Smart Operators
As declarações de SM link não se devem ficar, apenas, pela mera interpretação da “espuma” retórica sobre a grande ameaça que paira pelo país fruto da alegada, tão inopinada quanto inoportuna, “viragem à esquerda" em matéria de política de saúde.
É preciso ir mais fundo e conhecer, com detalhe, as verdadeiras inquietações dos grupos privados que investiram, sem norte nem sensatez, na fundada esperança de que, mais tarde ou mais cedo, parte do apetitoso bolo de mais de oito mil milhões de euros lhes iria cair nas mãos.
Em boa verdade, o argumento, a coreografia e os “artistas” tudo faziam prever que tal iria, acontecer. Bastaria, para tal, contar com um ou outro ex-político nos quadros, uma adequada intermediação das consultoras e dos escritórios de advogados mais apropriados, umas boas agências de comunicação e uma boa montagem do script de lobbying.
Esta percepção resulta da simples observação do “modus operandi” de cada um dos principais grupos e da leitura de um ou outro jornal para, rapidamente, captar os diferentes pictogramas que compõem o filme.
Ainda hoje, um semanário, reincide numa en-sol-arada crónica sobre a dramática temática dos doentes com cancro perdidos em intermináveis listas de espera enquanto o (sacrificado) sector privado persiste de braços abertos, sub-utilizado, refém desta estratégia “maldita” de primeiro esgotar a capacidade instalada no sector público.
É claro que não sabemos até quando o efeito destas persistentes, periódicas e repetidas crónicas que resultam de ”alianças”, bem conhecidas no meio, não quebrarão (finalmente) esta tão incomodativa resistência do sector público.
É que há sempre o perigo de fazer repetir, nesta e noutras áreas, a experiência do PIO (Programa de Intervenção em Oftalmologia) e, recorrendo, apenas ao sector público, resolver de uma penada mais um conjunto de crónicos problemas. E este é apenas um dos reais motivos de preocupação dos grupos privados. Tendo apostado, quase tudo, na captura do diagnóstico e tratamento do doente oncológico veêm retardar, dia após dia, o retorno do investimento em equipamentos e em recrutamento de profissionais.
Quando SM diz: …” Esta realidade que resulta da livre escolha e da procura crescente dos cidadãos não é contudo tida em consideração pelos poderes públicos os quais, por força de condicionamentos preconceituosos não têm feito um melhor aproveitamento das potencialidades do sector privado na prestação de cuidados e consequentemente na optimização do sistema nacional de saúde”… em boa verdade não saberá muito bem o que diz.
Compreende-se contudo o desespero. As unidades que integram o seu grupo começam a sofrer o efeito da perda da almofada Amadora-Sintra e a estratégia agressiva da BES Saúde tem feito o resto. A isto acresce a dinâmica brutal de anulação de seguros (individuais) de saúde, principalmente, por falta de pagamento fruto da crise económica que o país vive.
Mas não são apenas estes (tão importantes) factores que enervam SM e o fazem produzir a blague verbosa da “viragem à esquerda”. É que ao nível dos CSP a experiência das USF tornou inviável, por muitos anos, a destruição e a privatização desta tão importante área de prestação de cuidados. E, pior ainda, sinalizou quão fácil é, afinal, através da alteração do modelo de organização e de responsabilização dos profissionais transformar, radicalmente, o sistema com claríssimos resultados ao nível da satisfação dos utentes e dos profissionais.
A replicação deste tipo de reforma nos outros níveis de cuidados constituirá o verdadeiro toque de finados nas ambições e na estratégia dos smart operators.
No meio de tudo isto não deixa de ser penosa a “lenga lenga” de que o Estado se deve remeter ao papel de regulador (que tão bons resultados deu na experiência Amadora-Sintra) e “libertar os tais oito mil milhões de euros para a “dinâmica” iniciativa privada.
É hoje claro, para todos, que o esforço de propaganda das virtudes privadas começa a perder efeito. Compreendemos a aflição gerada pelos “buracos” em que se encontram GPS e HPP. Compreendemos, igualmente, a ansiedade da JMS pelos sinais que lhe chegam em cada dia que passa.
O que é facto é que a reforma dos CSP está no bom caminho. A rede de CCI prossegue o seu desenvolvimento. A sustentabilidade económica e financeira do SNS tem sido mantida. O acesso tem sido melhorado e as listas de espera diminuídas.
