SNS, propostas de mudança
Algumas propostas de mesinha-de-cabeceira. Para mudar o rumo do SNS (presunção e água benta). Sem qualquer organização ordinal. Nestes tempos de recurso ao clonazepam para um sono tranquilo. Sem agências de rating.
1. Aprovar uma tabela remuneratória única para todos os médicos, em regime de 40 horas (mais 5 obrigatoriamente em SU), vinculativa dentro das instituições do SNS. O que se pouparia em horas extra, serviços a la carte de médicos indiferenciados, contratos individuais escandalosos, etc., daria para pagar bem melhor aos profissionais do SNS. (A prova de poder poupar-se gastando mais. O princípio da roldana, ou isso...).
2. Separar o acto de triagem do SU do episódio de urgência (entre outras coisas, remunerando-os diferenciadamente), permitindo o reencaminhamento (com definição de prazos) para a consulta aberta do CS ou para qualquer uma das consultas externas do Hospital. Reduzir-se-iam imenso as horas extra.(Mas as procuradorias? Teriam que fazer horas extra?).
3. Entregar a «Medicina Preventiva» aos enfermeiros em CSP. O estímulo a estes profissionais que isto representaria, e a poupança em vencimentos a médicos e em contratos individuais ou de prestação de serviços destes, levaria a uma poupança descomunal. Acabaria também esta vergonha mitológica da falta de médicos. (Não adianta saber supostamente mais, sem tempo para fazer, pois não?).
4. Reorganizar os serviços, nem que por força da Lei da Mobilidade; a partir de um momento em que há um Hospital do Norte, com área de influência (para esta especialidade) de cerca de 300000 habitantes com 30 psiquiatras e 24 internos, e outro com uma área de influência de quase 800000 habitantes com 12 psiquiatras e 6 internos, está tudo dito. Nomeadamente em relação à pretensa falta de médicos. (Isto, eu sei, é provavelmente impraticável. Estragaria muita privada. E há deuses no Olimpo que só se avistam).
5. Dar poder organizativo e remuneratório a estruturas intermédias de gestão, como por ex. os CRI, em contexto hospitalar. («CRI-as», digo eu)
6. Extinguir a ADSE (já estou preparado para as críticas; em todo o caso, qualquer seguro de saúde com cerca de 300 milhões de aporte e 1000 milhões de gastos já teria sido extinto há muito) e, dito isto, acabar com esta parafernália de instituições privadas, verdadeiras sanguessugas do OE e do SNS, sobredependentes deste subsistema. (Talvez descobrir que, em Portuga, só em certas «linhas» há mercado para os hospitais privados)
7. Aproximar o método de assiduidade dos médicos àquele dos enfermeiros (isto seria facilitado pelos CRI); apesar do trabalho não ser maioritariamente por turnos, se este fosse organizado por módulos com controlo de assiduidade faseado (internamento, consulta, hospital de dia, urgência, etc.), evitavam-se inúmeros incumprimentos e ajudaria a acabar com esta vergonha de SIGIC e recuperações de listas e afins... (incluem-se cirurgias nas Misericórdias em dia de urgência na SPA/PE…)
8. Acabar com qualquer tipo de suplemento por assiduidade (se ainda fosse decremento por falta dela...).
9. Isto exigiria uma nova reforma da AP, mas deveria ser possível, num futuro sistema de avaliação, o que de novo poderia ser facilitado por uma organização de proximidade, um médico (ou qualquer outro profissional da AP) regredir na carreira, dentro de uma mesma categoria obtida por concurso, por incumprimento das funções atribuídas, da mesma forma que é defensável e instituído que progrida no caso de cumprimento satisfatório destas. (E ainda me acho eu de esquerda. Tenho que fazer o political kompass de novo...)
10. Acabar com a possibilidade de um médico trancar uma receita, desde que o farmacêutico fosse obrigado a ceder o genérico aprovado mais barato, ou na famosa «ausência de stock», a Farmácia tivesse que colocar a diferença. Em alternativa, concursos anuais, com um só genérico comparticipado que teria que ser cedido. (Já vejo os bichos papões. A aproximarem-se. Tenebrosos).
11. Nem quero falar das margens de lucro das farmácias. Andamos todos incomodados com a falta de concorrência nos combustíveis, mas pactuamos silenciosamente com a completa, total e absoluta (passe o pleonasmo) ausência de concorrência entre farmácias. Ou alguém na blogosfera consegue comprar o brufen mais barato na farmácia X? (Concorrência limitada aos unguentos, não, obrigado).
