segunda-feira, agosto 24

Paira a incerteza


Os dados aqui apresentados sobre recuperação da lista de espera cirúrgica entre 2005 e 2009, link são prova inequívoca da melhoria no acesso dos cidadãos aos cuidados de saúde hospitalar. Porém, para se saber se os números traduzem uma maior eficiência do SNS é fundamental conhecer-se os contributos da produção normal e da adicional (SIGIC) para a referida redução e qual o peso dos privados na produção adicional. link

Não sendo possível uma análise detalhada dos dados, o aumento no número de consultas cirúrgicas (18% entre 2004 e 2008) e de cirurgias (28,8% entre 2006 e 2008) constituem indicadores suficientes de melhoria da actividade dos hospitais do SNS.
Porém, sendo longo o caminho percorrido, é ainda imenso o que falta andar para nos aproximarmos dos resultados dos melhores sistemas de saúde da EU. Aqui, há que dizê-lo, as atitudes adoptadas pelo actual governo para o conseguir são altamente contraditórias. Se não vejamos, o recuo no tempo de trabalho médico das 40 para as 35 horas semanais só pode deixar preocupado quem conhece a realidade hospitalar. Como irá ser possível manter, já não digo aumentar, a produção se a maioria dos médicos em contrato individual de trabalho vier a optar pelas 35 horas? Em tempo de vacas magras terá este governo, ou outro qualquer, argumentos financeiros suficientes para “prender” os profissionais ao SNS? Ao arrepio do que disse anteriormente Ana Jorge, o de pretender reforçar a dedicação dos profissionais ao SNS, ao reduzir-se o tempo de trabalho normal a mensagem que se faz passar é precisamente a oposta.

Temos pois que no final de mandato do actual governo o espírito que paira sobre o SNS hospitalar não é o de avanço e consolidação, mas o da incerteza. Os privados continuam a espreitar a qualquer esquina e quem deveria posicionar-se em defesa de medidas de reforço do Serviço Público, cede à menor dificuldade dando sinais que só podem acalentar as pretensões dos seus detractores.

távisto

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2 Comments:

Blogger tambemquero said...

Os seis doentes que ficaram cegos no Hospital de Santa Maria não foram injectados com Avastin, nem com qualquer outro tipo de medicamento com cor, consistência ou forma de administração semelhante, também usado em oftalmologia.

Os peritos seguiram outra hipótese: o uso de substâncias citostáticas (contra o cancro) não utilizados em oftalmologia. Estes medicamentos são muito complexos — porque têm uma estrutura molecular pesada — e o Infarmed e o Instituto Nacional de Medicina Legal (INML) não têm capacidade para fazer este tipo de análises. Foi pedida a colaboração de um laboratório inglês, que terá recusado fazer os testes, dada a dimensão residual da amostra. Resta uma alternativa: encontrar um laboratório capaz de fazer as análises.

Estas conclusões vão ser enviadas ao Ministério Público e o sucesso da investigação, a cargo da brigada de homicídios da PJ, depende agora do INML. “A partir da próxima semana, vamos começar os testes para pesquisar substâncias tóxicas e outras que não sejam medicamentos. Os resultados podem demorar várias semanas, pois as amostras que temos — de humor vítreo (líquido do globo ocular) e de sangue — são em quantidades reduzidas e temos de as usar com muita parcimónia”, explica Jorge Costa Santos, responsável pela delegação de Lisboa do instituto.

A investigação policial não terminou e está dependente dos resultados dos exames pedidos ao INML para avançar com mais interrogatórios e identificar eventuais responsáveis. Depois de ouvidos todos os intervenientes no processo, está afastada, pelo menos para já, a tese de sabotagem. A hipótese mais provável é a de um erro humano ou de negligência na manipulação do produto, facilitada por algumas falhas detectadas no funcionamento da farmácia do hospital. “É preciso saber se os procedimentos previstos foram seguidos ou se havia lacunas nos próprios procedimentos”, diz uma fonte próxima do processo.

A PJ quer concluir a investigação e identificar os responsáveis ainda durante o mês de Setembro. O crime de que os eventuais responsáveis estarão indiciados é o de ofensas à integridade física por negligência. As vítimas têm de apresentar queixa e o crime é punível com dois anos de prisão ou multa. Nenhum dos doentes foi ouvido pelos investigadores e ainda não há qualquer arguido no processo.

Hospital paga indemnização A Administração de Santa Maria vai propor o pagamento de uma indemnização aos seis doentes. Será criada uma comissão independente, liderada por um juiz, que vai decidir qual a quantia a pagar a cada pessoa. O objectivo é evitar um processo em tribunal: “O hospital já deliberou internamente e deu conhecimento ao Ministério da Saúde de que irá criar uma comissão para obviar a eventual necessidade de um processo de indemnização e evitar que se arraste para uma situação burocrática que prejudique a resolução célere e justa deste processo”, justifica Adalberto Campos Fernandes, médico e administrador do hospital.

Um mês depois dos factos, ainda não se sabe exactamente o que aconteceu, mas o hospital assume que alguma coisa correu mal. As falhas, ou as “não conformidades” detectadas numa inspecção feita pelo Infarmed entre 22 e 28 de Julho estão a ser corrigidas. “Melhorar os registos informáticos, maior controlo no acesso e circulação, mais videovigilância.

Directora da farmácia pediu demissão e continua em funções. Funcionamento do serviço foi alterado

Comissão independente vai negociar valor a pagar aos doentes

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MP vai receber amostra biológica recusada por laboratório inglês

A directora da farmácia do hospital, Piedade Ferreira, pôs o lugar à disposição, mas continua em funções. “O conselho de administração aceitou a demissão, mas decidiu mantê-la em funções até que as possíveis acções disciplinares, agora sob a alçada da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde, sejam determinadas. Não podemos culpar os profissionais porque a culpa precisa de ser provada”.


semanário expresso 22.08.09

1:05 da manhã  
Blogger saudepe said...

A ministra da saúde, Ana Jorge, que se propunha reforçar o Serviço Público, viu-se a braços com a dificil negociação das carreiras médicas em vésperas de eleições legislativas.
Tratou-se, afinal, como aqui já foi referido, mais propriamente de uma capitulação ao poder dos sindicatos médicos.
O resultado está à vista.
O balanço deste mandato no que se refere ao "reforço do serviço público" não se fica por aqui.
O congelamento do programa de reforma, o afrouxamento das medidas de controlo da despesa, a falta de coragem na implementação de medidas essenciais para a melhoria da eficiência como o sistema de avaliação dos CAs dos HHs e de remuneração por objectivos, deixam o SNS cada vez mais à mercê dos interesses do ditos "investidores" do sector privado.

9:21 da manhã  

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