O Estado Social
Estou de acordo com cada uma das afirmações do Hermes "Privatização de Hospitais é ineficaz" link. O Estado Social é, sem qualquer dúvida, uma marca civilizacional (muito mais que um “modelo”) da EU, e outros países (vg os USA) tentam atingi-la. Por isso nos deve espantar a posição de Daniel Bessa (DB) que enuncia como hipóteses a privatização da educação e da saúde para a imprescindível diminuição da despesa pública, ainda que afirmando que devem continuar a ser apoiados os de menores recursos. Na leitura que faço, DB expressou-se mal, com deficit de clareza, e por isso merece as reacções que está a receber. Não basta termos razão, é preciso que os outros a reconheçam, sem o que a razão que tivermos não lhes servirá para nada. Ora, o que se conhece de DB leva-me a concluir que a sua tese não seria a privatização das áreas referidas, mas sim a de convocar para primeiro plano da actualidade a problemática da sustentabilidade financeira do SNS e do modelo de financiamento da Educação, no que se opõe, frontalmente, aos que afirmaram dispensar a leitura do relatório sobre a sustentabilidade do SNS.
É evidente que o estado social não é atingido, ou concretizado, na mesma dimensão em todos os países e muito menos é prosseguido através do mesmo modelo. Pelo contrário, e confinando-nos à área de saúde, cada país faz as suas opções quer no que respeita à extensão ou abrangência quer à forma de organizar, atribuir e veicular os recursos indispensáveis à efectivação do estado social. Entre nós, também é desnecessário demonstrar que estamos ainda longe da concretização plena do direito à saúde e, na área da educação o atraso é igualmente inquestionável. Infelizmente – e é daí que parte DB – a sustentabilidade não é problema do SNS e da Educação, mas antes um problema global, de todo o OE e não só. Do que se trata é da perigosa aproximação da inviabilidade de persistir num modelo que tem consistido em continuar a atirar para a dívida o que não há capacidade para pagar. Afinal, ao contrário do que por vezes se diz, esta não é um saco sem fundo; venha de onde vier, tem pesadas consequências, para nós e para os que virão a seguir.
Por tudo isto, não me espanta a afirmação de DB: “Se calhar, o Governo terá de congelar os salários, cortar nas despesas, criar novas taxas…”; mas é aqui que as declarações da “Médica Sáuria, formada em Cuba, a trabalhar num Hospital Público Português” ganham o máximo da pertinência: “Jamais me passaria pela cabeça comprar algo desnecessário”. …” Sobre o SNS acha que “o mais negativo é a falta de organização. Com organização este seria um dos melhores sistemas de saúde do Mundo”.” Na pele de contribuinte, que todos temos, penso que são sempre indispensáveis prioridades e que criar novas taxas deve ser a última. Muito antes deve ser ouvido o Recipe da médica Sáuria (ou Sauri?).
Nessa mesma pele de contribuinte, estou de acordo com o Tavisto quando este afirma a necessidade de “medidas corajosas e concertadas entre ministérios”. … entre outras, que também aplaudo, “aliar a remuneração à produtividade impedindo aumentos salariais cegos que só irão agravar iniquidades”.
Mais ainda: se os riscos que corremos e as consequências são as que nos anunciam, aceitaria que só fossem tomadas medidas neutras ou favoráveis, no curto ou médio prazo, no crivo da sustentabilidade. Não que me não penalize ficar como estamos, mas porque não quero perder o que já temos. É pena, mas as coisas não acontecem só porque gostamos delas.
Finalmente as medidas, por mais justas que sejam, devem ser consideradas não só pelo seu conteúdo, mas também pelo que arrastam e pelos sinais que transmitem, cuja importância não pode deixar de ser ponderada.
O que não falta são sinais que vão contra o que, pela razão e pela exigência de consistência, se esperaria. Um deles a extinção das chamadas taxas de punição, em disputa entre o Governo e a A.R.. Mas não quero exemplificar, apenas resumir, dizendo que muitos dos sinais vão no sentido de criar a sensação de esgotamento: das medidas anunciadas, da credibilidade e capacidade dos agentes por elas responsáveis ou que as deveriam implementar e dos destinatários finais que perderam capacidade de reivindicar e exigir. Temos, afinal o que merecemos e o que dizemos querer.
