domingo, fevereiro 1

Perplexidades

ou a Arte de alijar responsabilidades… foto expresso

Talvez fruto das condições atmosféricas parece, que na Saúde, entrámos numa verdadeira silly season.
Os Ministros (actuais e passados) comentam a realidade como se nenhum deles tivesse que ver com essa mesma maçadora realidade.
A última rábula desta “comédia” pôs na liça o paradigma hospitalar e o papel dos gestores e dos directores de serviço. link
Ficamos perplexos!
Então as Cartas de Missão (não foram implementadas e controladas)? A avaliação (não foi feita por culpa dos gestores, dos administradores, dos directores de serviço? A contratualização interna? E, já agora, o programa do governo?
Esta lógica “comentarista” é curiosa.
Relembremos alguns capítulos desta novela:
Amadora-Sintra sai da gestão privada porque gestão pública deu provas. Equilíbrio das contas da saúde graças à boa gestão hospitalar. Restrição das PPP’s nos HH’s em virtude dos bons resultados da gestão pública.
Estaremos perante um ataque de amnésia ou pura e simplesmente de alijamento de responsabilidades?
Afinal quem tem mantido e incentivado a “contaminação” público-privada
impedindo uma gestão desprovida de conflitos de interesses na rede pública?
Quem são os responsáveis por às 2ªs., 4ªs e 6ªs. defender o SNS e às 3ªs., 5ª.s e Sábados legislar para favorecer as convenções, “fechar” os olhos à má prática privada, favorecendo, sorrateiramente, o avanço da privatização do SNS com as PPP’s? Porque razões não se implementaram modelos de “descentralização” concreta da gestão nos HH’s (CRI’s)?
Quem serão os responsáveis pela criação de condições que tornarão impossível, no futuro, a integração do sistema de saúde?
Quem tem afinal responsabilidades na “inundação” dos HH’s de “administradores hospitalares” (na sua esmagadora maioria de “carreira”)? Quem será responsável pela manutenção em funções dos “clássicos” e crónicos casos na AH? Quem será responsável por não existir avaliação? Quem deverá responder por tudo isto?
É muito fácil “passar” pelos lugares, não cumprir programas, falhar compromissos e depois “transferir”, assim como quem não quer a coisa, as responsabilidades para a arraia-miúda e quiçá, no final, levar ao prelo duas ou três opúsculos exortando a “obra feita” ou melhor justificando a obra não feita.
Por este andar se o ambiente político se tornar muito instável ainda ouviremos dizer outras coisas. Por exemplo, a reforma das urgências não se fez porque os doentes e os médicos não deixaram ou que a factura com os medicamentos não pára de aumentar porque os cidadãos tomam muitos remédios…

perplexo

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6 Comments:

Blogger e-pá! said...

REFLEXÕES DE UM EX-FUNCIONÁRIO DO SNS , (APOSENTADO)…


Embora subscrevendo a grande maioria das perplexidades expressas no post, o problema das “não-resoluções” e das dúvidas perpétuas, penso que, o mais relevante foi, os dois últimos titulares da pasta da Saúde, terem enjeitado a sua responsabilidade para com necessários esforços conducentes a uma efectiva modernização dos HH's.

Por vezes quando estamos de fora - uma maneira de dizer - sofremos da síndroma de ver a árvore versus ver a floresta.
E, como sabemos, a pequena árvore próxima pode esconder a grandeza da floresta distante...

De facto, os HH´s estando no fim da linha de percurso do SNS, e sendo o paradigma da medicina curativa, sofreram com as dificuldades a montante, nomeadamente, o atraso da reconfiguração dos CPS's.

São, como eram há alguns anos, o vazadouro dos casos "bicudos", e muito poucos poderão reivindicar o estatuto de Hospitais de agudos.
A situação melhorou com a criação dos Cuidados Continuados Integrados (CCI) que, numa deriva dos seus objectivos, constituem uma retaguarda que vai permitindo altas hospitalares dentro de uma certa normalidade.

Todavia, os fluxos aleatórios das urgências, problema insolúvel, porque adiado permanentemente, não permitem planificar e organizar - diria “arrumar” - com rigor uma “casa” tão complexa, como é um Hospital.
O acumulo destas situações levará objectivamente por carência de resposta dos CCI, associados a outras insuficiências dos CPS, a um “engarrafamento” na rotatividade hospitalar.

