"Opting out" à portuguesa
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Há quem tenha prescindido expressamente desse direito. No total, perto de 300 mil utentes declararam não querer assistência personalizada nos centros de saúde. Inscrevem-se, mas dispensam ter um médico fixo. link
O número foi revelado ao Expresso pelo secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Manuel Pizarro, que explicou tratar-se de beneficiários de subsistemas e seguros privados de saúde. Ou seja, pessoas que não costumam recorrer às unidades públicas de Cuidados Primários ou que o fazem apenas para pedir baixa médica, credenciais para exames comparticipados pelo Estado ou vacinas. “São pessoas que não querem personalizar a assistência no centro de saúde porque só lá vão pedir papéis e pode até ser conveniente ir a médicos diferentes”, justifica o coordenador da Missão de Cuidados de Saúde Primários, Luís Pisco. A directora clínica do Agrupamento de Centros de Saúde de Lisboa Central, Leonor Lima das Neves, confirma. “Há colegas que se queixam dos utentes que são seguidos no privado e que chegam ao centro de saúde só para pedir baixa ou a credencial para um exame. Muitas vezes temos de lhes explicar que também somos médicos e que não estamos ali só para passar papéis”.
E a dimensão real de utentes que poderiam abdicar do médico de família pode ser muito maior: basta pensar que há dois milhões de portugueses titulares de seguros de saúde e mais 1,2 milhões com subsistemas (ADSE, SAMS, ADM...) . No entanto, são raras as unidades de saúde que, no momento da inscrição, perguntam se a pessoa quer que lhe seja designado um clínico e a maioria nem sabe que esta opção existe.
Vera Lúcia Arreigoso, Joana Pereira Bastos e Cristina Bernardo Silva , semanário expresso 17.04.10
Há quem tenha prescindido expressamente desse direito. No total, perto de 300 mil utentes declararam não querer assistência personalizada nos centros de saúde. Inscrevem-se, mas dispensam ter um médico fixo. link
O número foi revelado ao Expresso pelo secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Manuel Pizarro, que explicou tratar-se de beneficiários de subsistemas e seguros privados de saúde. Ou seja, pessoas que não costumam recorrer às unidades públicas de Cuidados Primários ou que o fazem apenas para pedir baixa médica, credenciais para exames comparticipados pelo Estado ou vacinas. “São pessoas que não querem personalizar a assistência no centro de saúde porque só lá vão pedir papéis e pode até ser conveniente ir a médicos diferentes”, justifica o coordenador da Missão de Cuidados de Saúde Primários, Luís Pisco. A directora clínica do Agrupamento de Centros de Saúde de Lisboa Central, Leonor Lima das Neves, confirma. “Há colegas que se queixam dos utentes que são seguidos no privado e que chegam ao centro de saúde só para pedir baixa ou a credencial para um exame. Muitas vezes temos de lhes explicar que também somos médicos e que não estamos ali só para passar papéis”.
E a dimensão real de utentes que poderiam abdicar do médico de família pode ser muito maior: basta pensar que há dois milhões de portugueses titulares de seguros de saúde e mais 1,2 milhões com subsistemas (ADSE, SAMS, ADM...) . No entanto, são raras as unidades de saúde que, no momento da inscrição, perguntam se a pessoa quer que lhe seja designado um clínico e a maioria nem sabe que esta opção existe.
Vera Lúcia Arreigoso, Joana Pereira Bastos e Cristina Bernardo Silva , semanário expresso 17.04.10
1 Comments:
De acordo com a notícia 300 mil utentes não querem utilizar o SNS para fins assistenciais mas apenas administrativos, conseguirem credenciais para a realização de meios complementares de diagnóstico (MCD), obterem o atestado médico ou um qualquer documento que só por esta via pode ser conseguido. É que há já hoje sistemas privados que oferecem consultas de clínica geral abaixo do custo da taxa moderadora de um Centro de Saúde (não discuto qualidade, obviamente), não estando os médicos impedidos de pedir os meios complementares de diagnóstico que entenderem.
Se bem se lembram, já foi assim com os medicamentos até que Paulo Mendo resolveu autorizar os privados a possuírem receituário do SNS, obviando o inconveniente para os doentes e a sobrecarga de trabalho para os médicos de família. É evidente que esta medida custou dinheiro ao SNS pois aumentou a despesa pública em medicamentos. Terá entretanto trazido ganhos assistenciais pois deixou espaço livre aos doentes que necessitam de quem os observe do ponto de vista clínico. No deve e haver de avaliação da medida, é bem possível que os ganhos em saúde tenham ultrapassado os custos financeiros.
Não se poderia fazer o mesmo com os MCD e quejandos? Poder podia mas aqui os riscos de uma espiral de custos são bem maiores. Sem meios de controlo adequado implementados, imagine-se o que seria a convenção em roda livre, agora extensiva ao sector privado. Era trazer para dentro do SNS os vícios da ADSE.
Já hoje a despesa em MCD é, salvo o erro, a rubrica que de ano para ano mais cresce no orçamento do SNS, embora tal seja pouco realçado. A forma de resolver este problema tem sido administrativa, congelando ou diminuindo mesmo o valor dos MCD, pondo em risco a qualidade, ou impondo aos convencionados limites no crescimento, medida que me parece irracional pois os exames não são geralmente requisitados por quem os executa (embora possa influenciar a sua requisição).
Que solução dar a este problema? Como libertar o SNS de utentes que com ele apenas pretendem flirtar? Como evitar que os médicos de família sejam utilizados como “barrigas de aluguer”? A forma mais simples seria não atribuir médico de família aos doentes que recusam consulta personalizada, tanto mais por haver muitos outros que o desejam mas não o conseguem. Temos porém de reconhecer que não estamos a ir ao âmago do problema.
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