PVP, guerra das margens
«O trabalho de negociação com os parceiros que tem sido desenvolvido ao longo deste ano tornou evidente o consenso de que não é indispensável a intervenção do Governo na fixação das margens de cada agente económico no sector do medicamento.
Ao Estado deve continuar a competir a responsabilidade de fixar os preços máximos dos medicamentos, garantindo e salvaguardando o direito ao acesso do cidadão, competindo aos restantes agentes económicos definir as margens adequadas ao seu negócio.
Esta, é uma mudança, face à actual realidade, que o Governo está disponível para negociar, com a condição imperativa de que alterar a intervenção do Estado na fixação do preço dos medicamentos não pode, nem vai, representar um aumento dos preços para o cidadão.>
Ana Jorge, Intervenção da Ministra da Saúde no 9º Congresso Nacional das Farmácias – 22 de Novembro de 2008
Quando se reduz “o papel regulador do estado que só fixa o tecto máximo de PVP do medicamento e as margens ficam a cargo dos intervenientes do sector”, têm de ponderar-se as possíveis consequências que ficariam (a decisão não estará ainda formalizada, por isso convém ser cauteloso nas afirmações) implícitas. Estou a ver duas:
1.ª – Essa redução significa, necessariamente, um reforço do poder de intervenção das contrapartes (Apifarma e ANF). Estas ficam em disputa pela maior fatia possível do bolo, o PVP. O problema é que o bolo tem várias camadas com espessura e ingredientes diversos, a começar pelos custos da produção (em sentido suficientemente amplo para incluir os custos de produção, em sentido restrito, mas também os custos da investigação e dos ensaios clínicos necessários e, porventura, os de uma eventual retirada do mercado). Como não consigo mais do que imaginar, direi que fica em cima da mesa uma imensidade de problemas, com enorme margem de avaliação e de dificuldade de contestação, já que os detentores da informação não vão revelar mais do que o que tiver de ser. Sendo o lucro a resultante do preço de venda e das quantidades vendidas, é dos livros que o produtor tem interesse em vender sempre que da venda resulte um income que supere o custo marginal de produção da quantidade adicional a vender. É por isso, e nessa medida, que as multinacionais aceitam ajustar preços às forças do mercado. Mas, quando este limite é deixado ajustável (pelas incidências do entendimento a obter com a ANF), haverá que recear o empolamento dos “custos da produção”; e perguntar onde fica, a final, o poder de definição da política do medicamento. Outra conclusão a tirar da leitura das forças em presença é que, como muitas vezes foi já salientado, para reduzir a despesa com medicamentos, será sempre melhor intervir pelo lado da mobilização dos prescritores promovendo a racionalidade da prescripçao, ainda que os resultados possam não ser tão imediatos.
2.ª – Vem depois, embora influenciado pelo que antecede, o entendimento sobre a partilha da parte restante: as margens da Apifarma e das Farmácias. Se for conseguido, do mal, o menos. Se o não for, haverá o sério risco de o MS ficar isolado e de ter de rever os preços máximos, excedendo o orçamento ou reduzindo a percentagem de comparticipação, mas sempre com aumento do esforço pedido aos contribuintes.
Ao Estado deve continuar a competir a responsabilidade de fixar os preços máximos dos medicamentos, garantindo e salvaguardando o direito ao acesso do cidadão, competindo aos restantes agentes económicos definir as margens adequadas ao seu negócio.