É evidente que o estado social não é atingido, ou concretizado, na mesma dimensão em todos os países e muito menos é prosseguido através do mesmo modelo. Pelo contrário, e confinando-nos à área de saúde, cada país faz as suas opções quer no que respeita à extensão ou abrangência quer à forma de organizar, atribuir e veicular os recursos indispensáveis à efectivação do estado social. Entre nós, também é desnecessário demonstrar que estamos ainda longe da concretização plena do direito à saúde e, na área da educação o atraso é igualmente inquestionável. Infelizmente – e é daí que parte DB – a sustentabilidade não é problema do SNS e da Educação, mas antes um problema global, de todo o OE e não só. Do que se trata é da perigosa aproximação da inviabilidade de persistir num modelo que tem consistido em continuar a atirar para a dívida o que não há capacidade para pagar. Afinal, ao contrário do que por vezes se diz, esta não é um saco sem fundo; venha de onde vier, tem pesadas consequências, para nós e para os que virão a seguir.
Por tudo isto, não me espanta a afirmação de DB: “Se calhar, o Governo terá de congelar os salários, cortar nas despesas, criar novas taxas…”; mas é aqui que as declarações da “Médica Sáuria, formada em Cuba, a trabalhar num Hospital Público Português” ganham o máximo da pertinência: “Jamais me passaria pela cabeça comprar algo desnecessário”. …” Sobre o SNS acha que “o mais negativo é a falta de organização. Com organização este seria um dos melhores sistemas de saúde do Mundo”.” Na pele de contribuinte, que todos temos, penso que são sempre indispensáveis prioridades e que criar novas taxas deve ser a última. Muito antes deve ser ouvido o Recipe da médica Sáuria (ou Sauri?).
Nessa mesma pele de contribuinte, estou de acordo com o Tavisto quando este afirma a necessidade de “medidas corajosas e concertadas entre ministérios”. … entre outras, que também aplaudo, “aliar a remuneração à produtividade impedindo aumentos salariais cegos que só irão agravar iniquidades”.
Mais ainda: se os riscos que corremos e as consequências são as que nos anunciam, aceitaria que só fossem tomadas medidas neutras ou favoráveis, no curto ou médio prazo, no crivo da sustentabilidade. Não que me não penalize ficar como estamos, mas porque não quero perder o que já temos. É pena, mas as coisas não acontecem só porque gostamos delas.
Finalmente as medidas, por mais justas que sejam, devem ser consideradas não só pelo seu conteúdo, mas também pelo que arrastam e pelos sinais que transmitem, cuja importância não pode deixar de ser ponderada.
O que não falta são sinais que vão contra o que, pela razão e pela exigência de consistência, se esperaria. Um deles a extinção das chamadas taxas de punição, em disputa entre o Governo e a A.R.. Mas não quero exemplificar, apenas resumir, dizendo que muitos dos sinais vão no sentido de criar a sensação de esgotamento: das medidas anunciadas, da credibilidade e capacidade dos agentes por elas responsáveis ou que as deveriam implementar e dos destinatários finais que perderam capacidade de reivindicar e exigir. Temos, afinal o que merecemos e o que dizemos querer.
Aidenos
Etiquetas: Aidenós
10 Comments:
Amanhã, finalmente, será lançada a primeira pedra do hospital de Loures (PPP). Tanto tempo à espera de uma unidade cuja necessidade e prioridade foi reconhecida ainda ao tempo de LFP. E ao contrário do que "pretendia" CC, de má memória, parece que se mantém a valência materno-infantil.
A factura dos professores
Nas últimas semanas, o país regressou a uma tradição com lastro histórico: os apelos aos consensos responsáveis em torno das contas públicas. Mas, uma coisa são os apelos, outra, é o modo como estes se confrontam com a realidade. É difícil encontrar um exemplo mais acabado desta dissonância do que a discussão sobre as carreiras dos professores.
