A Integração dos Cuidados de Saúde
Nas últimas semanas tem-se comemorado, um pouco por todo o país, o primeiro ano das Unidades de Saúde Familiares (USF). Representando a aposta na reforma dos Cuidados de Saúde Primários, as USF em funcionamento parecem revelar vantagens evidentes face ao anterior modelo de Centro de Saúde: mais acessibilidade para os cidadãos inscritos, cumprimento de objectivos face a programas de saúde prioritários, cidadãos e profissionais mais satisfeitos.
A estes benefícios que, se espera, possam expandir-se rapidamente para a população em geral, falta todavia acrescentar a qualidade porventura mais importante de um sistema de saúde: a continuidade de cuidados, desde a promoção da saúde aos cuidados paliativos e terminais.
De facto, um dos problemas que mais atormenta doentes e familiares prende-se com a sistemática atomização dos cuidados, como se se tratassem de territórios separados e sem relação. Neste modelo, a procura de cuidados vê-se espartilhada entre serviços de âmbito de intervenção limitado que raramente partilham conhecimentos e informação e que impõem aos doentes um conjunto de circuitos burocrático-administrativos e inter -institucionais pouco resolutivos e exasperantemente demorados.
Neste cenário, é natural que os doentes continuem insatisfeitos, mas também é evidente que os atrasos e os tempos de espera podem agravar o estado de saúde, fomentar exames complementares redundantes ou de actualização e, com certeza, mais custos para o sistema. E é bom não esquecer que, por estas razões, muitos doentes demandam serviços de urgência, na esperança de obter em pouco tempo o que o sistema lhes vem negando há meses.
Importa reflectir, até pelo volume de cuidados que lhe está associado, sobre a relação entre Centros de Saúde/Médicos de Família e Hospitais, para perceber melhor os contornos do problema:
– Estima-se que entre 70 e 80% dos cuidados prestados ao nível da medicina familiar deveriam ser resolutivos. Isto é, resolveriam os problemas e evitariam que os utentes penetrassem no tecido hospitalar. Por vicissitudes várias isso não acontece entre nós e o sintoma mais evidente é a pletora de cidadãos que se encaminha diariamente para as urgências dos hospitais e Centros de Saúde, com afecções simples;
– Desejavelmente a referenciação de doentes da Medicina Geral para o especialista hospitalar, deveria ser feita com toda informação clínica relevante, de forma automática e personalizada, permitindo marcar o local, o médico e a hora da consulta subsequente logo no momento da referenciação. Em muitas situações ainda é o doente que tem que se encarregar dessas tarefas após a visita ao seu médico de família, o que atrasa naturalmente todo o processo e redunda em enorme desconforto para o próprio;
– A referenciação, mesmo quando é feita, acaba, em muitas circunstâncias por ser devolvida pelo médico hospitalar, ou porque não cabe manifestamente no seu âmbito ou porque este considera que o colega de clínica geral poderia muito bem resolver o problema. Estes casos, não tão raros como se pensa, fazem do doente uma bola de ping-pong, que saltita de um para outro lado da mesa, sem solução à vista para o seu problema;
– Muitas vezes também, a referenciação de retorno, isto é, a que se deve processar após um episódio de internamento ou de ambulatório hospitalar para o médico de família, não existe ou não chega convenientemente ao seu destinatário, o que, como é óbvio, impede um acompanhamento activo e atempado por parte do médico de família.
É certo que todos, com mais ou menos sensibilidade para o problema, temos consciência desta enorme entropia. E muitos trabalham já em soluções mais amigáveis e expeditas para deslindar estes nós.
Mas falta ainda assumirmos todos uma nova visão estratégica sobre todas estas questões que envolvem a integração de cuidados. As reformas e os programas têm mesmo que colocar o doente e as suas circunstâncias no centro do sistema. E uma visão que perspective, num processo integrado, os médicos de família, os hospitais e os cuidados continuados, é absolutamente decisiva para que a criação de valor se torne real.
A estes benefícios que, se espera, possam expandir-se rapidamente para a população em geral, falta todavia acrescentar a qualidade porventura mais importante de um sistema de saúde: a continuidade de cuidados, desde a promoção da saúde aos cuidados paliativos e terminais.
De facto, um dos problemas que mais atormenta doentes e familiares prende-se com a sistemática atomização dos cuidados, como se se tratassem de territórios separados e sem relação. Neste modelo, a procura de cuidados vê-se espartilhada entre serviços de âmbito de intervenção limitado que raramente partilham conhecimentos e informação e que impõem aos doentes um conjunto de circuitos burocrático-administrativos e inter -institucionais pouco resolutivos e exasperantemente demorados.
