Mau à brava
(…) Como sabes, não entendo nada de gestão, economia ou dessas cenas agora muito em voga, mas surge-me intuitivo que a última coisa que um empregador quer é um trabalhador parado durante as horas de serviço. link É mau à brava para a produtividade. Pôr nas unhas do trabalhador uma ferramenta tão deficiente, que lhe empata o serviço em vez de ajudar, deveria pôr os chefes em polvorosa, levando-os a espalhar a banda larga por esse Portugal fora. Assim como fizeram ao Magalhães (salvo seja). Mas não! Lá continuamos puxados pela carroça de bois informática: eu a olhar para o monitor, o utente a olhar para mim e o pessoal, na sala de espera, a olhar para o relógio. Nem queiras saber como é desgastante! Qualquer dia dá-me uma coisinha má! É verdade que dotar as extensões de saúde implica investimento considerável e pilim é coisa que não há para aí aos pontapés … excepto se for para adquirir bugigangas como o Alert! Só te digo que se a ministra e a malta lá da João Crisóstemo, mais os colaboradores distritais, pensam que é com enxadas destas que cativam o pessoal para não passar à reforma antecipada ou não cavar para a privada, bem podem tirar o cavalinho da chuva! Podes crer: qualquer dia o SNS parece a aldeia de Vilarinho: solitária e afundada. Aliás a situação dos CSP faz lembrar o crash das bolsas. A política de desinvestimento (e repara que não estou apenas a falar de dinheiro) nos centros de saúde prolongou-se demasiado. Se exceptuarmos a invenção das USF, que me parece mesmo inovadora, o imobilismo mantém-se. A ideia dos médicos de família burocratizados, a passar declarações e demais cretinices tidas pelos portugueses como sua primordial função, está a asfixiar a nossa especialidade.Quando se der a derrocada (e não faltará muito) a malta da João Crisóstemo vai parecer tal qual os CEO da Merrill Lynch.
JMF, Acácio Gouveia, 21.10.08
2 Comments:
ISTO É SWING OU VAMOS ORGANIZAR-NOS?
A informatização dos Serviços de Saúde e a criação de uma rede nacional de dados acessível é um caso de caos instalado e de colapso consumado.
A existência de uma informação biomédica estudada e testada e os indispensáveis links com as especificidades tecnológicas do tratamento, exames complementares, investigação, protocolos, etc - numa informação centrada nos utentes - é uma miragem.
Temos várias Universidades com Faculdades de Informática. Temos competência para estes problemas. Não as aproveitamos. Deixamos organizar e levar a efeito concursos, quando não adjudicações directas, da maneira mais descoordenada possível.
Ninguém estudou ou preparou soluções quanto à sua segurança (onde os problemas são melindrosos quanto à protecção de dados pessoais), efectividade, eficiência, equidade e acessibilidade. Os sistemas informáticos em Saúde na área pública - cuja centralidade é o doente e não o lucro - partilham das características gerais do SNS.
Não existiu, da parte do MS, massa crítica, disponível… lá saberão as razões da…indisponibilidade.
A colheita de informação biomédica lá vai funcionando, mas a comunicação entre os diferentes pontos das diferentes e diversificadas redes (HH's, CS, UCCI, INEM, ...) é, de facto, o caos!
E como o(s) sistema(s) instalado(s)são capazes de lidar com o armazenamento, recuperação e uso da informação, dados e conhecimento biomédicos?
Algum destes meios estão em condições de facilitar a tomada de decisões médicas, terapêuticas, de requisição de ex. complementares e, simultaneamente, fornecer relatórios epidemiológicos, estatísticos, de custos, etc?
Mau à brava é estarmos na presença de um caos que nunca foi avaliado!
Alguém sabe se o que está instalado e em funcionamento contempla os seguintes parâmetros:
• Fornecem a informação de que se necessita (onde e quando é necessária)?
• Estão em conformidade com princípios éticos, deontológicos e respeitam a lei do País quanto a protecção de dados?
