domingo, janeiro 6

Ofensiva para Arrumação dos Bancos

O que CC, muito bem, está a tentar fazer.



Os países menos desenvolvidos exibem graves problemas de organização e gestão de serviços de saúde pelo que frequentemente o escape e acesso principal para muitos grupos desfavorecidos se faz nos designados “bancos”. Foi o que se passou entre nós até à criação do SNS – depois ainda aumentou, de modo descontrolado e para todas as classes, suportado em deficiente funcionamento dos CP, na permissividade quanto ao acesso e em tendência hospitalocêntrica.
Os números confirmam a aberração: em 2004 houve para cima de 6,2 milhões atendimentos nos SU hospitalares (IGIF), para além de mais de 5 milhões de atendimentos em SAP nos CS!.
Note-se que o SU tem todas as condições para que continue (aumente ainda!) o acesso inapropriado: é gratuito ou quase; oferece serviço integrado e resposta global (CE, MCDT, acesso internamento,..); tem qualidade e diferenciação (especialistas). Porém o seu crescimento descontrolado gera consequências nefastas para o sistema, destacamos:
a) Custo de oportunidade muito elevado: medido em muitos milhares de actos programados que não se fazem (CE, MCD e operações, HD), em angústia, sofrimento e desconforto desnecessário;
b) Custo directo elevado: nº de profissionais (das várias profissões e especialidades) e seu custo/hora; gasto inapropriado de MCDT e medicamentos; gasto noutros materiais e fornecimentos; tratamento inapropriado (ex.s substituição de CE, doentes em OBS sem necessidade ou substituindo actos de HD que não há);
c) Outros efeitos na actividade hospitalar: sabe-se da gestão em geral que da programação de um serviço resultam benefícios substanciais em eficiência, tempo de resposta, qualidade e satisfação. Também é pacífico que uma das dificuldades acrescidas da gestão de hospitais (face às empresas) resulta da imprevisibilidade de parte substancial da sua procura. Ora quando se verifica um afluxo como o actual aos SU em Portugal todo o hospital sofre: % de casos não programados aumenta nos MCDT e no internamento, daí maior gasto, confusão e indisciplina. Especificamente no internamento tudo piora: i) doentes são internados sem diagnóstico definitivo, donde muitos erros e admissões falhadas (ex. doentes internados em serviços cirúrgicos que têm alta sem operação é muito elevada), demora média é mais alta (mais camas são necessárias); a gestão de camas torna-se problemática e alguns cirurgiões adiam operações programadas por não terem garantia de cama para o doente; etc.
d) Disponibilidade de recursos em saúde: a plétora de profissionais envolvidos (justificada parcialmente pela procura) gera desperdício do seu uso no hospital mas, pior, provoca no restante sistema um efeito de buraco negro – sugando cada vez mais recursos qualificados (ex. médicos e enfermeiros) em detrimento doutros serviços. Daí a inversão completa da razão MF/médicos hospitalares e também a escassez artificial de profissionais de saúde;
e) Dificuldade de responsabilizar no sistema: profissionais, gestores e serviços hospitalares; doentes; etc.
Assim se compreende que o Prof. Pedro Pita Barros tenha defendido, com tanta ênfase e num magnífico artigo postado neste blogue, a utilização de taxas moderadoras como instrumento facilitador de acesso apropriado – alguns, nos quais me incluo, consideram que o valor é ainda reduzido para ser eficaz.

Que fazer?
Concluída a disponibilização das condições mínimas em cuidados de proximidade e tendo em conta os efeitos nefastos que acabámos de referir impõe-se efectuar uma OPA aos “Bancos: Ofensiva Para Arrumação dos “bancos”. Visa-se o término da actual situação terceiro-mundista, eliminando serviços que não se justificam e criando verdadeiras urgências/emergências, necessariamente concentradas, com todos os requisitos e recursos (em quantidade e qualidade), conforme as determinações técnicas e as opiniões dos peritos.
Então o acesso terá que processar-se de modo semelhante ao da GB, o que permitirá que a maioria dos nossos hospitais tenha um nº de atendimentos semelhante ao contabilizado nos seus congéneres ingleses (15 mil, não 150 mil).
semisericórdia

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19 Comments:

Blogger e-pá! said...

EM "SOCORRO" DOS HOSPITAIS

"O que CC, muito bem, está a tentar fazer".

Eis como se abre um texto, tendencialmente, opinativo. Qualifica-se à cabeça com o "muito bem".

A situação desenhada e explicitada por números exorbitantes (terceiromundistas)e situações inqualificáveis é extremamente elucidativa do uso e abuso do recurso aos serviços de urgência.

Ninguém tem dúvidas sobre tal facto, nem se surpreende com tal quadro, muito menos os médicos, enfermeiros, técnicos de MCDT, administativos, maqueiros, etc., que têm de desenvolver, parte do seu trabalho, nesses serviços de urgência.
Lidam com esses impressionantes números na hora, qualquer que seja essa hora, todas as semanas.
Os gestores tomam nota, no fim do mês e, por fim, organizam painéis, quadros demonstrativos, no fim do ano.
Entretanto, uma pérfida insinuação é posta a circular:
- estas urgências só existem porque os médicos, e o restante pessoal da saúde, ganham quantias astronómicas com horas extraordinárias nas Urgências.
- De resto, a rede assistencial, a todos os níveis, está operacional!

