sábado, março 7

A tentação dos hospitalários ...

Após ler com atenção o post do Dr António Rodrigues link resolvi enviar os breves comentários que se seguem.

1º- Transposição de conceitos e práticas das empresas?

Nos negócios as empresas não desatam a comprar os clientes e os fornecedores, para assim assegurarem os caudais a montante (recursos) e a jusante (vendas/consumidores). Pelo contrário, a gestão das empresas, de forma sábia, usa a autonomia das empresas com quem se relacionam para se manterem mais flexíveis e beneficiarem da inovação e dos ganhos de especialização/focalização dos seus parceiros na cadeia de produção. Ao fazê-lo evitam a dimensão anti-económica (elefantes brancos ou doutra cor) e ambos ganham com a maior flexibilidade e especialização. Veja-se o exemplo da Benetton que tem mais de vinte mil sub contratantes e ainda mais retalhistas em franchising. Na verdade, já lá vai o tempo em que apenas se falava de economias de escala, agora está-se atento às deseconomias de escala.

2º - Hospitais têm gestão fácil ?


Segundo vários gurus de gestão - Mintzberg, Drucker, entre outros - o hospital é a empresa mais complexa que a humanidade tem a funcionar. Assim sendo, faz sentido que os administradores dos hospitais se concentrem na sua gestão e na melhoria contínua da qualidade e da eficiência onde têm muito a fazer. Também na melhoria da relação com os outros hospitais, sobretudo na sua rede de referenciação, e com a coordenação de cuidados com os CSP e com o apoio que o SNS prescreve.
Está por provar que nos nossos hospitais se tenha atingido um nível de excelência na gestão, seja na coordenação interna, na diminuição da inapropriação de cuidados, na promoção da cirurgia ambulatória, na definição de objectivos e contratos internos, na avaliação dos serviços, etc. Por outro lado, a gestão de hospitais é bem diferente da dos CSP, pelo que a experiência na gestão de hospitais pouco traz para os CSP.
Não venham com exemplos de ULS que (pretensamente) teriam sido bem sucedidas, porque nenhuma foi objecto de qualquer avaliação como tal (ULS). Por isso se estranha tanta convicção, que só pode derivar de achismo, pois avaliação, nicles.
Aliás, um dos requisitos para sucesso seria o uso de financiamento por capitação mas para isso teria que conhecer-se a população fixada pela ULS. Compreende-se porque doutro modo a ULS receberia por cabeça mas muitos doentes fariam escolha de hospitais próximos (o caso das grandes cidades é exemplar) sem qualquer prejuízo para os doentes e para a ULS, mas sim para o financiamento do restante SNS.
A constituição de uma reserva de doentes para um hospital, já que os CSP seriam "convidados" a referenciar para o hospital da ULS, e não a escolher o melhor prestador para os seus doentes, diminui o risco para os Serviços e para o hospital, o que não é propriamente incentivo para melhor qualidade e serviço, mais atencioso e rápido. Lembro que nos EUA a situação é totalmente diferente da Portuguesa em termos de concorrência e responsabilidade dos doentes pelo pagamento.

3º - Experiências bem sucedidas noutros países?

Houve várias experiência em que hospitais americanos, lucrativos e não lucrativos, integraram CSP e outros cuidados de proximidade mas os resultados foram tão negativos que levaram em vários casos à falência. Também as experiências ensaiadas noutros locais deram resultados negativos, o que parece aconselhar cautela, estudo e avaliação das experiências que já funcionam em Portugal. Nem se percebe porque nenhuma foi ainda avaliada.

4ª- Coordenação ou aquisição pela gestão dos hospitais?

