito e não da posição no hospital.
É o fim das carreiras?
Há hoje remunerações superiores ao que as pessoas merecem, um grande desiquilíbrio que tem que ser corrigido. É, de facto, o modelo de carreiras que está em causa.
Tem algum fundo de verdade a saída de muitos médicos para o sector privado?
É ingenuidade pensar que o sector privado pode absorver os médicos do sector público, não têm mercado para isso. Há cerca 130 mil funcionários no sector público da saúde o sector privado se tiver se tiver 2% a 3% exclusivamente no privado já é muito.
Mas podem desviar os melhores?
Alguns dos melhores sim, mas não creio que haja impacto significativo na actividade pública. O sector privado tem capacidade para pagar mais, mas há outras motivações que talvez sejam mais relevantes: a capacidade de trabalhar com um volume de doentes que lhes permite uma maior diversificação nas patologias. No privado a sua actividade é mais confinada em termos de especialização, volume e experiência.
Por isso optam por estar nos dois…
De forma um pouco provocatória posso dizer que para o médico o melhor é manter o modelo actual: aprender no público e ganhar dinheiro no privado. Mas todos percebemos que este modelo não pode continuar porque é desperdiçar dinheiro público. É simpático para uma empresa privada ir buscar pessoas com experiência que tiveram formação no estrangeiro paga pelo Estado português. Quando um médico vai três meses a França, ou Estados Unidos, mantém a sua remuneração no seu hospital de origem e isto é dinheiro e não é pouco.
Esses custos de formação podem ficar contratualizados, obrigando o profissional a pagar do seu bolso se abandonar o sector público?
O futuro tem que encarar esta matéria com outra seriedade e outra consistência.
Faz falta emagrecer os quadros dos hospitais?
Os quadros de profissionais nos hospitais (gestores, auxiliares, médicos enfermeiros) garantem ao profissional uma permanência até à sua reforma e, muitas vezes, percebemos que se conseguíssemos emagrecer os quadros nalgumas valência médicas ou de enfermagem poderíamos ter muito mais economias mas temos que esperar que se reformem.
Agora vem aí a política da mobilidade...
Esta política permite uma flexibilidade importante, é uma oportunidade que temos porque permite identificar nos hospitais áreas onde há pessoal a mais ou onde podemos gerar eficiência através da diminuição de efectivos e isso permite que os profissionais sejam mobilizáveis para outras instituições. Todos sabemos que há uma diferença grande entre o interior do País, onde há poucos profissionais, e os grandes centros urbanos do litoral. É um trabalho que vai ser feito agora.
Ver onde há excedentes que podem ser utilizados noutros lados?
Sim, reabsorvê-los noutros lados.
Já que estamos a falar em privados, tem sido um critico das parcerias público-privadas (PPP), não na construção mas na parte da gestão. Porquê?
Nem tanto. Não sou bem um crítico, sou mais uma pessoa expectante, porque tenho as minhas dúvidas sobre os melhores resultados que os privados possam tirar da gestão da coisa pública. Tenho algumas dúvidas, até porque os estudos até agora realizados sobre a qualidade relativa entre hospitais públicos e de gestão privada públicos, não permitem tirar grandes conclusões. Por outro lado, as parcerias público-privadas têm um problema quando passam para a gestão, é que os contratos de gestão têm de ser plurianuais, a sete ou dez anos. Em três anos a evolução tecnológica é muito grande e as doenças podem mudar muito, a demografia muda com certeza. Esta evolução do conhecimento pode obrigar hospitais e serviços a utilizar coisas novas e mais caras.
Isso pode ficar previsto nos contratos.
Há sempre o risco de os modelos contratuais serem relativamente rígidos em relação á evolução das coisas. Claro que, no fundo, a maior dúvida é como é que o Estado vai garantir a supervisão e o controle da boa prática médica num serviço público que é gerido por um privado que tem um objectivo lucrativo. E o lucro nasce da diferença entre o custo e o preço.
Mas já chegou a dizer acreditar que não haveriam mais do que os actuais três concursos em PPP que estão em curso. Certo?
Penso que o ministério da Saúde neste ponto modificou a estratégia do Governo. Tirando o hospital de Cascais, o de Braga e o de Vila Franca de Xira, não deverão haver mais hospitais com modelo de gestão privada, é a minha convicção. Até porque o de Loures voltou à estaca zero. A próxima parceria será no Hospital de Todos os Santos.