Esta, é uma mudança, face à actual realidade, que o Governo está disponível para negociar, com a condição imperativa de que alterar a intervenção do Estado na fixação do preço dos medicamentos não pode, nem vai, representar um aumento dos preços para o cidadão.>
Ana Jorge, Intervenção da Ministra da Saúde no 9º Congresso Nacional das Farmácias – 22 de Novembro de 2008
Quando se reduz “o papel regulador do estado que só fixa o tecto máximo de PVP do medicamento e as margens ficam a cargo dos intervenientes do sector”, têm de ponderar-se as possíveis consequências que ficariam (a decisão não estará ainda formalizada, por isso convém ser cauteloso nas afirmações) implícitas. Estou a ver duas:
1.ª – Essa redução significa, necessariamente, um reforço do poder de intervenção das contrapartes (Apifarma e ANF). Estas ficam em disputa pela maior fatia possível do bolo, o PVP. O problema é que o bolo tem várias camadas com espessura e ingredientes diversos, a começar pelos custos da produção (em sentido suficientemente amplo para incluir os custos de produção, em sentido restrito, mas também os custos da investigação e dos ensaios clínicos necessários e, porventura, os de uma eventual retirada do mercado). Como não consigo mais do que imaginar, direi que fica em cima da mesa uma imensidade de problemas, com enorme margem de avaliação e de dificuldade de contestação, já que os detentores da informação não vão revelar mais do que o que tiver de ser. Sendo o lucro a resultante do preço de venda e das quantidades vendidas, é dos livros que o produtor tem interesse em vender sempre que da venda resulte um income que supere o custo marginal de produção da quantidade adicional a vender. É por isso, e nessa medida, que as multinacionais aceitam ajustar preços às forças do mercado. Mas, quando este limite é deixado ajustável (pelas incidências do entendimento a obter com a ANF), haverá que recear o empolamento dos “custos da produção”; e perguntar onde fica, a final, o poder de definição da política do medicamento. Outra conclusão a tirar da leitura das forças em presença é que, como muitas vezes foi já salientado, para reduzir a despesa com medicamentos, será sempre melhor intervir pelo lado da mobilização dos prescritores promovendo a racionalidade da prescripçao, ainda que os resultados possam não ser tão imediatos.
2.ª – Vem depois, embora influenciado pelo que antecede, o entendimento sobre a partilha da parte restante: as margens da Apifarma e das Farmácias. Se for conseguido, do mal, o menos. Se o não for, haverá o sério risco de o MS ficar isolado e de ter de rever os preços máximos, excedendo o orçamento ou reduzindo a percentagem de comparticipação, mas sempre com aumento do esforço pedido aos contribuintes.
aidenós
Etiquetas: Aidenós
11 Comments:
GUARDANDO AS MARGENS, VELANDO OS LÍRIOS DO JARDIM ... OU...
À primeira vista o relacionamento entre a APIFARMA e a ANF não permitirá que se crie um lobby de pressão sobre o MS no que diz respeito à fixação do PVP (máximo), embora o capital seja capaz de unir esforços nas mais incríveis situações…
Mas o que a ANF, no seu comunicado, interpretou, foi:
"A ministra da Saúde, Ana Jorge, sublinhou que o Governo não tem um papel indispensável na fixação das margens de comercialização dos medicamentos, e manifestou-se disponível para negociar com os parceiros do sector a alteração ao regime de formação de preços dos medicamentos."
Quanto às margens tudo bem. Como diz a canção escrita por Carlos Tê e cantada por Rui Veloso:
"Vou guardando as margens... Velando os lírios do jardim "
Quanto ao regime de formação de preços de medicamentos, o modelo actual que toma para a formação do preço inicial (em vigor pelo menos 3 anos) através da comparação com a média dos preços dos países de referência - Espanha, França, Itália e Grécia -sendo o preço obtido o máximo que pode ser praticado nos estádios de produção ou de importação. Não se entende onde a ANF vislumbrou disponibilidade da Ministra para negociar nesta área. Portanto, é nesta área que, a ANF, pretende pressionar.
Finalmente, no comunicado da ANF, pode haver ainda gato escondido com rabo de fora...
Novamente o estafado "Compromisso com a Saúde" onde a ANF reivindica o seu total cumprimento.
Mas pelo meio especifica e insiste na liberalização das importações paralelas. Esta medida, ao ser implementada, poderá esvaziar a prerrogativa que o MS reserva, como sua exclusiva competência, quanto à definição do regime de formação de preços.
E, finalmente, pode contornar um princípio que preocupou a Ministra: Estas alterações não podem representar o aumento dos preços para o cidadão.
É que, de facto, não conhecemos qual o regime de importações paralelas que a ANF pretende desenvolver e qual a sua influência colateral no preço final.
Ou se importações paralelas no espaço da EU poderão ser exercidas pelos cidadãos, nomeadamente, através do e-mercado de medicamentos e o aparecimento da “Farmácia Electrónica”!
