segunda-feira, outubro 1

Listas de espera


Portal da Saúde publicou recentemente um excelente relatório sobre as listas de espera para cirurgia.link
Apesar das falhas de fiabilidade de alguns indicadores, os resultados apresentados parecem incontroversos:
• No último ano e meio, o tempo médio de espera, no Continente, baixou de 8.6 meses para 5.0 meses;
• A actividade cirúrgica programada tem subido consistentemente, prevendo-se, para o fim do ano de 2007, um crescimento superior a 30% face a 2005;
• A contribuição dos privados/convencionados para este esforço de recuperação é de cerca de 7,5%, limitada como se vê;
• Dos vale-cirugia emitidos para casos que ultrapassem o tempo de espera clinicamente aceitável apenas 34% tiveram encaminhamento. Ou porque o doente não quer ou já foi operado, recusa ser transferido e prefere aguardar, sendo ainda devolvidos ao hospital de origem 10% desses casos por não terem indicação cirúrgica;
• Há, infelizmente ainda, um número de casos prioritários cuja rapidez no atendimento não é respeitada, com valores relevantes nalguns hospitais (entre 10 e 30% dos casos).

Algumas conclusões se podem desde já retirar destes resultados globais.
O número de casos tem aumentado mas as listas de espera apresentam hoje tempos mais reduzidos. Ou seja, opera-se mais e é o sector público que domina esmagadoramente a actividade cirúrgica (mais de 90% das intervenções).
Por outro lado, há, aparentemente, um grande empolamento no número de doentes em espera, a acreditar nos valores impressionantemente baixos de transferências efectivadas.
Há ainda situações que se tornam dramáticas pela não intervenção atempada, o que é manifestamente intolerável. Parece, enfim, óbvio que, apesar dos bons resultados, os problemas dos tempos de espera para cirurgia persistem.
Mas também parece relativamente óbvio que a maioria das situações efectivamente em espera se situam em áreas cirúrgicas de menor gravidade, ainda que sempre incómodas para os doentes. Numa análise dos grandes hospitais verifica-se que é na Oftalmologia, na Otorrino, nas cirurgias da coluna, das varizes, das hérnias e da pele e na Ortopedia, que se encontram os maiores contingentes de doentes em espera, sempre superior a 500 por especialidade e por hospital, e nalguns casos entre 1000 e 2500 doentes, como é o caso da Oftalmologia.
As soluções para este problema implicam uma visão mais ampla das suas causas, o que pressupõe uma análise rigorosa da capacidade instalada (em recursos humanos e em salas de operação) e maior exigência em matéria de eficiência e produtividade. Questões para as quais não é alheio o comportamento disponível ou não, dos médicos e a forma como se pratica, muitas vezes, a acumulação entre o sector público e o sector privado.
Mas é também necessário olhar para outras áreas: para as consultas externas, para os exames complementares de diagnóstico ou para as terapêuticas. Muitas vezes é na área não cirúrgica que se joga o futuro de milhares de doentes e os tempos de espera são, por vezes, intermináveis e até fatais.
A produtividade dos nossos serviços públicos tem ainda margem de progressão. Assim, tenhamos toda a coragem de enfrentar abertamente os problemas, encontrar incentivos adequados e deixarmo-nos de subterfúgios ou hipocrisias que apenas redundam em prejuízo dos doentes.
O Governo, as corporações profissionais e as administrações hospitalares têm aqui um papel insubstituível.
manuel delgado, editorial GH n.º 30

1 Comments:

Blogger tonitosa said...

Manuel Delgado tem razão. Tenho que reconhecer que desta vez, a sua análise está correcta. Mas...no passado não muito longínquo a situação era em tudo semelhante! E que dizia então Manuel Delgado?!
Pois...mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...

10:29 da tarde  

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