terça-feira, agosto 12

Dívidas aos Laboratórios


Os dados do relatório da Apifarma sobre as dívidas dos Hospitais do SNS, a que o DE teve acesso, são deveras preocupantes. link

a) A dívida do HHs – 639 milhões em Dez 2007- cresceu 13,3%, atingindo no final de Junho 2008 o valor de 724 milhões de euros. (+ 65 milhões de euros).
b) Os atrasos de pagamento são assustadores. Ranking dos piores pagadores :Centro Hospitalar de Setúbal ( 1.163 dias).Centro Hospitalar da Cova da Beira (775 dias), Centro Hospitalar do Alto Minho (704 dias), Hospital Garcia de Orta (699 dias), Hospital Distrital da Figueira da Foz (691 dias), Hospital de Santa Maria Maior (654 dias) e Centro Hospitalar Lisboa Central (614 dias).

Esta “tendência geral de incapacidade dos hospitais para pagarem as dívidas” dever-se-à, essencialmente, a dificuldades de tesouraria, provocadas por atrasos de pagamento da ADSE e demais subsistemas de saúde, bem como das seguradoras.

"Pagamos o preço por não sermos tão brutais como outros fornecedores", queixa-se (?) Manuel Gonçalves, director-geral da GSK .

"Não tenham pena dos laboratórios!"
link
Efectivamente o prejuízo é dos hospitais, obrigados a suportar o sobrecusto de 28% correspondente à subida de preços dos laboratórios, que sabem, à partida, que não vão receber a tempo e horas (Miguel Gouveia).

Nota: Esta noticia do DE foi hoje largamente reproduzida pela maioria dos órgãos de informação da nossa praça. O DE publicou, ainda recentemente (27.06.08), um trabalho sobre esta mesma matéria. Sinal que a pressão sobre os HHs está a aumentar.
Procurámos o relatório a que o DE teve acesso no Portal da Saúde e no site da Apifarma sem êxito.

Etiquetas:

9 Comments:

Blogger Clara said...

Esta situação é um indicador claro de ineficiência como está a ser gerida esta área hospitalar. Um grande número de hospitais estão a pagar preços mais elevados pelos seus medicamentos.
Nos casos mais graves, como o do Centro Hospitalar de Setúbal, não se deve tratar de mero problema de tesouraria. Outros problemas existiram para tal situação, nomeadamente ao nível da gestão do circuito do medicamento (aquisição, armazenamento, prescrição, distribuição).

1:20 da tarde  
Blogger Farmasa said...

Não podemas achar que este tipo de coisas são "normais". Alguém acha normal receber o seu vencimento 1.163 dias (mais de 3 anos) depois de ter prestado as suas funções?
É óbvio que os laboratórios só vivem com esta situação porque se adaptaram a ela, aumentando evidentemente os preços dos produtos que vendem.
Mas isso, sim é normal! Se o cliente paga tarde e a más horas não pode exigir um desconto no preço!
Se chegarem ao pé destes fornecedores e lhes pagarem de facto a 30 dias, vejam lá se não conseguem uns bons descontos.

E isto nem tem nada que ver com o circuito do medicamento. Tem apenas a ver com honrar os compromissos.

Isto não é aceitável. Como cidadãos, não podemos achar isto normal!

2:50 da tarde  
Blogger Hospitaisepe said...

Em relação aos piores pagadores, consultados os relatórios e contas de 2007, disponíveis no site dos HHs EPE, verificamos o seguinte:

a)- Centro Hospitalar de Setúbal, EPE: o Relatório e Contas não está disponível.

b)- Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE: reduziu o consumo de medicamentos 2006/07 em 3,21% (6.798.627 para 6.580.218 euros). Não encontramos justificação expressa para esta redução.

c)- Hospital da Figueira da Foz, EPE: Reduziu a despesa com medicamentos no mesmo período em 305.196 euros. Em função da redução da actividade cirúrgica em produção adicional, redução dos preços de aquisição e um maior cuidado na gestão desta despesa.

d)-Hospital de São Teotónio, EPE: Reduziu a despesa com medicamentos ( 54% do total dos consumos: 22.138.398 euros) , no mesmo período, em 306.335 euros (-2,5%). Devido à redução de custos dos medicamentos do foro oncológico, quer os distribuídos a doentes externos quer aos administrados no hospital de dia oncológico (-441.046 euros); à redução em 6% do número de requisições com medicamentos para tratamento da patologia de gaucher (-192,855 euros) e os ganhos obtidos via negociação com fornecedores (-588.218 euros), conforme referido nas notas ao balanço e demonstração de resultados (8.2.3 e 8.2.33) (página 35 do relatório e contas de 2007).