• Têm soluções alternativas (o caso descrito no no post é paradigmático) em caso de bloqueio ou falha do(s) sistema(s).
• Os up dates e os bugs - com a velocidade dos avanços nas tecnologias de computação e comunicação – estão contemplados?
• O(s) sistema(s) são compatíveis com outras actividades clínicas, laboratoriais ou complementares de diagnóstico e terapêutica em outros pontos das redes do SNS?
• Tratou-se da padronização insubstituível na comunicação em Saúde?
• Alguém fez um estudo ou a avaliação dos custos do actual sistema e de alternativas?
...
Nunca mais acabaria…
Mas há várias perguntas que não me saem da cabeça, todas elas, com um denominador comum:
- a avaliação do(s)sistema(s)
O que existe é só mau à brava ou, pelo menos, trouxe ganhos mínimos?
Isto é:
1.) Melhoraram a prática clínica?
2.) Estão a servir com mais eficiência e equidade o doente do SNS do que no tempo do papel?
3.) Porque se permitiu a aquisição a retalho e não se organizou um sistema como o apoio das Faculdades de Informática que proporcionassem opções globais, compatíveis, seguras e menos onerosas?
4.) Adoptou-se o opting out por que era moda?
5.) Finalmente, feito o trabalho de casa, porque não se organizou um concurso público internacional?
6.) ...
Este parece ser um caso exemplar de desperdício dentro do SNS, cujos incontroláveis e replicáveis custos decorrem ad libidum, muito longe de ver a luz ao fundo do túnel.
A informatização da Saúde corre o sério risco de se transformar no "the health golden one".
Um beco sem saída!
Aquilo que os franceses em sentido figurativo e depreciativo chamam um coup de théâtre...
Já que metemos a mão na massa dos CPS...
O MITO DE SÍSIFO SEGUNDO A. CAMUS
Número de pessoas sem médico de família na região Norte continua a aumentar
Em 2007, havia 380 mil pessoas no Norte sem clínico assistente.
"Limpeza de ficheiros" dos centros de saúde ainda sem resultados
“A reforma dos cuidados de saúde primários, cujo objectivo primordial era dar um médico de família aos inscritos nos centros de saúde, está em velocidade de cruzeiro, mas o número de pessoas sem clínico assistente continua a aumentar, pelo menos a crer em dados relativos à região norte do país a que o PÚBLICO teve acesso.
A evolução no período compreendido entre 2005 e 2007 prova que há efectivamente um avanço - mais de 70 mil pessoas passaram a ter médico de família na área da Administração Regional de Saúde do Norte -, mas permite perceber também que este ganho não teve um impacto correspondente no número de cidadãos sem clínico atribuído.
Pelo contrário. Nestes três anos, o número de inscritos sem médico de família até aumentou nesta região - passou de perto de 368 mil, em 2005, para mais de 380 mil, no ano passado.
A reforma dos cuidados de saúde primários arrancou com a criação de unidades de saúde familiar (as USF, pequenas equipas multidisciplinares que gerem de forma autónoma a sua lista de utentes). Como cada médico que integra uma USF aceita ficar, em média, com mais 250 pessoas, à medida que mais profissionais aderem ao modelo, há menos utentes a descoberto.
Ficheiros desactualizados
O problema é que o número de inscritos nos centros de saúde tem aumentado de ano para ano. E o ganho na atribuição de médicos através das USF (a região norte é a que tem mais unidades deste tipo) não tem sido suficiente para compensar.
"É um bocado preocupante. Parece que o esforço não está a compensar", comenta um especialista, que pede para não ser identificado, e que não consegue encontrar uma explicação plausível para a discrepância entre estes dados.
Já o coordenador da Missão para os Cuidados de Saúde Primários, Luís Pisco, acredita que este desencontro pode dever-se a um problema que se arrasta desde há anos - o da desactualização de ficheiros dos centros de saúde, com a permanência dos falecidos e duplicações. "Pode ter a ver também com a não retirada dos ficheiros de estrangeiros aqui inscritos e que entretanto voltaram a seu país de origem", alvitra, notando que o número de inscritos sempre esteve "inflacionado".