Neste cenário, é natural que os doentes continuem insatisfeitos, mas também é evidente que os atrasos e os tempos de espera podem agravar o estado de saúde, fomentar exames complementares redundantes ou de actualização e, com certeza, mais custos para o sistema. E é bom não esquecer que, por estas razões, muitos doentes demandam serviços de urgência, na esperança de obter em pouco tempo o que o sistema lhes vem negando há meses.
Importa reflectir, até pelo volume de cuidados que lhe está associado, sobre a relação entre Centros de Saúde/Médicos de Família e Hospitais, para perceber melhor os contornos do problema:
– Estima-se que entre 70 e 80% dos cuidados prestados ao nível da medicina familiar deveriam ser resolutivos. Isto é, resolveriam os problemas e evitariam que os utentes penetrassem no tecido hospitalar. Por vicissitudes várias isso não acontece entre nós e o sintoma mais evidente é a pletora de cidadãos que se encaminha diariamente para as urgências dos hospitais e Centros de Saúde, com afecções simples;
– Desejavelmente a referenciação de doentes da Medicina Geral para o especialista hospitalar, deveria ser feita com toda informação clínica relevante, de forma automática e personalizada, permitindo marcar o local, o médico e a hora da consulta subsequente logo no momento da referenciação. Em muitas situações ainda é o doente que tem que se encarregar dessas tarefas após a visita ao seu médico de família, o que atrasa naturalmente todo o processo e redunda em enorme desconforto para o próprio;
– A referenciação, mesmo quando é feita, acaba, em muitas circunstâncias por ser devolvida pelo médico hospitalar, ou porque não cabe manifestamente no seu âmbito ou porque este considera que o colega de clínica geral poderia muito bem resolver o problema. Estes casos, não tão raros como se pensa, fazem do doente uma bola de ping-pong, que saltita de um para outro lado da mesa, sem solução à vista para o seu problema;
– Muitas vezes também, a referenciação de retorno, isto é, a que se deve processar após um episódio de internamento ou de ambulatório hospitalar para o médico de família, não existe ou não chega convenientemente ao seu destinatário, o que, como é óbvio, impede um acompanhamento activo e atempado por parte do médico de família.
É certo que todos, com mais ou menos sensibilidade para o problema, temos consciência desta enorme entropia. E muitos trabalham já em soluções mais amigáveis e expeditas para deslindar estes nós.
Mas falta ainda assumirmos todos uma nova visão estratégica sobre todas estas questões que envolvem a integração de cuidados. As reformas e os programas têm mesmo que colocar o doente e as suas circunstâncias no centro do sistema. E uma visão que perspective, num processo integrado, os médicos de família, os hospitais e os cuidados continuados, é absolutamente decisiva para que a criação de valor se torne real.
Não se sabe, por exemplo, como é que as USF se encaixam em modelos de resposta estruturalmente integrados como são as Unidades Locais de Saúde. Não se dedica especial atenção ao desenvolvimento e implementação de modelos de afiliação entre médicos de família e médicos hospitalares, pese embora as potencialidades reveladas por algumas experiências mais ou menos avulsas e voluntárias. E não se discutem formas de pagamento também integradas, por capitação ou por outras modalidades, mas que tenham por base a pessoa e não o tipo ou o nível de cuidados.
No principio deste ano, numa Conferência que envolvia Hospitais e Centros de Saúde, um médico de família prestigiado dizia, perante a estupefacção geral da assistência, que em mais de 20 anos de profissão nunca tinha discutido a situação de um doente seu com um colega hospitalar. Esta é, ainda, a triste realidade. Empenhemo-nos em encontrar soluções para esta questão essencial.
manuel delgado, editorial, GH n.º 31 2007
No principio deste ano, numa Conferência que envolvia Hospitais e Centros de Saúde, um médico de família prestigiado dizia, perante a estupefacção geral da assistência, que em mais de 20 anos de profissão nunca tinha discutido a situação de um doente seu com um colega hospitalar. Esta é, ainda, a triste realidade. Empenhemo-nos em encontrar soluções para esta questão essencial.
manuel delgado, editorial, GH n.º 31 2007
11 Comments:
Um texto curto, claro e preciso de MD. E sem remoques!
É esta uma das pechas do nosso SNS.
Uma questão de "cultura" mas acima de tudo de "quintas" e "quintais".
MD, sempre a melhorar.
