quarta-feira, dezembro 24

Espirito natalício


Verdadeiro espirito natalício é: apresentar uma proposta inicial de 1.019 milhões de euros, 14.1% abaixo do Custo Público Comparável (1.186 milhões de euros) e na 2.ª fase do concurso baixar para 794 milhões de euros, menos 225 milhões, ou seja, 22% abaixo do CPC.
CC pode, pois, dormir descansado.

3 Comments:

Blogger tambemquero said...

Atoleiro

Parece cada vez mais certo que ao intervir na gestão do Banco Privado e ao avalizar um avultado crédito noutros bancos, o Banco de Portugal e o Estado se meterem num atoleiro contencioso de onde dificilmente alguém sairá ileso. link
Mesmo que a operação tenha tido por fim somente assegurar as responsabilidades do banco com os seus depositantes (como na altura se asseverou), e não com o dinheiro recebido para aplicações financeiras, cabe perguntar se o Estado se devia meter a cobrir a irresponsabilidade de quem depositou dinheiro num banco de elevado risco, só por pagar juros mais elevados do que a concorrência.
Quem arrisca para lucrar mais, deveria também suportar as perdas.

vital moreira, causa nossa

A acção irreflectida deste governo à custa dos nossos impostos.
Maioria absoluta NEVER.

2:26 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Feliz Ano Novo?

2009 será um dos piores anos da história económica de Portugal e o pior desde a implantação da democracia

