À beira do afundanço (3)
O relatório do FMI, divulgado na quarta-feira, expressava receio de que a crise grega alastrasse a outros países, como Portugal, e fez subir o clima de assédio dos mercados ao nosso país. A taxa de juro da dívida pública portuguesa subiu para 4,96%na quinta-feira para ontem descer ligeiramente para os 4,93%. Domique Strauss-Khan, ainda veio dizer que só a economia grega preocupava o FMI, mas o mal estava feito e nem um artigo da revista “The Economist” onde dizia que Portugal é, sem dúvida, diferente da Grécia chegou para acalmar os mercados. Corremos mesmo o risco de ser o próximo país alvo do apetite dos especuladores. Ontem, Mário Soares falou numa tentativa de “acabar com o euro”. Os ataques a países da Zona Euro podem nem ter esse objectivo último, mas podem acabar por ser o agente desagregador da União Europeia. Por isso, é necessário que os países que a compõem saibam estar unidos e ultrapassar esta provação, porque o pior que podia acontecer à Europa neste momento seria o fim da moeda única.
DE 24.04.10
DE 24.04.10
1.º - The importance of not being Greece link
2.º - “Os mercados têm sido racionais no contágio a outros países” link
3.º - Três perguntas a Silva Lopes link
4.º - FMI afasta comparação de Portugal e Espanha com a Grécia link
5.º - Greece, Out of Ideas, Requests Global Aid link
6.º - Debt Rising in Europe link
7.º - An extreme necessity link
Etiquetas: economia
1 Comments:
Era em Praga, num dia de sol e o dr. Cavaco, ainda primeiro-ministro, estava sentado num muro da cidade velha. Muito bem-disposto, resolveu dar uma espécie de conferência de imprensa improvisada. A certa altura, um jornalista perguntou se a República Checa podia entrar na União Europeia dentro de seis
meses, como tinha anunciado. E o dr. Cavaco respondeu, com o seu sorriso condescendente e petulante de “bom aluno”, que não podia. Essas coisas, explicou ele, em grosso, eram muito mais complicadas do que, na sua inocência, os checos julgavam. Mas, naturalmente, iam aprender. Agora o dr. Cavaco voltou a Praga e o Presidente Vaclav Klaus manifestou em público o seu espanto pela serenidade com que Portugal vivia na sombra de um défice tão assustador. Portugal, segundo Klaus, devia andar “nervoso”.
Este comentário, manifestamente pouco diplomático, foi um acto de justiça poética. Quando administrou a sua lição àquela pobre gente, saída do comunismo e, ainda por cima, eslava, o dr. Cavaco não sabia nada sobre a República Checa. Não sabia que a Boémia era o centro industrial do Império Austro-Húngaro. Não sabia que tanto Hitler como a URSS o haviam cuidadosamente conservado e alargado. E não sabia (porque não olhou para um mapa) que geograficamente a República Checa ocupava uma posição privilegiada na Europa. Hoje, para perpétuo vexame do dr. Cavaco, o Skoda passou a ser um carro vulgar em Portugal, o Presidente Klaus exibe um défice trivial e uma balança de pagamentos positiva; e o nosso Professor vigia, inerme, de Belém, um país periclitante, à beira da falência.
Moral da história?
Por um lado, que não é muito boa ideia perorar sobre o que não se percebe. E, por outro, que o “desenvolvimento” cavaquista partiu desde o princípio de premissas falsas. Portugal chegou ao “25 de Abril” sem uma verdadeira “revolução industrial” e sem um verdadeira “revolução burguesa”. O liberalismo, político ou económico, nunca passou de uma ideologia minoritária, estranha a uma sociedade, no fundo, camponesa e a uma classe média, dependente de um Estado hipertrofiado e centralizador. Esperar que o dinheiro da “Europa”, a política do betão, o ensino de massa e as privatizações conseguissem o milagre de a “modernizar” não passou de uma ilusão e de um erro. Quando se raspa o “novo português”, que o dr.Cavaco tanto contribuiu para fazer, o que fica é o português indigente e finório, à procura de um bom “negócio”. O défice e a dívida, que nos perseguem desde o século XIX, não reapareceram por acaso.
VPV, JP 24.04.10
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