terça-feira, março 10

"Complementaridade"

do Privado com o SNS “à Portuguesa”

…”O novo centro de Procriação Medicamente Assistida (PMA) da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, abre segunda-feira e está um luxo. Tem equipamentos novos e tecnologia avançada que custaram mais de meio milhão de euros. Apenas faltam médicos. Remodelado no âmbito do apoio do Estado ao combate à infertilidade - para o qual o Serviço Nacional de Saúde (SNS) disponibiliza uma verba de 12 milhões de euros para 2009 -, o novo centro foi desenvolvido na mesma zona do antigo, que há muito reclamava obras. Para o corrente ano, a MAC espera realizar 300 a 330 ciclos, um objectivo que pode estar comprometido dada a actual falta de médicos e biólogos. Isto porque nos últimos tempos saíram vários clínicos que se encontram agora a trabalhar na área da infertilidade do privado Hospital dos Lusíadas, que está a apostar forte nesta área. Por seu lado, Luís Vicente assume que estava desiludido com o trabalho na MAC e enaltece o projecto nesta unidade privada. O director da MAC assume, contudo, que metade dos casais inscritos na actual lista deverá ser encaminhada para os centros privados, mas apenas quando esta possibilidade anunciada pelo Governo há mais de um ano estiver em vigor. "Se não houvesse a possibilidade de encaminhar os casais para os centros privados, isto [a lista de espera] demoraria três anos a pôr em dia", disse.
…/…


Querem melhor exemplo da falta de clareza como o SNS é encarado pelo MS?
Já todos percebemos, há muito tempo, a estratégia de crescimento do sector privado: parasitismo e ataque às áreas “fillet mignon”.
É assim na PMA, na Cirurgia da Obesidade, Oncologia, Radioterapia nas tecnologias. O pior é que tudo isto é feito (para além do contributo dos conhecidos actores que com o maior despudor jogam nos dois tabuleiros) com a conivência e beneplácito de quem deveria defender e promover o SNS.

Como é possível depois vir “chorar lágrimas de crocodilo” sobre a alegada falta de médicos quando se é incapaz de criar mecanismos inovadores de retenção nos profissionais em áreas tão sensíveis como as atrás referidas?

Começamos a suspeitar que há um discurso oficial (para inglês ver) de defesa do SNS e depois prossegue, silenciosa e paulatinamente, a “política” dos jeitos aos amigalhaços.
A PMA não justifica uma politica ou um Programa especial tipo PIO? Ou será que é um dos instrumentos de favor para salvar “in extremis” o agónico e apatetado projecto do hospital privado mencionado?

olho vivo

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2 Comments:

Blogger e-pá! said...

Caro olho vivo:

" ... Como é possível depois vir “chorar lágrimas de crocodilo” sobre a alegada falta de médicos quando se é incapaz de criar mecanismos inovadores de retenção nos profissionais em áreas tão sensíveis como as atrás referidas?"

Exceptuando a Oncologia, que implica um estrutura de equipamento e tratamentos "muito pesada", mesmo assim cobiçada pelo sector privado (embora a sua progressão seja mais lenta), quais são os referenciais para classificar os sectores em sensíveis ou não sensíveis?

Pensar combater ou aliviar o cerco ao SNS, no terreno das estratégias de mercado (como ainda está a funcionar!) é manter o statu quo e o laisser faire, tão caros e indispensáveis ao triunfo do neoliberalismo.

Portanto, tudo continua na mesma, depois de arremedos e masturbações essencialmente éticas.

Ninguém quer voltar aos esquemas de planificação dos anos 60, 70 e 80, dos Países de Leste e ao que esse modelo conduziu... e que sucumbiu!
Mas, por outro lado, o neoliberalismo de inspiração "friedmaniana" com o sacrossanto mercado livre, como centro do Mundo, já conhecemos.
Estamos a sofrer as consequências dessas teorias e filosofias económicas e a pagar, duramente, os resultados. Não servem, nem a teoria, nem a filosofia, nem os resultados económicos!