Este texto não deveria talvez ser escrito no dia de Natal. Muitos leitores (dos poucos que por aqui passam...) acharão por certo que teria sido preferível deixá-lo para uma das próximas semanas. Hesitei um pouco, dividido entre a minha natural bonomia ampliada pelo espírito e pela magia da quadra natalícia e o sentido também natural que tenho dos deveres de quem tem o privilégio de poder semanalmente escrever o que julga certo e útil para o país.
Os motivos deste texto podem ser mencionados. Faço-o de forma apenas exemplificativa. Apesar do notável desempenho da sua administração e do esforço dos seus trabalhadores, a TAP terá 170 milhões de euros de prejuízo em 2008, tornando real o risco de insolvência; reivindicações salariais de 6 por cento de aumento levaram a iniciar uma greve interrompida pela intervenção do Governo (que promessas terão sido feitas?), mas entretanto 5 milhões de euros de perdas ocorreram. A Quimonda - uma excepcional empresa, líder do mercado a nível mundial, muito bem gerida -, se não tivesse ajuda dos governos da Saxónia e de Portugal, teria caído por estes dias numa situação de despedimentos elevados e, quem sabe, insolvência. O sector da reparação automóvel teve necessidade de apoios públicos para sobreviver. Empresas como a Autoeuropa ou Bordalo Pinheiro têm de parar por falta de encomendas. A Groundforce está com prejuízos de mais de 30 milhões de euros. As pequenas e médias empresas estão com dificuldades em aceder a crédito em conta corrente com que habitualmente sobrevivem em períodos de menores vendas ou recebimentos. O crédito malparado aumenta e os descontos para a Segurança Social, o IVA e o IRS devem estar a atrasar-se. O aumento salarial que o Estado propôs (2,9% mais alcavalas) será superior à inflação e, se for seguido pelas empresas privadas, vai corroer ainda mais as margens e colocar em risco de sobrevivência muitas empresas.
Em épocas de crise - e 2009 será um dos piores anos da história económica de Portugal e seguramente o pior desde a implantação da democracia - não existem centenas nem dezenas de soluções: uma delas - lembrou-o esta semana Américo Amorim numa corajosa entrevista de um homem que há mais de 56 anos trabalha mais de dez horas por dia - é trabalhar mais e com isso evidentemente ganhar menos por hora. Desse modo se aumenta a produtividade e se solidificam os empregos. Mas nem sempre trabalhar mais é possível, pois não há encomendas.
Uma outra solução é o despedimento dos trabalhadores que se tornem excessivos neste ciclo económico, para voltar a contratar quando tudo mudar. Esse é o modelo americano, que tem vantagens e inconvenientes, mas que nesta conjuntura não pode e não deve ser implantado. Proteger o emprego deve ser a prioridade de todos nós. Mas, se não entrar nas empresas dinheiro, o emprego não pode ser assegurado.
Uma terceira solução é diminuir o que os trabalhadores recebem, designadamente reduzindo prémios, fringe benefits, subsídios, entre os quais o de Natal e de férias. Desse modo financeiramente será possível aguentar melhor a tormenta e essa redução pode ser compensada com acordos de empresa que voltem com acréscimo quando as coisas melhorarem. Mas essa não é a cultura dominante em Portugal, a generalidade dos trabalhadores não pensa ainda que em 2009 é mais provável do que alguma vez aconteceu na sua vida que tenham salários em atraso ou que sejam despedidos. Parece inviável que seja concretizada essa terceira solução de forma generalizada, como seria essencial.
Uma quarta solução será os empresários meterem dinheiro nas empresas, das suas reservas (e, claro, receberem menos em 2009 do que é habitual e seguramente merecido), assim aguentando financeiramente na época má o seu activo. Muitos - sei do que falo - estão a fazê-lo nos últimos tempos. Mas não são inesgotáveis as reservas e é improvável que apareçam novos investidores no próximo ano.
Uma quinta solução é recorrer ao endividamento bancário, atrasar pagamentos a fornecedores, reduzir a qualidade dos serviços e com isso os custos. Mas o crédito reduziu-se muito, o atraso dos pagamentos a partir de alguns meses já não funciona como panaceia e a redução de qualidade acaba com as marcas e o investimento que tantas vezes demorou décadas a cimentar-se, sendo certo que cada vez mais a qualidade é decisiva, pela compreensível crescente exigência dos consumidores.
Uma sexta solução é o Estado reduzir drasticamente os custos de actividade durante um ou dois anos. Redução do IRS dos trabalhadores (que é pago pelas empresas, é bom não esquecer), transformando a redução automaticamente em empréstimo à taxa zero às empresas, para ser pago no prazo de três a cinco anos; redução drástica dos descontos para a Segurança Social (aplicados tais valores também em empréstimos semelhantes), redução do IVA para que tal redução melhore as margens das empresas. Mas os políticos, de um modo geral, nunca tiveram o aperto do estômago sobre como pagar no fim do mês e por isso para eles estes não são problemas que sintam antes de se tornarem insolúveis.
Claro que a redução da Euribor e outras medidas já tomadas ajudam. Mas que não haja ilusões: não vão chegar. Por isso a conclusão é que devemos sentar-nos num cantinho a chorar à espera da morte? Não. Significa é que todas estas seis soluções devem ser aplicadas. Se o fizermos, rapidamente, passaremos a crise e encontrar-nos-emos mais fortes quando ela for - como sempre - sucedida por uma nova época de crescimento.
Se não o fizermos, 2009 será um horror provavelmente. E nas ruínas de muitos outros construirão impérios.
Apesar disso, ou por causa disto, a todos os leitores desejo que 2009 seja muito melhor do que temo que aconteça.
josé miguel júdica, jp 26.12.08

Resta acrscentar: Feliz Ano Novo.

4:24 da tarde  
Blogger tambemquero said...

2009

Em 2009, o mundo pode passar por problemas ainda mais graves que a crise do subprime