12. Cada utente ter, em vez do cartão de saúde, um qualquer sistema de armazenamento portátil de informação, onde ficassem registados actos médicos/cirúrgicos prévios, medicação e exames complementares. (Não perdessem os portugueses tantas vezes estas coisas)
13. Incluir no currículo escolar noções básicas acerca do âmbito, funcionamento e relevância do SNS como elemento social agregador. (isso e a agricultura de subsistência, como fez a Dinamarca).
14. E, depois disto tudo, da reorganização dos serviços, de um horário alargado, de uma tabela remuneratória decente, de um sistema de avaliação eficaz, do protagonismo dos enfermeiros em CSP, depois de descobrirmos todos que o nº de médicos é suficiente, exigir a exclusividade de funções (não só aos médicos, como é evidente). (E acabar com médicos como eu, que não dão atenção nenhuma à privada)
E isto, de preferência, antes de 2110, quando formos cidadãos prováveis de uma qualquer Federação de Estados Europeus.
Este ramerrame em que vivemos só vai levar a um fim: o do SNS, pelo menos como o conhecemos, cuidamos e queremos melhor.
PS: depois de escrever este texto, não sei por que motivo, fiquei com uma sensação estranha. Aquela com que fico quando ouço o «movimento perpétuo» dos Deolinda. A de não sermos suficientemente merecedores do «movimento perpétuo» do Paredes…
AM
1. Aprovar uma tabela remuneratória única para todos os médicos, em regime de 40 horas (mais 5 obrigatoriamente em SU), vinculativa dentro das instituições do SNS. O que se pouparia em horas extra, serviços a la carte de médicos indiferenciados, contratos individuais escandalosos, etc., daria para pagar bem melhor aos profissionais do SNS. (A prova de poder poupar-se gastando mais. O princípio da roldana, ou isso...).
2. Separar o acto de triagem do SU do episódio de urgência (entre outras coisas, remunerando-os diferenciadamente), permitindo o reencaminhamento (com definição de prazos) para a consulta aberta do CS ou para qualquer uma das consultas externas do Hospital. Reduzir-se-iam imenso as horas extra.(Mas as procuradorias? Teriam que fazer horas extra?).
3. Entregar a «Medicina Preventiva» aos enfermeiros em CSP. O estímulo a estes profissionais que isto representaria, e a poupança em vencimentos a médicos e em contratos individuais ou de prestação de serviços destes, levaria a uma poupança descomunal. Acabaria também esta vergonha mitológica da falta de médicos. (Não adianta saber supostamente mais, sem tempo para fazer, pois não?).
4. Reorganizar os serviços, nem que por força da Lei da Mobilidade; a partir de um momento em que há um Hospital do Norte, com área de influência (para esta especialidade) de cerca de 300000 habitantes com 30 psiquiatras e 24 internos, e outro com uma área de influência de quase 800000 habitantes com 12 psiquiatras e 6 internos, está tudo dito. Nomeadamente em relação à pretensa falta de médicos. (Isto, eu sei, é provavelmente impraticável. Estragaria muita privada. E há deuses no Olimpo que só se avistam).
5. Dar poder organizativo e remuneratório a estruturas intermédias de gestão, como por ex. os CRI, em contexto hospitalar. («CRI-as», digo eu)
6. Extinguir a ADSE (já estou preparado para as críticas; em todo o caso, qualquer seguro de saúde com cerca de 300 milhões de aporte e 1000 milhões de gastos já teria sido extinto há muito) e, dito isto, acabar com esta parafernália de instituições privadas, verdadeiras sanguessugas do OE e do SNS, sobredependentes deste subsistema. (Talvez descobrir que, em Portuga, só em certas «linhas» há mercado para os hospitais privados)
7. Aproximar o método de assiduidade dos médicos àquele dos enfermeiros (isto seria facilitado pelos CRI); apesar do trabalho não ser maioritariamente por turnos, se este fosse organizado por módulos com controlo de assiduidade faseado (internamento, consulta, hospital de dia, urgência, etc.), evitavam-se inúmeros incumprimentos e ajudaria a acabar com esta vergonha de SIGIC e recuperações de listas e afins... (incluem-se cirurgias nas Misericórdias em dia de urgência na SPA/PE…)
8. Acabar com qualquer tipo de suplemento por assiduidade (se ainda fosse decremento por falta dela...).
9. Isto exigiria uma nova reforma da AP, mas deveria ser possível, num futuro sistema de avaliação, o que de novo poderia ser facilitado por uma organização de proximidade, um médico (ou qualquer outro profissional da AP) regredir na carreira, dentro de uma mesma categoria obtida por concurso, por incumprimento das funções atribuídas, da mesma forma que é defensável e instituído que progrida no caso de cumprimento satisfatório destas. (E ainda me acho eu de esquerda. Tenho que fazer o political kompass de novo...)
