quarta-feira, março 25

Medicamento, utilização racional

Nos últimos posts, voltámos ao tema da utilização racional do medicamento.
Ricardo Luz, veio relembrar que é possível tratar doentes dentro das melhores práticas clínicas e controlo de custos em função da avaliação clínica e económica criteriosa de todas as moléculas prescritas.
Acrescentei, que, em termos de gestão do medicamento, as coisas, à partida, até são bem mais fáceis porque melhor adequação terapêutica é, normalmente, sinónimo de eficiência económica.
O e-pá, por sua vez, referiu que os States não nos dão lições nesta matéria.
Efectivamente, só agora que a situação económica aperta, a administração Obama decidiu financiar estudos comparativos de avaliação de tratamentos com dispositivos médicos e medicamentos de forma a determinar a efectividade dos mesmos
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A prescrição de genéricos faz parte desta estratégia que visa a utilização racional do medicamento.
Porque não cresce mais rapidamente o mercado de genéricos?
Devido ao preço elevado dos medicamentos genéricos?; Aos médicos que preferem receitar medicamentos de marca?; Aos doentes que preferem medicamentos de marca?; Aos farmacêuticos que preferem comercializar medicamentos de marca?.

Sobre esta matéria, importante o comentário do Tavisto:
«Sendo favorável ao poder de decisão do cidadão no acto da compra (medicamento original/genérico), não deixo de subscrever algumas das preocupações aqui postadas por e-pá. A forma selvática como se instalou o mercado de genéricos no nosso País põe em causa, entre outros aspectos, garantias de qualidade (bioequivalência e biodisponibilidade) exigíveis para segurança de quem prescreve e de quem consome.
Face à quantidade de produtos introduzidos no mercado, é evidente que todos temos dúvidas quanto à capacidade do Infarmed em garantir o necessário controlo de qualidade. Receio esse que se acentua ao não vermos os responsáveis técnicos por esse controlo vir a público dar as necessárias salvaguardas e, que se saiba, por não se ter detectado até hoje qualquer anomalia num mercado pouco transparente.
Sem esquecer estes aspectos, entendo que há garantias suficientes para a prescrição de genéricos uma vez que há laboratórios que, pela prática noutros países, são merecedores da nossa confiança, podendo o médico decidir pela marca do genérico pretendido. Não me parece pois que seja por preocupações de qualidade que os clínicos se retraem na prescrição destes fármacos. »
Por que será, então?

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12 Comments:

Blogger Pela livre abertura de farmácias said...

Por onde andam os farmaceuticos deste blog?

9:51 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Não me parece pois que seja por preocupações de qualidade que os clínicos se retraem na prescrição destes fármacos.

Por que será, então?

Porque as garantias, em toda a complexidade técnica da formulação quimíca ou biológica, dos processos e métodos de fabrico, do tipo de excipientes, da apresntação, para muitos médicos, não são suficientes...
São garantias parcas, sóbrias, frugais...enfim, pobres.

É preciso que haja consciência de que os genéricos não são uma questão de fé.

Tem o mesmo princípio activo, são iguais - lema televisivo publicamente subscrito pelo Infarmed.

Se uma aluno de Medicina arriscasse tal afirmação num exame de Farmacologia Clínica, passava... um mau bocado.

10:15 da tarde  
Blogger Tavisto said...

Todos sabemos o peso que o marketing farmacêutico tem neste País (e não só) e, à semelhança do que sucede em muitas mais áreas da esfera económica (e não só), dos conflitos de interesses que condicionam tomadas de decisão. Não é por acaso que os médicos são alvos privilegiados do marketing das multinacionais de marca e os farmacêuticos das dos genéricos. Todos temos ainda bem presente o caso Pequito e, independentemente do decidido em tribunal, sabemos que pouco nos surpreenderam as denúncias de “marketing agressivo”, para utilizar um eufemismo, por ele divulgadas.
Quando praticamente toda a formação médica e a realização de eventos diversos, dependem quase exclusivamente do apoio financeiro da Industria Farmacêutica, é difícil deixar de pensar que tudo isto não tem nada a ver com o padrão de prescrição do País.

11:54 da tarde  
Blogger Clara said...

a)- US based companies spent $15.7 billion on promotion;

b)Since 1995 research staff down by 2%, marketing staff up by 59%;

c)-A fifth of staff are researchers but two fifth are marketing staff;

d)-Industry spends about $10 000 per doctor on promotion

1:19 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Deixemos, então, os aspectos, técnicos que não estando controlados regulados ou sequer fiscalizados: a molécula original, a bioequivalencia e biodisponibilidade...foram entregues a questões de confiança e de FÉ (acreditar no qu não vemos nem tem demonstração).