Para Carlos Silva Santos, médico de saúde pública, há ainda outra razão: "Há muitos médicos de família a reformar-se ou a sair do Serviço Nacional de Saúde para o sector privado. E esta contabilidade não tem sido feita."
Ainda não há resultados da limpeza de ficheiros entretanto anunciada - em Abril a ministra da Saúde adiantou que, quando o processo estiver concluído, o número de utentes sem médico de família deverá ser metade dos 700 a 600 mil que têm vindo a ser indicados. Pisco admite que "não há ninguém que saiba dizer, com rigor, quantas pessoas não têm médico de família em Portugal". O PÚBLICO pediu há três semanas estes dados ao Ministério da Saúde, mas não obteve resposta.“
(Público 26.10.2008, Alexandra Campos , pág. 8)
Inacreditável! O presidente da MCSP - Dr. Luís Pisco - a confessar:
"não há ninguém que saiba dizer, com rigor, quantas pessoas não têm médico de família em Portugal".
Então, quando afirmávamos que com “n”(?) USF’s garantíamos a cobertura de cuidados de saúde primários a todos os portugueses estávamos:
- a falar de cor?
- a brincar com os utentes?
- a fazer marketing político?
Ou, quando escreviamos no Portal da Saúde: “O processo de reconfiguração dos centros de saúde, com a criação dos setenta e quatro agrupamentos (ACES) e a colocação no terreno dos cinco tipos de unidades funcionais…”link
foi uma patacoada mandada para o ar, sem quaisquer estudos prévios?
Nunca existiu a preocupação mínima de saber a quantos utentes era dirigido?
Ou o carácter universal do SNS, fazia com que se contasse com as estatísticas do INE, com os 10 milhões de portugueses, mais os migrantes legais e clandestinos, etc.
Como caracterizamos a organização a reconfigurar, como fazemos o seu alinhamento estratégico, como estabelecemos níveis de performances, se não conhecemos a população-alvo, no seu dado mais elementar, o quantitativo?
Oh! Dr. Luís Pisco!
A recente conversão ao “empreendedorismo” não colmata estas graves lacunas, nem escond estas insuficiências, parecendo que o “atirou” para a fogueira da irresponsabilidade.
Começou-se a casa pelo telhado. Neste momento contabiliza-se 2.366.931 utentes beneficiários das 144 USF’s em actividade, estimam os ganhos em 260.547 “cidadãos” (sic) que passaram a ter CPS, mas não sabemos – para atingirmos a tal cobertura universal – onde acabamos.
Já agora – e ainda no tal comunicado do Portal da Saúde - cidadãos ou utentes? Escrevia Jorge Sampaio:
“A cidadania é responsabilidade perante nós e perante os outros, consciência de deveres e de direitos, impulso para a solidariedade e para a participação, é sentido de comunidade e de partilha, é insatisfação perante o que é injusto ou o que está mal, é vontade de aperfeiçoar, de servir, é espírito de inovação, de audácia, de risco, é pensamento que age e acção que se pensa."
Chamar cidadãos aos utentes do SNS, não será uma deriva eleitoralista?
Uma novidade nas vésperas de 2009?
Como é óbvio, nem todos os utentes são cidadãos (entendidos como possuindo a cidadania portuguesa), serão, p. exº., cidadãos do Mundo…ou estrangeiros migrantes.
Não é?
“O mito de Sísifo” é uma prosa (ensaio) de Albert Camus sobre a filosofia do absurdo.
No final do livro, Camus, compara o absurdo com o semi-deus Sísifo que foi condenado a repetir sempre a mesma tarefa: empurrar uma pedra para o cume de uma montanha, só para vê-la rolar para baixo novamente e voltá-la a rolar monte acima….
O Dr. Luís Pisco não revive o mito, mas está metido em “trabalhos de Sísifo”.
Assim, nunca acabará a missão!
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