quinta-feira, fevereiro 5

Campanha suja (2)

Segundo a revista Visão, link «o grupo Carlyle garante que a auditoria feita às contas do Freeport PLC não detectou qualquer buraco financeiro nem qualquer pagamento de "luvas"»
A confirmar-se esta informação (e será fácil verificá-la), a história da corrupção no caso Freeport desmorona-se, pela base.

Um dos efeitos colaterais da fixação mediática no caso Freeport, para além da crucificação de Sócrates, foi tirar da ribalta os novos desenvolvimentos da informação acerca da cratera do BPN, essa nódoa escandalosa do arrivismo financeiro de certos figurões da direita.
Quem é que tem uma imprensa amiga, quem é?!

vital moreira, causa nossa

2 Comments:

Blogger Joaopedro said...

Cavaco Silva, quem havia de ser!

1:35 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Golpe de Estado Mediático

Deixou de haver maiorias absolutas que resistam quando o insindicável poder mediático decide decretar o fim de um ciclo político.

Há quase cinco anos que aqui escrevo sobre media e poder. O título deste artigo pertence a Paul Virilio e surge na edição italiana da sua obra "L'art du moteur" (1993). Virilio usa-o a propósito da vitória de Berlusconi, em 1994. Porque este, com o seu poder de fogo mediático, teria tomado de assalto o poder. ‘Berlusconi forever!': com a "Técnica do golpe de Estado mediático" ele passou a ganhar todas as eleições em Itália. Em 1996, só as perdeu porque falhou a aliança com Bossi e, em 2006, ganhou-as em território nacional, com mais 1% do que a esquerda, perdendo-as fora de Itália, onde os seus media não chegaram. O caso italiano demonstra que o controlo dos media pode, de facto, levar ao poder. Tal como pode, com maior facilidade, tirar o poder. Porque destruir é sempre mais fácil do que construir. Para chegar ao poder, Berlusconi levou nove meses de meticuloso trabalho político e mediático. Para ser apeado bastou que Bossi rompesse a coligação.

Tudo isto vem a propósito desta guerra sem quartel e sem regras que os media portugueses alimentam para liquidar politicamente José Sócrates.

Ora a verdade é que a construção mediática de escândalos e de gigantescas "produções fictícias" já se tornou um seu pilar estratégico. "Caso FPS", Ponte "Entre-os-Rios", "Casa Pia", "Caso Marcelo", "Caso Maddie", "Caso Freeport". Todas elas gigantescas narrativas mediáticas onde os factos desempenham uma função meramente residual ou instrumental. Quais são os pontos comuns? O potencial negativo e emocional dos casos; o excesso "informativo", até à exaustão; a fabulação delirante. Os objectivos: vender cada vez mais e afirmar o próprio poder. E onde se localiza o instrumentalismo? Na ânsia de construir um escândalo, os media movem-se cada vez mais, protegidos pelo direito de não revelar as fontes, nos meios onde circula a informação com maior potencial explosivo. Ora não há informação mais explosiva e mais amiga do escândalo do que a informação manipulada. Ou seja, o escândalo é tão amigo da manipulação como da emoção e das audiências.

Cada caso é um caso, claro. Morreram, infelizmente, muitas pessoas "Entre-os-Rios". Mas ninguém compreendeu essa obsessão informativa - ‘chacalage', "vampirismo", dir-se-ia - que então varreu o país. Lembram-se do caso da "Fundação para a Prevenção e a Segurança"? Dessa fabulação mediática que haveria de contribuir para a queda de Guterres? Tendo sido provavelmente o caso mais investigado da história judicial portuguesa (TC, IGAI, CC da PGR, MP, PJ, C.I. da AR), ninguém foi acusado, porque não houve, de facto, dolo. Pois bem, o arquivamento foi praticamente silenciado, sobrando as suspeitas e seus efeitos sobre a opinião pública. Os justiceiros de então, ilustres colunistas, calaram-se. O "caso Maddie" representa outra loucura informativa. Nacional e internacional. E, todavia, a criança continua desaparecida, agora já sem notícias.

Mas ficaram as audiências e a emoção. Durante o mês de Maio, o tempo médio de informação diária sobre Maddie, no ‘prime time', é de quase 30% de cada telejornal (SIC, RTP e TVI), com um total de 482 notícias, tendo a SIC chegado, nos primeiros 13 dias, a dedicar-lhe diariamente (em média) 42% do tempo do Jornal da Noite. O "Caso Casa Pia" excede também tudo o que é informativamente razoável. Quatro anos depois ainda continuamos com doses brutais de informação. Os ingredientes emocionais destes casos lá estão: morte, rapto, corrupção, sexo. Escândalo, emoção, audiências. O "Caso Marcelo", um comentador televisivo que abandona voluntariamente uma televisão devido a alegadas pressões por parte da Administração, teve, em 4 dias e em 7 jornais, cerca de 347 artigos (em cerca de 101 páginas), 22 editoriais e 17 manchetes. Este caso foi decisivo para a queda de um governo de maioria absoluta. Finalmente, o "Caso Freeport": quando for medida a dose informativa e analisada a narrativa verificar-se-á que é um ‘up-grade' decisivo nessa escalada doentia dos media até à apoteose final do seu poder ou da sua falência. A parada é altíssima: demonstrar que deixou de haver maiorias absolutas que resistam quando o insindicável poder mediático decide decretar o fim de um ciclo político. Se, depois, ao poder desta corporação somarmos o de outras arriscamo-nos a que o "interesse geral", representado e tutelado pelo poder político de origem electiva, pouco mais seja do que uma mera ficção democrática. O tabloidismo chegou à política.
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João Almeida Santos, DE 06.02.09

9:15 da manhã  

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