terça-feira, novembro 27

MCSP


O que vemos é que o processo foi mal gerido:

1) Muito basismo e muito corporativismo;

2) Muito voluntariado e a rapaziada há-de aderir "em massa" (eles estão mais interessados na outra ma$$a. O que não é um pecado. Havia que planear como dar a volta e organizar um novo enquadramento e ambiente. Também havia que clarificar que se a experiência corresse bem se generalizaria a todos os CSP (os doentes devem ser colocados em primeiro lugar!)

3) Muita teoria e burocracia vária com os mesmos missionários a ir a todas (MF em pregação, em actividades sindicais, em reunite aguda, a garantir segurança máxima - regalias à cabeça independentes do resultados -, a preparar textos/normas técnicos e de organização/gestão, em discussões no MS, etc....).

4) Não avaliaram em tempo todas as experiências. Seria fundamental para:

a) Mostrar créditos e reivindicar mais apoio e mais celeridade na concretização da reforma;

b) provar a superioridade face ao modelo tradicional;

c) idem sobre experiências diversas não avaliadas. Marcariam o jogo com nova maneira de actuar (objectividade + responsabilização) e tornariam óbvia a decisão de generalizar.

Assim chegam cansados, muitos atrasados, sem metas conhecidas, com restantes MF algo desorientados e muita gente a achar que a demora é porque não querem arriscar e afrontar os instalados (enquanto forem voluntários e não se mexer nos esquemas instalados...) - só que os benefícios que poderiam ser enormes e para todas as regiões - sobretudo para grandes cidades onde há maiores problemas (Braga, Porto, Lisboa e Setúbal) - não aparecem com a dimensão necessária (nem para doentes nem para HH).

Também não fica bem a gestão do tempo que a Missão fez: nomeada para um ano, prolongada depois para dois... agora diz que não é reforma para uma legislatura e não diz para quantas!

Por isso acho mesmo que o projecto da MCSP corre o risco de fracassar. Além do cansaço e do ritmo de lesma, não aparecerá a onda de entusiasmo (como o filme da onda gigantesca do Algarve) e adesão voluntária e não há suficientes resultados para justificar a generalização.
Hermes

Etiquetas:

3 Comments:

Blogger Clara said...

Carlos Arroz critica «baixa execução» das tarefas da MCSP
Depois de 25 meses em funções, muitos dos objectivos que foram atribuídos à Missão para os Cuidados de Saúde Primários (MCSP) estão ainda por cumprir, afirmou Carlos Arroz, durante um debate realizado em Leiria.
Com o tema genérico «Novos rumos, novos desafios», as 23.as Jornadas de Clínica Geral/Medicina Familiar do Distrito de Leiria, realizadas no auditório do Hospital de Santo André, a 8 e 9 de Novembro, numa organização do Núcleo Coordenador dos Médicos de Clínica Geral do Distrito de Leiria, dedicaram uma mesa à «Reorganização dos cuidados de saúde primários».
Ao intervir nesta mesa, o clínico Carlos Arroz, dirigente do Sindicato Independente dos Médicos, enumerou, uma por uma, as tarefas atribuídas à MCSP, no âmbito da reforma dos cuidados de saúde primários, e que constam das duas resoluções aprovadas pelo Conselho de Ministros -- a primeira em Outubro de 2005, que criou a MCSP, a segunda em Abril de 2007, que prorrogou o seu mandato por mais dois anos --, assinalando o que «está cumprido» e o que é ainda «totalmente desconhecido».

«Afinal, o que tem sido feito?», questionou o dirigente sindical, ao sublinhar que a MCSP «está em funções há 25 meses» e é identificada como a estrutura que trata das unidades de saúde familiar (USF) e não como a estrutura que trata dos cuidados de saúde primários. «As USF não podem ser o objectivo final do trabalho da Missão», criticou Carlos Arroz, frisando que apesar do «baixo nível de execução» dos objectivos atribuídos à MCSP, na primeira resolução, isso não impediu a prorrogação do mandato.
Se nas funções de apoio à criação das USF os objectivos atribuídos à MCSP estão, na generalidade, a ser cumpridos, já no domínio da reconfiguração dos centros de saúde e criação de agrupamentos, regulamentos internos, política de recursos humanos, formação contínua dos profissionais e incentivos «está tudo por fazer», considerou Carlos Arroz.
Nas questões finais, o dirigente sindical alertou ainda para eventuais «espartilhos» à passagem das USF para o modelo B e interrogou-se sobre a futura relação entre as unidades locais de saúde, os centros de saúde e as USF.

