segunda-feira, janeiro 11

Ainda o Bessa

Fiquei espantado com a falta de rigor e de noção do entrevistado Daniel Bessa. link
Fico com curiosidade para o que lhe vai chamar desta vez o Mário Soares...

A falta de rigor

Não diz exactamente o que defende para além de querer pôr todos a pagar a saúde e o ensino, que seriam só para quem pode. Ah, para os muito pobres o estado ajudava com qualquer coisinha, mas poucochinho, que o tempo não está para generosidades como o ensino público e saúde gratuita (tendencial).
Afinal se privatiza os hospitais alguém os compra, quem? Ah, os dois grupos de saúde (Mellos e BES) . Engrandeceriam o duopólio e não havia nenhuma concorrência nem poder negocial do Estado, que ficaria na mão daqueles, mas isso agora não interessa nada.
Trata-se de racionar os cuidados de saúde. Muito bem. Isso significa que muita gente chegará tarde, alguns demasiado, aos cuidados de que precisa, mas isso da universalidade, da solidariedade e equidade de acesso independente do rendimento não interessa. Acabemos simplesmente com a constituição, que o prevê.

A falta de noção

Qualquer gestor hospitalar médio sabe que quando se pretende eficiência macroeconómica, menor despesa no PIB para resultados em saúde semelhantes, são os SNS que vencem, quanto mais privado houver maior será a despesa em saúde. Por isso privatizar é exactamente o que não precisamos. Há muitos estudos e correlações a comprová-lo, desde a década de 80, peçam exemplos ao Jorge Simões ou ao Pita Barros, por exemplo.
Ora Portugal tem um SNS com uma das maiores percentagens privadas. Nos hospitais os serviços de apoio são por outsourcing, muitos dos exames e medicamentos são comprados a privados. Muitos serviços hospitalares são pagos a privados, por exemplo da CVP, das Misericórdias e das listas de espera. As PPP são privadas, toda a dentisteria, etc. Basta consultar um dos livros do Correia de Campos para quantificar o peso elevado que tem o sector privado.
Muitos dos serviços que o Estado paga são duplicados com a rede pública, por exemplo algumas ditas urgências no norte pagas a Misericórdias.
Alguns de nós ainda acreditamos que o privado traga, na saúde, maior escolha e produtos mais variados, menos tempo de acesso, melhores instalações, amenidades e atenção. Mas é para quem pode, que os preços são elevados!
Estes nossos economistas!... Então andaram o Krugman e outros a provar que o sistema americano não servia para virem, agora, propor o contrário para Portugal.

O que fica da entrevista então?

A precipitação com que se prescreve uma ideia para dois sectores garantes de cidadania e liberdade, por isso estão na Constituição, sem cuidar de ver se solucionam alguma coisa do problema.

A cambalhota do ex-ministro socialista que vem agora defender o contrário do que quando governou, precisamente aquilo que alguns à direita não se atrevem. O Passos Coelho e o Nogueira Leite, agradecem.

flickflack

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2 Comments:

Blogger DrFeelGood said...

Fora do Coro
Não acompanho a congratulação geral pelo acordo entre o Ministério da Educação e os sindicatos dos professores. Quando se cede em quase tudo, como sucedeu do lado governamental, é fácil concluir acordos. Quando se busca "a outrance" a concordância dos interessados, é sempre a parte pública que perde.
Com o acordo, quase todos os professores chegam ao topo da carreira com o decurso do tempo, mesmo os que nunca passem do mediano e corriqueiro "bom" na avaliação, o que não tem paralelo em nenhuma outra carreira no sector público (muito menos no privado evidentemente). É como se todos os militares tivessem garantida a chegada a general, ou todos os funcionários públicos a subida a assessor principal.
É evidente também o forte impacto deste regime sobre as finanças públicas e sobre o sistema de pensões, numa época em que a contenção da despesa pública vai estar na ordem do dia nos próximos anos.

Vital Moreira, Causa Nossa

Uma maioria absoluta desperdiçada.
Afinal o que ficou da refrma de CC e MLR?
Quase nada.

7:29 da tarde  
Blogger Rosebud said...

Uma questão de (des)confiança…

Não acompanho a congratulação geral pelo acordo entre o Ministério da Educação e os sindicatos dos professores. Quando se cede em quase tudo, como sucedeu do lado governamental, é fácil concluir acordos. Quando se busca "a outrance" a concordância dos interessados, é sempre a parte pública que perde.
Com o acordo, quase todos os professores chegam ao topo da carreira com o decurso do tempo, mesmo os que nunca passem do mediano e corriqueiro "bom" na avaliação, o que não tem paralelo em nenhuma outra carreira no sector público (muito menos no privado evidentemente). É como se todos os militares tivessem garantida a chegada a general, ou todos os funcionários públicos a subida a assessor principal.
É evidente também o forte impacto deste regime sobre as finanças públicas e sobre o sistema de pensões, numa época em que a contenção da despesa pública vai estar na ordem do dia nos próximos anos.
Vital Moreira, Causa Nossa

À medida que o tempo passa vamos perdendo a capacidade de nos surpreender com as incongruências de quem nos governa. Desgraçadamente, para este país tem sido assim há demasiado tempo. Os últimos anos têm sido fartos em exemplos cujas consequências estão à vista de todos. Não há estratégia que resista ao improviso, ao oportunismo político, à esperteza saloia de quem apenas visa conquistar e conservar o poder. São muitos os exemplos. Ao mesmo tempo que Vital Moreira percebe, finalmente, os preocupantes sinais o país vai definhando minado pela descrença e pela desconfiança. Como é possível persistir no engano e na ilusão?
Estamos perante uma liderança governativa que nunca consolidou nenhum modelo estratégico de desenvolvimento económico, social e humano limitando-se apenas a sucessivas rábulas coreográficas consoante as circunstâncias do momento. Foi assim nas obras públicas em que se passou do dogma da Ota para a inevitabilidade de Alcochete, da obstinação com os projectos faraónicos para a cedência minimalista das obras nas Escolas logo a seguir ao presidente Obama ter escolhido esse caminho.
Na Agricultura não foi muito diferente passando do desprezo arrogante pelo sector e pelos agricultores para a nova fase de demagogia baseada, apenas e só, no despesismo populista. Na Educação, tal como insinua Vital Moreira, a liderança política fez uma pirueta de espantosa dimensão. Sem nunca ter tido uma política que servisse, integralmente, a estratégia de desenvolvimento de um novo modelo de escola pública limitou-se, no período compreendido entre 2005 e 2009 a tentar impor uma política orçamental restritiva no sector da Educação fazendo gáudio de se alimentar do ódio e da desconsideração pelos professores. Tal ódio e desconsideração foram deliberados e tiveram como ilustração essencial a imposição teimosa da figura da Ministra MLR (agora entretanto compensada com a presidência da FLAD). Face ao desastre eleitoral e à perca clamorosa da maioria absoluta o mesmo líder político deu a “mesma” cara pelo contrário das “suas” políticas.
Na Saúde a mesma deambulação já tinha sido vista quando, por táctica pública momentânea, acabou da manhã para a tarde com o contrato do Hospital Amadora-Sintra e passou a zurzir “convenientemente” nas PPP’s e agora as vai celebrando, exactamente e sempre com a “mesma” cara.
Este líder político ouvirá pouca gente e, sobretudo, não ouvirá a voz da sua própria consciência. Se o fizesse já teria percebido que a relação de confiança com os cidadãos e com o país há muito que foi perdida…

10:02 da tarde  

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