segunda-feira, junho 8

Eleições Europeias

resultado provisório (2009)

Hoje, o PS caiu estrondosamente. link link

Portugal foi, uma vez mais, campeão da abstenção, registando uma taxa de participação (cerca de 36,5 por cento) inferior à média da EU27 (43,4 por cento) .
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3 Comments:

Blogger Tavisto said...

Votei. Mas confesso que nunca me senti tão pouco motivado a fazê-lo.

12:32 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Por que colapsou o centro-esquerda

Quem olha para o mapa da Europa que saiu das eleições de domingo passado dificilmente imaginaria que ainda há dez anos, dos quinze países que a UE então tinha, quatorze eram governados por partidos socialistas e afins. Esses partidos de centro-esquerda foram os principais castigados das eleições. Ninguém de esquerda pode ir para o Parlamento Europeu de ânimo leve: o que nos espera é uma oposição dura, duríssima, numa União Europeia cada vez mais conservadora e perante uma crise que vai ser longa e pesada.
A questão é: porquê? E a resposta começa precisamente nesses anos em que os governos socialistas dominavam. As esperanças de muita gente - eu incluído - era a de que então se desse uma refundação do modelo social europeu e de que a União se democratizasse e simplificasse. E em que andavam eles ocupados nessa altura? Com o pacto a que eles mesmos chamaram "estúpido" na sua obsessão dos três por cento de défice, com um Banco Central Europeu indiferente ao desemprego, e com uma crescente burocratização e mesquinhez nas discussões europeias. O Partido Trabalhista inglês foi o precursor da "terceira via", o Partido Socialista português lá seguiu a moda.
Por muita voz grossa que agora façam eles, andavam embevecidos com as mitologias do mercado e remetiam as ideias de esquerda para umas franjas mais ou menos inócuas. Essa atitude está na raiz da crise actual. Criação de um sistema bancário sombra? Foi nos últimos anos de Clinton. Produtos tóxicos fora dos livros de contas? A União Europeia, maioritariamente socialista, estava a dormir no ponto.

Não é por as eleições europeias já terem passado que estes temas desaparecem. Ainda por cima, esta descrição abreviada aplica-se a Portugal e explica o factor relevante destas eleições para nós portugueses: a transformação do nosso panorama político acelerou--se. Onde antes tínhamos meros sinais (metodicamente anotados nesta coluna) temos agora uma dinâmica evidente e talvez inevitável que vai acabar com a bipolarização e confrontar o país com o seu pluralismo.
Aquilo que Mário Soares, Manuel Alegre e outros socialistas têm pedido aos seus líderes é uma verdadeira oposição às ideias que estão por detrás da crise. Mas em vão: isso é o que líderes como José Sócrates e Gordon Brown não estão dispostos a dar--lhes. Isso implicaria romper com o centro-direita (e eles querem apoiar Durão), reconhecer a subalternidade ideológica em que têm vivido, e implicaria confessar: "esquecemo-nos das razões por que éramos de esquerda". Da vitória de Obama nos EUA, só aprenderam o folclore; escapou--lhes a ruptura com um Partido Democrático acomodado, centrista, e sem debate - tão parecido com os partidos deles agora. Ao invés, os actuais líderes socialistas cada vez mais se refugiam na agressividade e na mania da perseguição. E assim não impedem, antes aceleram, a sangria da sua ala esquerda.
Sim, a votação no Bloco de Esquerda (e também, em parte, no PCP) é uma ilustração deste processo. Mas, registados os votos, os contadores voltam agora a zeros, que os eleitores não pertencem a ninguém. Se a esquerda, toda ela, for tão combativa quanto antidogmática, pluralista e aberta, tem agora as pessoas - mesmo as que não são de esquerda - disponíveis para ouvir as suas ideias. Enquanto o CDS discute com as sondagens de ontem e o PSD arranja tácticas dilatórias para que não se veja como estão implicados na crise, este tempo de debate é precioso. Historiador. Deputado eleito pelo Bloco de Esquerda ao Parlamento Europeu

Rui Tavares, JP 10.06.09

4:37 da tarde  
Blogger tambemquero said...

O espectro

Os 26% que o PS conquistou nestas eleições colocam o partido próximo dos seus mínimos históricos de 1985 e 1987 e representam, em votos expressos – menos de um milhão –, o resultado mais baixo do PS de sempre.

Contudo, ao contrário do que costuma ser regra, o decréscimo de um dos partidos de poder (no caso o PS), não ocorreu à custa do seu mais próximo competidor (no caso o PSD). O PS tem uma votação muito baixa, mas o PSD, ganhando, cresce pouco por relação às últimas eleições nacionais (teve 31%, quando com Santana tinha tido 28%). Isto enquanto o BE e o PCP somados ultrapassam largamente a melhor votação que o PCP alguma vez teve (18% em 1979 e 1983). A menos que algo de extraordinário ocorra até Setembro, nenhum partido terá uma maioria absoluta para governar.

Estamos perante um cenário de pulverização partidária, em que se consolidaram três blocos políticos. No entanto, não apenas nenhum destes blocos tem condições para governar sozinho (PSD e CDS, mesmo que coligados, estão ainda distantes da maioria absoluta), como, simultaneamente, as condições para que venham a coligar-se estão longe de estar reunidas (a título de exemplo, ainda este fim de semana, o BE reclamava a saída de Portugal da NATO, o que serve para recordar a profundidade das rupturas que o BE tem de fazer para se aproximar do espaço da governabilidade). Além do mais, se os resultados de ontem se repetissem em legislativas, a única coligação de dois partidos suficiente para formar uma maioria seria entre PS e PSD.

Não sabemos se com as europeias o que esteve em causa foi essencialmente a mobilização de voto de protesto face a um Governo que construiu a sua imagem com um discurso de confronto às corporações e que se revelou impotente para contrariar a crise económica e o crescimento do desemprego - e que com isso desbaratou o seu capital junto da esquerda sociológica - ou se, pelo contrário, estamos perante um novo ciclo político, em que o centro-direita inverte a tendência eleitoral recente. Mas uma coisa sabemos, a pulverização partidária, a somar à crise económica e social, e, em particular, o facto de PS e PSD terem resultados conjugados particularmente baixos - só superiores à percentagem alcançada em 1985, com o PRD - é um passo para a reconfiguração do espectro partidário português. Não vejo como essa reconfiguração possa ocorrer sem pôr em causa a governabilidade do país e sem contribuir para o aprofundamento da crise que vivemos.

No fim, fica uma dúvida: os eleitores expressaram o seu protesto mas, quando estiver em causa a governação do país, voltaremos à bipartidarização ou, pelo contrário, os três blocos, que vivem de costas voltadas, vieram para ficar?

Pedro Adão e Silva, DE 09.06.09

10:07 da tarde  

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