Que outros grupos de medicamentos terão beneficiado destas poupanças tão esforçadas?

Desta análise muito sumária parece não haver indícios de ineficiência da gestão do circuito do medicamento como sugere a Clara.

6:53 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Quanto aos atrasos de pagamentos parece-me que podemos aplicar um ditado popular:
"Não se faz omoletes sem ovos."
E, não há gestão que resista a situações orçamentais tão degradadas que, possam derivar da imagem de um Estado "caloteiro".

Frequentemente, compara-se o Estado a banais empresas.
E, nessa siuação chocamos, no fundo, um problema ético, isto é, o Estado como "pessoa de bem", tem obrigatoriamente de ser um bom pagador (a tempo e a horas).

Para mim, este exercício comparativo pode arrastar-nos para mais longe.
Ao entraramos neste caminho voamaos para a situação em que, as EPEs, embora avalizadas pelo Governo, entraram em falência técnica.
Depois, só falta os tribunais (outro orgão de Poder do Estado)emitirem as devidas penhoras...

Quando formos ou se chegarmos a ir "à praça" (o SNS), então acabam-se as vaidades de gestão e lá virão os orçamentos suplementares para "esconderem" as misérias e iludirem o descalabro.
A situação a existir como vem retratada no post mais paerece um passeio à beira do abismo.

Fazer mais com menos dinheiro?
Certo.
Mas tem de haver o necessário, para honrar as dívidas.

Senão estamos a preparar um leilão com contornos muito nebulosos...

9:39 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Pedro Pita Barros

As dívidas dos hospitais aos fornecedores de medicamentos e meios de diagnóstico são um problema antigo. Constituíram e aparentemente continuam a ser uma válvula de escape para a gestão hospitalar em momentos de cumprir orçamentos (ou contratos programa). Foram (são?) uma forma de financiamento da despesa corrente, por via da indústria farmacêutica.

Esta, por sua vez, sabendo que recebe a um ano ou mais incorpora nos preços o valor desse atraso. Dos números mais recentes, dois aspectos chamam a atenção: no final do ano reduz-se a dívida, retoma-se depois o seu crescimento ao longo do ano; em 2008, os hospitais SPA [Sector Público Administrativo] aparentam melhor desempenho face aos EPE [Entidades Públicas Empresariais] neste campo (maior redução da dívida e menor crescimento do prazo de pagamento).

Fundamental será perceber em que medida estas dívidas levarão a um reforço excepcional de verbas num futuro próximo, o que minaria os contratos programa como instrumento de gestão, da mesma forma que minou os orçamentos tradicionais uma década antes.
DE 27.06.08

11:27 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Miguel Gouveia

"Emitir dívida pública saía mais barato ao Estado"

Miguel Gouveia sugere medida para as dívidas de curto prazo.

Um dos directores dos laboratórios nacionais contactados esta semana pelo Diário Económico não tinha dúvidas: "Somos nós que estamos a financiar os hospitais, que recebem medicamentos durante um ano sem pagar nada por isso".

Para Miguel Gouveia, professor na Universidade Católica especializado em economia da Saúde, "essa interpretação pode ser verdade contabilisticamente, mas não o é economicamente". Se é verdade que o facto de os hospitais demorarem 365 dias a pagar aos fornecedores atrasa a factura em um ano, por outro lado "acabam por pagar mais caro depois, pelo que é como se fosse dinheiro emprestado ao sistema de saúde".

Em declarações ao Diário Económico, Miguel Gouveia afirma que a solução para o problema das dívidas dos hospitais devia passar pela "emissão de dívida pública para pagar as dívidas de curto prazo dos hospitais". A explicação é simples: "Fica mais barato ao Estado emitir dívida pública e pagar logo do que suportar os juros implícitos" que a indústria incorpora no preço a que vende os medicamentos aos hospitais.

Estes juros implícitos, ou seja, a margem que a indústria coloca no preço de partida por saber que vai demorar um ano para receber o pagamento, pode chegar a 28%, de acordo com um estudo encomendado por António Correia de Campos a Miguel Gouveia.

