domingo, junho 28

Entrevista


Henrique de Barros, coordenador nacional da luta contra o VIH/SIDA link

.../ GHO que o assusta em Portugal neste domínio? Que sectores ou que faixas sociais?
HB – A história das campanhas coloca-nos o problema de saber se os jovens são, ou não, um alvo preferencial. E aqui está o primeiro equívoco, na minha opinião. Os jovens não são um alvo das preocupações do plano nacional de Sida em Portugal; os jovens são um problema para a educação sexual, para a educação cívica e para a promoção da saúde. Temos que colocar o esforço onde o problema realmente existe. A infecção, em Portugal, está centrada essencialmente nas pessoas que usam drogas; nas pessoas que tem sexo comercial; nas pessoas que estão nas prisões; nos homens que têm sexo com homens e, ainda, nas pessoas que vêm de países em que a epidemia é complicada. Estes são os alvos fundamentais.

GHQual desses grupos se acentua mais?
HB – O risco é maior no grupo de pessoas que usam drogas injectáveis. Isto está relacionado com os programas de trocas de seringas e de prevenção de material contaminado que estão hoje longe de atingir o valor desejável. Isto é, cada seringa usada devia corresponder a uma nova seringa o que não acontece. Pode ser que o grande problema não passe por este problema, mas sim pela primeira injecção que, muitas vezes, é partilhada com alguém que é preciso controlar E é essa primeira vez que, em muitos casos, é fatal. E aí entra a questão do reconhecimento dos sintomas, mesmo do ponto de vista médico e clínico. Temos de estar muito atentos, principalmente pessoas que lidam e trabalham nestas áreas. É que um doente que se infecte desta forma, vai sofrer uma infecção passadas duas a três semanas, vai sentir-se doente e vai, seguramente, procurar alguém sobre a gravidade dos sintomas. O que temos que explicar às pessoas é que determinados sintomas, aparentemente banais, no contexto de comportamento de risco podem necessitar de outro género de intervenção e de ajuda. A todos aqueles que estão ligados aos cuidados de saúde, é bom lembrar também que os sintomas banais devem sempre ser inquiridos no contexto numa possível exposição de risco. Se agirmos assim as coisas melhoram.

marina caldas, GH n.º 43

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