Todas as dúvidas, todos os procedimentos obrigatórios foram sumáriamente resolvidos, pelas entidades competentes (entre elas o Infarmed), com uma magistral e simplista asserção: - " Têm o mesmo princípio activo - são iguais" -
E que comece o mercado a funcionar...

A introdução dos genéricos foi apresentada como uma medida de redução de custos - para o Estado e para os doentes - e temos de nos interrogar se é isso que está a passar-se no "mercado da saúde" (... outra concepção polémica).

Uma coisa é "marketing agressivo", e hoje todo o marketing é agressivo, tanto que foi e é necessário continuar regulamentá-lo, e outra é, p. exemplo, os sistemas de bonificação aos farmacêuticos proprietários das Farmácias - contemporâneo com o aparecimento dos genéricos e, em minha opinião bloqueia a diminuição racional (na verdade realísta) dos preços.

A introdução de genéricos visou, prioritariamente, beneficiar os doentes e as entidades comparticipadoras da aquisição dos medicamentos, à cabeça das quais está o Estado.

Foi esse o resultado, ou o Estado sentiu-se obrigado a intervir sumariamente no mercado interferindo drásticamente no preço dos medicamentos?

Pelo meio apareceram muitas entidades a manifestarem-se e, uma que se tornava fundamental ser ouvida, já que era parte interessada no processo foi, na prática, marginalizada - a Apifarma.

Na realidade, a situação dos genéricos, desviou-se para outros alvos, muitos menos generosos e altruístas do que a sustentabilidade do SNS...

Por exemplo, quando, pela venda de 1 embalagem de um produto genérico, são "oferecidos" 4 à farmácia aquisidora - alguns estão a ser prejudicados e outros estão a ser beneficiados.

Não é dificil descortinar "les uns et les autres"... mas é mais facil atacar os médicos de "não colaboração", ou, então aplaudir o resquício estalinista de Vital Moreira que advoga a imposição...

o projecto do trajecto de redução dos custos da assistência medicamentosa, tem havido tudo... mas de RACIONAL, NADA!

8:02 da manhã  
Blogger tambemquero said...

EFEITOS DIRECTOS link

O tema proposto para este texto é o da vantagem económica dos medicamentos genéricos. Aparentemente, este é um assunto de tratamento fácil, dado que um medicamento genérico, sendo do ponto de vista técnico um substituto perfeito do medicamento original, tem um menor preço. Assim, a substituição de um consumo de medicamento de marca por um genérico terá óbvias vantagens económicas para utentes e para o Serviço Nacional de Saúde – para um mesmo benefício, tem-se um menor custo.
Esta vantagem económica dos genéricos é reforçada, no caso dos utentes, pelo sistema de preços de referência. O sistema de preços de referência assenta no princípio de uma comparticipação de valor fixo por parte do Serviço Nacional de Saúde, sendo a parte do preço que excede esse valor fixo paga pelo utente. Daqui decorre que se o medicamento de marca tiver um preço superior, para um valor de comparticipação comum, implica também um maior encargo absoluto dos utentes quando adquirem medicamentos de marca face à alternativa do genérico.
Poderia pensar-se que para o utente, desde que a comparticipação seja dada pelo Serviço Nacional de Saúde, seria quase irrelevante utilizar um genérico ou um medicamento de marca. Claro que se a comparticipação for total, e o utente nada pagar no momento de utilizar o medicamento, nesse momento não há vantagem económica directa do genérico, e o problema está então nos níveis de comparticipação oferecidos pelo Serviço Nacional de Saúde. Esta visão é errada, porém. Uma vez que o Serviço Nacional de Saúde é financiado sobretudo por impostos pagos por todos os contribuintes, preços mais elevados, mesmo que não sejam pagos no momento de necessidade, terão que ser pagos através de mais impostos (ou por diminuição de outras prestações sociais ou de outras despesas públicas). No final, feitas as contas todas, o cidadão, enquanto contribuinte e utente, estaria a pagar mais. Aliás, é para evitar o excesso de consumo que onera todos os cidadãos que existe a comparticipação por parte dos utentes

EFEITOS INDIRECTOS: PAPEL DA CONCORRÊNCIA

Contudo, esta visão imediata é incompleta, já que ignora efeitos indirectos que são importantes. Desde logo, a existência de medicamentos genéricos exerce uma pressão descendente sobre os preços dos medicamentos de marca, beneficiando também os utentes que mantêm o seu consumo do medicamento de marca. A existência deste efeito encontra-se já documentada.