O que se justifica, isso sim, é investir seriamente, como o SNS desde sempre prevê, em:
a) Coordenação de cuidados entre CSP e Hospitais, com referenciação acordada entre ambos e partilha de informação sobre o doente e do conhecimento técnico científico (ex. novos medicamentos)
b) Hospitais assegurarem consultas de especialidade nos CSP e porem a funcionar a telemedicina (para CSP mais distantes) - o que se faz em todos os países com SNS sem ser necessário ULS. Hospitais garantirem a referenciação adequada e oportuna da consulta, para evitar a proliferação de subsequentes e a exiguidade de primeiras - os CSP terão que dar resposta adequada para bem dos doentes e do SNS.
c) CSP e hospitais cooperarem para melhor utilização conjunta de meios existentes (seja MCDT, duma central de esterilização, de um serviço de compras ou de informática). Para isso não é necessário o hospital tomar conta dos CSP, basta fazerem um contrato, patrocinado pela ARS.
d) CSP e hospitais porem a funcionar protocolos conjuntos para tratamento de doentes crónicos.
e) MS/ARS/HH/CSP têm de dispor de sistema informático que permita integrar a informação sobre os doentes (para isso também não é necessário ULS).

5º - OPA sobre os CSP com inversão de política?

A proliferação de ULS, além de aventureirista e infundamentada, representaria muito simplesmente uma OPA dos hospitais sobre os CSP, não sendo difícil prever o reforço do hospitalocentrismo, entre nós vigente e mais acentuado que em qualquer outro país com SNS. A tentação será de utilizar ainda mais os médicos de MGF na urgência e de usar esses novos recursos conforme as necessidades (preferências) do hospital. A referência num comentário é curiosa: "amortecer o impacto da assimetria e da falta de médico em especialidades críticas".
A política actual é fazer com que os cuidados primários (e os CCI) sejam a primeira prioridade e respondam efectivamente aos doentes e à população, todos acreditamos muito nas USF e nas estruturas em que estas se irão integrar, para o conseguir num prazo curto. As ULS vão contra aquela prioridade e representam, isso sim, a sua inversão.
O modelo do SNS exige que os CSP sejam, de facto, os responsáveis pela saúde de doente, assim evitando muitos actos duplicados e inapropriados, não que o excessivo hospitalocentrismo actual se expanda ainda mais para vaidade e poder de uns quantos.

CinqueQuest

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9 Comments:

Blogger e-pá! said...

HOSPITALOCENTRISMO:
- consequência ou causa do modelo do "nosso" SNS?



Antes de começarmos a falar e a conjecturar sobre "hospitalocentrismo" seria de bom tom, e de alguma honestidade, reconhecer que existem poucas, válidas e consensuais definições sobre o que é, ou deve ser, um "Hospital"...

A WHO Ottawa Charter for Health link
tentou (re)pensar o papel do Hospital e lançar um novo (velho?) conceito como, p. exº.: Health Promoting Hospitals (HPH's).
Estes "novos" HH´s assentariam no paradigma da "Promocão da Saúde" em detrimento da "Manutenção da Saúde"...

Mas, em Portugal degladiamo-nos, ainda, noutros tempos e no espaço tradicional de infindáveis confrontos na marcação ( e remarcação) de territórios.
Assim:
...Isto aqui é meu! para todo o tipo e níveis de cuidados.
...Eu sou o pilar do sistema e, portanto, integro, coordeno e lidero.
...Os HH's ficam com "áreas de influência".
etc.

Enquanto, em Portugal, não metermos na cabeça que as lideranças não se decretam, ou não são atribuíveis como os títulos honoríficos, nada será impoluto ou servirá para prestar cuidaddos lim+idos e transparentes.
Na esquina próxima estará alguem para "colher os louros".
E começa o fastidioso jogo do "empurra", da captação de competências avulsas, da transferência de responsabilidades (mas da salvaguarda de poderes), "espectáculo" que impavidamente assistimos há largos anos.
As Farmácias conquistaram terreno neste campo e, ainda, faltam chegar os Health Shoppings, os Health Clubs, ando so on...!

O HH´s não serão, nem uma fábrica de peças de subcontratação para as contruções aparelhos aeronáticos do tipo Airbus, nem os modelos de franchising da Benetton...
E se de facto, em Portugal, os HH's, foram "empurrados" para ocupar uma posição central no SNS foi, acima de tudo pelas difculdades que os CPS sentiram em colocar-se e ocupar o terreno e os afluxos às urgências hospitalares, não deixam escamotear esta realidade. Esta é uma extensa e oculta rede de subcontratação, nunca explicita, nunca reconhecida.

