domingo, novembro 30

Uma lição exemplar ...

Bancários do SBSI rejeitaram parceria para gestão privada dos SAMS

…”Os associados do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI) rejeitaram quarta-feira a proposta da direcção do sindicato para negociar uma parceria com os Hospitais Privados de Portugal (HPP) para a gestão dos SAMS. O SBSI convocou uma Assembleia-Geral referendária para pôr fim à especulação suscitada em torno das alegadas negociações para a privatização da gestão dos Serviços de Assistência Médico-Social (SAMS) e a maioria dos votantes optou por recusar essa possibilidade. Segundo o presidente do SBSI, Delmiro Carreira, até agora só existe um protocolo de entendimento entre as duas entidades para encontrar uma nova forma de gestão do hospital e do centro ambulatório dos SAMS. Com o resultado do referendo de quarta-feira o protocolo de entendimento com a HPP cai e 'fica inviabilizada qualquer possibilidade de acordo' para a privatização da gestão dos SAMS”…
…/…

O episódio acima referido ilustra bem o “espírito” que se vive no “mercado” privado da saúde em Portugal. A falta de planeamento estratégico, a ausência de critério e rigor nas decisões económicas e financeiras põem à vista os enormes graus de liberdade com que este tipo de actores funciona. Não deveremos, por isso, nos espantar com as sucessivas “incidências de mercado”, que têm ocorrido nas últimas semanas, do tipo BPN (Grupo Português de Saúde) ou BPP. Se tudo isto ocorresse no sector público não faltariam algozes a zurzir na gestão, nos gestores, nas políticas e no uso público dos bens. Aqui, mais uma vez, estamos num “graffiti” da clássica dinâmica do mercado.
Os mesmos que, ajudaram a construir, durante décadas uma iniciativa de apoio social, aos bancários e respectivas famílias, predispuseram-se agora, precipitadamente, a tudo fazer para alienar essa história, esse património e a persecução do bem comum. De uma forma aligeirada, ignorando propostas alternativas, prescindindo da disputa no mercado pelo valor do bem tudo fizeram para entregar por “ajuste directo” o velho SAMS nas mãos dos, preclitantemente emergentes, HPP. Mas afinal em nome de quê? De mais e melhor serviço? De mais sustentabilidade? Não será evidente para os promotores desta “parceria” a evolução real do negócio HPP? Trata-se apenas de juntar resultados negativos? Qual o modelo económico da parceria? E onde fica a história, a missão, os valores e o fim social e cívico de um projecto que tantos durante tanto tempo construíram.

Por vezes as “combinações” espúrias entre os homens comprometem a bondade dos projectos nas suas finalidades e nos seus melhores propósitos.
Neste caso, felizmente, verificou-se que vale a pena não interromper a democracia, mesmo que seja apenas por seis meses…

sillyseason

Etiquetas:

5 Comments:

Blogger Joaopedro said...

Os efeitos que a falência do Banco Privado Português teria na imagem de Portugal nos mercados externos, bem como a crise de confiança que acarretaria internamente, foram os dois factores determinantes para o Executivo ter tomado a decisão política de salvar a instituição.
Isto, apesar de o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, considerar que a falência do BPP não acarretaria riscos graves para o sistema financeiro e de se ter mostrado particularmente irritado com o facto de o presidente do banco, João Rendeiro, ter dito publicamente precisar de 750 milhões depois de lhe ter sido comunicado que tal não seria possível. A injecção de 600 milhões no BPP, a nomeação de dois ou três administradores e a suspensão de funções de Rendeiro resultam de negociações lideradas por Constâncio, enquanto as autoridades de supervisão (BdP e CMVM) passam as contas do banco a pente fino.
semanério expresso 29.11.08

Os accionistas do BPP que eu hoje vi na TV iam do Pinto Balsemão ao José Manuel Júdice.
O dinheiro dos nossos impostos servem afinal para salvar as fortunas dos ricos.
E ao Sócrates assegurar votos para as próximas eleições.

Por outro lado,a CGD, banco do Estado, é a principal accionista de uma empresa cujo principal projecto é partilha privada do SNS.

Afinal,porra, que democracia é esta?!...

9:50 da tarde  
Blogger tambemquero said...

O Mundo ao contrário

Algumas notícias e outros dados conhecidos nos últimos dias fazem pensar estarmos à beira de uma das alterações mais profundas do mercado farmacêutico de ambulatório português dos últimos 30 a 40 anos.

No passado dia 22, a ministra Ana Jorge foi à sessão solene de encerramento do Congresso Nacional das Farmácias dizer duas frases-chaves para que essa alteração se inicie. São elas:
«O trabalho de negociação com os parceiros que tem sido desenvolvido ao longo deste ano tornou evidente o consenso de que não é indispensável a intervenção do Governo na fixação das margens de cada agente económico no sector do medicamento.
«Ao Estado deve continuar a competir a responsabilidade de fixar os preços máximos dos medicamentos, garantindo e salvaguardando o direito ao acesso do cidadão, competindo aos restantes agentes económicos definir as margens adequadas ao seu negócio.»