Processos difíceis

Na resposta, Horácio Covita, psicólogo e membro da equipa nacional da MCSP, realçou que a concretização da reforma dos cuidados de saúde primários no terreno «tem dificuldades» e «aspectos críticos», que têm exigido uma grande atenção, e apresentou diversos argumentos a favor desta mudança.
Actualmente, salientou Horácio Covita, grande parte do trabalho da MCSP «está canalizado para acompanhar o trabalho» das USF. «Só quem não está numa USF pensa que esta é uma transformação fácil», disse, lembrando que este processo envolve profundas mudanças estruturais e, inclusive, culturais, e exige muita formação.
«Há uma revolução silenciosa que está a acontecer nos cuidados de saúde primários», afirmou Horácio Covita, ao sublinhar que «esta reforma é um projecto que só terá sucesso se conseguir mobilizar e contar com a participação de uma grande maioria dos profissionais de saúde». Neste processo, a construção participada, a organização com autonomia e responsabilidade e as novas formas de liderança são fundamentais, afirmou o psicólogo, frisando também as dificuldades dos profissionais em adquirir competências a nível da gestão e governação clínica.
Por outro lado, realçou, hoje há «novas doenças», como a obesidade ou as dependências, que «exigem novas carteiras de serviços» nos cuidados de saúde primários (CSP). Nesta área existem «experimentações pontuais nos centros de saúde» e «é preciso generalizar novas carteiras de serviços que levem a novas competências», defendeu, considerando que esta poderá «ser uma forma de alargar a autonomia e responsabilidade» dos CSP.
Ao falar sobre a reconfiguração dos centros de saúde, que está em curso, Horácio Covita afirmou que este «não é um processo fácil», porque numa fase de mudança «quem mais resiste é que tem mais a perder».

Com dupla missão

Ao falar sobre um dos objectivos -- elaborar os termos de referência da contratualização das administrações regionais de saúde com os centros de saúde e destes com as USF --, Carlos Arroz considerou que, neste ponto, a MCSP tem uma dupla missão: «Por um lado, é uma emanação óbvia do poder político, que é legítima, e ao mesmo tempo assume o papel de provedor dos profissionais médicos das USF na contratualização com as ARS, retirando esse papel aos sindicatos e à Ordem».
Ao referir-se à reconfiguração dos centros de saúde, o dirigente sindical realçou que «o lançamento e implementação das associações de centros de saúde», a condução da sua transformação organizacional em unidades de gestão» e a definição de «um quadro de referência para o acompanhamento do exercício dos futuros gestores» são questões que também ainda «não chegaram aos parceiros sociais».
Do mesmo modo, «o lançamento de formas inovadoras de melhoria da articulação com outras unidades de prestação de cuidados», nomeadamente com os cuidados hospitalares e continuados, e o apoio «a oportunidades de prestação de serviços partilhados» são, até agora, «totalmente desconhecidos», frisou, ao enumerar as diversas funções atribuídas à Missão.
Carlos Arroz não deixou de referir os objectivos da MCSP no que toca ao sistema de informação nos CSP, que deverá ter «arquitectura comum», realçando que os programas informáticos «não falam uns com os outros, não se relacionam com os hospitais, há dificuldades em transmitir dados». Acresce, como acontece no distrito de Leiria, que «há centros de saúde que ainda não têm sequer instalados os computadores», lamentou.

Texto publicado, em exclusivo, em TM ONLINE de 2007.11.23

5:36 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Só dentro de dois a três anos será possível medir o impacto da mudança. Quando começarem a aparecer os benefícios, a reforma [dos CSP] será imparável. É isso que vai acontecer quando as USF abrangerem 20 por cento da população (em vez dos actuais 10 a 12 por cento)
André Biscaia, da USF Marginal, no Centro de Saúde de Cascais
Público, 18/11/07

1:55 da tarde  
Blogger tambemquero said...

O que pensam os candidatos a bastonário

Questão da semana:
Na nossa edição do passado dia 12 publicámos um artigo em que os sindicatos médicos (SIM e Fnam) se mostram críticos do ritmo a que está a processar-se a reforma dos cuidados de saúde primários (CSP), em particular a fase de implementação dos agrupamentos de centros de saúde (ACS). Como avalia o andamento desta reforma?

Carlos Silva Santos
«Estranhamente ou não, a direcção da Ordem dos Médicos nada tem feito»

«O desenvolvimento dos CSP na década de 80 do século passado representou na altura um salto inovador na organização dos cuidados médicos sociais e dos centros de Saúde Pública integrados no Serviço Nacional de Saúde. O desenvolvimento dos CSP nos últimos 25 anos mostrou vir a ser um caso mal sucedido por défice organizativo e pela falta de recursos materiais e humanos. A rotina desmotivadora instalou-se. Mas foram os próprios médicos de Medicina Geral e Familiar e os seus líderes mais esclarecidos que intentaram mudar o estado de coisas e apresentaram propostas de trabalho em equipa com os meios técnicos e de suporte suficientes, e que vieram ter a versão de unidades de saúde familiar (USF). O gabinete ministerial da Saúde, perante a proposta bem apresentada e qualificada, aceitou dar seguimento, mas de uma forma mitigada, aos repelões, ultrapassando todos os prazos e deixando muitas promessas por cumprir. Só a boa vontade dos clínicos gerais mais voluntaristas tem permitido manter viva a chama de uma reforma geral dos CSP. Os passos seguintes têm tardado e as pressões dos sindicatos têm aumentado, mas, estranhamente ou não, a direcção da Ordem dos Médicos nada tem feito de relevante nesta matéria. Também por esta razão, uma “Ordem Alternativa” é necessária para renovar e concretizar o projecto da reforma geral dos CSP.»

