quinta-feira, março 11

Um desastre anunciado

foto portal da saúde
É com a maior perplexidade que se lê a notícia de que o Ministério da Saúde está a aliciar os médicos reformados a regressar ao serviço.
Ora, durante muitos anos as reformas antecipadas só eram concedidas àqueles cuja substituição não era necessária. Caso contrário, não só se perderia a experiência acumulada pelos profissionais como quase se duplicaria a despesa: a reforma, mais o vencimento do substituto.
Actualmente, porém, a saída dos funcionários é uma decisão individual, sem qualquer relação com o interesse do serviço.
O facto de este Governo ter alterado sucessivamente as regras da aposentação e continuar a anunciar novas alterações com grave inversão de expectativas provocou uma insegurança tal que conduziu à saída de milhares de funcionários públicos, nomeadamente médicos.
Por isso se apregoa que o seu número diminuiu, mas em muitos casos mantêm-se ao serviço, apenas com estatuto diferente, não contando assim para as estatísticas.
Se a evolução destas é uma ficção, a consequência social e financeira é uma realidade.
Decisões políticas sem prever os efeitos são quase sempre um desastre.
É o caso.
MFL, semanário expresso, 06.03.10

Em editorial, no caderno de economia do Expresso, Manuela Ferreira Leite volta à carga sobre questões de Saúde. Sublinho, uma vez mais, que discordando profundamente da visão da ainda líder do PSD sobre Saúde, tenho de concordar quanto à inépcia dos governos de Sócrates para lidar com a reforma da Administração Pública.
No caso dos médicos as consequências destas medidas serão dramáticas ameaçando seriamente a qualidade do SNS, se não mesmo a sobrevivência do modelo público.
Só nos primeiros 2 meses deste ano requereram a aposentação tantos profissionais quanto a totalidade no ano anterior. Sabe-se que outros aguardam pela divulgação do PEC e do orçamento de estado para, caso as medidas gravosas anunciadas para a função pública vierem a confirmar-se, tomarem idêntica atitude. A maior percentagem de médicos em idade de aposentação é de Medicina Familiar, precisamente onde há maiores carências, podendo a sua saída pôr a perder os ganhos assistenciais conseguidos com a reforma em curso para os Cuidados Primários. No sector hospitalar será inevitável a perda de qualidade pela saída de profissionais experientes e quebras em especialidades carenciadas.

Para minimizar as consequências, Ana Jorge põe a possibilidade de poder vir a contratar profissionais reformados. Admitindo que estivessem na disposição de voltar, o que não parece credível, tanto mais porque nada os impede de continuar na profissão como trabalhadores independentes, tal medida teria um efeito “boomerang”. Não só porque, em si mesma, seria um estímulo às reformas antecipadas, como aumentaria as desigualdades salariais criando ainda um maior mal-estar entre profissionais.
Haveria pois que tomar medidas legislativas excepcionais para resolver a situação descrita. Como nada de substantivo foi feito e estando os dados já lançados, PEC e Orçamento de Estado ultimados, o desastre parece ser inevitável.

tavisto

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7 Comments:

Blogger Hospitaisepe said...

Ana Jorge olha com visivel estranheza o painel da viatura a estrear...
A falta de mãos da senhora ministra para conduzir os dificéis destinos do MS é um dado adquirido.
Depois da saga gripe, não passamos disto. Apontamento aqui, recado acoli a propósito de mais esta ou aquela inauguração.Enquanto os problemas se vão agravando face a este folclore.

Vou emigrar para a Grécia.
A Maria, capa da revista do expresso e a colecção de fotos de Ana Jorge no Portal da Saúde...
Arre que é demais.

11:28 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Plano Nacional Saúde: Suicídio, nascimentos prematuros e consumo de ansiolíticos aquém da meta traçada

Jorge Simões adiantou que houve metas do Plano que não foram conseguidas, mas frisou que é “necessário olhar com atenção e comparar os valores de 2008 com a média da União Europeia”.

“E o que é facto é que, nessa comparação, nós saímos com resultados francamente positivos”, disse, comentando que “talvez tenha havido demasiado optimismo quando foram fixadas algumas metas”. link

11:48 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

O Grupo HPP Saúde vai construir um novo hospital no Algarve para substituir o hospital Santa Maria de Faro. O projecto ainda está numa fase embrionária mas a construção deverá arrancar ainda em2010. “Já temos o terreno e calculo que a construção levará cerca de dois anos e meio”, avançou ontem o presidente do conselho de administração do grupo, António Maldonado Gonelha.
Com um investimento previsto na ordem dos 20 milhões de euros, a nova unidade de saúde do Algarve faz parte dos objectivos para 2010. A estratégia passa ainda pela ampliação do Hospital dos Lusíadas, em Lisboa, e pelo melhoramento da oferta do novo Hospital de Cascais, nomeadamente através de mais valências. “Os novos projectos estão em Lisboa e no Algarve e também no aproveitamento da capacidade de resposta do Hospital de Cascais”, frisou Maldonado Gonelha.

