JLA, entrevista
(...) Trabalha no serviço público de Saúde. Qual é o maior problema do sistema? link
Há vários. Um é de carácter organizacional, a flexibilidade do sistema. Outro é a comunicação, a forma como se comunica. O terceiro é o consumo exagerado de cuidados médicos. Depois há o ‘man power’, ou melhor, agora é mais o ‘woman power’ – há cada vez mais raparigas do que rapazes a entrar para medicina – e a sua má distribuição geográfica. E há o problema da especialidade orfã, a pedra basilar do sistema que é a medicina geral e familiar.
Há vários. Um é de carácter organizacional, a flexibilidade do sistema. Outro é a comunicação, a forma como se comunica. O terceiro é o consumo exagerado de cuidados médicos. Depois há o ‘man power’, ou melhor, agora é mais o ‘woman power’ – há cada vez mais raparigas do que rapazes a entrar para medicina – e a sua má distribuição geográfica. E há o problema da especialidade orfã, a pedra basilar do sistema que é a medicina geral e familiar.
Os médicos estão mal distribuídos pelo país e pelas especialidades…
Há um problema geográfico, em relação aos locais para onde os médicos devem ir. É preciso médicos no interior. E há um problema na escolha das especialidades: os jovens médicos querem especialidades mais tecnológicas, com maior prestígio social, embora não haja nada mais nobre do que a figura do médico de família.
Portugal tem falta de médicos?
Em números absolutos não tem. Em termos relativos e de distribuição pelas várias áreas tem. Agora, é uma absoluta falsidade, repetida até à exaustão por quem fala sem saber, que a falta de médicos se deve a um lóbi da profissão e às faculdades de medicina. Nunca as faculdades de medicina nem a Ordem dos Médicos tiveram uma palavra a dizer sobre o número de médicos a serem formados. Eu sei, porque estava em lugares de responsabilidade na faculdade quando isso ocorreu. Claro que quando tínhamos cursos com 120 alunos havia outras condições – o que nos agradava porque ensinávamos melhor. Agora estamos com mais de 300.
João Lobo Antunes, DE 08.08.08
Há um problema geográfico, em relação aos locais para onde os médicos devem ir. É preciso médicos no interior. E há um problema na escolha das especialidades: os jovens médicos querem especialidades mais tecnológicas, com maior prestígio social, embora não haja nada mais nobre do que a figura do médico de família.
Portugal tem falta de médicos?
Em números absolutos não tem. Em termos relativos e de distribuição pelas várias áreas tem. Agora, é uma absoluta falsidade, repetida até à exaustão por quem fala sem saber, que a falta de médicos se deve a um lóbi da profissão e às faculdades de medicina. Nunca as faculdades de medicina nem a Ordem dos Médicos tiveram uma palavra a dizer sobre o número de médicos a serem formados. Eu sei, porque estava em lugares de responsabilidade na faculdade quando isso ocorreu. Claro que quando tínhamos cursos com 120 alunos havia outras condições – o que nos agradava porque ensinávamos melhor. Agora estamos com mais de 300.
João Lobo Antunes, DE 08.08.08
Em total desacordo com JLA sobre este ponto. As reduzidas quotas de acesso ao curso de medicina (numerus clausus), foram, no essencial, determinadas pela natural reacção de protecção corporativa da classe médica, com força suficiente para influenciar a decisão política.
Para JLA a falha de planeamento de estudantes de medicina resultou da "incapacidade de prever o que ia acontecer " por parte do ministério da Educação e da Saúde.link
Etiquetas: Entrevistas
2 Comments:
Caro Xavier:
A situação não é tão simples.
O ratio médico/habitante (sem entrar em detalhes) não justificava qualquer "pressão corporativa" da OM...nem ao contrário.
Aliás, a primeira grande "pressão" é no sentido contrário - prévia à criação do SNS - e foi o colocar no terreno, junto aos CS´s, então embrionários, o Serviço Médico à Periferia (SMP).
Os médicos que realizaram o SMP regressaram aos Centros Hospitalares de origem, com a estricta ideia da "pobreza" de cobertura rural.
Vivia-se aí o estertor do "médico das Misericordias", sucessor dos médicos de "partido", contemporâneos do "João Semana".
Eles - os médicos licenciados pós-25 de Abril - foram, portanto, uma das alavancas da universalidade e da equidade do futuro SNS.
Estes clínicos traziam no seu conhecimento "explicíto" uma não rigorosa dimensão das necessidades (ela vai ser planeada muito mais tarde), mas uma "implicita noção" da pobreza da cobertura sanitária.
Concomitantemente, há graves perturbações ao nível do ensino que, como é natural, atingem as Faculdades de Medicina (existentes - poucas!). Há o "nascer de grande onda" da reforma do Ensino Superior, sobretudo nas áreas cientificas e pedagógicas que, na verdade, deu resultados frustes, ainda não cabalmente avaliados.
A resposta institucional é um bloqueio.
Parar para pensar.
Mesmo assim, é deste enquadramento que nasce o ICBAS (para dar um exemplo positivo).
Outro resultado positivo - hoje é bem nítidido este acerto - deste bloqueio diz respeito ao indeferimento para a abertura de FM privadas.
Hoje, poderá haver problemas de gestão dos recursos humanos médicos, mas não há "médicos da UI!".
E podiamos continuar a história dos anos recentes...
Para a gestão administrativa a não existência de superavit de médicos no mercado constitui - essa sim - um problema.
Estariamos confinados a um mercado onde se gizariam CIT, não se falava em carreiras médicas, em novos incentivos, etc.
Caro Xavier: quando se "atira" para cima da OM este grave problema, de certo modo, não estamos a falar em programação de necessidades mas de um mercado que permita maior "flexibilização".
Aos menos, devia de haver a modéstia em dividir responsabilidades de gestão e previsão.
Porque na previsão da evolução futura todos falharam.
E a política governamental continua a falhar permitindo com um ar impassível (para não dizer impotente) a prossecução da "desnatação" do SNS.
Porque é em relação ao SNS que estamos a falar.
Não é verdade?
(Brasil, Aracati, Ceará)
E que dizer da oposição do actual bastonário à abertura de mais um curso de medicina na Universidade do Algarve?
Daqui a uma dezena de anos também hão-de de dizer que o Governo não soube prever o futuro!
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