EFEITOS INDIRECTOS: ADESÃO À TERAPÊUTICA E PADRÃO DE PRESCRIÇÃO

Outros dois efeitos potenciais associados com os medicamentos genéricos são um aumento da prescrição por o preço do genérico ser mais baixo que o preço do medicamento de marca e um aumento da adesão à terapêutica por parte de doentes com condições crónicas que envolvam o tratamento com recurso a medicamentos e havendo a possibilidade de optar por genéricos.
Qualquer um destes dois efeitos vai no sentido de uma maior despesa global em medicamentos. Apesar desse (eventual) aumento da despesa não se pode inferir que seja um efeito negativo do ponto de vista económico. A mera evolução da despesa não é a melhor forma de avaliar o impacto dos medicamentos genéricos no sistema de saúde e na saúde da população. Uma maior adesão à terapêutica terá um impacto positivo sobre a saúde da população, além de a prazo ser frequentemente argumentado que produz menores custos para o sistema de saúde como um todo.
Já a maior prescrição que possa ser originada pode ser, ou não, vantajosa do ponto de vista social. Se corresponder a um maior acesso ao medicamento de uma camada da população que dele necessitava, será provavelmente um efeito positivo. Se pelo contrário corresponder unicamente a prescrição não justificada pela necessidade de cuidados de saúde, será naturalmente um efeito negativo. No nosso actual estado de conhecimento sobre os padrões de prescrição de medicamentos, não podemos distinguir entre os dois efeitos. Contudo, informação, relatada frequentemente por quem trabalha nas farmácias, aponta para que os aspectos de acesso ao medicamento por franjas mais carenciadas da população sejam importantes. A confirmar-se, será mais um efeito favorável dos medicamentos genéricos.
Para além deste tipo de evidência, é de não esquecer que outros elementos influem no padrão de prescrição, como o esforço de informação à classe médica desenvolvido pela indústria farmacêutica e o próprio nível de comparticipação que é dado (e que no caso de ser muito elevado, desresponsabiliza o médico e o utente das implicações de custos que as suas decisões têm).
Poderia ainda pensar-se em efeitos sobre os esforços de investigação e desenvolvimento, embora aqui o argumento seja fraco já que o período de patente se destina precisamente a conceder o retorno desse investimento às empresas que introduzem medicamentos novos no mercado, por um lado, e o mercado português é irrelevante em termos de definição das estratégias de criação de novos produtos das companhias farmacêuticas, por outro lado.

CONCLUSÃO
Em suma, os genéricos apresentam, do ponto de vista económico, vantagens e desvantagens. Embora as primeiras tendam dominar, a verdade é que ainda não temos uma quantificação precisa de todos os efeitos, nomeadamente os efeitos indirectos associados com adesão à terapêutica e padrão de prescrição. Apesar disso, a presunção de uma vantagem económica global dos medicamentos genéricos resulta de a) os primeiros efeitos, de substituição e redução de preço dos medicamentos de marca, serem normalmente de magnitude relevante; b) o efeito de adesão à terapêutica ser considerado importante com base em observações casuísticas; e c) a desvantagem apontada, excesso eventual de consumo, ser provavelmente mais dependente do nível de comparticipação atribuído e dos esforços de informação (marketing) e não apenas do preço que o genérico tem.

Pedro Pita Barros

8:44 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Para complementar a ideia que atrás tive a oportunidade de resumidamente expôr, acrescentaria um artigo que acho bastante revelador:

Report Generic Drug Problem

In the field of pharmaceuticals, Americans have been told that price doesn't matter. Generic drugs are supposed to be identical to their brand name counterparts. For nearly 30 years, we believed this argument. We encouraged people to save money by insisting that their physicians prescribe generics whenever they were available.
All that changed several years ago when some pharmacists started telling us they had doubts about the quality of certain generic products. We also began getting letters from readers who had trouble with their generic prescriptions. Readers have shared their disappointment with generic pain relievers, antidepressants, blood pressure medicines and diabetes drugs. The generic drug manufacturers discount these reports.

Kathleen Jaeger, president and ceo of the Generic Pharmaceutical Association, has written: "To set the record straight, there are no differences between FDA-approved brand and generic medicines. A generic must meet the same high standards as the brand-name drug, with the same safety and effectiveness, same active ingredients, same strength and dosage, same labeling and use and same high quality manufacturing standards."

While we agree with Ms. Jaeger that FDA approval is rigorous, we worry that once drugs are approved and marketed, monitoring is spotty at best. For the most part, the pharmaceutical industry runs on the honor system. The FDA is not capable of analyzing more than a handful of pill bottles from pharmacy shelves each year. As a result, unscrupulous manufacturers or counterfeiters may be slipping substandard generics into the marketplace.

Joe and Terry Graedon

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10:15 da manhã  
Blogger e-pá! said...