Bem.
Os médicos (e outros profissionais de saúde) que são parasitários das urgências são, quase sempre, trabalhadores desinseridos.
Antes de aparecer Sócrates já andavam num sistema de "mobilidade especial".
Porque para maioria´dos profissionais seniores, o escalonamento para um serviço de urgência, é um esforço suplementar que lhe é solicitado e, cada vez mais, um transtorno na sua vida pessoal e familiar.
Hoje, em luta com esses "extraordinários" proventos, repetidamente referidos pelos gestores da Saúde, contrapõe-se, na prática, a adopção e a necessidade de disfrutar um conjunto de comodidades, de bem-estar e uma incessante procura de qualidade de vida.

Bem, voltemos ao assunto das urgências e dos HH's.

Esta dramática situação que se verifica a arrastados anos, precede a criação dos Cuidados Primários de Saúde e, portanto, é uma situação "aSNS", i.e., antes (da criação) do SNS. Conheço-a desde os velhos tempos das Consulta da Caixa de Previdência.
Não é, portanto, uma situação que tenha sido criada, ou fomentada, pelos profissionais de saúde, nem fruto de uma política hospitalocentrica, conscientemente urdida.
É uma aberração congénita (que a "natividade do SNS" não resolveu), resultante da incapacidade de resposta do CPS a situações que estão, desde há muito, diagnosticadas:
- um crescimento galopante da procura de cuidados (seja de que tipo forem: rotina, urgentes ou emergentes).
E, então, tenho que voltar a repetir, os HH's foram o esteio do SNS. E, mais, as urgências foram o meio expedito - e muitas vezes o único disponível - para resolver estas insuficiências assistenciais.
Para além da procura urgências por inciativa própria, existem - por quantificar - um número indefinido de situações clínicas que, são drenadas, pelas vias orgânicas, para os HH's e deveriam resolver-se nos CPS (se houvesse investimento e, equipamento básico, formação continuada, etc.).

Portanto, não houve qualquer planeamento da evolução da procura (apesar da sua impresibilidade) e, logo, não se construiu, uma resposta equilibrada, eficiente e em sede própria, em conformidade.
Aqui, é difícil encontrar alguém a assumir responsabilidades mas, elas, existem:
- em primeiro lugar, os políticos (dos sucessivos governos) que descuidaram o campo social;
- depois, os gestores da saúde que chegaram aos HH's e foram empurrados pelo sistema para situações marginais das suas competências e funções.

De, facto como reza a sabedoria oriental (todos os dias é mais notória a sua eficiencia), aquele que não prevê as coisas longínquas, expõe-se a desgraças próximas.

De facto, os efeitos desta "indisciplina" da procura, são nefastos, a diversos níveis e não só em termos de custos. Se ainda nos reportarmos ao ambiente hospitalar, a governação clínica dos departamentos, dos serviços e das unidades funcionais têm dificuldade de planear, de organizar a resposta e de manter a qualidade dos cuidados. Navegam à deriva, mas tendo esse esforço, inglório e não reconhecido, evitou, até ao momento, que o barco (SNS) encalhasse.

A mudança que CC está a promover e planeou com diferentes Comissões Técnicas no SNS, está correcta e, em minha opinião, merecerá o apoio generalizado dos profisionais de saúde.
O que não está a fazê-la (a mudança) é "muito bem". Tem tentado dar o passo maior que aperna.
Assim:
É iludir que os CPS, com 100 USF's, resolvem os problemas.
É a miragem de que os pontos básicos da rede de urgência (SUB), já existem;
É a fuga à reestruturação dos pontos intermédios (SUMC), por implicam investimento;
É o sobrecarregar até a exaustão os pontos diferenciados, polivalentes(SUP), provocando tempos de espera inaceitáveis.

Quando estamos no "adro" da procissão dos cuidados primários que tem de dar a volta ao País, quando estamos - na rede de urgências - de costas viradas para o básico, o intermédio e o alamente diferenciado (polivalente), propomo-nos lançar uma OPA aos "Bancos"?
Qualquer CMVM, a "chumbava".

O que me impressiona é os caminhos que tomamos para esconder a brutal queda do investimento público na Saúde e os rodeios que pretendem mascar esta gritante realidade. Vemos desperdício em todo o lado, não investimos no que somos capazes de definir com acerto e, finalmente, somos lestos a encerrar (o que estando mal, remedeia).
É isto que CC, não está a fazer "muito bem".

Em Saúde não há só intervenções cruentas (cirúrgicas), muitas vezes temos de remediar (intervenção conservadora).

E, quanto à proposta OPA:
"A poupar se gasta e, a gastar se poupa" (provérbio popular).

Existem muitas necessidades a suprir, muito investimento a fazer, antes de lançar a OPA.

Entretanto, seria cordato não invectivar ou exorcizar os HH's, como demónios do SNS. Eles, com dificuldades, insuficiências e dedicação, vão aguentando o barco.

11:30 da manhã  
Blogger cardeal patriarca said...

É-Pá

Isso é que não ! Deixaram de conseguir ser a válvula de escape do sistema. À "maluqueira" de fechar tudo, ainda sem alternativas, juntou-se a diminuição das equipas de urgência dos grandes Hospitais pelo economicismo e combate ao "desperdício", algumas especialidades foram dispensadas, trouxeram-se "profissionais" de urgências para os Hospitais - exactamente aqueles que desencadeavam o episódio e sobre quem os doentes vinham pedir "outra opinião".

Os consultores do ministro vendiam-lhe a ideia que as USFs, quando organizadas iriam diminuir a procura da urgência. Os MF fora das USFs começaram a desajudar o sistema - a motivação baixou praticamente em todos.

Os médicos trabalham mais por motivação e espírito de equipa que por dinheiro, com uma pequena percentagem com espírito mercantil.

Depois do encerramento dos SAPs, ainda compreendido, começaram a fechar-se Hospitais de Cidades com 40 000 urgências / ano.