Agora, quando se tentam arriscar projectos-pilotos na área das ULS's, integrando cuidados primários e secundários, começou a gritaria de que: agarra que é ladrão!

Assim, os HH's serão?

- ambientes físicos e sociais específicos, que se tornaram tanto mais conflituosos quando foram empresializados;

- locais de trabalho altamente diferenciados em que o pessoal aí sedeado, corre importantes riscos individuais de saúde;

- grandes "fornecedores" de múltiplos e diferenciados serviços de saúde, a um elevado e diversificado número de utentes (nem sempre triados);

- Espaços de trabalho onde se acumula a rotina de prestação de cuidados, com funções de ensino, investigação e formação esopecializada, de forma a garantir a continuidades do SNS.

Ou máquinas infernais para comandar, controlar, supervisionar e "sugar" provisões orçamentais (localmemte ou regionalmente) as unidades de saúde em benefício de um insaciável "hospitalocentrismo"?

O "hospitalocentrismo" como alma mater de todos os males é de facto uma tentação...não só de hospitalários , mas também dos templários e de outras ordens...
As "capelas", as "lojas" e as "quintas", "as concelhias", "as distritais",... proliferam perante a uma profunda desorganização e injustificáveis polarizações no interior do SNS, como aliás, há relativamente pouco tempo, a Ministra, publicamente, alvitrou.

Mas entre o alvitrar e o organizar vão anos-luz (entretanto até "nasceu" o HH da Luz!)

10:50 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Os deputados do PS estiveram ontem todos na hora das votações e conseguiram "chumbar" no Parlamento todos os projectos da oposição para revogar, total ou parcialmente, as taxas moderadoras da saúde. E nem os cinco desalinhados na bancada da maioria - Manuel Alegre, Teresa Portugal, Matilde Sousa Franco, Eugénia Alho e Júlia Caré, que desafiaram a disciplina de voto da maioria - foram suficientes para aprovar o projecto do Bloco de Esquerda (BE), aquele que propunha a revogação das taxas moderadoras do internamento e cirurgias de ambulatório.
Feitas as contas, dos 228 deputados presentes na sessão de hoje, votaram contra 115 deputados do PS, mais três do que os 112 de toda a oposição unida. O presidente do Parlamento, Jaime Gama, como é habitual, não votou.
No final, Manuel Alegre disse ter votado o projecto do BE para homenagear os fundadores do Serviço Nacional de Saúde (SNS), como António Arnaut, que criticou de imediato a posição da bancada do PS. Alegre acrescentou que o PS nunca deveria ter criado as taxas moderadoras para os internamentos e cirurgia em ambulatório. "O PS tem que fazer alterações no seu programa. Caso contrário, estará a subverter o princípio básico do SNS, uma das bandeiras históricas do PS", disse. O ex-candidato presidencial justificou a sua abstenção nos outros projectos: "O PCP propunha a abolição de taxas moderadoras e o PSD foi o primeiro a propor taxas moderadoras para internamento e cirurgia."
JP 07.03.09

Há coisas neste PS dificéis de engolir!

2:57 da tarde  
Blogger tambemquero said...