Miguel Leão
«Garantir a não discriminação dos médicos não aderentes»

«Para a reforma dos CSP proponho: apoiar o princípio da criação de USF, enquanto processo de adesão voluntária, de auto-organização e de lide-rança médica; criticar o atraso de implementação das candidaturas às USF da responsabilidade do Ministério da Saúde; garantir a não discriminação dos médicos não aderentes e a salvaguarda de direitos adquiridos, no que refere à progressão na carreira, ao acesso à formação médica e à melhoria das condições de exercício profissional; rejeitar a introdução de orçamentos clínicos; defender o princípio de que o director executivo dos ACS deve ser um médico especialista em Medicina Geral e Familiar habilitado, pelo menos, com o grau de consultor e com cinco anos de efectiva experiência clínica na especialidade, e com reconhecida experiência na área da gestão; defender o princípio de que o conselho clínico dos ACS deve integrar o coordenador da Unidade de Saúde Pública (USP); defender como competências do director clínico: supervisionar as actividades de formação contínua, adoptar protocolos de actuação clínica, realizar auditorias clínicas e gestão do risco, definir as regras de articulação com unidades hospitalares, decidir sobre conflitos de natureza técnica.»

Pedro Nunes
«Desde o início que chamei a atenção para os riscos»

«Sinto-me numa posição particularmente confortável para debater este tema, já que, contrariamente ao alinhamento acrítico com o Governo dos outros dois candidatos, desde o início que chamei a atenção para os riscos. A reforma traduz um desejo antigo dos médicos de família e a esperança de ser uma forma mais avançada do exercício da especialidade. Quem não desejaria trabalhar com os colegas da sua preferência, em instalações remodeladas e bem equipadas, auferindo incentivos resultantes de indicadores previamente negociados? No entanto, desde o início que se percebia que a forma como foi implementada, a sua utilização como justificação para encerrar SAP e reduzir as remunerações globais dos médicos e o argumento que permitiria diminuir o número de utentes sem médico, eram perigosos. Perigo grave também de criar divisão entre os médicos de família, levando à existência de médicos e utentes de primeira e de segunda. Veremos o que se vai passar com os ACS. É óbvio que vão trazer administradores e gestores para um terreno até hoje exclusivo dos médicos. Quando, como bastonário, tiver de defender a autonomia dos médicos de família, verei quem se colocará do lado destes e quem optará pelo ministro.»

candidato Carlos Silva Santos

«O desenvolvimento dos cuidados primários de saúde na década de oitenta do século passado representou na altura um salto inovador na organização dos cuidados médicos sociais e dos centros de saúde pública integrados no Serviço Nacional de Saúde. O desenvolvimento dos cuidados primários nos últimos vinte e cinco anos mostrou vir a ser um caso mal sucedido por deficit organizativo e pela falta de recursos materiais e humanos. A organização do tempo de trabalho médico, a autonomia na prática profissional e a relação com os cuidados diferenciados não se desenvolveu criativamente e a rotina desmotivadora instalou-se. Mas foram os próprios médicos de Medicina Geral e Familiar e os seus líderes mais esclarecidos que intentaram mudar o estado de coisas e apresentaram e defenderam propostas de trabalho em equipa com os meios técnicos e de suporte suficientes e que vieram ter a versão de USF, unidades de saúde familiar, como base produtiva de cuidados de saúde a determinadas populações. O gabinete ministerial da saúde, perante a evidência do diagnóstico e da propositura bem apresentada e qualificada, aceitou dar seguimento mas de uma forma mitigada, aos repelões, aparentemente concordante mas todavia pouco efectiva, ultrapassando todos os prazos e deixando muitas promessas por cumprir. Só a boa vontade dos clínicos gerais mais voluntaristas e bem sucedidos no seu projecto de um novo tipo de trabalho em saúde comunitária tem permitido manter viva a chama de uma reforma geral dos cuidados de saúde primários. Os passos seguintes têm tardado e as pressões dos sindicatos têm aumentado mas estranhamente ou não a direcção da OM nada tem feito de relevante nesta matéria. Também por esta razão uma Ordem Alternativa é necessária para renovar e concretizar o projecto da reforma geral dos cuidados de saúde primários aproveitando a evidência do sucesso das experiências em curso nas USF e os contributos inovadores dos médicos e dos outros profissionais dos Centros de Saúde.»

TM ELEIÇÕES de 2007.11.19

2:11 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home