Se ao nível político houver coragem e decência o SNS terá reencontrado o seu caminho. Basta para tal que os “amiguismos” e as “cumplicidades” não façam vencimento. Que a política seja nobre, transparente, séria e feita apenas em nome do interesse público.
Os dados recentes do último trabalho do Prof. Villaverde Cabral são muito claros quanto à reconquista do espaço, do prestígio e da confiança do SNS junto dos cidadãos.
Bem podem vir os smart operators com estudos taillor made” tipo Power Health ou Amadora-Sintra”.
É pena que a ideologia não seja ainda mais segura, consistente e coerente na acção política. Em boa verdade as PPP’s de Braga, Cascais e Loures deveriam ter caído no exacto momento em que caiu o contrato do Amadora-Sintra.
Se houver coragem e decência o SNS terá futuro.
O Estado deverá, com efeito, sem nenhum tipo de hesitações, retirar da sua capacidade instalada tudo aquilo que pode retirar. E ao deixar de comprar fora retirará o tapete aos smart operators que jogam nos dois tabuleiros e que, cinicamente, ameaçam com a fuga maciça para o privado. Embora esta fuga faça lembrar a lógica propagandística com que, recorrentemente, se anunciam nos jornais económicos as imensas e esmagadoras vagas de investimento em unidades privadas (que nalguns casos por junto não chegam à dimensão de um departamento de um grande hospital público) não deixa de ser revelador da estratégia de corrosão persistente que pretende ser criada.
Consolidar a reforma dos CSP, ampliar a rede de CCI, promover a reforma do modelo organizativo dos HH’s conferindo poder e autonomia aos profissionais, resolver, prioritariamente, os problemas ainda existente de listas de espera no SNS recorrendo, se necessário, a programas específicos no interior do SNS, investindo e centralizando no seio do SNS o diagnóstico e o tratamento do cancro, criando condições para a delimitação clara dos sectores e, finalmente, delimitando a capacidade de intervenção dos “smart operators” especializados em “agilizar” pontes entre o sector público e o sector privado e que têm sido os grandes responsáveis pela tentativa de desarticulação e destruição do sistema.
Em síntese, coragem política, transparência, determinação, espírito de missão no cumprimento do dever de servir o interesse público.
A crise económica e financeira ensinou-nos tudo o que precisávamos de saber para que de uma vez por todas possamos separar as águas entre aqueles que ainda acham que a saúde é um mero negócio e aqueles que acreditam que a saúde é uma das obrigações públicas mais relevantes do Estado social.
Se isto é virar à esquerda viremos então à esquerda.
É preciso ir mais fundo e conhecer, com detalhe, as verdadeiras inquietações dos grupos privados que investiram, sem norte nem sensatez, na fundada esperança de que, mais tarde ou mais cedo, parte do apetitoso bolo de mais de oito mil milhões de euros lhes iria cair nas mãos.
Em boa verdade, o argumento, a coreografia e os “artistas” tudo faziam prever que tal iria, acontecer. Bastaria, para tal, contar com um ou outro ex-político nos quadros, uma adequada intermediação das consultoras e dos escritórios de advogados mais apropriados, umas boas agências de comunicação e uma boa montagem do script de lobbying.
Esta percepção resulta da simples observação do “modus operandi” de cada um dos principais grupos e da leitura de um ou outro jornal para, rapidamente, captar os diferentes pictogramas que compõem o filme.
Ainda hoje, um semanário, reincide numa en-sol-arada crónica sobre a dramática temática dos doentes com cancro perdidos em intermináveis listas de espera enquanto o (sacrificado) sector privado persiste de braços abertos, sub-utilizado, refém desta estratégia “maldita” de primeiro esgotar a capacidade instalada no sector público.
É claro que não sabemos até quando o efeito destas persistentes, periódicas e repetidas crónicas que resultam de ”alianças”, bem conhecidas no meio, não quebrarão (finalmente) esta tão incomodativa resistência do sector público.
É que há sempre o perigo de fazer repetir, nesta e noutras áreas, a experiência do PIO (Programa de Intervenção em Oftalmologia) e, recorrendo, apenas ao sector público, resolver de uma penada mais um conjunto de crónicos problemas. E este é apenas um dos reais motivos de preocupação dos grupos privados. Tendo apostado, quase tudo, na captura do diagnóstico e tratamento do doente oncológico veêm retardar, dia após dia, o retorno do investimento em equipamentos e em recrutamento de profissionais.