10. Acabar com a possibilidade de um médico trancar uma receita, desde que o farmacêutico fosse obrigado a ceder o genérico aprovado mais barato, ou na famosa «ausência de stock», a Farmácia tivesse que colocar a diferença. Em alternativa, concursos anuais, com um só genérico comparticipado que teria que ser cedido. (Já vejo os bichos papões. A aproximarem-se. Tenebrosos).
11. Nem quero falar das margens de lucro das farmácias. Andamos todos incomodados com a falta de concorrência nos combustíveis, mas pactuamos silenciosamente com a completa, total e absoluta (passe o pleonasmo) ausência de concorrência entre farmácias. Ou alguém na blogosfera consegue comprar o brufen mais barato na farmácia X? (Concorrência limitada aos unguentos, não, obrigado).
12. Cada utente ter, em vez do cartão de saúde, um qualquer sistema de armazenamento portátil de informação, onde ficassem registados actos médicos/cirúrgicos prévios, medicação e exames complementares. (Não perdessem os portugueses tantas vezes estas coisas)
13. Incluir no currículo escolar noções básicas acerca do âmbito, funcionamento e relevância do SNS como elemento social agregador. (isso e a agricultura de subsistência, como fez a Dinamarca).
14. E, depois disto tudo, da reorganização dos serviços, de um horário alargado, de uma tabela remuneratória decente, de um sistema de avaliação eficaz, do protagonismo dos enfermeiros em CSP, depois de descobrirmos todos que o nº de médicos é suficiente, exigir a exclusividade de funções (não só aos médicos, como é evidente). (E acabar com médicos como eu, que não dão atenção nenhuma à privada)
E isto, de preferência, antes de 2110, quando formos cidadãos prováveis de uma qualquer Federação de Estados Europeus.
Este ramerrame em que vivemos só vai levar a um fim: o do SNS, pelo menos como o conhecemos, cuidamos e queremos melhor.
PS: depois de escrever este texto, não sei por que motivo, fiquei com uma sensação estranha. Aquela com que fico quando ouço o «movimento perpétuo» dos Deolinda. A de não sermos suficientemente merecedores do «movimento perpétuo» do Paredes…
AM
Etiquetas: s.n.s. 2
21 Comments:
Agora sim, damos a volta a isto!
Agora sim, há pernas para andar!
Agora sim, eu sinto o optimismo!
Vamos em frente, ninguém nos vai parar!
-Agora não, que é hora do almoço...
-Agora não, que é hora do jantar...
-Agora não, que eu acho que não posso...
-Amanhã vou trabalhar...
Agora sim, temos a força toda!
Agora sim, há fé neste querer!
Agora sim, só vejo gente boa!
Vamos em frente e havemos de vencer!
-Agora não, que me dói a barriga...
-Agora não, dizem que vai chover...
-Agora não, que joga o Benfica...
e eu tenho mais que fazer...
Agora sim, cantamos com vontade!
Agora sim, eu sinto a união!
Agora sim, já ouço a liberdade!
Vamos em frente, e é esta a direcção!
-Agora não, que falta um impresso...
-Agora não, que o meu pai não quer...
-Agora não, que há engarrafamentos...
-Vão sem mim, que eu vou lá ter...
Deolinda - Movimento Perpétuo Associativo
Concordo plenamente com muito do que aqui foi dito, apenas algumas observações:
Regulamentar, por Dec. Lei, toda a dinâmica de seguros de saúde em Portugal, para que os portugueses não fossem enganados, como muitos ainda o são ainda hoje, para que todos tivéssemos condições para pagar e ter efectivamente um bom seguro de saúde.
Neste âmbito, criar uma muito mais eficiente rede de cuidados na área da saúde oral.
Em relação aos genéricos, concordo inteiramente, mas ainda há pouco tempo, tivemos notícias por parte do infarmed, de que a comissão de controlo do medicamento estava praticamente para, isto pode ser um problema de saúde pública!
De resto…excelente “post”.