Esta declaração «liberal» ou liberalizadora, contendo, desde logo, uma mentira evidente (o «consenso» referido não existe, segundo apurámos falando com responsáveis do sector), vinda da ministra que se desdobra em declarações de defesa do SNS, escolhida para a função, dizem abalizados comentadores políticos, por ser conotada com a «ala esquerda» do PS, parece, assim, estranha, e soou como uma fatalidade. Mais: nesse dia, a agência de comunicação da ANF (a LPM) emitiu um comunicado, cujo último parágrafo diz o seguinte:
«No encerramento do 9.º Congresso Nacional das Farmácias, a ministra deixou ainda expressa a intenção de o Ministério da Saúde continuar a cooperar com as farmácias na implementação das medidas em falta do Compromisso com Saúde, assinado entre a ANF e o Governo em Maio de 2006, nomeadamente a prescrição de medicamentos pelo nome genérico (DCI), a dispensa de medicamentos hospitalares nas farmácias, a liberalização das importações paralelas, e a dispensa em dose individualizada.»

Primeira perplexidade

Debalde procurámos no discurso de Ana Jorge estas referências concretas. Elas não estão lá, nem foram ditas como «bucha» pela governante; primeira perplexidade. Segunda: nos dias seguintes, os órgãos de Comunicação Social citaram este comunicado amplamente e nada foi desmentido, ao menos até ao momento. Porquê?
Que quer Ana Jorge, ou melhor, o Governo, dizer com o antes citado? Resumamos, para os leitores menos identificados com o essencial do sector farmacêutico: nas últimas décadas, o Governo tem fixado quase tudo na área do medicamento, desde os preços e comparticipações do Estado até às margens de comercialização dos vários intervenientes (empresas farmacêuticas, distribuidores, armazenistas e farmácias). Porquê? Porque tem sido consenso político que, sendo o Estado o grande pagador dos medicamentos prescritos e dispensados em ambulatório, deve regulamentar esses aspectos em pormenor, evitando distorções graves de mercado.
Ora, ao que parece, algo fez com que o actual poder socialista se prepare para quebrar este equilíbrio de décadas, criando um «desequilíbrio» de consequências imprevisíveis.
Que queremos nós dizer com isto?
Fruto de uma impressionante e bem calculada estratégia de longo prazo, a Associação Nacional das Farmácias (ANF) detém, no seu majestoso grupo empresarial (ver www.anf.pt), capacidades que lhe permitem partir de alguns factos sólidos para um conjunto de ilações.

Os factos

Os factos, primeiro. Através da AllianceHealthcare (ex-Unichem), o «grupo ANF» tem, formalmente, 30% da área de distribuição sob controlo directo, garantindo fontes do sector que, informalmente embora, o grupo controla também um conjunto de pequenas-médias empresas e cooperativas (significando mais 20 ou 30% deste subsector); no armazenamento, a situação é ainda mais dramática para qualquer lógica de concorrencialidade, visto que se tem como certo que 70% da capacidade do País está sob controlo directo daquela entidade; por último, mas não em último, é sabido que as 2500-2600 farmácias de ambulatório têm massivamente (mais de 90%) um alinhamento total com os interesses da sua Associação. Compreensivelmente, de resto.
Agora, as ilações. Mormente nesta fase de dificuldades para grande parte das empresas farmacêuticas, entregar, com este liberalismo serôdio, nestas circunstâncias, à «livre» determinação do mercado a definição das regras do jogo, deixando aos restantes agentes económicos o encargo de «definir as margens adequadas ao seu negócio», é uma decisão hipócrita, pressupondo que o Governo sabe do ponto de partida actual, ou inconsciente, se acaso no Executivo ninguém percebe verdadeiramente o que vai originar com esta mudança de regras.

Desinformação?

Colocamos esta possibilidade, a da desinformação no Executivo, posto que, em boa verdade, não é informado quem quer, como sabemos. Quem, no Governo de José Sócrates, tinha, a par de todos os seus defeitos, uma percepção razoável do sector, o ex-ministro António Correia de Campos, já lá não está há uns meses, e o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Francisco Ramos, que tem algum conhecimento da área, não por acaso tem sido o alvo privilegiado das críticas dos responsáveis da ANF e parece estar em «perda» neste momento (senão, como explicar que, tendo o mesmo sido praticamente insultado pelo Dr. João Cordeiro e outros dirigentes da ANF, em várias das suas recentes comunicações públicas, incluindo a cerimónia de abertura do mesmo Congresso, ninguém tenha vindo em sua defesa e tenha sido mantida a ida de Ana Jorge ao encerramento, que decorreu, aliás, sob o signo do entendimento? - ver também pág. 11). No entanto, a verificar-se a hipótese alternativa, estaremos perante uma verdadeira aberração num assunto de grande sensibilidade, criada pela política «politiqueira» que impera entre nós.