As políticas de contenção orçamental implementadas nos últimos anos têm-se saldado pelo esvaziamento da capacidade de resposta dos serviços públicos de saúde. Com o devido reconhecimento a um grupo de colegas que iniciou recentemente uma reflexão independente sobre o futuro do SNS, permito-me replicar a constatação de que o sector público adquire produção ao sector privado que equivale a cerca de 10% da despesa do SNS, aproximadamente 500 milhões de euros anuais. Entre 1998 e 2007 as taxas de crescimento deste processo de aquisição de produção ao sector privado pelas unidades públicas apresenta números verdadeiramente impressionantes. A saber, a compra de exames complementares de diagnóstico e terapêutica, consultas, cirurgias e internamentos, cresceu 700%. Outros dois exemplos concretos: as endoscopias cresceram 400% no sector público contra 950% no sector privado; a imagiologia cresceu 100% no sector público contra 300% no sector privado. Que significa este discreto fenómeno? Que enquadramento das políticas de saúde tem permitido legitimar esta evolução? Não tenho, por princípio, nenhuma dúvida sobre o interesse público da compra de serviços privados para servirem as necessidades dos cidadãos que apenas têm acesso a serviços públicos que não lhes garantem respostas para as suas necessidades. Porém, a falta de clareza e discussão aberta sobre este processo merece profundas reticências em duas questões interdependentes e essenciais das políticas de saúde: a) este crescimento contínuo das compras ao sector privado, que sugere uma clara incapacidade de resposta do sector público às necessidades das populações, parece questionar a efectividade do crescimento simultâneo do orçamento do sector público aplicado no sector hospitalar do SNS; b) sendo claro o excesso de oferta das respostas hospitalares públicas em serviços como o internamento agudo em algumas regiões do país, torna-se necessário explicar a lógica de crescimento do sub-sector hospitalar exigida para o futuro por alguns agentes do SNS. O choque entre estas duas questões tem impossibilitado o debate coerente sobre o futuro do financiamento do SNS. A sua resolução será uma das "lutas" políticas (não necessariamente partidárias) mais complexas a que assistiremos no futuro.

Por outro lado, também temos constatado neste espaço de reflexão, que os cuidados domiciliários terão que ser fortemente reforçados em Portugal. Esta deficiência, corroborada pelos dados do Eurostat, embaraça um país que ainda tem hospitais a funcionar a menos de 50% da sua capacidade instalada mas insiste em manter essas respostas desadequadas das reais necessidades das populações locais. Esta deverá ser uma das lutas do futuro ainda que dependente dos movimentos de cidadania e do melhor desenvolvimento da literacia em saúde da nossa população.
Um outro desafio actual é a atitude política de afrontamento destrutivo a que estão a ser submetidos os profissionais do Serviço Nacional de Saúde. Particularmente a enfermagem portuguesa que se destaca na Europa como uma das mais qualificadas em termos de graus académicos, mas que, paradoxalmente, está a ser submetida a um claro processo de ‘downgrading' profissional. O actual processo de negociação das carreiras de enfermagem corre no sentido do conflito com as piores consequências para o desenvolvimento estratégico do SNS e as novas respostas de que a população necessita. Para além da arrogância institucional, imagem de marca do actual Governo, o conflito tem origem nas propostas do Ministério da Saúde que, na essência, iniciam um processo de utilização das competências de enfermagem como se de trabalho pouco qualificado se tratasse.

Esta atitude demonstra um claro desfasamento das tendências europeias e, sobretudo, dos novos enquadramentos de ‘skills mix' para a modernização das respostas inter-sectoriais no âmbito do desenvolvimento de uma abordagem de políticas sociais integradas e de partilha de recursos na comunidade. A seguir são os médicos.
____

DE 05.03.09

Depois do artigo do Salvador de Mello, PKM sai também a terreiro em defesa dos investimentos privados da saúde, que a actual crise põe em sério risco.

3:11 da tarde  
Blogger sillyseaspn said...

Não há pior cego do aquele que não quer ver…

A miopia corporativa compromete, inexoravelmente, o desenvolvimento do SNS e apenas favorece o avanço do sector privado que, neste contexto, tem a maior facilidade em ganhar terreno ao sistema público. Todo este arrazoado teórico sustentado em teoria com pés de barro declina apenas e só do temor corporativo da MGF de vir a ser "opada" pelos médicos hospitalares. Este "crónico" complexo de inferioridade é bem ilustrado pela preocupações sobre onde fica o Conselho de Administração, o risco de virem a ser escalados para urgências entre outras teses mais ou menos retorcidas.
É óbvio para todos que a integração de cuidados é a única via segura para a consolidação e desenvolvimento do SNS. Parece no entanto óbvio que enquanto esta geração de dirigentes e “doutrinadores” da MGF tiver poder e influência continuaremos a lutar “pelo castelo”, pela estratégia defensiva contra o inimigo externo (o Hospital) ao invés de promoverem as qualificações e o desenvolvimento científico da especialidade. É preciso não esquecer que são estes mesmos “doutrinadores” os principais responsáveis pelo estado a que chegou a falta de atractibilidade da MGF para os jovens médicos.