ERS garante que apenas 25% das urgências privadas cumpre requisitos
…”A maior parte das unidades privadas de saúde que anunciam serviços de urgência não têm requisitos de segurança e qualidade para o fazer. A Entidade Reguladora da Saúde analisou 74 entidades e encontrou irregularidades também em serviços de atendimento permanente. O organismo regulador diz que essa situação significa enganar os utentes, e quer, por isso, que as regras do sector público sejam aplicadas no privado”…
…
E ainda a procissão vai no adro.
Se a ERS for por este caminho credibiliza-se e ganhará espaço de intervenção e autoridade. Ficarão então evidentes as razões porque os operadores privados e os seus paladinos defensores proclamam eficiência a rodos e intervenções cirúrgicas “au bom marche” quando comparados com o sector público. É que se cumprissem os ratios a que o SNS está obrigado e estivessem expostos ao mesmo escrutínio público, pela comunicação social, sem o filtro protector das ”agências de comunicação” a verdade viria ao de cima e a história seria bem outra.
Deixa-se aqui uma recomendação à ERS: visitas de avaliação “de surpresa” para avaliar “in situ” composição de equipas, blocos operatórios e UCI’s.
Belo final para um post recheado de excelentes ideias. De algumas poderíamos dizer que são óbvias. Mas, em Portugal, concretizar o óbvio é que parece difícil. Talvez porque não tenha a importância suficiente para merecer a atenção de mentes brilhantes.
O Público de hoje traz notícias da ERS, de que saliento duas.A primeira tem a ver com o ponto 14 do post: a exclusividade de funções.
“Uma médica do Centro Hospitalar do Porto desviou uma doente com um tumor no olho esquerdo para uma clínica privada onde colaborava e onde foi feita a cirurgia.”
Confrontada com a acusação de “angariação de clientes” respondeu: “É o que toda a gente faz.”
Felizmente não é toda a gente mas, ainda assim, deve haver um número suficiente de casos para criar a percepção, nesta médica ingénua, de que o processo está generalizado.
O fenómeno não é de hoje e é fácil de compreender.
Afinal, já Jesus Cristo dizia, segundo o Evangelho de Mateus: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há-de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro.”
A outra notícia refere-se a falsos Serviços de Urgência.
“Uma parte substancial dos serviços anunciados por unidades privadas como urgências ou serviços de atendimento permanente (SAP) não funcionam como tal na realidade, levando os doentes ao engano, concluiu a Entidade Reguladora da Saúde (ERS).
Tenho muita dificuldade em compreender que não haja uma entidade com poder suficiente para mandar encerrar, de imediato, serviços que enganam os doentes.
Por isso me atrevo a acrescentar uma sugestão às listadas por AM, por mais óbvia que ela seja:
O Estado deve garantir, intransigentemente, que os requisitos de qualidade sejam idênticos no sector público e no sector privado.
Clínicas cobram exames a dobrar ao Estado
Há clínicas a cobrar ao Estado exames que não foram prescritos. Estas e outras irregularidades foram descobertas na fiscalização que a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) fez no ano passado a 22 entidades convencionadas com o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O relatório de actividades do IGAS revela que as suas auditorias à facturação, de meios complementares de diagnóstico por entidades convencionadas, controlaram um valor na ordem dos dois milhões de euros. E na área das análises clínicas, foram identificadas "diversas situações" em que apesar de só ser prescrito um exame, eram facturados dois, bem como casos de códigos de exames mal atribuídos e consequentemente mal facturados.
A disparidade de preços facturados é outro problema: algumas clínicas cobram 41,34 euros por um exame que noutras é facturado a 18,66 - menos de metade. Isto porque os exames, neste caso as cintigrafias de perfusão do miocárdio, são facturados com base em diferentes códigos.
Numa das entidades auditadas era cobrado um valor por cada radiofármaco - um medicamento usado nestes exames - superior aos valores cobrados por outros centros, numa despesa que atingiu os 71 mil euros.
Segundo o IGAS, "as divergências mais comuns" são "incorrecções na codificação dos exames prescritos, nas taxas moderadoras e nos domicílios, exames inexistentes ou excesso de actos por exame nas tabelas em vigor ou sem justificação clínica".
Na cardiologia, o IGAS chama a atenção para os casos em que as clínicas não guardavam em arquivo as cópias dos electrocardiogramas que faziam, como estão obrigadas por lei.
O relatório da Inspecção-Geral conclui ainda que muitos dos problemas são resultado da utilização de uma aplicação informática "completamente obsoleta e desactualizada".