Se o Governo socialista ora em funções abrir esta «caixa de Pandora», deixando a ANF a controlar o sector, será, de facto, um escândalo digno de nota. Um verdadeiro Mundo ao contrário. O facto de o mesmo Governo que iniciou funções apontando, no próprio discurso de posse do primeiro-ministro, o estatuto da propriedade das farmácias como exemplo de instrumento de pressão a discutir, se propor, a terminar a legislatura, entregar todo um sector à ANF será caso para, pelo menos, perguntarmos «que diabo se passa aqui?», que forças originam estas rotações de um partido político com as responsabilidades do PS?

JM Antunes, Tempo de Medicina 01.12.08

Foi José Sócrates, quem conduziu as negociações do acordo "compromisso com a Saúde", firmado entre este Governo e a ANF.
Em clara desautorização da política, até aí seguida, por CC. (que na última entrevista ao semanário Sol, mente descaradamente, quando refere que «Sócrates sempre me apoiou incondicionalmente em tudo»...).

A machadada final na politica anti lobi de CC, será dada efectivamente com esta medida.

Ana jorge, a concretizar-se mais esta cedência ao lobi das farmácias, no seu papel de "Abelhinha Maia" ou "Madre Teresa de Calcutá", também não fica, uma vez mais, lá muito bem na fotografia.

«a decisão do Governo, desde que eu saí, foi de que a reforma era para continuar como a tínhamos definido». (CC ao semanário SOL).

Mais uma vez, as declarações do ex ministro da saúde parecem não reflectir a verdade do que se passa na Saúde.

11:49 da tarde  
Blogger saudepe said...

Quanto ao SAMS aguardemos pelo que se vai passar a seguir.

Quantoà politica do medicamento,
apesar das ditas arremetidas do ministro Correia de Campos, o lobi das farmácias continuou a reforçar-se a olhos vistos nos últimos anos.
Deixar às farmácias a definição
das margens de lucro, vai permitir-lhes arrecadar mais uns milhões todos os anos.
Nunca como agora se tornou tão evidente a falta de uma política de esquerda empenhada na defesa dos verdadeiros interesses do povo português.

3:49 da tarde  
Blogger ochoa said...

Os associados do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI) rejeitaram quarta-feira a proposta da direcção do sindicato para negociar uma parceria com a Hospitais Privados de Portugal (HPP) para a gestão dos SAMS.

O SBSI convocou uma Assembleia-Geral referendária para pôr fim à especulação suscitada em torno das alegadas negociações para a privatização da gestão dos Serviços de Assistência Médico-Social (SAMS) e a maioria dos votantes optou por recusar essa possobilidade.

Segundo o presidente do SBSI, Delmiro Carreira, até agora só existe um protocolo de entendimento entre as duas entidades para encontrar uma nova forma de gestão do hospital e do centro ambulatório dos SAMS.

Com o resultado do referendo de quarta-feira o protocolo de entendimento com a HPP cai e 'fica inviabilizada qualquer possibilidade de acordo' para a privatização da gestão dos SAMS.

A decisão de procurar um parceiro privado para a gestão do SAMS foi justificada pelo presidente do sindicato com a evolução verificada na área da saúde - o aumento da concorrência com a criação de novas unidades privadas - mas também com o envelhecimento da população e o desenvolvimento tecnológico nos equipamentos hospitalares que exige investimentos avultados.

De acordo com Demiro Carreira, a HPP foi a escolhida porque foi ela que apresentou uma proposta e principalmente porque pertence a um grupo, a CGD, cujos trabalhadores não são beneficiários do SAMS pois têm um serviço próprio, não havendo, portanto, 'conflito de interesses'.

lusa 27.11.08

Com presidentes de sindicato assim...
Por agora esta vitória assegura um futuro próximo mais calmo.
É preciso estar atento às próximas manobras, em especial do senhor presidente.

7:03 da tarde  
Blogger Unknown said...

Ao que me dizem são cerca de 50.000 os trabalhadores bancários em Portugal e 160.000 os beneficiários do SAMS. Chamados a votar em Assembleia Geral referendária do SBSI, a proposta da Direcção em constituir uma parceria com os HPP, dando-lhes o controlo operacional do Hospital e do ambulatório entregando a gestão dos SAMS aos HPP, votaram 11.700, opondo-se à proposta 6.365. Filho de bancário, deixo a pergunta serão os SAMS viáveis, face à diminuição contínua do número de trabalhadores e ao seu envelhecimento?

1:02 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home