Nos últimos dois anos o grupo HPP lançou três hospitais: Lusíadas, Boavista, no Porto, e o novo Hospital de Cascais, o primeiro em regime de Parceria Público-Privada com gestão clínica a abrir portas. O investimento global destas três unidades alcançou os 65 milhões de euros em equipamento e tecnologia e 110 milhões na construção dos edifícios. Uma aposta que começa a dar os seus frutos, dizem os administradores da empresa, visível no aumento da produção consolidada: em 2009 o número de consultas cresceu 64% face ao ano anterior, as cirurgias aumentaram em 52% e as diárias de internamento tiveram um incremento de 169%.

O crescimento da produção não evitou, contudo, que as contas de 2009 fechassem no vermelho. O grupo apresentou prejuízos na ordem dos 32 milhões de euros, ainda que apenas 10,9 milhões possam ser atribuídos ao exercício operacional.
O restante valor resultou da operação financeira de alienação da participação de 25% que o grupo espanhol USP Hospitales detinha na empresa, justificou aos jornalistas José Araújo e Silva, presidente da Caixa Seguros e Saúde, a holding do
grupo Caixa Geral de Depósitos que detém os HPP. “Comprámos a quota do USP por 2,2 milhões de euros e agora a CGD detém 100% do grupo HPP”, concluiu Araújo e Silva, escusando-se a responder se a CGD procura novos parceiros para o ramo saúde.

Gestão privada com saldo positivo
A gestão do hospital de Cascais passou para as mãos dos privados em2009, comos serviços de saúde ainda a funcionar no antigo edifício. Neste primeiro ano de gestão dos HPP, o balanço é positivo, salientou José Miguel Boquinhas. “Apesar de todas as dificuldades com que nos deparámos, o Hospital de Cascais cresceu em todos os indicadores em relação à gestão do Estado. E o número de colaboradores também aumentou, o que prova a eficiência do modelo de gestão e afasta uma lógica economicista”, disse o administrador.

DE 10.03.10

12:58 da manhã  
Blogger Simplesmente Constança said...

...
Estamos a definir políticas de saúde de forma coerente e fundamentada, tendo presente os valores da justiça social, da universalidade, da equidade, da solidariedade e do acesso com qualidade.

A sua visão é maximizar os ganhos em saúde da população.

E o Serviço Nacional de Saúde assume-se, cada vez mais, como o elemento central de protecção social e redução de iniquidades, dando um contributo da maior importância para a coesão, justiça e bem-estar das pessoas e famílias.

E dentro do SNS, é a dedicação dos profissionais de saúde que garantem o cumprimento dos objectivos do Plano Nacional de Saúde.

Os cidadãos esperam que as entidades responsáveis dêem resposta às suas necessidades em saúde, combatam as desigualdades e orientem os recursos para acções efectivas e eficientes.

A minha convicção é a de que o Plano Nacional de Saúde 2011-2016 vai ajudar no esforço de se cumprir um dos importantes objectivos do Governo: Saúde: um valor para todos. link

Ministra da saúde,3.º Fórum Nacional de Saúde.

Os objectivos do Plano Nacional de Saúde 2011-2016 vão ser extremamente dificéis de cumprir dada a actual crise, as trapalhadas do governo, o avanço do sector privado da saúde, com repercussões negativas em relação ao acesso das populações aos cuidados de saúde.

10:43 da tarde  
Blogger Tavisto said...

Ana Jorge está a ficar entalada. Com as medidas penalizantes para a administração pública e sem capacidade financeira para fechar negociações salariais com técnicos, enfermeiros e médicos, vê em cada dia que passa o SNS a esvair-se.
Sem ideias, enleada nas políticas de um governo que foi perdendo o sentido social da política, vai-se arrastando entre a rotina de João Crisóstomo, inaugurações de projectos hospitalares que não aprecia e entrevistas em que discorre sobre ideais de Saúde que sabe não poder cumprir.
É caso para perguntar, que é feito da mulher que ousou afrontar Teixeira dos Santos sobre as suas opções em matéria de saúde para os beneficiários da ADSE?

11:51 da tarde  
Blogger Clara said...

Doentes urgentes esperam o dobro no "Santo António" link

No S. João, em Fevereiro, o doente "laranja" (muito urgente) foi atendido, em média, em 19 minutos e o "amarelo" em 57. No Santos Silva, em Gaia, o laranja levou 24 minutos e o amarelo 44 minutos. No Pedro Hispano, em Matosinhos, os "laranja" foram atendidos em 24 minutos e os "amarelos" em 82.

Enquanto os outros hospitais reduziram os tempos de espera na urgência, de 2009 para 2010, o Santo António aumentou. Em Janeiro e Fevereiro do ano passado, aquele hospital levou, em média, 49 minutos a atender os doentes laranja ( 51 este ano) e 64 minutos para os amarelos (81 este ano).

JN 11.03.10

11:00 da manhã  
Blogger Clara said...

Gestão privada com saldo positivo.

Apesar de todas as dificuldades com que nos deparámos, o Hospital de Cascais cresceu em todos os indicadores em relação à gestão do Estado.
...

primo milho...

Os indicadores de qualidade, terão também melhorado?
O que pensarão os utentes destas melhorias todas?!...

11:09 da manhã  

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