As acções de fiscalização às farmácias detectaram também irregularidades na facturação dos medicamentos ao SNS. Em 11 697 receitas, no valor de 536 mil euros, foram detectadas "2357 desconformidades". Estas receitas representam uma despesa de cerca de 107 mil euros.
No total, o IGAS analisou 22 farmácias que em 2008 tinham registado um crescimento da despesa com medicamentos igual ou superior a 5%. Concluiu que a "esmagadora maioria dos problemas" verificam-se na prescrição e validação, nomeadamente na identificação do utente. Aliás, chama mesmo a atenção para a "forte suspeita" de haver assinaturas de utentes em que as rubricas foram "apostas por outras pessoas
…
Imaginemos a “festa” que teríamos num quadro de total liberdade de escolha conhecidas que são as dificuldades do Estado em auditar e controlar. As seguradoras de saúde conhecem bem este suplício e com todos os meios sofisticados que têm, há muitos anos, não param de ver crescer os prejuízos de ano para ano. É que os prestadores privados rapidamente se especializam em derreter plafonds e em “gerir”, a seu contento, quaisquer tipos de tabelas.
Falta propor, neste post, medidas ainda mais drásticas, para os trabalhadores da saúde, com especial destaque para os incorrigíveis médicos, como se o SNS fosse um esqueleto burocrático sem pessoas (doentes, trabalhadores da saúde, etc.)...
Por exemplo, na "cascata de propostas" enunciadas poderia ter sido sugerida, sem escândalo, a substituição das veladas ameaças de aplicação da nefasta lei da mobilidade especial, a requisição civil ad eternum dos médicos, enfermeiros, auxiliares ... e, a consequente mitigação (podemos também chamar-lhe regulação, acção disciplinadora, etc.) dos seus direitos de cidadania!
Finalmente, julgo que não destoaria no especioso texto, uma vibrante saudação para todos os crentes na eficiência de uma musculada "política do chicote" que começaria na Saúde e, paulatinamente, se alargaria a outros sectores de actividade...conforme as necessidades do momento. Uma espécie de "PEC-cívico"!
Sem Rei nem Roque
«Serviços de obstetrícia em novos hospitais comprometem qualidade»
O obstetra Luís Graça criticou hoje a abertura de serviços de obstetrícia em novos hospitais, considerando que se está a desperdiçar dinheiro e a comprometer a qualidade do que se oferece aos utentes
«É queimar recursos e a possibilidade de termos hospitais com serviços de obstetrícia suficientemente idóneos. Nunca foram paredes nem máquinas que trataram doentes, mas sim os profissionais de saúde. Estar a dispersá-los por uma quantidade de unidades que não têm sentido vai ser uma tragédia», comentou Luís Graça em entrevista à agência Lusa.
Desde a semana passada, a imprensa tem noticiado o esvaziamento dos serviços de ginecologia e obstetrícia do Hospital Garcia de Orta, em Almada, de onde vários especialistas transitaram para outras unidades, como o novo Hospital de Cascais (unidade pública com gestão privada).
«Faz-me muita impressão que continuem a abrir serviços de obstetrícia nos hospitais públicos ou público-privados, como o Hospital de Cascais», declarou Luís Graça, que há nove anos dirige o serviço de obstetrícia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
O especialista lembrou que a natalidade «está a baixar significativamente em Portugal» e que o número de ginecologistas/obstetras é «muito inferior às necessidades».
Luís Graça estima que só no Hospital de Santa Maria se realizem este ano menos 300 ou 400 partos do que no ano passado, numa unidade que deveria realizar anualmente cerca de 3000 partos.
«A breve trecho está previsto abrir o hospital de Vila Franca de Xira e o Hospital de Loures, também com serviços de obstetrícia. Considero isto deitar dinheiro pela janela fora, existindo na área da Grande Lisboa serviços de obstetrícia mais do que suficientes para a natalidade nacional e existindo uma brutal carência de recursos médicos dentro desta área que não será colmatada antes de 2017/2018», sublinhou o responsável.
Para o obstetra, trata-se de serviços nos hospitais que «são absolutamente desnecessários».
«Estamos a multiplicar os locais que podem ter partos, o que leva a que nenhum deles tenha a massa crítica necessária para funcionar como deve ser», criticou o ex-presidente do colégio de Obstetrícia da Ordem dos Médicos.
Quanto ao caso concreto do Garcia de Orta, confessou-se «perplexo», considerando que se comprometeram dois serviços de obstetrícia, uma vez que «os recursos humanos foram quase divididos ao meio».