Correia de Campos vai deixar aqui o escalpe. Vai ficar-se nas Urgências, por mais que pareça que tenha sido hospitalizado.

10:19 da tarde  
Blogger xavier said...

Caro É-Pá,

O NOSSO SNS (12.º mundial)

No pequeno hospital onde trabalho, esta 4.ª feira, 8.45 horas, os médicos faziam fila no pré pagamento, diante da caixa registadora.

As bolas de berlim, pastéis de nata e folhados de massa tenra esgotaram.

Quem chegava, à entrada do pequeno barzinho, admirado, interrogava-se sobre o que se estaria a passar.

O dia no pequeno hospital envelhecido pela salina marítima decorreu animado como há muito não acontecia.

O movimento inusitado repetiu-se nos dois dias seguintes.

Hoje no final da manhã comentava-se que alguém havia inutilizado o visor do leitor pontométrico, colocado no átrio de entrada, junto dos serviços de medicina e ortopedia.

Na próxima segunda a animação destas manhãs não se vai repetir.
O encarregado do barzinho, avisado, mandou reduzir as encomentas de folhados e bolasde berlim. Com creme e sem creme.

No edifício contíguo, junto à marginal, os doentes (p1) aguardam pacientes horas a fio.
Depois de oito meses em média para serem atendidos pelo hospital.

11:01 da tarde  
Blogger xavier said...

"O que CC, muito bem, está a tentar fazer".

Eis como se abre um texto, tendencialmente, opinativo. Qualifica-se à cabeça com o "muito bem".

O parágrafo de entrada é meu e não do Semisericórdia.
O texto brilhante do semisericórdia não merecia este meu atropelo desajeitado.

Pecado tendencioso, segundo o é-pá.

Prometo portar-me bem para a próxima. E que, o é-pá,empenhado zelador de estilos me perdoe.

11:34 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Xavier,
Permita-me que meta a minha colherada.
Eram só os médicos? Não andavam por lá outros profissionais?
Médicos distraídos, certamente! Pois, como se verifica, depois do registo biométrico, é já possível, sem que tal se torne "infracção" ir e permanecer no bar, tomando calmamente o pequeno almoço e até actualizar-se nas últimas notícias.
Mas, p.f. não centremos o problema só nos médicos. TODOS fazem o mesmo. Os de bata (branca ou azul) são, obviamente, mais notados.

12:26 da manhã  
Blogger Clara said...

BOM JORNALISMO

Duas mortes levantam dúvidas sobre a triagem nas urgências

A morte de uma mulher, anteontem à noite, no Hospital de Vila Real, na sequência de um acidente no IP4, veio relançar o debate sobre a fiabilidade do Sistema de Triagem de Manchester (STM) nas urgências hospitalares. Julieta Gomes não apresentava ferimentos exteriores e "estava consciente e colaborante", pelo que recebeu a cor amarela - terceira numa escala de gravidade com cinco cores e que implica atendimento em menos de uma hora. Uma hemorragia interna detectada duas horas após o acidente acabaria por lhe custar a vida já no bloco operatório. É o segundo caso noticiado em dois dias - ontem o JN dava conta de uma morte em Aveiro -, mas, garantem especialistas em emergência, não põem em causa a fiabilidade do STM.

"Manchester nunca impedirá a morte de ninguém", afirmou ao JN Paulo Freitas. Director da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Amadora-Sintra, é autor de um estudo que avaliou em perto de 600 mil episódios de urgência a correspondência entre triagem, internamento e mortalidade. E garante que a percentagem de erro em Portugal - cujas urgências estão já cobertas a 90% pelo Protocolo de Manchester - é inferior aos 20% previstos em Inglaterra, onde o sistema foi criado. Entre nós é de 8% e "geralmente pela atribuição de cores de gravidade superior à que as situações merecem".

O STM, explica o médico, "é uma ferramenta de gestão de risco". Identifica-o e indica o tempo médio em que o doente tem de ser visto. Ao vermelho, situação emergente, corresponde um tempo zero. Segue-se o laranja, muito urgente, a atender em dez minutos. O amarelo é urgente e tem prazo de uma hora. O verde, com duas horas, é pouco urgente e o azul é não urgente. "É um instrumento muito poderoso de previsão de morte e de doença grave", que está "validado" internacionalmente para várias patologias, garante Paulo Freitas.

Dois por cento emergentes

"Hoje, os 2% de doentes triados como vermelhos vão imediatamente para uma sala de reanimação. Antes ficavam à espera", diz Paulo Freitas. Manchester existe para reduzir o risco de morrer pela espera, não de morrer pela doença em si". O que faz com que o maior número de mortes aconteça com casos vermelhos e laranjas. Estes representam respectivamente 2% e 17% dos casos triados, contra 50% de amarelos e 31% de verdes e azuis.

Sem comentar os casos em apreço por desconhecê-los, Paulo Freitas diz que "os serviços têm que fazer esforços para cumprir os tempos protocolados" e promover auditorias para avaliar se as pessoas estão a ser bem triadas, através do controlo de qualidade previsto no Protocolo de Manchester. O estudo que dirigiu, insiste, confirmou que o sistema "é seguríssimo" na detecção do risco de morte e doença grave.

A garantia é de que os enfermeiros encarregados da triagem "são experientes e treinados". Paulo Freitas entende que "o que falta muitas vezes é o pós-triagem", incluindo a atenção aos doentes para, se for caso disso, rever a cor inicialmente atribuída. É que, se é certo que um politraumatizado nunca é triado com menos do que a amarelo, há casos em que os doentes pioram. Situação que é, de resto, admitida pela direcção clínica do Hospital de Vila Real. "É possível que numa situação de choque as complicações venham a revelar-se mais tarde", disse Francisco Esteves. Que confirmou que o facto de a vítima estar "consciente e colaborante" fez os cuidados "recair sobre o outro ferido grave". O marido, ex-autarca de Murça, sofria de escoriações no corpo e traumatismo numa perna. Foi triado como vermelho e teve ontem alta.