Falar de 2009 é fazer previsões para o próximo ano e todos sabemos que os economistas têm fraca reputação nessa tarefa.
Os meteorologistas estão em boa companhia, pois todos sabemos que olhando o pôr do sol, para além da sensação de bem-estar e de alguma experiência mais metafísica, prevemos o tempo que fará no dia seguinte com a mesma certeza que os cientistas da meteorologia.
No entanto, os astrofísicos também estão longe de prever grandes fenómenos singulares por mais brutais que eles possam ser. Fazem-me lembrar a crise; em bom rigor, tudo faz lembrar a crise.
Em boa verdade, a medicina também tem prometido muito e feito pouco. Para além de pernas partidas e de uma infecção bacteriológica pouco mais curam. Têm mais capacidade para nos explicar do que padecemos do que para curar e, muito menos, prever. Nós, economistas (e, pior ainda, os professores de Economia), também explicamos bem a crise, mas prever e prevenir é para o diabo.
E, se entrarmos nos domínios da mente, psicólogos ou neurologistas explicam tudo mas nada previnem e muito menos prevêem. E a prova disso é ver tanto desvairado à rédea solta, e a crise não foi evitada.
Os engenheiros têm mais sorte: fazem casas que se seguram. Evidentemente, até haver um grande terramoto que não é possível prever porque são fenómenos singulares. É parecido com a crise.
Portanto, como se vê, os economistas estão bem acompanhados nesta matéria de previsões, prevenção e, muitas vezes, cura. É que o futuro é incerto e para o conhecermos só podemos olhar para o passado e esse é limitado.
Com todos os riscos de estar errado, façamos umas previsões para 2009. Não são votos - esses são de tudo melhor que em 2008 -, são previsões com probabilidades e custos.
Economicamente, em 2009, o mundo pode passar por problemas ainda mais graves que a crise do subprime. Uma nova onda de insolvências no crédito imobiliário nos Estados Unidos pode ainda acontecer. São empréstimos que nada têm a ver com o subprime, mas empréstimos a pessoas que tinham capacidade creditícia (não necessariamente milionários) para comprarem apartamentos e casas "na planta", na esperança de os preços continuarem a subir e terem alguns ganhos mais tarde. Eram pequenos especuladores que agora entram na falência com a queda do preço das casas.
Outro drama fora do nosso alcance de prevenção seria a cessação de pagamentos de um país da zona euro. Não é uma previsão, é um temor. A Irlanda andou próximo, há bem poucos meses, e os gregos parecem estar determinados em tal. Que Zeus lhes dê protecção e os ilumine. E que o nosso Governo tenha cautelas.
Ainda por resolver é a falta de crédito de toda e qualquer espécie. Como ando a dizer há meses, o problema não é o preço do crédito, é a sua inexistência.
Esta é a tarefa mais urgente para resolver no início de 2009. Não depende só do nosso Governo, longe disso. Mas o nosso Governo pode ser parte da solução ou parte do problema. Se se colocar na posição de fazer muito, sem regras e sem prioridades, então vai ele próprio usar o pouco crédito disponível e será parte do problema. É a política do "é preciso fazer qualquer coisa" e qualquer coisa se fará. As empresas (e as famílias) sem crédito vão falir, mais tarde ou mais cedo, mesmo as economicamente sãs e rentáveis.

Se o Governo quiser fazer parte da solução, terá antes de mais de ser realista e falar dos nossos problemas. Ralhar com os bancos não faz parte. É preferível entender por que é que eles não dão crédito: eles próprios não o têm para o poder conceder. É aí que está o problema e é aí que tem de estar a solução e essa não vai lá com ralhetes, é bem mais difícil.
Depois, é acabar com fantasias de défice de 3 por cento em 2009, sem receitas extraordinárias. Como não se fala nestas, a minha previsão é que se avizinha qualquer coisa: eu vaticino - é uma previsão e um temor - que um ou mais fundos de pensões da banca passem para a esfera pública. Aí - milagre! - temos um défice abaixo de 3 por cento, mesmo que se gaste sem limites. Esse truque pertence a Ferreira Leite; embora não o tenha inventado, foi quem lhe deu o estatuto de política. Em palavras simples, é transformar a Segurança Social num negócio tipo Madoff: quem entra paga aos que lá estão; quando chegar a vez deles, logo se verá. Os poucos ganhos, tanto de estabilização orçamental como de sustentabilidade da Segurança Social, vão pelo cano abaixo com a desculpa da crise.
Há ainda que falar verdade quanto à recessão para que os portugueses acreditem no Governo e, na medida do possível, tomem medidas para a enfrentar. Fantasias do discurso de alguns responsáveis nada resolvem e fazem-nos temer que não saibam o que dizem. E a desconfiança (que significa falta de confiança) é a mãe desta crise.
Há que pensar também na era pós-crise. Se isso for pensado, saberemos o que fazer hoje. Mas isso fica para Janeiro. Acabou o espaço e é tempo de ir celebrar o meu Natal. Que o ano de 2009 não seja pior que o de 2008, esse é o meu desejo - que não confundo com previsões.
luis campos e cunha, jp 26.12.08

4:28 da tarde  

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