Na realidade, o campo de intervenção social na área da Saúde agigantou-se e trouxe novos problemas e novos desafios à organização hospitalar, caso haja a preocupação de manter níveis de qualidade na prestação de cuidados.

É preciso transformar o Hospital passando-o de uma organização burocrática para outra baseada no conhecimento, mesmo numa estrutura do tipo empresarial público (existe um SNS!).
O conhecimento é um recuso estratégico, não despiciendo.

Mas a grande tarefa organizativa é estabelecer conexões que funcionem e não cair na gestão casuística da actividade, sem parâmetros de qualidade.
Para conseguir esta eficiência técnica e organizativa é necessário estabelecer uma estratégia tripartida: a liderança, a adequação comportamental e a partilha de valores.

Por outro lado, o gestor tem de ter a sensibilidade e ser o condicionador da capacidade de integração, sem atritos nem crispações, dos diferentes grupos profissionais.
Por vezes é uma tarefa difícil porque os objectivos são divergentes.

Os CA’s prosseguem objectivos fundamentalmente quantitativos e a médio prazo (têm um mandato de 3 anos), estão assoberbados com a racionalização de custos e “respeitar” as “cartas de missão”. Os objectivos anuais são meramente parcelares e indicativos da evolução orçamental.

Os profissionais de Saúde têm objectivos diferentes.
Para estes as preocupações são essencialmente de natureza qualitativa e a curto prazo.

Para os médicos a melhoria do nível de prestação de cuidados aos doentes, não pode esperar… Estes exprimem uma grande preocupação pelo investimento tecnológico e pela inovação.

Para os enfermeiros, para além das preocupações de natureza técnica (gestão e renovação de stocks, cumprimento de prescrições, cuidados de enfermagem, etc.), manifestam uma grande sensibilidade em relação à qualidade da estadia hospitalar centrada no utente e, concomitantemente, às condições de hotelaria.

E, é assim, que emerge uma estrutura organizacional burocratizada, sem conexões inter-profissionais relevantes e sem coordenação das actividades dos diferentes e variados Serviços.

Mesmo que as nomeações dos gestores fossem feitas tendo por base o por mérito e a capacidade de liderança – o que na prática não se verifica – a sua avaliação não pressupõe a resolução de crónicos problemas estruturais?

Então, porque culpabilizá-los quanto à organização?

Depois destas “insensibilidades”, ou "perplexidades", como será uma eventual avaliação dos gestores?

5:19 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

O PS se quiser ganhar as próximas eleições legislativas tem de começar a pensar na elaboração de um programa no que respeita à Saúde coerente com a defesa do Serviço Público e num ministro capaz de o levar por diante.
Se está a pensar nos trunfos da apresentação da obra feita bem pode tirar o cavalinho da chuva.

Hoje temos ideia precisa do perfil de ministro que a saúde precisa.

12:06 da manhã  
Blogger joao saramago said...

Decorrido um ano, o estado de graça da senhora ministra da Saúde parece ter terminado.

1:31 da manhã  
Blogger e-pá! said...

A SITUAÇÃO DE CRISE PODE LEVAR A PERDAS EM SAÚDE

Morremos de mais por cancro, tomamos ansiolíticos em excesso e os médicos começam a faltar.
Maria do Céu Machado aponta prioridades.