3:21 da tarde  
Blogger sillyseaspn said...

Contas à PKM:

...”A saber, a compra de exames complementares de diagnóstico e terapêutica, consultas, cirurgias e internamentos, cresceu 700%. Outros dois exemplos concretos: as endoscopias cresceram 400% no sector público contra 950% no sector privado; a imagiologia cresceu 100% no sector público contra 300% no sector privado. Que significa este discreto fenómeno? Que enquadramento das políticas de saúde tem permitido legitimar esta evolução?”...
…/…
PKM aflora uma questão relevante. No entanto a sua vertente não matemática de novo lhe pregou uma rasteira. Então e a a base de cálculo dessas percentagens?
Não deixa contudo, de ser verdade que a separação entre sectores, a eliminação das situações de conflito de interesses e uma orientação (contratualizada) da tutela sobre o princípio da auto-suficiência tendencial e a rentabilização da capacidade instalada muito estrita e sujeita a monitorização, com penalizações, resolveriam de uma penada este concubinato público-privado.
É por isso que os grupos privados tanto querem as PPP’s.
Se houver coragem e determinação nas políticas…
O pior é o “tudo-jóia” que tem alimentado esta imensa “farsa” da complementaridade público-privado. Os ingredientes são conhecidos:
Directores de Serviço inimputáveis de responsabilidades. Ganham pouco. Mal dá para a mesada dos filhos. A OM nem vê como necessário que ganhem mais. O que é importante é evitar a dedicação (e ainda menos a exclusiva). Dirigentes médicos ou gestores que são simultaneamente peritos na DGS, Infarmed, ACS, MS. Decidem sobre programas de cirurgia da obesidade, vacinas e fármacos, licenciamentos e redes de referenciação. São também sócios, consultores, coordenadores de empresas privadas de prestação e de financiamento.
Alguma vez alguém, no seu perfeito juízo, vai acreditar que o sistema possa ser saneado refém que está deste imenso polvo?
Depois as políticas. Sempre as políticas. Um jeitinho aqui outro acolá. Uma cedência aqui outra por ali.
A gestão deste imenso “bolo” de oito mil milhões de Euros só poderá ser feita com transparência e em nome do interesse público se existir uma visão clara sobre o que defende o interesse público. De resto falamos apenas de bricolage táctico e não de reforma muito menos de transformação ou de sustentabilidade do SNS.

4:11 da tarde  
Blogger saudepe said...

Quem tem receio das ULS?

Os médicos de família estão contra a aposta da tutela nas unidades locais de saúde (ULS), já que estas juntam hospitais e centros de saúde, de uma região, debaixo da mesma gestão, podendo criar desequilíbrios na distribuição dos recursos.

A oposição a este modelo, encabeçada pelo coordenador nacional da Missão para os Cuidados de Saúde Primários (MCSP), Luís Pisco: "Quando houver problemas com recursos financeiros e for preciso optar entre as urgências hospitalares e o serviço de saúde materna do centro de saúde é o hospital que sai a ganhar". "Os hospitais são maiores e têm mais visibilidade por parte da opinião pública."

Ana Jorge, aposta nas USL. É que Matosinhos, juntamente com o Alto Alentejo, têm já estas unidades locais em funcionamento, sendo, aliás, as primeiras no país .
(o que pouco adianta para a discussão do problema)

Para tentar acalmar os clínicos gerais, a tutela decidiu colocar nestas duas unidades um médico de família a presidir o conselho directivo, mas esta solução por si só "não resolve o problema" , garante Luís Pisco. A solução, defende, estava em "esperar mais dois ou três anos, de forma a que os centros de saúde ganhassem maior maturidade organizativa".

Apesar das reservas, Luís Pisco admite que as unidades de saúde local podem "melhorar a articulação entre os centros de saúde e os hospitais". Isto, por exemplo, ao facilitar "a transferência do doentes do hospital para o centro de saúde ou vice-versa".

