sábado, junho 12

Portugal dos Pequeninos

ou a Arte de Fazer de Conta para Inglês Ver

A Direcção-Geral de Saúde (DGS) anunciou, esta quinta-feira, em comunicado um conjunto de medidas de combate ao desperdício e corte na despesa, tendo em conta as medidas anunciadas pelo Governo. Cada unidade orgânica deverá apresentar um plano rigoroso de deslocações em 2010, avança a TSF. As chamadas telefónicas devem ser reduzidas, «privilegiando-se a ligação para números de rede fixa».
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«Deve ser dado especial cuidado ao gasto excessivo de material de higiene (água, toalhetes, papel e sabonete)» e «cada trabalhador deve zelar pela poupança energética, desligando as luzes e equipamentos de climatização à hora do almoço e, no final do dia, desligando o computador, o monitor, o equipamento de climatização e as luzes do gabinete», lê-se no comunicado.
A impressão de textos passa a ser feita apenas quando estritamente necessária. Fotocópias e impressões a cores só mesmo a título de excepção. De resto, a DGS passará a encerrar às 21 horas, altura em que serão desligados todos os abastecimentos de energia.

Não há dúvida que alguns jornais (e jornalistas) deliram com este tipo de medidas. O que é facto é que esta “lógica” dos truques já começa a cansar. Por isso fica aqui uma sugestão para os senhores jornalistas de saúde especialistas em “poupançologia”:
Comparem a eficácia económica destas medidas, (telefonemas, água, toalhetes, papel e sabonete) com o custo registado, no último ano em viagens (nacionais e internacionais) dos seguintes organismos:
- Ministério da Saúde (Gabinetes da MS, SES e SEAS)
- Direcção-Geral da Saúde
- Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge
- Alto Comissariado da Saúde
- Administração Central do Sistema de Saúde
- Instituto da Droga e da Toxicodependência
- Instituto Português do Sangue
- Infarmed
- INEM
- Autoridade para os Serviços de Sangue e Transplantação
- ARS do Norte
- ARS do Centro
- ARS de Lisboa e Vale do Tejo
- ARS do Alentejo
- ARS do Algarve
- Unidade de Missão para os Cuidados de Saúde Primários
- Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados
- Parcerias em Saúde

Não vai haver telefonemas, garrafas de água, toalhetes e sabonetes que consigam disfarçar os factos .

parolo

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6 Comments:

Blogger e-pá! said...

Mais cedo do que o esperado, vamos sorrir destas [mesquinhas] medidas, se acaso o Tribunal de Contas não sucumbir [na avalanche de medidas de excepção]...

11:58 da tarde  
Blogger Malaquias said...

De facto e apesar de ter procurado incessantemente na Internet não encontrei nenhuma referência a viagens ao Estrangeiro realizadas por dirigentes e outros profissionais que integram este universo de organismos do Ministério da Saúde. Deve ser, seguramente, por inépcia informática ou deficiência técnica do motor de busca. Ainda por cima existem uns países no centro e no norte da Europa com uns hábitos (meio esquisitos é certo) de transparência que afixam nos portais oficiais esta informação. Por aqui a única coisa que encontramos são referências a umas aberturas de congressos e jornadas e a uns lançamentos de livros. Nada sobre viagens pela Europa nem pelo resto do mundo. Ora como sabemos o MS e os seus diferentes organismos primam por praticar uma cultura universalista e cosmopolita.
Temos a certeza que com a fúria poupadora que por aí perpassa terminados que estejam os planos relativos aos produtos de higiene e limpeza veremos, rapidamente, publicitados em tempo útil e em completo respeito pela obrigação de transparência o registo internáutico do esforço dos contribuintes em matéria de circularidade pelo globo pelos diferentes “staffs” da saúde.
Temos a certeza que a DGS será pioneira…

12:46 da manhã  
Blogger Setubalense said...

Quantos sabonetes valerá uma viagem ao México? E ao Canadá? E ao Brasil? E ao Uruguai? E à Argentina? E a São Salvador? E a Moçambique?

12:55 da manhã  
Blogger Olinda said...

Nesta questão da margem sul o mais revoltante é ver a dissonância esquizofrénica do discurso político. Às segundas, quartas e sextas sermões contra os privados, a liberdade de escolha e a defesa inflamada do SNS. Às terças, quintas e sábados sucessivas machadas no acesso, na liberdade de escolha do serviço público e o empurrar dos cidadãos e das famílias para as clínicas, hospitais e consultórios privados. Alguém imagina um pai ou uma mãe a fazer 30 ou 40 quilómetros, com uma criança doente, para se ir atolar no inferno do Garcia de Orta. É bom de ver que os pobres desses pais preferirão pagar 40 ou 50 Euros no Hospital Privado de Setúbal da Espírito Santo Saúde.
Alguém tem hoje alguma dúvida sobre quem está afinal a destruir o SNS?

1:13 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Rábula de uma cândida poupança…

As pueris medidas de contenção domésticas [das despesas] do MS trazem-me á memória a rábula do homem somítico, do sumiço do tostão e do esvaziamento da caixa de fósforos...

Deste modo:

Numa noite escura e tempestuosa um homem [sovina] perde, inopinadamente, uma moeda de tostão. Arrasado por este acidental desperdício, não sossega enquanto não consegue recuperá-la. Nesse sentido, acende um fósforo e nada…. Não consegue recuperar a moeda.
Obstinado, acende fósforo atrás de fósforo até que, com a caixa praticamente vazia, encontra o transviado tostão.
Entretanto, ao regressar a casa ufano e triunfante, despreza que gastou 3 tostões [preço da caixa de fósforos na época]...nesta improfícua saga.

10:15 da manhã  
Blogger tambemquero said...

O bastonário dos Médicos avisou ontem que a directiva que aprova a livre circulação de doentes na União Europeia pode prejudicar os sistemas de saúde de países como Portugal e levar ainda os clínicos destes países a migrarem para outros Estados. A directiva que precisa as modalidades de reembolso dos doentes tratados no estrangeiro esteve ontem em debate em Lisboa, no Conselho Europeu das Ordens dos Médicos (CEOM). “Não se pode fazer esta livre circulação de doentes, que está associada à livre circulação de profissionais, sem que haja uma regulação eficaz”, advertiu Pedro Nunes, à margem do encontro.
Para o bastonário, “se não houver uma regulação eficaz, este ultraliberalismo será feito à custa dos países periféricos, como Portugal, que terá dificuldade em manter a qualidade do serviço de saúde”. Esta situação “obriga a que os países estejam muito atentos, façam o trabalho de casa e investimentos que impeçam a saída dos médicos e a destruição dos serviços nacionais de saúde dos países periféricos”.

DE 12.06.10

Também estou preocupado com esta directiva por razões óbvias.
Quanto ao senhor bastonário dar-se-à o caso de pensar que Cuba faz parte dos 27 países da EU?

6:38 da tarde  

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