O problema das Urgências
1.º - «Os gastos dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em horas extraordinárias totalizaram os 211,1 milhões de euros até ao final de Setembro, o que traduz um acréscimo de 4,6 por cento face aos 201,8 milhões de euros de igual período de 2008.» link
2.º - «O Governo quer acabar com os tarefeiros nas urgências e admite aumentar o número de horas de trabalho dos médicos das actuais 35 para as 40 semanais. As cinco horas por semana a mais seriam para fazer urgências, além das habituais 12.» link
3.º - «Há médicos sem habilitações nas equipas das urgências porque chumbaram nos exames da especialidade de medicina interna", afirmou Pilar Vicente ao CM,adiantando que o problema, que atinge os hospitais de Almada, Amadora-Sintra, Centro Hospitalar de Lisboa (São Francisco Xavier e Egas Moniz) já foi denunciado ao ministério da Saúde.» link
Alguém disse que, nós portugueses, substituímos o conceito de medicina baseada na evidência para o de medicina baseada na urgência. É neste sector que se reflecte a nossa incapacidade organizativa em matéria de cuidados de saúde. Sendo o SU o último reduto de quem necessita de cuidados assistenciais e a eles não consegue aceder por outra via, é nele que se espelha a ineficiência do sistema.
Ao SU acorrem doentes que não conseguem resposta atempada do seu médico de família (muitos infelizmente); os que não conseguem aceder a uma consulta de especialidade de outra forma (cada vez mais); os enviados pelos serviços internos do próprio hospital, por necessitarem de observação por outra especialidade não disponível de outra forma; os observados/transferidos em unidades privadas (algumas com urgência aberta e sem internamento); e, finalmente, os que verdadeiramente a ele deveriam recorrer: os acidentados ou acometidos de doença súbita com risco de vida imediato.
Nos países com medicina organizada, são estes últimos que praticamente recorrem ao SU. Assim, as equipas médicas na urgência são reduzidas tendo como papel principal o diagnóstico imediato da situação e a estabilização dos parâmetros vitais. Uma vez feito o estadiamento clínico, é aos serviços internos do hospital que compete tratar o doente em causa. Neste País, não é assim que se passa. Os SU funcionam quase como um hospital dentro de próprio hospital, o que leva frequentemente a ter de aumentar os quadros profissionais ou, última moda, a contratar médicos tarefeiros, para responder às necessidades crescentes do SU.
Neste contexto não admira que os gastos dos hospitais em horas extraordinárias não parem de crescer. E, também aqui, pretende resolver-se um problema essencialmente organizacional pela via administrativa.
Alguém disse que, nós portugueses, substituímos o conceito de medicina baseada na evidência para o de medicina baseada na urgência. É neste sector que se reflecte a nossa incapacidade organizativa em matéria de cuidados de saúde. Sendo o SU o último reduto de quem necessita de cuidados assistenciais e a eles não consegue aceder por outra via, é nele que se espelha a ineficiência do sistema.
Ao SU acorrem doentes que não conseguem resposta atempada do seu médico de família (muitos infelizmente); os que não conseguem aceder a uma consulta de especialidade de outra forma (cada vez mais); os enviados pelos serviços internos do próprio hospital, por necessitarem de observação por outra especialidade não disponível de outra forma; os observados/transferidos em unidades privadas (algumas com urgência aberta e sem internamento); e, finalmente, os que verdadeiramente a ele deveriam recorrer: os acidentados ou acometidos de doença súbita com risco de vida imediato.
Nos países com medicina organizada, são estes últimos que praticamente recorrem ao SU. Assim, as equipas médicas na urgência são reduzidas tendo como papel principal o diagnóstico imediato da situação e a estabilização dos parâmetros vitais. Uma vez feito o estadiamento clínico, é aos serviços internos do hospital que compete tratar o doente em causa. Neste País, não é assim que se passa. Os SU funcionam quase como um hospital dentro de próprio hospital, o que leva frequentemente a ter de aumentar os quadros profissionais ou, última moda, a contratar médicos tarefeiros, para responder às necessidades crescentes do SU.
Neste contexto não admira que os gastos dos hospitais em horas extraordinárias não parem de crescer. E, também aqui, pretende resolver-se um problema essencialmente organizacional pela via administrativa.
tavisto
3 Comments:
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Considero este tema importantíssimo e concordo com a análise feita.
Apenas acrescentaria que a Urgência Hospitalar é, também, um problema cultural de raízes muito profundas.
Nos Retalhos da Vida de um Médico, escreveu Fernando Namora:
“Assisti, nesse dia, a uma das primeiras consultas de banco, apressadas, quase brutais, em que toda a gente tinha ar de estar ali por empréstimo. Médicos, enfermeiros, funcionários pareciam atormentados pela ideia de algum outro serviço importante e inadiável"
Foi há mais de meio século!
Muito, muito bom este post do Brites.
O problema começa com a definição de urgência, e o hiato inevitável que separa a concepção do profissional da percepção do utente.
Num enorme número de casos, o que o doente crê ser urgente (seja por que motivo for, desde doer muito até às esperas intermináveis por uma consulta no CS), não é considerado urgente pelo médico/enfermeiro. E ficam coloridos a verde e azul.
A este respeito há um Hospital do Norte que decidiu mudar de «táctica»: criou um designado pólo 2 (que por acaso fica a norte...) do SU para atendimento exclusivo a «verdes» e a «azuis». Resultado? Estes são vistos, em média, mais precocemente que os «amarelos» no pólo 1...
Haverá algo mais desonesto que isto? É dizer aos doentes que, tenham o que tiverem, podem vir adirectamente ao Hospital que serão atendidos e bem depressa. É dizer-lhes mais: caso a situação seja «mesmo» urgente, terá ao lado o verdadeiro SU. É dizer-lhes ainda mais: quanto menos se queixar, mais depressa é atendido. É, acima de tudo, concorrência desleal com a consulta aberta dos CS. É perverso.
Obviamente que mudar a percepção do utente quanto à urgência ou falta dela exigiria um esforço geracional de instrução.
O SU deveria ser, simplesmente, um serviço pivô, em que após a triagem inicial (remunerada especificamente) o doente fosse encaminhado para a consulta do CS, ou para a consulta externa de qualquer dos serviços hospitalares, só «entrando» no SU quem, de facto, precisasse de cuidados urgentes. Quanto se pouparia neste absurdo de horas extra?
Talvez quando o QI médio da população (incluindo governantes e profissionais, claro está)ultrapassar a barreira dos 80...
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