Já no caso de Aveiro, a directora clínica, Lurdes Sá, admite que "pode ter havido um erro de avaliação na triagem". Uma falha que se estende ao "tempo de atendimento" anteontem, o tempo médio de espera na Urgência para a Medicina Interna rondou as oito horas, com muitos doentes com gravidade. Mas a dirigente não acredita que esse afluxo se prenda com o fecho do atendimento nocturno em centros de saúde ou de serviços de urgência vizinhos. Um argumento ontem aludido pelo bastonário em exercício da Ordem dos Médicos. "As urgências hospitalares estão a funcionar para além do limite das suas capacidades para atender os doentes com qualidade, humanidade e rapidez", escreveu José Manuel Silva, em comunicado.
DN 04.01.07
Ivete Carneiro, Eduardo Pinto, Jesus Zing e João Paulo Costa

Comentário: Dava jeito entalar CC.

12:27 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Caro Xavier:

Como sabe uma das estratégias consagradas para a inovação em Saúde é:
- activação do conhecimento e de utilização das tecnologias de informação e da comunicação....

O barzinho animado do seu Hospital (que não conheço) parece ser o espaço físico predestinado para comunicação nos dias de regozijo do pessoal.
Parece-me, também, para conseguir esses resultados dispensa as grandes tecnologias.
A inutilização do leitor pontométrico, as bolas de berlim, pastéis de nata e folhados de massa tenra e ... provavelmente um cafezinho, chegam e sobram para promover o mais abrangente buliço comunicativo.
Depois, é vencer a barreira arquitectonica e chegar ao outro lado da rua. Aí, moram (e demoram) as consultas externas programadas.
Amanhã e daqui a meses continuarão atrasadas. E a gestão a implementar estratégias para "comer" este alargado tempo de espera.
Todavia, se os médicos especialistas forem repartidos ou redistribuidos - como ontem anunciou o MS - pelos pequenos hospitais da periferia (como moeda de troca pelo fecho das urgências ou falsas urgências ou ocorrências "sapiformes" agudas) o tempo de espera poderá aumentar...
São os problemas da 2sociedade em rede"...
E a gestão, nesta "leveza" de meios e de procedimentos, nunca poderá programar qualquer solução para a sua redução.
Resta-lhe promover a "economia do
conhecimento" entre uns pastéis de nata e umas bolas de berlim, longe da ASAE.

Mas, entretanto, abandonamos o tema das urgências incontroladas e o papel de supletivo dos Hospitais, na cobertura das insuficiências dos CPS. Não foi?

Caro Xavier:
Tudo isto, o SNS em 12º lugar, as suas limitações estratégicas, os profissionais sem qualquer tipo de liderança, etc., sugere-me uma terrível apostasia, em termos de gestão:
Muitas vezes é melhor dar o coiro do que emprestar o conhecimento porque o custo, em termos de contabilidade pública, pode ser o mesmo!

Nestes dias natalícios (pico no dia 26.12.07) esta situação foi paradigmática no H da Feira. Hugo Meireles, um gestor experiente, conseguiu classificá-la como o "caos completo".
Na encerrada urgência de Ovar e nos CS fechados em dias feriados, reinava o "espírito de Paulo Bento": tudo tranquilo!

E, pelo que percebi, 2ª. feira, o pontómetro volta a funcionar!

12:30 da manhã  
Blogger xavier said...

Tonitosa,

Como sabe, sem médicos não há consultas.

O meu comentário não teve por objectivo acusar ninguém em especial.

Os profissionais médicos são o que de melhor se produz na nossa sociedade.

Tratou-se apenas de um pequeno relato do nosso sistema.

O grupo mais cumpridor é o de enfermagem.

No meu hospital, o controlo pontométrico foi mal implementado, como tivemos hoje oportunidade de analisar.

O regulamento foi publicado com inúmeras lacunas e imprecisões.

O sistema não é suficientemente flexível de molde a permitir uma melhor repartição de horários em relação às várias áreas de actividade: bloco, internamento, consulta.

A sabotagem do leitor foi, no entanto, um golpe baixo. Pretexto para rever/corrigir a implementação do sistema.

Mas o balanço é positivo.

São necessários acontecimentos para quebrar a rotina.
O que faz falta é animar a malta.

12:49 da manhã  
Blogger cardeal patriarca said...

Xavier

Uma actualização de quando em vez faz bem. Senão repetimos que temos o nosso SNS no 12º lugar até à exaustão - e já não é verdade.

http://www.apdh.min-saude.pt/Actualidades/Publicacoes_Rec/Euro+Health+Consumer+Index+2007.htm

12:49 da manhã  
Blogger xavier said...

Caro Cardeal

Rankings há muitos.

O que refere é o
"Health Consumer Index 2007" em que somos 19.º.

Para a OMS continuamos no 12.º lugar.

12:55 da manhã  
Blogger xavier said...

Estou a redescobrir o prazer de estar por aqui à cavaqueira.
Mas tenho de ir "confeccionar" mais uns posts.

2.ª a 6.ª, levanto-me às seis. Combóio às 7.45. Transponho a porta do hospital todos os dias às 8.30 horas. Almoço 14.30. Saio de regresso a casa 18.30. Janto. Vejo os jornais da tv. Blogo (2.ª 6.ª) até às 02.00 am.

