segunda-feira, novembro 12

Country of spies (2)


Paulo Portas mandou copiar mais de 60 mil papéis do Ministério da Defesa, antes de sair do Governo. O ex-ministro diz que eram notas pessoais, sobretudo relacionadas com o CDS; a empresa de digitalização refere que alguns documentos tinham escrita a palavra ‘confidencial’. O Ministério Público sabe, mas não investigou .
semanário expresso, edição n.º 1828 de 10.11.07

1 Comments:

Blogger e-pá! said...

" Portas – Fotocópia dum homenzinho de Estado

Primeira questão, sem dó nem falsas piedades politicamente correctas: o facto de Paulo Portas ter sido Ministro da Defesa de um governo português é uma vergonha da qual não temos como nos limpar.

É evidente que o venerando almirante Tomaz foi presidente da República durante 15 anos, que o hilariante Afonso Marchueta foi governador civil de Lisboa durante duas décadas, que o obeso e beato Santos da Cunha, que media a duração das viagens pelo número dos terços que tragava, foi governador civil de Braga durante décadas, mas Paulo Portas nunca seria ministro do antigo regime e isto por uma questão de pudor.
A questão do Paulo Portas homem de Estado é uma anedota. O antigo regime não gostava de anedotas. Tinha muitos defeitos o antigo regime, mas os seus ministros usavam chapéu, não usavam cueiros.
Paulo Portas foi, oficialmente, ministro da Defesa de um regime democrático. Devíamos esperar que se comportasse como um ministro de um regime democrático. Era, como se sabe, esperar demais dele.
O menino Portas, feito ministro, copiou, fotocopiou, milhares de documentos. Diz o menino que não eram confidenciais. Que não eram secretos, diz ele e nós acreditamos porque acreditamos no bom senso das instituições e ninguém terá passado assuntos importantes ao menino ministro. A questão não é de segurança, é de vergonha por o menino Portas ter sido ministro e, sendo tomado a sério, ter mandado fotocopiar, pelas trazeiras do Ministério da Defesa documentos que são do Ministério da Defesa Nacional e não do menino que, naquele momento, fazia de ministro.

È evidente que, tendo o doutor Durão Barroso e o seu PPD/PSD (ou lá como se chama a coisa agora) ganho democraticamente as eleições podia fazer uma aliança com o CDS, ou PP, ou como se chama a coisa do menino Portas e que este, por força das circunstâncias, tivesse subido a ministro da Defesa, o que muito lhe fez brilhar os olhos e acelerar as trepidações nos extremos nervosos. Não sendo possível, democraticamente, introduzir uma providência cautelar contra os previsíveis males resultantes contra a Pátria do facto de uma tal espécie de criatura exercer um cargo de responsabilidade, o regime deveria prever uma possibilidade de, a priori, julgar, os desmandos de quem exerceu o cargo. No caso, o menino Portas (Paulo).
É disto que se trata: um cidadão nacional, investido em altas funções de Estado, copiou, abusou, fotocopiou e fez o que mais não sabemos e devíamos saber a documentos do Estado.

O Estado, isto é: nós, temos o Direito de saber o que essa criatura a quem elegemos e pagámos (uma vez sem exemplo) para ser ministro de Estado e da Defesa levou para casa, para uso privado e que era e é nosso.

Estamos entre o roubo e o abuso de confiança.

Convém que o Governo, a Assembleia dos Deputados, a Procuradoria, o Presidente da República, os magistrados tão assanhados em defender as suas alíneas de funcionários independentes, a DECO (todos somos consumidores) nos digam o que nos foi desviado pelo senhor Paulo Portas, enquanto Ministro da Defesa e, nesta incumbência, principal responsável pelos bens do Estado.

Conviria, em nota pessoal, que alguma alma caridosa, que até pode ser a senhora sua mãe, dissesse ao menino Portas que não basta vestir um fatinho de calças compridas, colete e casaco de trepasse para ser um homenzinho. A coisa de ser homem, como dizia o meu tio Guilherme de Matos Gomes, passa-se do lado de dentro do fatinho, que é o homem que sustenta o fatinho e não o fatinho que faz o homem."

Carlos Matos Gomes, no blog Avenida da Liberdade, 11.11.2007

11:01 da manhã  

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