Um post interessante.
A subida de impostos após as legislativas será inevitável. Alguém vai ter que pagar aberrações como a ‘nacionalização’ do BPN, o novo aeroporto, TGV, auto-estradas em paralalelo a outras auto-estradas de baixa utilização e toda a brincadeira eleitoral de lançamento do obras para "encher o olho" (ou para ter efeitos nas sondagens) e que, infelizmente, apenas criam emprego pouco qualificado (incoerente com o 'Choque Tecnológico' onde ficou essse plano?).
O reflexo no SNS, após as legislativas, deverá ser ainda maior pressão nos cortes cegos nos orçamentos e mais deterioração das unidades assim como a continua ausência das respostas de que os cidadãos realmente necessitam.
O post alerta para falhas graves na regulação do SNS e alerta para perigos vindouros por efeito dessas falhas. Onde é que já ouvimos tentativas de discutir a regulação na saúde de forma séria?
1. - Os grandes projectos como o TGV, novo aeroporto, autoestradas, beneficiam de avultados financiamentos comunitários;
2.- A rede do SNS vai ser inovada com a construção de uma mão cheia de novos hospitais: Cascais, Braga, Loures, Vila Franca, Todos os Santos, Central Algarvio, Vila Nova de Gaia, Pediátrico de Coimbra, etc, etc,
3.- O alargamento de respostas do SNS tem sido clara e continuada: Saúde oral, Vacinação VPN, alargamento da comparticipação de medicamentos dos doentes com patologias especiais, Prevenção da Sida com a recente autorização dos testes gratuitos e acima de tudo uma melhor cobertura de médicos de família (144 USF) e o êxito da rede de Cuidados Continuados.
Só não vê quem não quer ver ou está de má fé.
Discutir Temas de Saúde, não é o mesmo que improvisar umas croniquetas sobre politics peçonhenta.
Será que o PKM contratou um postador?
Caro saudeepe:
O seu comentário - passe a associação - fez-me relembrar Fernando Pessoa:
Mar Português
O mar salgado, quanto do teu sal
Sao lágrimas de Portugal
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, o mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao e pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele e que espelhou o céu.
Senhor, a noite veio e a vontade e vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nos criou,
Se ainda há vida ainda nao e finda.
O frio morto cinzas a ocultou:
A mao do vento pode ergue-la ainda.
Da o sopro, a aragem - ou a desgraça ou ânsia-,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistamos a Distância-
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
E, o insigne poeta nem sequer conheceu o "Magalhães"...
Socorro!
Fomos atacados por um virus.
Proponho que este virus seja combatido da seguinte forma: O "postador", pelos vistos com procuração de PKM (façamos de conta. É um expediente para PKM passar por anónimo, como ele desajaria), só deve continuar a postar no saudesa caso o DE permita a inserção de comentários às crónicas do professor.
O xavier, já está a praticar a sugestão de saudepe e a vetar outras análises.
Concordo com o saudepe. Ou há igualdade ou comen todos !
As prosas de PKM só devem ser postadas caso o DE abra o embargo.
Caro saudepe,
“Grandes projectos como o TGV, novo aeroporto, autoestradas, beneficiam de avultados financiamentos comunitários;”??? A parte do investimento publico que nos compete poderá não estar disponivel e mesmo que esteja seria melhor aplicada em investimentos que criem emprego qualificado (quem tem filhos jovens licenciados sabe do que falo...) em vez de alimentar os interesses do costume na construção civil que apenas geram emprego temporário e de baixa qualificação (e habitualmente absorvido por imigrantes). Construir auto-estrads em paralelo a outras de baixa utilização, novo aeroporto quando as mais recentes projecções indicam uma previsivel quebra no tráfego aéreo como efeito de uma longa depressão económica que os analistas mais sinceros admitem, será razoável? Quem cria emprego é o sector privado e as industrias de exportação deviam ser as prioridades no nosso investimento (a propósito, onde está o choque tecnológico?)
“A rede do SNS vai ser inovada com a construção de uma mão cheia de novos hospitais: Cascais, Braga, Loures, Vila Franca, Todos os Santos, Central Algarvio, Vila Nova de Gaia, Pediátrico de Coimbra, etc, etc,” ????