Podíamos experimentar um novo sistema. O é-pá fazia as terças e o tonitosa, fazia as quartas, por exemplo. Assim sobrava-me mais tempo para os comentários.

1:19 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Xavier,
Ao contrário do que se pode deduzir do meu comentário, não foi minha intenção criticar a sua pertinente "observação".. Apenas quiz realçar que a ida ao bar é uma prática generalizada. E se forem respeitados tempos razoáveis (a maioria respeita-os) é aceitável, compreensível e até benéfica para a eficácia dos profissionais.
O mal está nos abusos e obviamente, como se depreende, quando as consultas (p.ex), tb por isso, começam com cerca de uma hora de atraso (com os doentes à espera).
Quanto ao registo biométrico, como sabe, sou defensor do mesmo, mas tanto quanto possível, com flexibilidade (liberdade com responsabilidade) e nesse caso não compreendo a resistência à sua implementação.
E até digo mais (creio que já o escrevi) o sistema devia ser aplicado aos próprios gestores, CA incluído. Só que, estou quase certo, teríamos aí mais um grupo de resistência!

1:25 da manhã  
Blogger Hermes said...

O E-pá ataca o semmisericórdia sem razão ou fundamento. Aliás nesse post vemos que não há um E-pá mas vários. Vejamos.

E-pá o “tendencialmente opinativo”

“A situação desenhada e explicitada por nºs exorbitantes…”.
Ainda bem que os posts de alguns bloggers são fundamentados com dados objectivos e, nalguns casos, quantificados. É pena que o E-pá não os siga, o que evitaria que caísse, como neste caso, na conversa fiada e no “tendencialmente opinativo”.

Era bom que esclarecesse (e quantificasse) a afirmação que fez da “queda brutal do investimento público na saúde”. Sabe-se que Portugal gasta em % do PIB e em ppc, mais que a média da EU e que a % da despesa pública de saúde no total é igual à média.

Incapacidade de reconhecer a urgência da mudança porque não quer ver as consequências perversas no SNS daquilo que rotulou de “indisciplina”. Bastava ter lido com alguma atenção o post do semmisericórdia em especial as alíneas a), c) e d).

Defende que só se devia fechar algo quando tudo o que se vai fazer já estivesse a funcionar.
Pergunta-se: i) Não será melhor ir ajustando à medida que as novidades vão funcionando? ii) Onde iria recrutar os médicos para a actividade acrescida se entretanto nada encerrasse? iii) Novos hospitais e urgências têm sido abertos sem encerrar os que visam substituir. Assim o que garante que não aconteceria o mesmo depois de ter recrutado os médicos?.

Fala de fecho de “urgências” generalizando, mesmo quando a decisão foi de encerrar das 24 às 8horas.

E-pá o “planeador da evolução da procura”

Diz que não houve “…planeamento da evolução da procura”.
Só que “planeamento da evolução da procura” é coisa que não existe, ressalvando a hipótese do EPá continuar convencido da bondade e eficácia do planeamento soviético, com a pretensão de tudo prever e regulamentar incluindo a demografia e os movimentos da população.

O que certamente não aconteceu foi a execução normal do planeamento da oferta, distorcida por pressões ilegítimas, sobretudo de politiqueiros, mas também doutros irresponsáveis que têm em comum só verem os seus benefícios nunca os custos para os restantes bem como os efeitos nefastos nos resultados actuais e na sustentabilidade futura do SNS.

E-pá o grande defensor dos que não são atacados

Defende os médicos mas eles não foram atacados no post em lado nenhum.
Por exemplo defende-os: i) Dos que fazem “pérfida insinuação” que nas urgências “ganham quantias astronómicas”. Só que nada disso é dito e não há qualquer ataque aos médicos no post; ii) Afirma que “os médicos (e outros profissionais de saúde) que são parasitários das urgências...”. Essa afirmação é sua e não tem qualquer correspondência em qualquer frase ou afirmação do post.

Aparece a defender os hospitais mas ninguém os atacou.
As afirmações são contra o hospitalocentrismo e a distorção da oferta que se verifica quando se favorece o crescimento continuado da urgência prejudicando, nomeadamente, a restante actividade hospitalar, ambulatório programado e actos especializados apropriados (ex. cirurgias).

Estranhamente é o E-pá que ataca os CSP (“nº indefinido de situações que são drenadas para os hospitais e que deveriam resolver-se nos CSP”) esquecendo-se que os CSP têm sido desviados para os “bancos” e que os médicos hospitalares fazem pouco ou nada no que respeita a consultadoria nos CS.

E-pá o apoiante que mais ataca (a política do MS)

“A mudança que CC está a promover e planeou com diferentes Comissões Técnicas no SNS, está correcta e, em minha opinião, merecerá o apoio generalizado dos profissionais de saúde.” (E-pá dixit)
Porém mais não fez do que tentar encontrar pontos negros e atacar a política seguida por CC. Ora algumas alterações nos SU são mais que justificadas por:

i) Situação inicial irracional e contrária ao previsto na rede, havendo alternativa;

ii) A melhoria das comunicações e/ou a diminuição da população;

iii) Inexistência de médicos para assegurar todo o serviço previsto à população;

iv) Com novos meios que já estão a funcionar, como sejam os do INEM e o Call-center (o E-pá ainda não sabe ou faz que não sabe).

Também é verdade que há benefícios visíveis decorrentes da cessação de utilização dos médicos (hospitalares, MGF) em actividades não programadas (SU, SAP).

Certamente aumentou a cobertura em MGF (diminuiu o nº de pessoas sem MF) assim como o nº de CE e outros actos programados. O “apoiante” aos costumes diz nada e continua a atacar (o que diz defender).