Quando SM diz: …” Esta realidade que resulta da livre escolha e da procura crescente dos cidadãos não é contudo tida em consideração pelos poderes públicos os quais, por força de condicionamentos preconceituosos não têm feito um melhor aproveitamento das potencialidades do sector privado na prestação de cuidados e consequentemente na optimização do sistema nacional de saúde”… em boa verdade não saberá muito bem o que diz.
Compreende-se contudo o desespero. As unidades que integram o seu grupo começam a sofrer o efeito da perda da almofada Amadora-Sintra e a estratégia agressiva da BES Saúde tem feito o resto. A isto acresce a dinâmica brutal de anulação de seguros (individuais) de saúde, principalmente, por falta de pagamento fruto da crise económica que o país vive.
Mas não são apenas estes (tão importantes) factores que enervam SM e o fazem produzir a blague verbosa da “viragem à esquerda”. É que ao nível dos CSP a experiência das USF tornou inviável, por muitos anos, a destruição e a privatização desta tão importante área de prestação de cuidados. E, pior ainda, sinalizou quão fácil é, afinal, através da alteração do modelo de organização e de responsabilização dos profissionais transformar, radicalmente, o sistema com claríssimos resultados ao nível da satisfação dos utentes e dos profissionais.
A replicação deste tipo de reforma nos outros níveis de cuidados constituirá o verdadeiro toque de finados nas ambições e na estratégia dos smart operators.
No meio de tudo isto não deixa de ser penosa a “lenga lenga” de que o Estado se deve remeter ao papel de regulador (que tão bons resultados deu na experiência Amadora-Sintra) e “libertar os tais oito mil milhões de euros para a “dinâmica” iniciativa privada.
É hoje claro, para todos, que o esforço de propaganda das virtudes privadas começa a perder efeito. Compreendemos a aflição gerada pelos “buracos” em que se encontram GPS e HPP. Compreendemos, igualmente, a ansiedade da JMS pelos sinais que lhe chegam em cada dia que passa.
O que é facto é que a reforma dos CSP está no bom caminho. A rede de CCI prossegue o seu desenvolvimento. A sustentabilidade económica e financeira do SNS tem sido mantida. O acesso tem sido melhorado e as listas de espera diminuídas.
Se ao nível político houver coragem e decência o SNS terá reencontrado o seu caminho. Basta para tal que os “amiguismos” e as “cumplicidades” não façam vencimento. Que a política seja nobre, transparente, séria e feita apenas em nome do interesse público.
Os dados recentes do último trabalho do Prof. Villaverde Cabral são muito claros quanto à reconquista do espaço, do prestígio e da confiança do SNS junto dos cidadãos.
Bem podem vir os smart operators com estudos taillor made” tipo Power Health ou Amadora-Sintra”.
É pena que a ideologia não seja ainda mais segura, consistente e coerente na acção política. Em boa verdade as PPP’s de Braga, Cascais e Loures deveriam ter caído no exacto momento em que caiu o contrato do Amadora-Sintra.
Se houver coragem e decência o SNS terá futuro.
O Estado deverá, com efeito, sem nenhum tipo de hesitações, retirar da sua capacidade instalada tudo aquilo que pode retirar. E ao deixar de comprar fora retirará o tapete aos smart operators que jogam nos dois tabuleiros e que, cinicamente, ameaçam com a fuga maciça para o privado. Embora esta fuga faça lembrar a lógica propagandística com que, recorrentemente, se anunciam nos jornais económicos as imensas e esmagadoras vagas de investimento em unidades privadas (que nalguns casos por junto não chegam à dimensão de um departamento de um grande hospital público) não deixa de ser revelador da estratégia de corrosão persistente que pretende ser criada.
Consolidar a reforma dos CSP, ampliar a rede de CCI, promover a reforma do modelo organizativo dos HH’s conferindo poder e autonomia aos profissionais, resolver, prioritariamente, os problemas ainda existente de listas de espera no SNS recorrendo, se necessário, a programas específicos no interior do SNS, investindo e centralizando no seio do SNS o diagnóstico e o tratamento do cancro, criando condições para a delimitação clara dos sectores e, finalmente, delimitando a capacidade de intervenção dos “smart operators” especializados em “agilizar” pontes entre o sector público e o sector privado e que têm sido os grandes responsáveis pela tentativa de desarticulação e destruição do sistema.