Apesar de tudo o que está a suceder o mercado?
Penso que o mercado não deverá acabar ou não poderá sucumbir.
O mercado é o suporte da Economia real. Mas, deverá ser controlado e regulado, longe das garras, dos apetites e das ganâncias do poder financeiro.
Ninguèm, nem os EUA, nem a UE, nem as "economias emergentes", está a trabalhar neste sentido.
Até aqui, andamos a apagar fogos aqui e acolá, deixando os incendiários à solta...

E, meus amigos, embora possa parecer polémico e radical em termos de liberdades económicas e de filosóficas, logo ideológicas e desenvolvimentistas, áreas como a Educação, a Saúde e a Segurança Social não podem ser tratadas - nem incluídas - em ambiente de mercado.
Devem ficar de fora e ser colocados debaixo de uma regulação especial que defina e proceda à formatação das políticas sociais dos Estados, onde os interesses finaceiros ficarão fora do mercado. Mesmo de um hipotético "novo tipo de mercado".
É, isso que não estamos a fazer!

E se o não fizermos, desde já, dentro de curto espaço de tempo, o "nosso" SNS - tal como o concebemos e está constitucionalmente consagrado - deixará de existir...

Existem, para os conservadores - para a Direita - tantas alternativas de sistemas de Saúde, de Ensino e de Segurança Social, que tentaram impõr-se se continuarmos passivos...

8:36 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Infertilidade. Os três anos de espera em muitos centros públicos do País levam os portugueses a recorrer ao sector particular para conseguirem ter filhos. Os preços em tratamentos chegam aos quatro mil euros por tentativa. Fora os 800 euros em medicamentos, que o Estado só comparticipa em 37%
Os casais portugueses com problemas de infertilidade gastam, pelo menos, 7,2 milhões de euros por ano com tratamentos nas unidades privadas. De acordo com João Silva Carvalho, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução, por ano, os portugueses fazem cerca de quatro mil tratamentos e "pelo menos 40% dos ciclos desse tratamento estão ainda a ser feitos no sector privado", que conta com 17 clínicas no país.

Os custos são elevadíssimos por cada ciclo, sobretudo com as técnicas de procriação medicamente assistida (PMA) mais avançadas - como a fertilização in vitro (FIV) ou a injecção intracitoplasmática (selecção do melhor espermatozóide e sua injecção directa no óvulo). A primeira custa entre 3000 e 3500 euros e a segunda de 3500 a 4000 euros, de acordo com o médico.

Já a inseminação artificial é mais acessível, com cada tratamento a rondar os 500 a 600 euros. "A estes custos, os casais têm de somar os gastos com medicamentos, que apenas são comparticipados em 37%, e que totalizam 800 a mil euros por cada ciclo", diz João Silva Carvalh, acrecsentando que anualmente são feitos cerca de três mil tratamentos com FIV e ou a injecção e mil de inseminação.

A procura destes centros privados resulta do facto de no público existirem longas filas de espera. Ao todo, há três a quatro mil casais em lista de espera para fazer os tratamentos mais complexos como a FIV e injecção, refere ao DN Filomena Gonçalves, a presidente da Associação Portuguesa de (In)fertilidade.

E o tempo de espera atinge os três anos na zona de Lisboa e a um ano no Norte do pais. O Governo diz que a solução para os 290 mil casais inférteis existentes em Portugal - segundo o primeiro estudo divulgado pelo DN na edição de Domingo - passa pela realização de acordos entre o Serviço Nacional de Saúde e o sector privado. Aliás, em Julho, estará operacional o programa informático que irá gerir as listas de espera e encaminhar os casais para os estabelecimentos públicos e privados. Mas estes centros já anunciaram que não vão aderir à ideia (ver outro texto) .

Segundo o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução, a procura dos centros privados pode vir "a diminuir na sequência do programa do Ministério".

Neste momento, a rede de tratamento tem 26 centros : 17 privados e nove públicos. Em breve abrirão mais cinco públicos e dois privados (em Coimbra e em Faro). Além disso, o hospital dos Lusíadas (grupo HPP) e possivelmente mais dois outros principais grupos de saúde também irão abrir portas, aumentando a rede para 36 centros, diz Silva Carvalho.

Mas os especialistas já avisaram que não haverá médicos suficientes para trabalhar nos novos centros públicos, o que pode atrasar em muito a sua abertura.|
DN 10.03.09

9:03 da manhã  

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