O PERFEITO E O IMPERFEITO...

O texto do Prof. Pedro Pita Barros (tenho a sensação que já o li no SaudeSA) tem a indelével marca de uma análise elaborada por um (eminente) economista.

Quando afirma:

"Aparentemente, este é um assunto de tratamento fácil, dado que um medicamento genérico, sendo do ponto de vista técnico um substituto perfeito do medicamento original, tem um menor preço".

Passa ao lado que, na realidade:
- as bioequivalências não são tão facéis de verificar;
As "contas", isso sim. Basta a regra dos nove ou, nos tempos do Plano Tecnológico socrático, uma calculadora de um qualquer e trivial Magalhães...

Imperfeito, é este tipo de silogismo, aplicado aos medicamentos.
Perfeito, será optar por uma dialética, mais idealista, do tipo hegeliano...

2:19 da tarde  
Blogger tambemquero said...

GENÉRICOS: TROCAS OU BALDROCAS
link

A troca de medicamentos originais pelos respectivos
genéricos ou entre genéricos está perfeitamente legitimada pelos
princípios técnico-científicos aplicados no licenciamento Europeu.
Esta afirmação é válida mesmo para os medicamentos de dose
crítica. Na situação de inicio de um tratamento, de novo as excepções
ao princípio da permutabilidade são poucas e resumem-se à
manifestação de preferências por parte do doente. Na substituição
do original por um genérico num tratamento que já está em curso,
o princípio da permutabilidade volta aplicar-se à grande maioria
dos princípios activos, mas no caso de medicamentos de dose
crítica pode haver particularidades que merecem consideração
à parte. Em conclusão, na esmagadora maioria das situações os
originais podem ser trocados pelos genéricos. Não há baldrocas.
Cristina Sampaio

O lugar dos medicamentoOs
genéricoOs na prescriçãoO médica

link

A utilização de medicamentos genéricos (MGs) deve ser, para nós médicos, uma decisão técnico-científica e não apenas económica. Se esta ideia é aceitável, então os MGs devem ser contextualizados no processo de decisão terapêutica. No breve texto que se segue procuramos sequenciar os passos e conceitos que permitem defender a utilização de MGs na prática clínica.

prof. Aantónio Vaz Ccarneiro

4:15 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro Tambemquero:

Existe um "rosário" de publicações sobre utilização de genéricos.
Não vamos fazer a contabilidade dos incondicionais versus os sim-sempre, os assim-assim e os que repudiam liminarmente ....

A utilização de genéricos na prática clínica levanta - a qualquer médico - sempre algumas dúvidas em determinados quadros nosológicos agudos e em relação ao uso de determinados fármacos.

No dia a dia, todos os médicos prescrevem genéricos (alguns), e se o volume não aumenta é porque o mercado perdeu idoneidade para os clínicos, as listas de novos genéricos mais parecem "novas páginas amarelas", etc.

Mas a prescrição é, acima de tudo, uma decisão do domínio técnico-científico, e em situações críticas, lidamos com farmacos que temos confiança e experiência...
Vai ser difícil ultrapassar algumas barreiras psicológicas enquanto a farmacovigilancia não mostrar que existe. Aparentemente, nunca houve um só problema com genéricos.
Tenho de acreditar?

Agora, seria importante saber qual o seu real impacto económico no consumo de medicamentos em PORTUGAL?

Os ganhos nos custos refletem-se no preço final (nos utentes) - ou perdem-se pelo caminho?

Porque RACIONAL (e a sua utilização) podes ser coisas diferentes:
...Racional em gestão será baixar custos, diminuir a despesa....

...Racionais, em Matemática, são números que podem ser representados por uma razão (ou fracção), entre dois números inteiros...

7:38 da tarde  
Blogger Unknown said...

Acerca de medicamentos de marca e do seu controlo de qualidade, assim como da sua eficácia...porque não relembrar Scott Reuben?

http://sciencenotes.wordpress.com/2009/03/14/scott-reuben-falsified-painkiller-studies/

12:18 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Caro Magistral Estratega:

As Ciências da Saúde, como quaisquer outras Ciências, necessitam de honestidade, humildade e transparência.

Uma andorinha não faz a Primavera.

A inovação terapêutica tem prosseguido a sua marcha e os mecanismos de farmacovigilância são cada vez mais sensíveis, apertados...

Não é por esse lado que o barco mete água...

Mas, a verificação da evidência científica dos fármacos e os estudos cde custos/benefícios, deverão ser revistos, alterados...

Em minha opinião, longe da influência da Indústria, da burocracia estatal e sob uma supervisão alargada e consensual: organismos científicos, associações profissionais, ONG's, etc...

8:31 da manhã  

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