Há metas de saúde que se ultrapassaram, outras que estão longe de ser alcançadas. As 104 páginas do Plano Nacional de Saúde apontavam para 2010 como o ano limite para todos os objectivos. Médica há 37 anos, a alta-comissária da Saúde, Maria do Céu Machado, faz o balanço e alerta para os tempos de crise. Os idosos e a saúde mental são dois motivos de preocupação. E é preciso saber por que é que os portugueses consomem tantos ansiolíticos e antidepressivos. O seu fácil acesso não ajuda, diz a pediatra.
Uma das missões da alta-
-comissária da Saúde é aplicar o Plano Nacional de Saúde. Para que é que serviu?
O primeiro Plano Nacional de Saúde obrigou-nos a fazer uma fotografia da saúde em Portugal em 2001. Basta pensar nos problemas para haver um ganho, mas não chega. É preciso monitorizá-lo.
Já admitiu que este plano era demasiado abrangente. Como é que vai ser o próximo?
Vai ter que ser mais pequeno e dirigido a situações mais específicas. Os indicadores são todos calculados a nível nacional e regional e há diferenças. O facto de haver desvios de uma região relativamente à meta nacional não quer dizer que aí não tenha havido evolução. Por exemplo, a região de Lisboa e Vale do Tejo tem ainda uma mortalidade por sida superior à nacional, mas está a melhorar. Tem que se ter metas regionais. O próximo plano terá que centrar-se na equidade e nas bolsas de pobreza, identificando os grupos mais vulneráveis e tendo prioridades específicas para esses grupos, e aí deverão entrar as crianças e os idosos, os imigrantes, etc.
Como é que se chega a estes grupos?
Estes grupos mais vulneráveis são muitas vezes os que menos procuram cuidados de saúde, por serem ilegais no caso dos imigrantes, por não terem noção da gravidade da situação ou ignorarem que uma consulta precoce pode evitar que cheguem à fase grave da doença. Quando chegam aos serviços de saúde, já estão numa situação que, às vezes, é irreversível ou com consequências. Sou muito defensora dos cuidados de proximidade, o que não é propriamente ter urgências e maternidades abertas.
É preciso ir ter com as pessoas?
Temos muito bons resultados com experiências pontuais de unidades móveis de saúde e prevê-se unidades de cuidados na comunidade só com enfermeiros. É preciso que o profissional de saúde, e pode ser o enfermeiro - até começa a haver excesso de enfermeiros -, chegue às pessoas para ver se é necessária uma consulta médica. Faz todo o sentido haver equipas que se deslocam, pode ser um carro com dois enfermeiros, um enfermeiro e um assistente social, a um bairro ou comunidade para perceber que aquela e aquela estão grávidas e não foram ainda a nenhuma consulta, medir a tensão, fazer vacinas, o teste da sida, perceber que há uma criança mal nutrida, um idoso em situação de vulnerabilidade.
A saúde em Portugal está demasiado centrada nos médicos?
É considerado um índice de desenvolvimento da população procurar e aceitar ser atendido por enfermeiros. Noutros países, muitas vezes há uma primeira aproximação a uma consulta de enfermagem e só depois se decide se é preciso uma consulta médica. Ouve alguém dizer que foi a uma consulta de enfermagem? As pessoas queixam-se que há falta de médicos, que não há consultas, que vão às urgências e estão muito tempo à espera. Isto passa obviamente pela confiança da população.
Há ou não falta de médicos no país?
Os rácios de médicos não são distantes de outros países, mas há vários aspectos que nos últimos anos têm agravado a situação. Primeiro, as reformas muito precoces. Se até 2013 a situação se vai agravar, talvez seja preciso, especificamente para os médicos - uma vez que há uma faixa da população que vai ficar sem médico -, garantir que se continuarem a trabalhar mais três ou cinco anos terão as mesmas condições, o que poderia ser justificado por razões de saúde pública.
Mas a situação é assim tão má?
A situação vai ser dramática sobretudo ao nível dos médicos de família. As grandes saídas das faculdades foram em 1974, 1975, esses médicos têm 55 a 60 anos. Estão numa idade em que podem ou não reformar-se.
Disse que os ganhos de saúde em Portugal nos últimos anos devem-se muito à melhoria das condições de vida das populações e que pode haver retrocessos devido à situação económica actual...
Toda esta situação de crise pode levar a perdas em saúde, mesmo em áreas nas quais tem havido ganhos. Um dos problemas para o qual Portugal ainda não acordou é o dos idosos. Há reformados relativamente jovens, com reformas menos boas e com famílias sem condições para sustentá-los. É notícia quase todos os dias que muitas famílias deixam familiares nos hospitais. Os empregos são precários e as pessoas não podem faltar dois a três dias, porque o pai ou a mãe estão em convalescença. Tem que se estar atento à área dos idosos. E tenho grande preocupação em relação à saúde mental.
A crise também pode ter efeitos a esse nível?
Vai ter com certeza. Basta aumentar o desemprego e piorarem as condições de vida. Não tenho evidência científica do que vou dizer, mas tenho visto nos últimos anos, como pediatra, maior desemprego no sexo masculino. Há uma grande dificuldade de os pais aceitarem a situação, é muito mais fácil a uma mulher ocupar-se do que um homem. São situações gravíssimas nas famílias, com efeitos na mulher e nos filhos, e multiplicam-se.
O consumo de ansiolíticos e de antidepressivos é um dos indicadores que, em vez se aproximar da meta, está cada vez mais longe.
É urgente fazer-se um estudo para perceber por que é que isto acontece. Se é porque somos um povo tão triste ou se é porque a população não está esclarecida ou não há formação, sob o ponto de vista da saúde mental, dos médicos de família, que são pressionados para a prescrição destes fármacos pelos próprios doentes. Provavelmente o acesso é fácil e isto deve ser revisto. Se for a uma farmácia para comprar um ansiolítico, há duas ou três que lhe dizem que só com receita médica, mas há uma quarta farmácia que lhe cede o medicamento.
Outra área em que Portugal se distancia das metas é a das taxas de mortalidade por cancro, que continuam também acima das taxas dos outros países europeus...
Isso prende-se com o diagnóstico precoce. Se olharmos com cuidado para os indicadores, vemos, por exemplo, que na taxa de mortalidade por cancro do colo do útero abaixo dos 65 anos a meta para 2010 era dois por 100 mil habitantes e já a alcançámos. Fico entusiasmada, mas depois dizem: ainda estamos longíssimo do melhor valor da UE, que é 0,9, mas é preciso ver que em 2001 tínhamos 3,5. Melhorar depende do diagnóstico precoce, de rastreios nos casos do cancro de mama, do colo do útero, do cólon e recto. Tem havido rastreios, mas regionais, não de base populacional.
A saúde em Portugal não tem nada a ver com aquilo que era há 15 a 20 anos atrás. Evoluímos de uma maneira fantástica e nalguns indicadores até provámos que evoluímos mais do que outros países.
Disse há dias na Assembleia da República que há doentes que estão tanto tempo à espera de radioterapia que acabam por ter que ser operados de novo...
Sim. O tumor volta a crescer, enquanto estão à espera de iniciar a radioterapia e têm que voltar a ser operados. Isto é inqualificável.
Mas por que é que isto acontece?
Porque há poucos equipamentos, têm que ser alargados. O coordenador das doenças oncológicas fez um inquérito sobre o movimento a todos os serviços de oncologia de forma a poder propor uma rede oncológica. Justificam-
-se centros de excelência de cirurgias. As cirurgias vão ficar mais concentradas. A radioterapia faz-se em 30 centros, mas são necessários 60. E isto porque aumentou a sobrevivência e há mais indicações para radioterapia mesmo em situações não malignas.