«Isso vai comprometer o Garcia de Orta e o Hospital de Cascais», rematou
…/…
Da parte oficial MS DGS ACS (como aliás em relação a quase tudo) nada a dizer. Da parte dos privados a palavra de ordem é esvaziar rapidamente os Serviços de Obstetrícia públicos bem como as respectivas Unidades de Neonatologia porque as seguradoras e os sub-sistemas continuam, olimpicamente, a pagar mais de 3000 Euros por cesarianas garantindo aos prestadores privados margens irresistíveis. Não nos espantemos por isso que a relação de cesarianas vs partos normais no privado face ao público seja de 3 para 1. Quanto à segurança, qualidade, planeamento, gestão parcimoniosa de recursos e outras piedosas intenções não nos esqueçamos que vivemos no Portugal do “tudo-jóia” em que os decisores, gestores e administradores organizam os serviços em função do que lhes dá mais rendimento e aos respectivos grupos. Pela parte política é caso para dizer-se tudo como dantes quartel-general em Abrantes.
Caro E-pá!
A especiosa cascata de propostas a que alude não é, nem quer ser mais, que isso. Precisamente.
A ironia perpassa-a. Melhor: trespassa-a.
Algumas delas foram deliberadamente insonsas, de óbvias e repetidas, algumas quis que derramassem salitre, quis que fosse propositadamente incendiárias e fracturantes. De modo a que se notasse que concebê-las não fosse nem estulto nem iluminado. Pequeníssimas provocações a ilustrar um «movimento perpétuo» com direcção. Uma espécie de espiral. Se no sentido certo ou não? Não importa. Temos que pensar, propor, fazer, para que o SNS seja nosso. E exista.
Ainda assim, acerca das que em particular aponta:
Afinal podemos reorganizar serviços físicos, refugiando-nos da evolução viária e migratória, mas não podemos pedir aos profissionais que o façam entre os serviços físicos existentes? Por um qualquer imperativo laboracionista? Eu ainda percebo que, quem já está, mesmo em serviços que se tornaram excessivamente preenchidos (quer por variações de áreas de influência, migração populacional ou alteração dos «quadros» de Hospitais dependentes), não seja obrigado a exercer noutro local. Mas o problema é que continua a ser nestes centros que mais internos são colocados, ano após ano, e que mais recém-especialistas são contratados. Com que fito? Impulsionar a telemedicina?
Não podemos exigir que os médicos cumpram o horário, não recebam mais por o cumprirem e sejam penalizados por incompetência, preguiça ou pelo omniaudível «não me pagam para fazer mais que isto»? É um direito de cidadania manter a mesma posição ou progredir independentemente da preguiça ou da incompetência? Eu sou médico, meu caro. E nunca me fez prurido nenhum qualquer controlo de assiduidade (já experimentei alguns) desde que me deixe intocável a privacidade. E não fico incomodado com especiosas cascatas de propostas como estas. Entre a «boca» e o soundbyte. Umas úteis, outras curiosas, algumas engraçadas.
Quem não almoça com Rousseau, nem janta com Proust, tem que lanchar com Maquiavel ou cear com Nietzsche?
AM
Médicos trocam Garcia de Orta por maiores salários do novo hospital com gestão privada
Por Catarina Gomes
Um terço dos especialistas de Ginecologia e Obstetrícia saiu para o novo hospital de Cascais, que lhes ofereceu mais do dobro dos salários que auferiam
Os serviços de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Garcia de Orta, em Almada, ficaram desfalcados com a abertura do novo hospital de Cascais - unidade pública que é a primeira a abrir no país com gestão privada em regime de parceria -, que ali foi recrutar médicos oferecendo-lhes, "no mínimo, o dobro dos seus salários". O director do Serviço de Ginecologia acaba de ser afastado das suas funções. Justificação da administração? Não conseguiu cativar os médicos.
"O problema era previsível e já há quatro anos que os conselhos de administração do Garcia de Orta, este e o anterior, vêm sendo alertados para a espectável saída de médicos atraídos para aquela unidade", lembra Manuel Hermida, ex-director do Serviço de Obstetrícia do Garcia de Orta, que apresentou o seu pedido de reforma antecipada em Dezembro, aos 58 anos, por "verificar que, ao longo dos últimos anos, nada foi feito para resolver a situação".