O seu discurso político tem vindo a aprimorar-se, mais abrangente, mais aprofundado.
A sua visão ténica sobre as várias matérias da saúde é o que se vê. Como neste excelente texto.
Café à Sporting
Depois da bica cheia e da italiana, eis a última inovação...
Experimente pedir da próxima vez um café à Sporting!
O empregado, fingindo-se admirado, vai-lhe perguntar:
- Á Sporting?...
Responda-lhe à queima:
- Fraquinho, muito fraquinho...
"Estima-se que entre 70 e 80% dos cuidados prestados ao nível da medicina familiar deveriam ser resolutivos. Isto é, resolveriam os problemas e evitariam que os utentes penetrassem no tecido hospitalar. Por vicissitudes várias".
Que vicissitudes ? Vá continue que está no bom caminho. Falta de pedir meios auxiliares de diagnóstico não é de cereteza !
"um médico de família prestigiado dizia, perante a estupefacção geral da assistência, que em mais de 20 anos de profissão nunca tinha discutido a situação de um doente seu com um colega hospitalar".
E com um colega de Medicina familiar, alguma vez tinha discutido algum doente ? De certeza que também não !
As BBs do discurso são enternecedoras !
Saudesa 26.10.2007
Reforma dos CSP (2)
..."De qualquer maneira os ganhos de saúde passarão sempre por um processo de integração (entre os CSP's e os HH's). A palavra de ordem no sistema, estou convicto, será: a integração."...
Dr. Luis Pisco: ..."Hospitais e Centros de Saúde, apesar de complementares, são hoje organizações com características e culturas sócio-técnicas muito distintas e em permanente diferenciação e sofisticação em sentidos diversos."
Apesar de compreender a defesa de autonomia cultural e técnica (já agora organizativa...) defendida pelo Dr. Luis Pisco no que diz resepito às relações USF (CSP) / HH's, não posso deixar de apoiar a visão integradora do Dr. Manuel Delgado.
O grande óbice encontra-se, de facto, na comunicação.
Em meu entender, uma dificuldade que pode ser ultrapassada, ou pelo menos minorada, com a "integração", ou melhor, com a total compatibilização do sistema informático do MS, que permita a qualquer instituição de saúde do SNS, aceder (por pessoal credenciado) à história pregressa do doente.
Tudo isto é um pouco como a terra arável. Parcelas há muitas. Precisamos integrar os pequenos lameiros para termos dimensão suficiente para meter o tractor.
Uma integração que não seja sufocante ou centralizadora mas, outrossim, catalizadora da eficiência. Esta a dificuldade.
Envelhecimento dos médicos ameaça reforma dos centros
Público, 18.11.2007
"Uma fatia significativa dos clínicos nos centros de saúde tem hoje
entre 45 e 55 anos. Muitos vão aposentar-se na próxima década
A escassez de médicos de família é um dos principais problemas identificados num estudo qualitativo sobre a satisfação da população e dos profissionais com os centros de saúde. É encarada mesmo como uma "ameaça para a mudança".
A insatisfação dos profissionais de saúde está, aliás, muito relacionada com esta insuficiência. "Dentro de dez anos estamos reformados, todos", diz um médico ouvido neste trabalho a que o PÚBLICO teve acesso. Passe o exagero, uma fatia muito significativa dos médicos de família tem actualmente entre 45 e 55 anos e, apesar de o número de vagas para medicina familiar ter vindo aumentar nos últimos anos, a recente inversão da tendência de desinvestimento nesta especialidade não será suficiente para contornar a crise anunciada.
"Em 10 anos poderão reformar-se cerca de 70 por cento", antevê André Biscaia, um dos autores do estudo Os Centros de Saúde em Portugal: Determinantes da Satisfação com o Funcionamento Actual & Prioridades da Reforma. Promovido pela Missão para os Cuidados de Saúde Primários e realizado pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical (Universidade Nova de Lisboa), o trabalho é uma abordagem qualitativa e exploratória - foram ouvidas 103 pessoas em 14 focus groups, com utentes, profissionais de saúde e jornalistas, entre Janeiro e Março deste ano. O resultado, a publicar em livro, será divulgado na quarta-feira, em Lisboa.
O objectivo era o de saber o que já satisfaz e o que é necessário melhorar nos centros de saúde, definindo prioridades no actual contexto da reforma em curso - que passa pela criação das unidades de saúde familiar (pequenos grupos de médicos, enfermeiros e administrativos que gerem os seus utentes de uma forma autónoma). Esta reforma está a avançar com maior lentidão do que estava previsto - a funcionar há 73 USF, apesar de já terem sido apresentadas 204 candidaturas. E ninguém sabe precisar quantos são ainda os portugueses sem médico assistente - o último estudo apontava para perto de 650 mil.