Outra ideia peregrina é querer manter uma “urgência”, construída e equipada contra a RRH com o argumento que atende 40 mil doentes/ano e que se gastou lá um milhão de contos.

1º Com esse argumento legitimar-se-ia o uso inapropriado de todos os serviços públicos e a multiplicação de “urgências” na maioria das vilas e aldeias. Só podemos lamentar esta situação que tem como consequência:
i) No hospital um nº reduzido de CE e CA e a subalternização dos especialistas em tarefas que não são suas e para as quais não têm a informação necessária (os MGF têm);

ii) Na área a duplicação desnecessária de consultas e actos (ex. MCDT);

iii) Nos CSP o desvio de recursos para a “urgência” e o hospital com menor capacidade de resposta no que devia ser o seu papel (para o CS menor possibilidade de referir e obter atempadamente consultadoria do especialista).

2º Aquele “banco” correspondeu a recusar um modelo alternativo e complementar à oferta existente no SNS, por ex., investindo em actividade ambulatória, incluindo CA e MCDT, e em internamento programado.

Esta opção teria em conta:

i) O enquadramento do SNS (pletora de camas e 2 urgências existentes em Coimbra);

ii) O reduzido âmbito populacional do hospital;

iii) As limitações do hospital (estrutura e capacidade existente). Aquela decisão enquadra-se nos princípios de economia, eficiência e racionalidade da despesa pública?

3º Desde quando é que um erro inicial justifica a enormidade de continuar a gastar um montante elevado sine die, multiplicando assim o nº de erros e agravando os seus efeitos nefastos?

3:50 da manhã  
Blogger O cavalinho da chuva said...

Caro Hermes

Só dois comentários para tentar ser acertivo e não me confundir a mim próprio sendo prolixo.

1. O que estava então programado para um Hospital que faz 40 000 urgências / ano e qual a orientação que teriam esses doentes ?

2. Qual o impacto que irão ter nas urgências dos Hospitais de acolhimento ?

E já agora vá visitar em qualquer dia pelas 18 horas - visitar só e de boa saúde - as urgências do maior dos Hospitais que referiu. Espero que isso também conte para fundamentação.

10:36 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Caro Hermes:

Vamos ver se consigo explicitar-me melhor. Embora a situação seja demasiado confusa, cheia de aspectos contraditórios, não me repugna a alusão a vários "e-pás".
Todos nos dividimos internamente.
O que se passa é que estes diálogos cibernéticos, por vezes decorrem em cima da hora, feitos directamente na janela dos comments, saíem com erros e imprecisões.

1)Em 1985, faço um estágio de longa duração na Alemanha - Hannover. Por minha curiosidade, peço para passar um dia nas urgências do Hospital da Medizinische Hochschule Hannover. Venho dos HUC, onde faço urgências, e tenho a sensação que entro num HH "fantasma". Não há gente nos corredores, não há atropelos, nao há praticamente sala de espera, etc.
É um Hospital Universitário, de uma cidade de um Estado interior (Niedersachsen), que tem uma população residente de quase 6 x a de Coimbra.
No final de 12 horas de "banco", contabilizo 14 doentes atendidos, todos urgências ou emergências , só 1 regressa ao domicílio.
Discuto este números com os colegas alemães.
Regresso a Coimbra e retomo as urgências.
Não preciso de mais nada para saber que, nesta particular situação, estava de regresso a um País do 3º. Mundo. E desde então até aos dias de Hoje, o recurso às urgências não parou de aumentar. Mas tenhio a noção, p. exº, que em 2005 o nº. de consultas externas e de urgências, na Região Centro, andaram perto da paridade.
Como acrescento supérfulo, venho dizer-lhe que isso, não me ofusca, em termos de mudança, a existência de outros problemas. Como o recente caso, que aconteceu em Aveiro. Situação típica para a qual foramfeitos os mais diversos avisos. Uma doente idosa entra e pelo STM é-lhe atribuída uma pulseira amarela, só é vista 4 horas depois...
Isto sucede por - pelo menos nas horas em que sucedeu - existia um afluxo intenso às urgências.
Dá-se o drama, a Direcção Clínica age com dignidade, mas os responsáveis políticos sabem - desde logo - com toda a propriedade que este facto não tem nada a ver com o fecho de SAP's...
Ao menos um tempo de distanciação e uma "investigaçãozinha" para empalear.

2.) Quanto a “queda brutal do investimento público na saúde", o que se deve ler é a queda brutal no "investimento público em equipamento e inovação na saúde",
e, por favor, não me inclua aí as PPP´s.
Mas também sei, o que toda a gente sabe, i.e., que gastamos mais de 10% do PIB na Saúde, que cerca de 30% desse montante ou sai directamente do bolso dos portugueses ou indirectamente através de seguros de saúde e ... "o crime" (na perspectiva economicista), num país socialmente em dificuldades, é uns décimos percentuais superior à média europeia...

3.) É obvio que "não houve “…planeamento da evolução da procura”, onde está procura deveria estar oferta.
Um erro tendencialmente gratuito.
Deve ler-se:
"não houve qualquer planeamento da evolução da oferta (apesar da sua impresibilidade da procura)..."

4.) Quanto aos fechos...
"Não será melhor ir ajustando à medida que as novidades vão funcionando?" É dificil esse equilíbrio na saúde. Por esse caminho andamos sempre nas margens da ruptura o que é fatal nesta área. Morrem pessoas!
Agora, não será visível - para os gestores - que se fecharam unidades sem estarem testadas as respostas alternativas?
Que, em muitos casos, se andou com a carroça à frente dos bois?