A qual será apenas para a construção.
Exactamente. E admito até que o de Loures nem avance já.
semanário económico, carlos caldeira e teresa gens
6 Comments:
Surprendente a forma desassombrada como MD ataca todas as questões que lhe são postas.
Pontos quentes o trabalho extraordinário do pessoal médico e as expectativas em relação à mobilidade especial.
MD no seu melhor!
Segundo MD, a expectativa em relação à mobilidade especial, é vermos, por exemplo, os médicos concentrados nalgumas especialidades dos hospitais de Lisboa, Coimbra e Porto, rumarem para o interior do país.
Esperança vâ.
Como de costume vai sobrar para a arraia miúda, ou seja, o pessoal de suporte.
Daquilo que conheço, gostava de ver MD explicar a evolução dos custos com pessoal por grupos profissionais e hospital a hospital. Talvez tivéssemos surpresas!
Quanto às horas extraordinárias é legítimo perguntar: não houve grandes alterações nessa matéria? Com que resultados?
Horas extraordinárias feitas por interesse dos profissionais?!...
É verdade. Ou pelo menos meia-verdade. E que estão os gestores, - os grandes craques que substituiram os gestores SA - a fazer?
Não era uma adequada gestão dos RH que (também) se lhes pedia?
Como evoluiram os efectivos dos HH desde 2004/2005?
A entrevista de MD é, além de surpreendente e desassombrada, em meu entender, um pouco monocórdica.
Quase a sonata em dó menor de Bach.
Ou, se quisermos, quase uma fantasia em dó sustenido, mais do gosto de Beethoven.
Criou-se, em cada canto ou cada passo (pergunta), um "bode expiatório": - os médicos.
Ao longo da entrevista explorou-se e alimentou-se essa "cómoda" imagem, alfobre de todos os males.
A dada altura apetecia-me vociferar virado para os médicos:
"vocês não têm problemas!...vocês têm apenas inconveniências.." (frase de um sobrevivente do campo de extremínio Auschwitz - passe o exagero da comparação).
Aliás, o título da entrevista (que não será da responsabilidade de MD) é elucidativo:
"Médicos têm de perder autonomia em favor da racionalidade económica".
Quando forem esvaziados de tudo, o que restará?
A racionalidade económica trata doentes?
Parece-me cada vez menos premente e pouco crucial erguer muros, levantar barreiras, criar ghetos, entre os diferentes grupos profissionais que trabalham na Saúde, nomeadamente no SNS. Pode parecer "politicamente correcto" nesta altura. Não o será por muito tempo.
Estes problemas (estas inconveniências...) existem no sector privado da saúde?
Será porque esses gestores - podemos dizer que interesseiramente - se esforçam por formar equipas e encarar os trabalhadores dos seus grupos como colaboradores?
Existe comunicação, espírito de equipa ou interdisciplinaridade no interior do SNS?
"Accountability" é um jargão só para uso externo?
Dizia Platão:
"O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê"...
REACÇÃO D ORDEM MÉDICOS - COMUNICADO DO CNE
Em entrevista ao Semanário Económico, o Dr. Manuel Delgado, Presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares e estrela em rápida ascensão nos corredores do poder gestionário socialista da Saúde, produziu declarações insultuosas sobre os Médicos Especialistas de Medicina Geral e Familiar alegando que a sua falta de trabalho seria responsável pelas dificuldades dos hospitais.
Compreende-se que a subida numa profissão tão dependente do reconhecimento do poder instituído como é a de administrador hospitalar imponha algumas obrigações, como seja atacar os médicos.
Compreende-se que num país em que os responsáveis políticos e administradores não são escrutinados pelo resultado das suas acções, e em que os critérios de qualidade técnica e profissional sejam irrelevantes, qualquer um possa dizer o que lhe apetece sem qualquer fundamentação científica.
O que não se compreende é que seja necessário insultar um dos grupos profissionais em que assenta a prestação de cuidados de saúde em Portugal, os Médicos de Família, para esconder a incompetência e a incapacidade de quem dirige.
Lisboa, 12 de Setembro de 2007
Pel’ O Conselho Nacional Executivo
O Presidente
Dr. Pedro M. H. Nunes
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