Os pontos fortes do centro de saúde identificados são a cobertura nacional e a inserção na cultura portuguesa. Já os problemas de acessibilidade, a burocratização dos serviços e os incumprimentos de horários foram destacados como pontos fracos no trabalho. Problemas que as USF visam justamente ultrapassar. Sublinhando embora as mais-valias destas equipas, os profissionais de saúde pensam que a reforma ainda não está segura, devido a múltiplos factores, como a tensão entre os que aderem e os que não aderem e, de novo, a idade média elevada que dificulta a melhoria do rácio médico-utente."
Caro e-pá:
Em primeiro lugar os meus cumprimentos reconhecido pelo que aqui tenho apreendido consigo.
Em matéria de facto porque sou ojctiva: Os estudos estão feitos e escusa de andar a chover no molhado - em 2013-2015, 1/3 do utentes do SNS se este ainda existir e não houver outsourcing, ficarão sem médico de família.
Porque se vão reformar todos de uma vez e porque a carreira não é aliciante para ninguém.
Andamos a trabalhar em Bolonha, andamos a publicitar a necessidade do trabalho e do envolvimento do Grupo e os médicos de família sempre viveram sozinhos, não tendo dúvidas e raramente enganos.
Uns mandam os doentes para o Hospital por duas razões: por tudo e por nada; outros retêm-nos não os deixando sair da sua alçada mas repetindo, como é natural, o erro eventualmente cometido na primeira obervação.
Quem os ouve pela manhã falar na TSF como especialistas da maior parte dos diagnósticos, que não fazem nem tratam, não os leva presos.
Mas são as torrentes de doentes, que acorrentam que alimentam a medicina privada que entre a crise e as seguradoras se está a tornar, também ela precária. No Norte de Portugal em que a crise se instalou para ficar - rendimento per capita de 67% da média comunitária, só 20% das consultas são privada pura, sendo as restantes - de seguros ou convenções.
Vão ficar: para os Administradores Hospitalares - desemprego, para os médicos - a proletarização ou ao serviço dos Hospitais ou das seguradoras; para os doentes Medicina de 3ª qualidade.
Este é o caminho que, no momento é possível vislumbrar - não sei se há tempo de ainda encontrarmos outro !
Porra, nós por aqui ainda estamos vivos!...
«Entretanto, o país discute o hipotético aeroporto de Alcochete, a putativa fusão do BCP e do BPI, a presuntiva demissão de José Rodrigues dos Santos, Maddie McCann, a Casa Pia (essa praga), o aborto e, a pedido do sr. Presidente da República, o mar. Por outras palavras, Sócrates (com a voluntária ajuda de Cavaco) despolitizou Portugal. Vivemos numa sociedade apolítica, que obedece à autoridade, sofre calada e aceita com resignação o seu destino. Sócrates conseguiu, de facto, impor a toda a gente a obediência servil do PS. Pouco a pouco, o essencial desapareceu de cena: a liberdade e a justiça, o Governo e o Estado. E voltaram, como sempre, o "imperativo nacional" e a competência técnica, que Sócrates naturalmente encarna. A democracia vai morrendo sem ninguém dar por isso.»
VPV, JP 18.11.07
Cara Diabo de Saias:
De facto essa é a percepção dos médicos que trabalham nos HH's e - apesar de tudo - mantêm relações informais com colegas que trabalham na MF - USF ou CS's.
Há a noção que o edifício está a desabar.
Mas os números mostram-se, pontualmente, outros. Não se perspectiva o futuro.
Nomeadamente o futuro do SNS. Festeja-se o 1º. aniversário de umas dezenas de USF's e anunciam-se centenas para o próximo ano.
Como refere o mais provável é não acontecer nada disto.
Não vão tardar os problemas no interior dos CPS, que percorrerão todo o SNS.
A evolução demográfica humana, nomeadamente no sector médico, é demolidora para o período daqui a 6a 8 anos.
A ilusão de que esta situação pode ser suprida como a importação de médicos.
Primeiro, espanhóis e depois poderão ser mesmo chineses a trabalhar 16 a 18 horas por dia, por um prato de arroz.
Entretanto, uma geração que acreditou, trabalhou e defendeu o SNS, envelhecida, poderá encontrar-se no café,... jogar dominó e, depois, ir à bruxa ou ao endireita (mais de acordo com os hábitos ocidentais).