Os avisos tornaram-se realidade e o hospital de Cascais, que foi inaugurado em Março em regime de parceria público-privada - o acordo prevê gestão privada por dez anos, renovável até aos 30, pelos Hospitais Privados de Portugal, do Grupo Caixa Geral de Depósitos -, conseguiu atrair os oito médicos que saíram do Garcia de Orta (dois obstetras e seis ginecologistas), oferecendo-lhes, "no mínimo, o dobro dos seus salários", diz Hermida.
"Este conselho de administração e o anterior nada fizeram", critica Hermida. Pelo contrário, diz, denunciando a cessação de comissão de serviço do médico director do Serviço de Ginecologia, Hélio Retto, com as alegações de que não "teria tido capacidade para reter os médicos". O afastamento aconteceu na semana passada e Hermida considera que o médico "foi usado como bode expiatório. Se alguém tem culpa pela saída dos médicos é o conselho de administração".
O porta-voz do Garcia de Orta, Nuno Crespo, esclarece que "o conselho de administração não atribui ao médico [Hélio Retto] todas as responsabilidades pela saída dos médicos, mas algumas responsabilidades. Um director de serviço deve motivar a equipa e a administração acha que não foi feito tudo o que devia ser feito e que algumas atitudes do médico levaram à saída de alguns profissionais". O director afastado apresentou queixa na Ordem dos Médicos, por considerar injustificado o seu afastamento.
Hermida nota que as actuais carências de médicos reduziram os serviços a cerca de metade, o que levará a que, em Junho, "as urgências de Obstetrícia tenham que encerrar", lembrando que já agora apenas funcionam porque são contratados médicos de fora em prestação de serviços, "pagos a peso de ouro, alguns sem especialidade ou especialistas no Brasil sem especialidade reconhecida em Portugal", chegando a ganhar 50 euros à hora, em contraste com os cerca de 20 euros pagos aos médicos do quadro. Nuno Crespo esclarece que a saída de oito médicos, de um conjunto de 24, representa uma redução de um terço, que foram contratados três médicos e "está a ser equacionada a hipótese de fundir os dois serviços". A directora do Serviço de Obstetrícia está também demissionária.
Jornal Público
Temos duas realidades na Saúde, a do PEC que impede que se aprovem tabelas salariais condignas para os profissionais do SNS, e a das PPP com contratações estilo clube de futebol.
Depois, em vez de se demitir o governo que permite estas aberrações cai-se em cima de quem nada pode fazer para contrariar o óbvio.
Caro AM:
A evocação dos direitos de cidadania será, acima de tudo, contestar a marginalização ou a exclusão da tomada de decisões, sendo relegado para uma posição subalterna. E, pior do que isso, pagar a factura dos óbvios desaires.
A cidadania deve ser perpassada por temáticas como a solidariedade, os direitos laborais, a ética, etc.
Será - usando a sua alegoria prandial - cear com Max Weber, Karl Jaspers, Max Horkheimer, Herbet Marcuse,...
Fico siderado com o ecleticismo do é-pá
De saudar o regresso do E-Pá ao debate da Saúde, uma vez que, sem ele, isto não tem sido a mesma coisa.
Completamente de acordo, caro E-pá!
Um dos problemas é deixarmo-nos na margem até que a maré suba e nos leve com ela, sem resistência nossa. Temos que fazer alguma coisa ao rio. No rio. Que não seja, simplesmente, pescar para comer. E esperar pacientemente que transborde.
Voltando à alegoria prandial, para refrear o apetite: e que tal um snackzinho com Sócrates?
Na verdade há notícias que até dão vontade de rir!
Oitenta mil euros? E quanto custou a inspecção realizada? Certamente bem mais!
Diz o jornal O SOL:
A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) detectou 3,1 milhões de euros em despesas hospitalares que poderão conter irregularidades.
Segundo o Correio da Manhã, o Tribunal de Contas já foi informado e agora investigará as despesas hospitalares de 333 titulares de cargos no Serviço Nacional de Saúde, podendo exigir que os infractores devolvam as verbas em causa.
No ano passado, a IGAS investigou 66 hospitais e Unidades locais de Saúde, e ainda 11 institutos públicos, tendo detectado mais de 80 mil euros em despesas à margem das regras, e este ano a investigação daquele organismo fiscalizador prossegue
Um grande abraço para dois dos excepcionais colaboradores do SaudeSA: E-Pá e Tonitosa.