5.) "E-pá o grande defensor dos que não são atacados"...
É a minha interpretação aos referidos custos directos elevados.
"Custo directo elevado: nº de profissionais (das várias profissões e especialidades) e seu custo/hora";
Com certeza que o nosso colega semisericordia não se referia a custos pessoais, sociais ou humanitários.

6.) e finalmente, porque o texto já vai longo, saí a mensagem insidiosa:
"Estranhamente é o E-pá que ataca os CSP"!
Leia o que escrevi, e constate se algo tem a ver com:
"esquecendo-se que os CSP têm sido desviados para os “bancos” e que os médicos hospitalares fazem pouco ou nada no que respeita a consultadoria nos CS."
Os cuidados ou Medicos de MGF?
o que escrevi foi: "situações clínicas que, são drenadas, pelas vias orgânicas, para os HH's e deveriam resolver-se nos CPS (se houvesse investimento e, equipamento básico, formação continuada, etc.)." Isto é, reclamei investimento nos cuidados, equipamento adequado e formação dos profissionais. Tem sido feito.
Como é possível confundir isto com
um "ataque aos CSP"?

Haveria, muito mais a dizer. Infelizmente, o fim de semana também me consome noutras actividades.
Desde há longos anos que alimento conversas, troca de opiniões, discussões (porque não), com AH's.
Saí sempre mais rico dessas amistosas "refregas". Mas isso não é o importante.
O verdadeiramente importante é o meu convencimento de que o SNS lucraria muito, se essa comunicação fosse estimulada e se trornasse num "vício" quotidiano.

Finalmente, o meu apoio à política de CC no MS é, e sempre será, crítico, frontal e leal.
Tento construir, no dia a dia, o privilégio de não ficar enfeudado a qualquer facção ou tendência sócio-profissional.
Mantenho as mesmas convicções políticas e ideológicas (não disse partidárias) desde há muitos anos.

Não tenho nenhum problema com CC. Pessoalmente, somos amigos.

5:01 da tarde  
Blogger cotovia said...

Ao contrário dos operadores da Linha telefónica de Saúde 24, que desaconselham a ida às urgências em casos pouco graves, o coordenador da Sub-Região de Saúde de Viseu, José Carlos Almeida, aconselha os doentes não-urgentes a dirigir-se às urgências do hospital da cidade.
Os doentes residentes no concelho de Viseu que durante o fim-de-semana precisem de um médico, por razões não-urgentes, são encaminhados pelos operadores da Linha de Saúde 24 para as consultas abertas nos centros de saúde dos concelhos vizinhos, como Mangualde, Sátão ou Vouzela, que distam entre 10 e 30 quilómetros da cidade. Aí os serviços de atendimento permanente (SAP) funcionam sete dias por semana. Na cidade de Viseu, todos os centros de saúde funcionam apenas nos dias de semana até às 22h00 e aos sábados até às 13h00.
O coordenador da Sub-Região de Saúde de Viseu, José Carlos Almeida, disse ao PÚBLICO que não há razão para alargar o horário dos centros de saúde da cidade. "Aos sábados e domingos temos um serviço de urgências para isso".

JP 05.01.08

Esta notícia merece-nos os seguintes comentários:

a) Simples descoordenação sub-região de saúde, mais uma entidade votada ao encerramento;

b) O ministro da saúde deixou, segundo julgo, de ter responsabilidade directa sobre a administração dos serviços de saúde do país.
Esta cabe ao director da ACSS, Manuel Teixeira.
Este senhor estará em sintonia com as orientações do responsável da sub região?

c) O senhor Manuel Teixeira não estará a dar mostras de um certo desgaste e a necessitar de substituição mais ou menos urgente?;

d) A propósito, o que é feito do secretário e sub secretária de estado da saúde?

Demasiado cinzentões, ultimamente, eclipsaram-se de todo.

Ainda recentemente o projecto da "Consulta a Tempo e Horas" foi objecto de duras criticas por parte dos médicos de família.
A propósito, a senhora Pignatelli disse nada. Permaneceu muda e queda. Embora o silêncio seja também uma boa forma de fazer política (por exemplo muito aconselhável ao ministro da saúde). Principalmente quando se tem culpas no cartório.

e) O semisericórdia tem aqui mais uma explicação para o facto de no nosso país o número de consultas programadas andar a par do número de atendimentos nas urgências.
É o próprio MS, através dos seus responsáveis de serviço, que incentivam a utilização das urgências.

f) Sou dos que defende uma mini remodelação do Governo.

Seria pretexto para José Sócrates reforçar o seu apoio em Correia de Campos. E para o Ministro da Saúde se ver livre dos seus secretários pardacentos.

6:16 da tarde  
Blogger Hermes said...

Caro E-Pá

Muito obrigado pelos seus comentários e notas.

Aqueles mereceram a minha crítica leal, quando vi que o nosso colega de blogue (semmisericórdia) não respondia, no sentido de convidar a maior fundamentação não apenas o e-pá mas todos os colegas.

A suas notas são sempre interessantes e formativas. Desta vez sublinho o seguinte trecho:

(urgência na Alemanha) “Não há gente nos corredores, não há atropelos, não há praticamente sala de espera, etc.”. “… cidade de um Estado interior, que tem uma população residente de quase 6 x a de Coimbra. No final de 12 horas de "banco", contabilizo 14 doentes atendidos, todos urgências ou emergências , só 1 regressa ao domicílio.” “…
Não preciso de mais nada para saber que, nesta particular situação, estava de regresso a um País do 3º. Mundo.”

Comparando com os post em causa só encontro semelhanças de perspectivas, que também são as minhas, até nos qualificativos.