A gestão conjunta dos hospitais e centros de saúde também levanta dúvidas a Luís Campos, membro da Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação da Rede de Urgência Geral. "Espero que os cuidados primários consigam ser parceiros de igual para igual e que não sejam os parentes pobres destas ULS"."Os hospitais são grandes predadores de dinheiro, prestígio e protagonismo".

A experiência das ULS (são actualmente cinco ao todo)requer avaliação urgente.

4:34 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro saudepe:

Para já, verificam-se duas situações extravagantes, nesta troca de opiniões:

As ULS's, antes de avaliadas (em Portugal) já perderam a inocência, i.e., não há, para elas, qualquer tipo de presunção da existência de resultados (positivos).

As USF's, ainda em fase inicial de implantação, sem recuo histório para serem avaliadas, beneficiam de uma presumível, e não verificável, eficiência.

Não podemos alicerçar o modelo e a funcionalidade do SNS em preconceitos (que não são mais do que julagamentos prévios e não fundamentados).

8:06 da tarde  
Blogger Clara said...

Estou de acordo com o slly season. A integração de cuidados é a única via segura para a consolidação e desenvolvimento do SNS.
Infelizmente muitos profissionais entendem que o SNS existe para servir os seus interesses.
O SNS existe para servir os doentes.

9:40 da tarde  
Blogger Unknown said...

É de facto curiosa a argumentação que vem sendo desenvolvida sobre os méritos ou deméritos do modelo ULS. O e-pá tem razão.
Argumenta-se com a inexistência de avaliação de resultados das ULS e conclui-se que por isso devem ser rejeitadas. As USF e os ACE estão no início (ainda nem tempo houve para se poder pensar em fazer qualquer avaliação) e constituem opção melhor e prioritária em relação às ULS!...
Entretanto, quem quiser pensar racionalmente no modelo ULS, pode constatar facilmente que USF,ACE e ULS podem fazer parte de uma única estrutura integrada de prestação de cuidados.
Decididamente, não parece haver vontade genuína de uma nova forma de organização na prestação de cuidados.
A propósito da referencia do saudeepe às afirmações do Dr. Luis Pisco sobre urgências hospitalares e consultas de saude materna nos CS, a única coisa que se pode dizer é que no dia em que as fez estava especialmente pouco inspirado...
A nomeação de médicos de MGF para presidir às ULS do Alto Alentejo e de Matosinhos como estratégia de "acalmar" os médicos de MGF é muito pobre.
Curiosamente, as primeiras reacções negativas ao desempenho do presidente da ULS de Matosinhos, partiram precisamente dos médicos de MGF (ver entrevistas no Jornal Médico de Família). E não foi porque a administração a que preside esteja a seguir uma orientação "hospitalocentrica"...
Como é óbvio, o importante é que os elementos dos CA (todos eles)sejam competentes, saibam realmente o que é gerir serviços de saúde, estejam no seu cargo com espírito de missão, verdadeiramente empenhados. E não para possuírem um "estatuto social". E, obviamente, que não ocupem esses cargos por razões políticas, eivados de preconceitos de todo o tipo.
Alguém já falou no financiamento: - claro que o que faz sentido é o financiamento por capitação (utentes inscritos nas USF ou CS ou ACEs, como quisermos de uma ULS). Mas isso não significa que a gestão das ULS será assegurada exclusivamente por um orçamento resultante da multiplicação do valor da capitação pelo número de inscritos...
Desde logo, é necessário perceber que o valor da capitação poderá não ser igual em todas as ULS.
Além disso não é necessária muita imaginação para se perceber que outros "mecanismos" de gestão financeira têm que ser considerados.
Há os doentes que uma ULS tem que referenciar para outras unidades hospitalares, ou que outros hospitais têm que encaminhar para o Hospital da ULS x ou y (por exemplo por não haver certas especialidades),para só falar num tipo de situação.
Estas coisas são muito fáceis de resolver, até com regras/leis já existentes...
Já vai longa a prosa.
Desculpem.
Bom fim de semana

10:01 da tarde  

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