Portanto, completamente de acordo com a sua análise e com a sua visão evolutiva a que chama "matéria de facto".
E, finalmente, vamos discutir "outsourcing"?
TANTO PESSIMISMO!
Asatisfação dos profissionais dos cuidados primários de Saúde depende, em grande medida, de condições de trabalho - em equipa e com mais autonomia - que lhes permitam uma melhor relação com o utente. Por força de uma melhor organização, oferecendo horários e serviços mais adequados e mais atenção. E os utentes sentem-se tanto mais satisfeitos quanto melhor for a sua relação com os profissionais.
Em traços largos, foi esta a conclusão a que chegou um estudo sobre a satisfação com os centros de saúde (CS) a que o JN teve acesso. E desenha claramente as linhas mestras da actual reforma em curso nos cuidados primários a criação de equipas (unidades de saúde familiar - USF) autónomas e remuneradas por capitação e objectivos, com uma organização que permite horários mais adequados aos utentes. Um estudo encomendado e financiado pela missão encarregada de reestruturar os centros de saúde, mas que, garante um dos seus autores, foi realizado por uma entidade independente e com um longo historial de estudos na matéria. Além de realçar alguns aspectos negativos da actual reforma.
O trabalho, a cargo da Unidade de Sistemas de Saúde do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa - e que será apresentado depois de amanhã, na Universidade de Lisboa, num fórum com inscrição gratuita em onovocentrodesaude@gmail.com - envolveu grupos de discussão constituídos por profissionais e utentes de CS tradicionais e de USF.
O que dizem uns e outros
Do lado dos utentes, a satisfação cresce com a melhoria da relação com os profissionais e diminui perante dificuldades de acessibilidade como a falta de médicos, horários limitados e mal cumpridos, burocracia (sobretudo nos CS tradicionais) e dificuldades de marcação de consultas.
Já para os profissionais, "o bom funcionamento do CS implica um trabalho organizado em equipas nucleares". Ou seja, o que existe nas USF. Aliás, os entrevistados que apontaram insatisfação justificaram-se com a falta de trabalho em equipa e de autonomia dos CS. O estudo realça, aliás, a "identificação" dos profissionais com a actual reforma, pelo facto de ser entendida como necessária e ser gerida pela própria classe (o líder da Missão é o presidente da Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral).
Mas o trabalho detectou, ainda assim, alguns engulhos. A começar pela tensão "entre elementos de USF e profissionais que não as integram". Quer pelo cepticismo de alguns quanto ao sucesso da implementação da reforma, quer pela eventual criação de discriminação entre utentes e profissionais de ambas as realidades. Outro ponto fraco está nas dúvidas quanto ao futuro da reestruturação, por força das várias tentativas anteriores que ficaram pelo caminho. Para os utentes e profissionais ouvidos, os CS tradicionais gozam, contudo, de boa imagem e satisfazem pela "cobertura nacional" que oferecem. Padecem da falta de médicos de família, de instalações e localizações desadequadas e de "baixa autonomia a todos os níveis".
A reforma em curso é tida como positiva por oferecer mais "flexibilidade funcional" e "autonomia técnica e administrativa", menos burocracia, melhor acesso e melhor rácio profissionais/utentes. É sobretudo valorizada pelo facto de partir de baixo - depende da organização voluntária dos profissionais, apesar de as regras serem definidas de cima. Mas sofre de um mal transversal a todos os cuidados primários o envelhecimento dos médicos de família. Não só faz temer pelo futuro como introduz alguma "resistência à mudança".
Para os autores do estudo, este trabalho é sobretudo o resultado de grupos de discussão, que deve ser visto como fonte de informação para melhorar pontos fracos. E sugere, por isso, a criação de um Observatório da Satisfação dos Utentes e dos Profissionais que alimente essa discussão.
Ivete Carneiro, JN 19.11.07
E com Sócrates, já teve alguma conversa?
Nem me lembro de o ter visto em pessoa.
É um político que ficará na história?
O Sócrates?! Não. É de uma pavorosa mediocridade. Pior: é um homem que tem uma linha de pensamento convencional. Que assenta em todos os lugares-comuns deste tempo e reproduz de uma maneira tosca esses mesmos lugares-comuns.
Mas é um Governo com impulso reformador.
A mim não me parece. Estas coisas do ensino e da investigação não levam a nada. Qualquer pessoa que tenha passado umas semanas numa genuína universidade não pode olhar para isto senão com tristeza.
Entrevista VPV, expresso 17.11.07
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