terça-feira, março 23

Cobaias ADSE

foto revista ESS
I: Haverá no futuro mercado para a diferenciação dos privados, uns para a classe A, outros para a ADSE... link
Isabel Vaz: Não acredito nisso. Há pessoas na Luz que acham que pelo facto de pagarem têm mais direitos do que as outras que têm subsistemas. A saúde é muito democrática. Os médicos para serem bons têm de ver muito doentes e só com muitos doentes é que os ricos têm acesso aos melhores tratamentos. É graças aos ADSE que os médicos têm o privilégio de ser cada vez melhores médicos.

I: Já aconteceu um doente de uma seguradora ter acesso a um tratamento inovador e um da ADSE não?
Isabel Vaz: A ADSE tem feito um esforço enorme para acomodar a inovação. Mas a tabela de preços é a mesma há muitos anos, precisa de ser reequacionada, há muitas coisas que hoje não se conseguem enquadrar. Na Luz, um doente da ADSE tem exactamente acesso aos mesmos tratamentos, em condições diferentes, com vantagens e desvantagens.

I: Quais?
Isabel Vaz: O facto de a ADSE não ter plafond é desde logo uma enorme vantagem.

entrevista de Rute Araújo, I, 16.03.10

Toda a entrevista de Isabel Vaz é muito curiosa. A par de algumas “dolorosas verdades” tem imensas imprecisões e mesmo mistificações, como a de chamar “sistema soviético” a qualquer sistema de saúde assente num único pagador. Enfim! Adiante …

Particularmente interessante é este naco de prosa acerca da ADSE. Ao que parece os doentes do subsistema são interessantes para a ESS por duas ordens de razão:

1 – As despesas realizadas não estão sujeitas a plafond. Enorme vantagem, como diz, pois embora as tabelas sejam modestas não tem o inconveniente de ter de transferir os doentes a meio do tratamento para um qualquer hospital do SNS. Em linguagem popular diria, pagam mal mas são certinhos.

2 – São muitos, o que permite dar treino aos médicos. Porém, os ricos, os do dinheiro vivo, pelos vistos não os apreciam. Será por falta de status, porque cheiram a função pública ou por qualquer outra obscura razão?
Percebe-se, sim, que os ricos são uns ingratos, pois não percebem que a excelência dos serviços que lhe são prestados a devem às cobaias ADSE.

3 – Nesta lógica de raciocínio, diria haver ainda umas cobaias mais cobaias que os ADSE. São os doentes do regime geral. Os funcionários públicos, se não sabiam ficam a saber, que se não fossem os hospitais do SNS, os doutores que os tratam nos privados ainda fariam deles mais cobaias do que aquilo que agora ficaram a saber que são.

Isabel Vaz diz que nada lhe tira o sono. Pudera! Com esta estrutura mental não há insónia que se lhe pegue.
Tavisto

Etiquetas: , ,

6 Comments:

Blogger DrFeelGood said...

Os cuidados de saúde dos trabalhadores do Estado custaram quase mil milhões de euros à Direcção-Geral de Protecção Social aos Funcionários Públicos e Agentes da Administração Pública (ADSE) no ano passado. Mas em 2010, fruto das mudanças prevista no Orçamento do Estado (OE), as verbas disponíveis vão cair para metade.link

JP 23.03.10

Lá se vão as cobaias da engenheira.
E os ricos do Hospital da Luz vão passar a pagar mais.

1:38 da tarde  
Blogger Antunes said...

Quem tem uns anos de trabalho na Saúde e lê esta entrevista, eivada de declarações tontas, não pode deixar de concluir: Mas onde está a tão apregoada superioridade da gestão privada?

Como a celebre frase de John Kennedy utilizada na campanha eleitoral de 1960 contra Richard Nixon: Você Compraria um Carro Usado a este Homem?
Depois de ler esta entrevista, dificilmente poderei confiar os cuidados de saúde dos que me são próximos a uma organização gerida por esta senhora engenheira.

10:12 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Em Portugal há actualmente cerca de 140 processos interpostos por laboratórios farmacêuticos nos tribunais administrativos para travar a entrada de medicamentos genéricos no país, o dobro dos que existiam no final de 2008. O fenómeno é referido no relatório Medicamentos Genéricos: Contribuintes essenciais para a saúde da sociedade a longo prazo, elaborado pela consultora IMS Health e ontem divulgado pela Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos.
Não é a primeira vez que esta situação é denunciada. No fi nal de 2008, no relatório preliminar de uma investigação sobre o sector, a Comissão Europeia acusava as empresas de medicamentos originais (ou inovadores) de atrasar ou travar a entrada de genéricos no mercado, interpondo acções judiciais, entre outro tipo de estratégias.
E Portugal surgia então no documento como um “caso de estudo” devido ao elevado número de processos pendentes em tribunal (mais de 70, na altura). São providências cautelares e acções administrativas especiais que visam suspender a eficácia das autorizações de introdução no mercado (AIM) concedidas pela autoridade nacional do medicamento (Infarmed), com o argumento de que as patentes estão a ser violadas.
No relatório da IMS Health sublinha-se agora que os tribunais administrativos portugueses impediram recentemente a entrada no mercado de atorvastatina (para o colesterol), clopidogrel (prevenção de ataques cardíacos) e escitalopram (antidepressivo).
“Estas acções impedem que os pacientes em Portugal tenham acesso a medicamentos mais baratos e atrasam potenciais poupanças para os pagadores”, criticam os autores do documento. Os responsáveis da indústria farmacêutica contrapõem que os fabricantes de genéricos avançam com pedidos de AIM mesmo sabendo que as patentes ainda não expiraram.
Até à data, os genéricos permitiram uma poupança de 30 mil milhões de euros na União Europeia, refere a IMS Health.

JP 24.03.10

10:27 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Ministério da Saúde nega que passagem do IPO para a Bela Vista esteja suspensa
O Ministério da Saúde nega que a passagem do Instituto Português de Oncologia (IPO) para o Parque da Bela Vista esteja suspensa. Ao Diário Económico, fonte do ministério disse que “não foi dada nenhuma informação oficial sobre o assunto” à Câmara de Lisboa e que “tudo se mantém”. De acordo com o vereador do PCP Ruben de Carvalho, citado pela Lusa, “o presidente [António Costa] disse-me que aparentemente fruto desse curioso documento que é o PEC, o projecto está suspenso”.

DE 25.03.10

9:15 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Se a entrada de medicamentos genéricos não estivesse a ser bloqueada por vários laboratórios farmacêuticos no mercado nacional, o Estado e os doentes teriam poupado um valor que podia ter atingido cem milhões de euros em 2009.link

JP 25.03.10

4:33 da tarde  
Blogger Carlos Arroz said...

Tenho especial admiração pela Eng. Isabel Vaz.
Diz ao que vem de forma clara.
Está cá para ganhar dinheiro, o mais possível e para esmifrar o Estado o melhor possível.
O que me admira é que lhe permitam fazê-lo.
Mas isso, salvo por questões serôdias de patriotismo ou de ética empresarial, facilmente resolvidas com umas missas, umas penitências ou umas obras de beneficência, não deve ser matéria que incomode a senhora.

10:28 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home