Deixo assumidamente de lado a dimensão pedagógica da avaliação para sublinhar dois aspectos: os professores gozam de uma carreira excepcional no contexto da função pública e a sua massa salarial corresponde a cerca de 3% do PIB e consome80%do orçamento da política educativa.
Perante este contexto, em 2005, o que existia era um modelo de avaliação com escassas consequências do ponto de vista da carreira e progressões automáticas (que faziam com que todos os professores ascendessem, por antiguidade, ao topo da carreira). Ou seja, se nada fosse feito, a despesa com salários continuaria a crescer a um ritmo acelerado e o orçamento para a educação seria todo consumido comos professores.
Depois, o Governo abriu uma frente de hostilidade com os professores, que acabou por redundar num braço-de-ferro que consumiu politicamente a anterior ministra. Esta semana, foi alcançado finalmente um acordo. E é aqui que regressam os custos financeiros da avaliação dos professores.
Este acordo coloca-nos numa situação melhor do que a de 2005: passa a existir uma avaliação com consequências, que diferencia, sendo que o Ministério não prescindiu das quotas e de vagas fechadas em dois escalões. Contudo, coloca-nos também numa situação pior do que a que decorria do “modelo”Maria de Lurdes Rodrigues: as condições de progressão são bem mais favoráveis e há uma autêntica bomba orçamental ao retardador, tendo em conta que os professores que não progridem acumulam bonificações que, em última análise, acabam por lhes garantir a ascensão na carreira. Claro que devemos agora esperar que as escolas, uma vez acordado um modelo, passem a diferenciar as notas, em lugar da pornográfica generalização de bons, muito bons e excelentes actualmente existente.
No fim, fica uma certeza: da mesma forma que o país tem na factura energética uma das principais causas do endividamento externo, tem na factura dos professores uma das causas do crescimento da despesa orçamental. A este propósito, muitos têm optado por demonizar o papel dos sindicatos. Parece-me que é errado fazê-lo. Os sindicatos fizeram o seu trabalho. O que não se esperava era que os partidos, bem como o Presidente da República, sempre tão preocupados comos desequilíbrios orçamentais, tivessem dado cobertura política às reivindicações dos professores. No fundo, tudo isto serve para tornar claro como o discurso sobre a contenção da despesa não resiste ao teste da realidade.
Pedro Adão e Silva, DE 12.01.10
Daqui a alguns anos, quando for possivel analisar com mais isenção este período negro da nossa história, o presidente da república, Aníbal Cavaco Silva, vai ficar muito mal na fotografia. Pior do que é possível hoje vislumbrar.
A Espírito Santo Saúde (ESS) acredita que o hospital de Loures será uma oportunidade para os privados mostrarem que são melhores gestores do que o sector público e, até, levar o Governo a reavaliar o modelo das Parcerias Público-Privadas (PPP).
“Esta unidade é muito importante, porque poderá ajudar a demonstrar que os privados são capazes de trazer mais-valias na reforma do Sistema Nacional de Saúde (SNS)”, disse ao PÚBLICO Isabel Vaz, presidente da Espírito Santo Saúde, que tem o edifício a seu cargo durante 30 anos e a gestão clínica durante dez.
A responsável acredita que, se a experiência com as quatro PPP que envolvem a gestão clínica – Loures, Braga, Cascais e Vila Franca de Xira – correrem bem, “o poder político poderá inverter a decisão tomada” há dois anos de excluir a gestão clínica do modelo de concessão das PPP, mantendo-a reservada aos profissionais do SNS. Uma hipótese que o Governo disse não estar em cima da mesa para já.
“Neste momento, não está em cima da mesa, por parte do Governo, qualquer alteração à decisão tomada”, disse à Lusa o secretário de Estado da Saúde, Óscar Gaspar.
JP 12.01.10
A basófia da engenheira Isabel Vaz não tem limites.
Depois de ter ganho este concurso com uma proposta de 151 milhões abaixo do valor referência a engenheira IV declarou despudoradamente ao DE que se sente confortável.
