sábado, setembro 1

Medicamentos sob controlo


Excerto da entrevista de João Almeida Lopes (JAL), presidente da Apifarma, à GH.


GH
- Como vê a política governamental para o medicamento?
JAL – De um modo geral, a política governamental para o medicamento baseia-se nas políticas europeias e não poderia deixar de ser assim. Tirando as baixas de preços que tivemos no passado e que claramente penalizaram fortemente as empresas da Indústria Farmacêutica, a verdade é que estamos neste momento convencidos que sobretudo em termos de controlo dos orçamentos do Ministério da Saúde, os medicamentos não são claramente uma preocupação. Ou seja, o encargo com os medicamentos está perfeitamente controlado, eu diria, nos últimos dois anos.

GHMas não teme que a política de contenção de custos possa afectar a introdução de medicamentos inovadores?
JAL – Eu não gostaria de falar em contenção de custos porque é uma coisa que me custa falar quando estamos a falar de Saúde. Se falamos em contenção em Saúde estamos, de alguma maneira, a admitir que não nos importamos de vir a ter um nível de Saúde inferior à que temos hoje. E eu acho que nenhum de nós se conforma com isso.
Estamos, com certeza, todos dispostos a assistir a racionalizações, a optimizações, a verificar como podemos utilizar da melhor maneira os recursos que temos.
Conter, cortar, parece-me mal quando falamos em Saúde. Penso que temos todos que ter a noção que temos, ao nosso dispor, um bom nível de Saúde, embora, às vezes, não o valorizemos...
Cortar seria retroceder. Pensar que, amanhã, os nossos filhos vão ter níveis de Saúde inferiores aos que temos é algo completamente inaceitável. Temos melhores medicamentos, melhores meios tecnológicos, melhores meios de diagnóstico.

GHO director Geral da Saúde, Francisco George, disse que o governo vai passar a comparticipar a 100% os medicamentos para os doentes crónicos. Como vê essa medida?
JAL – Não quero fazer comentários de ordem política sobre essa matéria. Acho que todos concordamos que os medicamentos, sejam para doentes crónicos sejam para as patologias agudas, deviam ser gratuitos. Acho que era óptimo, no campo teórico e académico. Na prática, infelizmente, temos de nos confrontar com a realidade e por muito interessante que isso pudesse ser, temos de ter a noção da realidade da vida. E eu não sou a pessoa indicada para dizer se o País tem ou não condições para proporcionar aos doentes crónicos medicamentos comparticipados a 100% na maioria dos casos. Se for possível acho uma medida excelente.

3 Comments:

Blogger Joaopedro said...

Para o JAL está tudo bem.
Para o João Cordeiro está quase tudo mal.
Em obediência ao principio de quem não chora não mama, a ANF lá vai avançando.

12:49 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Não tem nada a ver uma coisa com a outra.
A criação, a investigação e a produção de novos produtos (medicamentos), é , na sua maioria, um processo comandado por multinacionais. Portanto, faz parte da economia global.
Nada tem a ver com a comercialização, actividade da ANF que troca esses produtos por dinheiro. Aqui não são as multinacionais que têm visibilidade (embora em alguns Países possam existir esboços), mas, como no caso português possam, existir lobbys ou cartéis, de âmbito regional ou nacional.

Portanto, as questões da Apifarma e a ANF, sempre foram de natureza diferente, embora ambas tratem de medicamentos.

Não vamos voltar à ANF. Tem sido largamente debatido o seu papel, o seu controlo sobre as farmácias e os seus vastos e diversificados interesses. Nesta distinção o que pode vir a causar turbulências será o apetite da ANF na produção de medicamentos, aproveitando a boleia dos genéricos. Mas isso é outro assunto.

Por exemplo, nos EUA, os negócios da indústria farmacêutica atingem valores inimagináveis (citam-se montantes à volta de 500 biliões de dolares/ano). Este facto torna-os um potentado económico, a que, por exemplo, a administração americana não é indiferente. Tal facto influencia poderosamente a política internacional. Quem diz americana pode dizer inglesa, francesa ou até suiça.
Nos últimos tempos tem havido sérios problemas com a extensão das patentes, nomeadamente, no tratamento da SIDA com retrovirais. Verificaram-se, aqui e acolá, quebras de patentes (Brasil, Africa do Sul, ...), em nome da acessibilidade, das condições económicas locais e do inelienávei direito à vida.

Hoje, o problema é muito mais complexo, com o desenvolvimento de medicamentos biológicos (autenticas "armas" terapêuticas).
Esta nova fase vai trazer novos problemas a diversos Países, dos quais Porutgal não está excluído.
Portugal é visto pela industria farmacêutica como um mercado pequeno, ou melhor, praticamente insignificante.
Tal facto afasta-nos de economia de escala mas por outro lado não concita atitudes drásticas. Daí, a que a Apifarma possa adoptar uma atitude conciliadora, até peaagógica, com a que se verifica na entrevista de JAL.
O seguinte passo da entrevista é paradigmático: "Eu não gostaria de falar em contenção de custos porque é uma coisa que me custa falar quando estamos a falar de Saúde. Se falamos em contenção em Saúde estamos, de alguma maneira, a admitir que não nos importamos de vir a ter um nível de Saúde inferior à que temos hoje."

O que se levanta hoje é o desenvolvimento da indústria farmacêutica não passa só por investigação e disponibilização de novos produtos que resoveram muitas doenças, melhoraram a qualidade de vida e aumentaram a longevidade. Isso foi feito é fundamental, embora se deva acrescentar que este meritório esforço foi feito à custa de muito dinheiro saído dos serviços de saúde ou directamente dos bolsos do cidadão.
O futuro da indústria poderá vir a inflectir-se noutras direcções: criar medicamentos para situações supérfulas, de comodidade, i. e., para "não-doentes". Mas, em todo o caso, potenciais consumidores.
A situação fisiológica da menopausa, com todo o cortejo de alterações que lhe são inerentes, é muitas vezes apontada, como um exemplo, desta nova aposta.

Sobre estas intermináveis conjecturas considero importante ler um interessante livro lançado em 2006, nos EUA:
The Whistleblower: confessions os a Healthcare Hitman.

Agora, a extrema compressão demonstrada nesta entrevista pela Apifarma, nomeadamente em relação às comparticipações, só demosntra o que somos: um mercado irrisório e a compreensão para "to keep one's head above water..."

É este último estratagema que CC tem usado e abusado nos últimos anos, na contenção de gastos com os medicamentos.
Ao que parece com a paternal complacência da Apifarma.
Até quando?
Em minha opinião, esta "entente cordiale" não vai ultrapassar (ou sobreviver) a entrada em força (a sua presença é ainda tímida) no mercado dos medicamentos biológicos.
Tanto mais lucrativo quanto menos guide-lines existirem...

Portanto, medicamentos "ainda" sob controlo... é bem mais seguro!

10:00 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Errata:

inelienávei , inalienável;

peaagógica , pedagócica;

"The Whistleblower: confessions os a Healthcare Hitman,"
escrito por Peter Rost;

demosntra , demonstra;

Consequências de escrever directamente nas janelas de comentários...

9:21 da manhã  

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