Entendi a afirmação do semmisericórdia (custos directos) como querendo sublinhar o acréscimo de custos por ser “banco” e não CSP, isto é, com especialistas e mais recursos por doente (necessariamente) e com maior prescrição (MCDT, medicamentos) até porque não conhece a história do doente/família – mas só ele é que poderá esclarecer-nos.

Relativamente ao ir inovando e ir fechando creio que estamos de acordo:
i) Impõe-se planeamento cuidado e muita prudência;
ii) Mas também coragem par lutar contra a demagogia, populismo e conservadorismo locais (dos quais o sr. está natural e claramente excluído). Ora o seu pessoal amigo (CC) parece-me que os tem (os não deve ser lido em itálico). Então resta-nos alertar e confiar que tudo será feito mesmo em benefício da população – quem sabe se daqui a uns anos não estamos tal como a sua descrição da cidade com 6XX Coimbra (ou quase!).

Caro Cavalinho da chuva

Nenhum hospital existe isolado, muito menos se é público e integrado no SNS, nem pode esquecer-se do papel e das regras de hierarquia e complementaridade com os demais. Também não pode olvidar (ou desprezar) a população que visa servir, mas sempre dentro das regras hospitalares, de saúde e de funcionamento público – o que impõe limites à decisão.

Sabe-se que se aumentarmos a oferta de meios especializados (“bancos”) a procura rapidamente os ocupa e “pede mais” – sobretudo se é gratuito e quando a população não conhece ou não sente as consequências negativas, bem enumeradas pelo blogguista em causa.

Aos profissionais de saúde em geral, e aos decisores em particular, a Lei de Bases comete o dever de tudo fazer para evitar o uso inapropriado dos serviços – como também aos doentes. Em geral o C. Administração e os médicos devem contrariar a inapropriação (não estimular, aumentando a oferta) e com os restantes envolvidos (tutela, CSP, outros hospitais, outros serviços) preparar alternativas e consistentemente combater o uso indevido e inapropriado do “banco”.

Um hospital com aquela população, perfil e capacidade de resposta não deve ter mais que atendimento permanente nas horas em que se justificar (8-22H?). Repare que se fosse naquela cidade alemã nem esse serviço teria, porque como disse o E-pá para 6XX mais população que Coimbra havia uma urgência “a sério” que teve pouco mais de 5100 doentes/ano (14*365).

O impacto será mínimo e percebe-se porquê (é fazer as contas):

i) Por cada MGF que deixa de fazer 24 h/semana de “urgência” no hospital dá-se cobertura a mais 1023 pessoas (24*1500/35), que estavam sem MGF e acorriam “naturalmente à “urgência”, e fazem-se mais 5500 consultas/ano (5/hora);

ii) Idem em médicos especialistas quanto ao muito maior nº de CE (também cirurgias e outros actos) – em CE por médico daria mais 4400 consultas/ano face a menos de 500 na urgência (24*46*4). Assim diminui-se a lista de espera da CE e aí tem mais um motivo para os doentes quererem recorrer à urgência (onde quer que seja!).

iii) Depois basta a distância para afastar os “doentes do calo” (e semelhantes), pelo que muitos poucos recorrerão a uma verdadeira urgência.

iv) Finalmente, noutra óptica, o encerramento é só nocturno e nesse “banco” não haverá mais de meia dúzia de doentes/noite.

Quanto ao “estado das urgências dos HH que referiu”. Quem sabe se as medidas que se ouvem por aí não vão “dar a volta”:

1º- Profissionalização e novo regime de retribuição para urgência;

2º- Separação de fluxos para criar a emergência como descrita pelo E-Pá;

3º- Impacto das USF e de urgências básicas e atendimentos permanentes em CSP

4º- Após pensar maduramente nesta problemática espero que leve esta opinião (também) em conta para a fundamentação da sua posição.

7:24 da tarde  
Blogger O cavalinho da chuva said...

Meu Caro Hermes

Volto à sua desenvolta escrita com o pragmatismo dos tecnocratas gestores com uma única questão:

Como é que consegue convencer uma população que politicamente se tornou hostil prometendo-lhe fatos novos e mesmos gabardinas, mas com a condição de terem que ficar nus durante 2 ou 3 anos ?

Esta é no fim a grande questão: por melhor e até por mais correctas que sejam as intenções, a técnica e a forma de transferência do pouco existente para o muito que se aponta como meta, fica comprometido pela não existência de uma planificação correcta, compreendida e aceite por todos.

Há entre outros dois grandes erros em política: ter razão antes do tempo e pôr o carro à frente dos bois.

Ambos podem estar a ser cometidos.

8:42 da tarde  
Blogger Hermes said...

Caro Cavalinho da chuva

Agradeço-lhe os seus comentários.

Essa de ficarem nus à espera da gabardina só a um cavalinho da chuva lembraria!
A conversa no entanto não se distingue muito da que foi usada há tempos em Barcelos onde estão todos satisfeitos, segundo parece, agora que têm melhores condições de atendimento na maternidade de Braga e outros gestores no seu hospital.

Quanto ao comentário de que faltou “… planificação correcta, compreendida e aceite por todos”. Não digo que não. Mas que as decisões anteriores foram incorrectas e que não tem sentido repeti-las ou prolongá-las no tempo isso não parece haver dúvida.

Agora também é verdade que quando se trata de corrigir situações em que é necessário fazer downsizing de serviços, não é boa ideia ficar à espera que seja “aceite por todos”. Mas se o Sr quiser ficar à espera disso faça-o deitado. Mas não à chuva!

(considero encerrada a minha participação neste diálogo)

11:40 da tarde  

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