" Quem paga melhor pode ter a sua factura reduzida até 28%", sublinha o economista "Se a indústria resolveu ir para tribunal, isto quer dizer que todas as estimativas foram ultrapassadas", acrescenta.

Adiar o pagamento é, conclui, "um tiro no pé, porque agora os laboratórios vão começar a incorporar no preço a estimativa de terem também custos judiciais, além de atrasos". Opinião semelhante tem Pedro Pita Barros. Para este economista, que participou na comissão que estudou a sustentabilidade do financiamento do Serviço Nacional de Saúde, uma das consequências notórias da análise dos dados que o Diário Económico hoje publica é que "os saltos de fim de ano e depois o ritmo de crescimento da dívida ou do prazo de recebimento são mais pronunciados no caso dos EPE [hospitais empresa]".

Assim, a grande dúvida que fica é saber "se os hospitais EPE usam este mecanismo de dívidas a indústria como forma de flexibilizar a gestão", nomeadamente para cumprir os contratosprograma que definem o pagamento e a produção anual.
DE 27.06.08

11:31 da tarde  
Blogger Joaopedro said...

Pagamos o preço por não sermos tão brutais como outros fornecedores", queixa-se (?) Manuel Gonçalves, director-geral da GSK .

Bem... vejamos...
O que a Apifarma poderá fazer:

a) Accionar o Presif, sociedade anónima com capital maioritário da APIFARMA, destinada a adquirir, gerir e cobrar os créditos vencidos das empresas farmacêuticas sócias da APIFARMA sobre as entidades hospitalares.

b) Recurso aos tribunais.

c) Fazer passar informação privilegiada a órgãos de informação seleccionados...
«...O relatório sobre as dívidas de Junho, feito pela indústria farmacêutica, e a que o Diário Económico teve acesso...».

d) Cobrar juros de mora muito acima da taxa legal - 28%, segundo o professor Miguel Gouveia.

Que fornecedores têm ao seu dispôr um arsenal tão bem apetrechado para cobrar dívidas ao Estado?

11:57 da tarde  
Blogger Clara said...

O Centro Hospitalar de LX Zona Centro é uma das unidades que figura na lista de campeões.

De acordo com o relatórios e Contas de 2007 ops gastos com medicamentos aumentaram 2,0% (65.535.602 para 66.840.655 euros).
A justificação constante no referido relatório é que é digna de nota, a demonstrar um tratamento incipiente desta importante área de gestão.

Senão vejamos:

«Os preços não registaram na sua grande maioria, aumentos de preços unitários ou mesmo reduções de 6%»

O comportamento dos medicamentos é justificado pelo aumento da quantidade consumida dos medicamentos destinados ao hospital de dia e os medicamentos cedidos a doentes em regime de ambulatório. Esta situação deve-se a alterações dos protocolos terapêuticos com utilização de novas moléculas, de que são exemplo os anticorpos monoclonais e outros medicamentos de recombinação genética, novos citotóxicos, novos antiretrovirais, de um modo geral com custos mais elevados.

Comentário: O texto é perfeitamente de amador e em mau português. Repletos de generalidades.Justificações não quantificados.

Tem o mérito de reconhecer que a nova tecnologia abunda.

7:17 da tarde  
Blogger e-pá! said...

MS
PROGRAMA DO MEDICAMENTO HOSPITALAR
...
5.1.2. GESTÃO/APROVISIONAMENTO E LOGÍSTICA
...
Esta mudança deve desenvolver-se de forma articulada e baseada na
divulgação de normas e recomendações focalizadas na racionalização dos
custos aumentando a eficiência na distribuição e englobando a redução dos
preços de aquisição, dos stocks, do desperdício, dos custos de estrutura e de
rupturas.
...
(Março de 2007)

Este pequeno trecho de um documento oficial (embora da era CC) mostra como não é possível prosseguir qualquer programa, no MS, com o mínimo de consistência e de continuidade.

Os relatórios de contas dos HH's que aparecem à luz do dia (e são endossados ao Tribunal de Contas) como "cumpridores" de planos orçamentais ou contratos/programa "obrigam" (não há outro termo) a esconder debaixo do tapete muito lixo (neste caso dívidas).

Assim, não chegamos lá!

NOTA: o facto da Apifarma possuir um sofisticados e faseados mecanismos para accionar as cobranças e - aparentemente - não o estar a utilizar, deve ser objecto de questionamento de sector público da Saúde.
A justificação usurária dos 28% não chega...

9:22 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home