Em síntese, coragem política, transparência, determinação, espírito de missão no cumprimento do dever de servir o interesse público.
A crise económica e financeira ensinou-nos tudo o que precisávamos de saber para que de uma vez por todas possamos separar as águas entre aqueles que ainda acham que a saúde é um mero negócio e aqueles que acreditam que a saúde é uma das obrigações públicas mais relevantes do Estado social.
Se isto é virar à esquerda viremos então à esquerda.
sns
Etiquetas: SNS
3 Comments:
Parabéns pela decência e lisura em expor tão imprescindível apreciação sobre o SNS e a defesa dos seus serviços. A tentativa honesta de reformar e melhorar este Serviço,ao serviço de uma população cada vez mais envelhecida, crónica na doença, na incapacidade como consequência, no isolamento, na dispersão, na pobreza e na tradição da humildade de aceitar como favor os serviços do "Sr. Doutor", tem sido vivida por muitos com missão, persistência, conhecimento e coragem depois de na pasta da saúde se ter imposto a inteligência e visão do Prof. Correia de Campos.
Os privados, "smart operators" na esperteza e na operação financeira, com a crise querem, desesperados, acolher-se nos braços do Estado Regulador e Financiador das suas "crises" e apontam para qualquer "nicho" que seja aberto à sua subtilização.
Hotéis falidos e vazios querem transformar-se em CCI, Lares para "seniors ricaços" escasseantes, querem afinal acolher "mediante acordo" "velhinhos doentinhos" para "reabilitar em continuado" e depois no domicílio substituir os "pobres" recursos dos CSP tão abandonantes das necessidades daqueles. A que preço?
Os grandes e pequenos grupos dos hospitais e hospitalinhos privados, sem seguro, sem subsistemas, vão encontrar clientes certamente só com a cumplicidade dos “amiguismos” e das “cumplicidades” que não falham nos acordos necessários para melhorar o "acesso" negado pela "sua" ausência do SNS.
Sejam honestos e mostrem o jogo. O estado regulador e financiador somos NÓS, os cidadãos, que não queremos pagar duplamente por serviços de saúde já pagos no serviço público. "Que a política seja nobre, transparente, séria e feita apenas em nome do interesse público." escreveu bem! mas ainda melhor se neste ano de eleições a(os) política(os) olhar de frente pra NÓS e souber diagnosticar, quem somos, o que necessitamos e onde e não permita a continuidade desta baralhada que funciona de acordo com a melhor oratória e argumentário de cada um dos principais grupos, partidos, interesses e SEM QUE SE CONHEÇAM OS RESULTADOS E ONDE, sem que ninguém saiba, nunca, ao certo, "Como vai a Saúde neste País". Estamos satisfeitos?
Informação séria, transparente, fiável, PRECISA-SE.
Mais um grande post do IP.´
A actual crise, mais não seja, veio confirmar a necessidade urgente de investir, apostar no SNS.
As empresa privadas não conseguem despir a camisa do aventureirismo em busca do lucro fácil.
A actual ministra da saúde, honra lhe seja feita, além da recuperação do HFF, tem honrado a defesa do serviço público através do lançamento de projectos de investimento e confiança no sector público.
O Novo Salvador
Primeiro quero felicitar o sns por mais este excelente post.
Temos de nos interrogar sobre o processo de canonização do ex ministro da saúde, Correia de Campos, em curso depois da sua controversa passagem pelo MS.
O próprio Correia de Campos, segundo a cronica da jornalista do TM, parece ter sido o primeiro a ser surpreendido por tão rápido processo de reabilitação.
A reabilitação em curso do ex ministo da saúde, poderá estar estreitamente ligada à tentativa bem urdida de salvação dos milhões investidos pelo sector privado.
Como tem sido evidente, a actual politica do Governo de investimento no sector público, compromete seriamente o retorno do pesado capital investido.
CC, poderá ser o salvador deste capital em risco na próxima legislatura. Dar continuidade à sua politica de capitulação aos interesses do sector privado serve na perfeição este objectivo. Afinal não foi o ex ministro da saúde que viabilizou a adjudicação do Hospital de Braga PPP à JMS, depois de um incrivel desconto de 25%. Como se de uma feira de saldos se tratasse!
E os ventos parecem correr a favor deste objectivo. Aí temos o professor Correia de Campos comentador de serviço da TVI, certamente sugerido por Vital Moreira, sempre oportuno.
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