A maior parte destes investimentos, como este governo os planeou, só acontecerão se os grupos privados (tão martirizados neste blogue) estiverem de boa saúde financeira (outro contra-senso, não é?). E depois quem questiona se de facto necessitamos destes hospitais todos quando por exemplo as respostas de reabilitação nos deixam cheios de vergonha nacional (incluindo a reabililtação de AVCs... onde estão as prometidas unidades de AVC), e as respostas de longa-duração obrigam os nossos pobres reformados a entrar e sair dos hospitais indevidamente ainda que garantindo o registo do devido e conveniente GDH... Quem tem coragem de assumir que, em várias regiões, temos excesso de camas de agudos e que a haverem novos hospitais necessitamos de um novo modelo de respostas? O saudepe?
“O alargamento de respostas do SNS tem sido clara e continuada: Saúde oral, Vacinação VPN, alargamento da comparticipação de medicamentos dos doentes com patologias especiais, Prevenção da Sida com a recente autorização dos testes gratuitos e acima de tudo uma melhor cobertura de médicos de família (144 USF) e o êxito da rede de Cuidados Continuados.”
Exemplos mal escolhidos, saudepe. Demagogia barata. Da saúde oral estamos a aguardar a sua oferta no SNS (o que será dificil enquanto não transferirmos financiemnto do excesso de camas agudas para esta resposta). Dessa vacina... ainda poderemos ter que a retirar do mercado a correr (e discretamente...). Dos testes da Sida vamos aguardar para ver números daqui por um ano sendo que saudepe confunde teste com tratamento (há bons negócios para serem feitos à custa dos testes, sim... mas...). Mais USF, como era de esperar, não garantiram melhor cobertura de médicos de família. Não nos tente enganar (nem a actualização das listas consegue disfarçar...). A rede de CCI foi a única area de sucesso mas exactamente aquela que saudepe e colegas de "corpo profissional" têm boicotado...
“Só não vê quem não quer ver ou está de má fé.”?
Eu diria que o saudepe tem uma visão tradicional do investimento em saúde e devia ler com mais atenção a Declaração de Tallinn...
“Discutir Temas de Saúde, não é o mesmo que improvisar umas croniquetas sobre politics peçonhenta.”??
Pois não. Ficamos a aguardar os seus artigos no DE para elevarmos o debate nacional.
Ecletismos…
O colunista oficial do DE resolveu vestir a pele de blogger e começou a frequentar o SaúdeSA sob o nickname de Postador. A ortografia e a sintaxe traem com grande crueldade todos aqueles que se aventuram nos meandros da mensagem escrita (ainda que a cobertura do anonimato)…
Atentemos no ecletismo do autor: infra-estruturas rodoviárias, financiamentos comunitários, investimento público, políticas de emprego, imigração, tráfego aéreo, depressão económica, choque tecnológico, etc. Enfim uma autêntica parafernália de conhecimento que é uma espécie de açorda composta por leituras aceleradas da enciclopédia com grãos de cultura baseada nos títulos dos jornais (de preferência o DE). Quanto ao alargamento da rede pública hospitalar profetiza o vidente que só serão uma realidade se o sector privado estiver de boa saúde financeira (provavelmente alavancados em dinâmicas instituições como o BPN e o BPP)…
O erudito das ciências sociais (presumimos que seja essa a sua área licenciatura) enfoca-se agora nas respostas de longa-duração. Quanto ao resto (saúde oral, vacinação, comparticipação de medicamentos, prevenção da SIDA, USF’s, hospitais EPE) tudo uma desgraça. Apenas se salva, na sua óptica a Rede de Cuidados Continuados (por onde o super-especialista terá andado…). Vem depois com a sua nova “muleta” de modernidade: a Declaração de Tallin. E desafia-nos, todos, os “camaradas” do blogue para um debate nacional. A coisa promete…
O Xavier não deve ceder a este arrastar de diálogo desprestigiante com PKM.
Não podemos descer tão baixo . A este patamar de mau gosto onde o professor se sente perfeitamente à vontade num rosário de lamurias , criticas e ataques doezes ao nosso sistena de saúde.
Enviar um comentário
<< Home