Pobre país…
Grandes malandros. Vejam bem o desaforo. Pelas contas apuradas terão “esbanjado” cerca de 243 Euros por gestor “investigado”. Se dividirmos por 12 meses dá pouco mais de 20 Euros por mês. Mas é disto que o meu povo gosta. Passar anátemas generalizadores sobre a honorabilidade das pessoas, das funções e dos cargos. Corroendo, destruindo e minando a credibilidade das funções públicas. Exultando com a insinuação de que os dirigentes públicos são gente pouco fiável, tendencialmente desonesta que apenas procuram lugares para servir os seus (ilegítimos) interesses pessoais.
Na maior parte das vezes o show off destes inquéritos esboroa-se na conclusão de meras falhas procedimentais ou administrativas. No entanto nesta sanha persecutória, moralmente enviesada e eticamente patológica convergem os tradicionais pasquins do jornalismo populista com os “inquiridores” frustrados a que se juntam os ressabiados, desencantados da vida que vivem obcecados com o regresso aos lugares perdidos. Haja calma que a turba rosa está prestes a ser substituída pela horda laranja e a purificação será garantida.
Pobre país. Vale a pena lembrar Honoré de Balzac: ,,,”é tão natural destruir o que não se pode possuir, negar o que não se compreende, insultar o que se inveja”…
O oásis da Saúde onde o PEC não chegará...
Médicos exigem à ministra que apresente grelha salarial "digna e justa"
Os sindicatos médicos exigem à ministra da Saúde que apresente rapidamente uma proposta de grelha salarial “digna e justa” e resolva o “congelamento” de escalões e progressão na carreira, desbloqueando o sistema de avaliação do desempenho, noticia a agência Lusa.
Numa carta aberta dirigida à ministra Ana Jorge, a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) apelam a uma “mudança urgente na política negocial” seguida pelo Ministério da Saúde (MS).
Os sindicatos referem que têm pautado a sua actuação por uma “atitude construtiva e desconflitualizante”, mas consideram que as negociações já deviam estar concluídas.
“Após meses em que esperámos pacientemente por acções concretas e definidas por parte do Ministério da Saúde, verificamos a continuidade de uma manifesta política de inacção perante os parceiros sociais, protelando as negociações, que há muito deveriam estar concluídas, apesar de o respectivo governo se encontrar em funções há já seis meses”, sublinham no documento.
Para as estruturas sindicais, o MS tem agido “pontualmente, a maior parte das vezes em contradição com pontos já acordados com as associações sindicais médicas”.
“A conduta do Ministério da Saúde em precipitar os trabalhadores médicos para situação de conflito é irresponsável e inaceitável”, salientam.
Nesse sentido, apelam para que “não sejam tomadas e indevidamente divulgadas na comunicação social posições sobre assuntos com incidência sindical”, sem prévia audição com os sindicatos, dando como exemplo a aposentação dos médicos.
Exigem também a apresentação “urgente” de uma proposta de grelha salarial “digna e justa, de acordo com a penosidade, insalubridade e risco do trabalho médico” e a definição de uma data para o final das negociações dos anexos do Acordo Colectivo de Trabalho (ACT) e respectivo calendário e protocolo negocial.
Defendem ainda que seja definida uma “verdadeira proposta, com efectividade, na remodelação e melhoria funcional da rede de urgências”, uma “política efectiva” dos Cuidados Primários de Saúde e apresentada uma proposta de concurso de assistente graduado sénior.
Contactado pela agência Lusa, o Ministério da Saúde afirmou que não presta declarações sobre este assunto, porque as “negociações ainda decorrem”.
A Lusa tentou ouvir os responsáveis das estruturas sindicais, mas, até ao momento, não foi possível.
A propósito do post e de alguns dos comentários: - têm estado com atenção ao descalabro da ULS de Matosinhos?
Já desde há muito que estão a abandonar a instituição médicos, enfermeiros e outros profissionais de vários serviços. E grande número não é por reforma. Agora, foram oito de uma vez só. Todos os médicos da UCI cirúrgica pediram rescisão de contrato. Nenhum saiu por reforma.
Desde 30 de Abril que já lá não trabalham.
Também se sabe que que alguns cirurgiões estão de saída (também não vão para a reforma)
Será só coincidência?
Ou será que a administração é uma comissão liquidatária?
Não é só a ULS de Matosinhos que está em liquidação. Há vários hospitais do país em situação semelhante. Outro exemplo é o Centro Médio Tejo: num ano quase duplicou o défice e tem quebras de produção assustadoras. O que vale é que nenhum CA é responsabilizado desde que esteja bem "encostado" à malta do aparelho.
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Boa vai ela..
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