Público, 02.02.2009, Alexandra Campos e Catarina Gomes.

Para quando - e tendo como justificação a "crise" - saí uma lista de dispensa de pessoal?
Ou, então, a reactivação da famosa "mobilidade especial"?

2:09 da tarde  
Blogger Bicho said...

Um aplauso para e-pá!

3:01 da tarde  
Blogger Clara said...

Durante o tradicional jantar de Natal do Serviço de Urgência dos HUC, o director, Carlos Mesquita, fez saber aos presentes que são necessárias mudanças no serviço para a «obtenção de uma certificação europeia de qualidade». Porém, advertiu que «ainda há muito por fazer» e afirmou que «não há reforma da Urgência externa sem reforma do internamento e da Urgência interna». Realçou, ainda, que «havendo necessidade de internar diariamente cerca de 10% dos mais de 400 doentes, adultos, não obstétricos, que em média recorrem ao serviço, 30 do foro médico e 10 do foro cirúrgico», é necessário «garantir aos primeiros (...) a mesma qualidade de tratamento de que já beneficiam os segundos, em função do bom nível dos blocos operatórios e das unidades de recobro».
A estas medidas, Carlos Mesquita acrescentou outras, nomeadamente, «melhor aproveitamento dos gabinetes disponíveis para apoio à área médica, condições para um início da ventilação não invasiva, conseguir que a telemedicina passe a ser uma realidade, ter melhores instalações para a área cirúrgica e uma adequada manutenção, e até dignificação, do bloco operatório da Urgência, com uma dotação capaz em termos de pessoal, designadamente de enfermagem».
O director do Serviço de Urgência dos HUC apontou, ainda, a necessidade de «reequacionar a opção ALERT e o apoio informático, em geral, a funcionar muito aquém das perspectivas menos optimistas».

Tempo de medicina 02.02.09

Felizmente não faltam muitos e bons exemplos sobre a competência, capacidade e dedicação dos Directores de Serviço dos nossos hospitais.

4:01 da tarde  

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