Isto só é possível porque a engenheira sabe que o Estado no que respeita à supervisão e fiscalização dos contratos não vê um palmo à frente do nariz. E em muitos casos parece não querer ver.
Somos em definitivo um país de chicos espertos. Só é pena que os chicos espertos não se coíbam de brincar com a Saúde.
Temos Artista
Está-se mesmo a ver que o Oscarzinho está mortinho por pôr a proposta em cima da mesa (regresso da gestão privada às PPPs).
O Tonitosa continua em forma:
"Benenoso" como sempre.
O Aidenós, desta vez, decidiu fazer de advogado do professor Bessa.
Caro aidenós: Nós lemos, entendemos e não devemos ignorar.
Gabo-lhe o esforço. Mas não havia necessidade.
Está de parabéns o aidenós por mais este excelente post.
Não basta querer dar mais acesso, abrir novos serviços e melhorar os cuidados de saúde. Que é o que os sucessivos governos têm feito e que todos queremos que continue a ser feito até com mais qualidade, equidade e eficácia, o que é possível sem gastar mais.
É necessário fazê-lo sem comprometer o futuro, isto é, sem exigir o incomportável para os contribuintes ou o que impeça o Estado (endividamento e despesas pública excessivos) de contribuir para melhor competitividade, mais e melhores empregos para os nossos descendentes.
Duas vias podem ser conjugadas: ajusta a rede e exigir eficiência aos serviços (lembram-se das “mil ideias” aqui dos bloggers do saudesa?); pedir contribuição nas despesas de saúde a quem pode e racionalizar o financiamento.
Por isso acompanho o prof. JS na sua afirmação «O grande desafio do sistema de saúde, em Portugal, é, pois, o de encontrar a combinação virtuosa entre continuar o ritmo de melhoria dos níveis de saúde registados nos últimos anos, com as reformas necessárias para garantir a manutenção de um serviço nacional de saúde financeiramente sustentável.»
José Sócrates no lançamento do Hospital de Loures PPP:
“Nunca se construíram tantos hospitais ao mesmo tempo. É aqui na construção de novos hospitais que está a ser gasto o dinheiro dos impostos. E se há prioridade que temos na requalificação dos equipamentos sociais no nosso país é nesta área, na construção dos novos hospitais que há muito tempo eram necessários. link
Para a ministra da Saúde, Ana Jorge, o futuro Hospital Beatriz Ângelo (o segundo em modelo de parceria público-privada com gestão clínica) será uma boa parceria no sector da saúde em Portugal que se insere na estratégia lançada ainda na anterior legislatura de "modernizar a rede hospitalar" do Serviço Nacional de Saúde.
"O recurso às parcerias público-privadas, como é o caso deste hospital em Loures, justifica-se com os objectivos de renovar de forma mais rápida e menos onerosa o parque hospitalar",
JP 12.01.10
Mais onerosa, complexa, pouco transparente só a PPP do Hospital da Amadora.
Desde então, os "investidores privados", solidários com o Estado (défice, dívida externa),decidiram prescindir dos lucros da sobrefacturação e outros expedientes, o que fez com que a senhora ministra se convertesse às virtudes da exploração privada.
Enfim...Onde vamos parar com tanta coerência.
Desde que vi um porco a andar de bicicleta já nada me surpreende.
Felicito o Aidenós pelo excelente post, e agradeceço a correcção do Sauria.Malhas que os correctores de texto tecem!
Quer dizer, a Médica Sauri até pode ser Sauria, caso tenha o bom gosto de ser do Sporting. E merece, porque em poucas palavras tocou em dois pontos importantes com que nos debatemos: o consumismo, que tem poucas décadas, e a falta de organização que é ancestral.
Quase metade das unidades para doentes com cancro podem fechar
link
Pronto. O cerco está montado. O Governo vai ser incapaz de mover uma palha nesta matéria.
Os partidos continuam com esta lógica míope de apenas querer prejudicar o Governo.
Assim, não se vai a lado nenhum.
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