Liberal ma non troppo
A propósito da recente eleição do novo líder do PSD, VM escreve hoje no JP: link
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A eleição de Passos Coelho, bem mais consistente do que os seus predecessores numa orientação ostensivamente mais liberal, em todas as áreas, pode levar o PSD a marcar uma identidade mais própria, quer em relação ao PS (sobretudo na área das políticas sociais), quer em relação ao CDS (sobretudo na área da liberdade individual). É de esperar, por um lado, uma orientação marcadamente mais apostada na retirada do Estado da esfera económica, na privatização dos serviços públicos subsistentes (água, transportes, etc.), na liberalização e privatização dos serviços sociais, na redução do peso da despesa social do Estado, na diminuição do investimento público, na diminuição da carga fiscal (sobretudo no IRS e nos impostos sobre as empresas). É de aguardar, por outro lado, uma atitude menos conservadora do PSD do que a tradicional na esfera da liberdade de costumes. O resultado desta operação será provavelmente um partido por um lado mais liberal e menos social, mais cosmopolita e menos conservador.
Resta saber da viabilidade desta nova orientação política do PSD como alavanca do regresso ao governo, do qual tem estado afastado há 15 anos, exceptuado o mal sucedido interregno de 2002-2005. As condições não são seguramente as melhores para fazer vingar um discurso retintamente liberal, pelo menos na área social. As dificuldades orçamentais do país podem justificar o apelo para uma redução da despesa pública, mas também não ajudam em nada uma proposta de diminuição da receita fiscal. O elevado endividamento público pode justificar a redução dos encargos sociais e do investimento público, mas as carências sociais e o défice de crescimento económico tornam politicamente pouco apelativo um ataque em forma às políticas sociais e às obras públicas. Qualquer dessas apostas poderia reverter em vantagem do PS, que permanecerá fiel ao Estado social e ao papel do Estado na regulação e dinamização da economia.
O desafio do novo presidente “laranja” consiste em saber se vai ser capaz de “vender” um discurso liberal sob condições socialmente e politicamente adversas, sendo a resposta certa para a “saudade de poder” do PSD, ou se não passará de mais uma solução efémera na vertiginosa sucessão de líderes em que o PSD se tem tornado especialista.
Vital Moreira, JP 30.03.10
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A eleição de Passos Coelho, bem mais consistente do que os seus predecessores numa orientação ostensivamente mais liberal, em todas as áreas, pode levar o PSD a marcar uma identidade mais própria, quer em relação ao PS (sobretudo na área das políticas sociais), quer em relação ao CDS (sobretudo na área da liberdade individual). É de esperar, por um lado, uma orientação marcadamente mais apostada na retirada do Estado da esfera económica, na privatização dos serviços públicos subsistentes (água, transportes, etc.), na liberalização e privatização dos serviços sociais, na redução do peso da despesa social do Estado, na diminuição do investimento público, na diminuição da carga fiscal (sobretudo no IRS e nos impostos sobre as empresas). É de aguardar, por outro lado, uma atitude menos conservadora do PSD do que a tradicional na esfera da liberdade de costumes. O resultado desta operação será provavelmente um partido por um lado mais liberal e menos social, mais cosmopolita e menos conservador.
Resta saber da viabilidade desta nova orientação política do PSD como alavanca do regresso ao governo, do qual tem estado afastado há 15 anos, exceptuado o mal sucedido interregno de 2002-2005. As condições não são seguramente as melhores para fazer vingar um discurso retintamente liberal, pelo menos na área social. As dificuldades orçamentais do país podem justificar o apelo para uma redução da despesa pública, mas também não ajudam em nada uma proposta de diminuição da receita fiscal. O elevado endividamento público pode justificar a redução dos encargos sociais e do investimento público, mas as carências sociais e o défice de crescimento económico tornam politicamente pouco apelativo um ataque em forma às políticas sociais e às obras públicas. Qualquer dessas apostas poderia reverter em vantagem do PS, que permanecerá fiel ao Estado social e ao papel do Estado na regulação e dinamização da economia.
O desafio do novo presidente “laranja” consiste em saber se vai ser capaz de “vender” um discurso liberal sob condições socialmente e politicamente adversas, sendo a resposta certa para a “saudade de poder” do PSD, ou se não passará de mais uma solução efémera na vertiginosa sucessão de líderes em que o PSD se tem tornado especialista.
Vital Moreira, JP 30.03.10
Etiquetas: Passos Coelho, Politica
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