Estado Social, SNS e PEC
Devagar – diria mesmo estranhamente devagar para tanta evidência! – vai-se colando a percepção dolorosa de que a crise afectará o chamado Estado Social e “o oásis da Saúde onde o PEC não chegará...” afinal, é uma miragem. Porque o PEC já lá está e, até hoje, ninguém disse como de lá sairá.
Como bem suspeita o Tavisto, as dificuldades que atravessamos são estruturais. Medidas conjunturais podem ser necessárias, mas, mesmo quando bem concebidas e implementadas, são eficazes apenas enquanto se mantém a conjuntura. O que delas se poderá esperar também o diz o Tavisto: “se nada de profundo mudar o actual cenário repetir-se-á”, depois de um PEC, outro se lhe colará como indispensável.
Na verdade, e confinando-nos apenas à área social e da saúde, o que temos é, de há muito, um problema estrutural, de raiz e de hábitos (maus hábitos) incorporados. Mesmo situando-nos no grupo de países que mais privilegiam e mais recursos afectam à saúde, pelo menos em termos de unidades paritárias de poder de compra, o SNS não consegue dar a resposta exigível para esse nível de afectação de recursos, e manter-se no limite dos recursos atribuídos; assim contribui, ano a ano, para o problema global do crescimento da dívida. O que significa que o Estado Social e, dentro dele a Saúde, evoluíram a ritmo superior ao da produção da riqueza, esquecendo que há uma factura que o país, mais cedo ou mais tarde (azar nosso: exigem que seja agora!), tem de pagar. Se não corrigirmos a rota, estaremos a dar plena razão a Vital Moreira: está armada uma “Bomba de Relógio” (“Se nada mudar, é o próprio SNS que fica em risco. Ou a situação se inverte, ou caminhamos para uma situação complicada”). Isto é, são precisos ganhos de eficiência e impor rigor financeiro, como também diz VM.
Jorge Simões vai ainda mais longe e “defende medidas austeras ajustadas ao clima de contenção que vão do recuo nos medicamentos gratuitos, à revisão do pagamento de horas extraordinárias aos médicos, passando pelo fecho de serviços de saúde duplicados”.
Pedro Pita Barros diz que "a diminuição do desperdício é sempre um objectivo e há aqui alguma margem ainda a ser ganha…” Mas… "O crescimento da procura de cuidados de saúde continuará a fazer-se sentir. … A médio prazo é necessário actuar sobre o que faz crescer a procura, … passando por uma definição clara das terapêuticas e produtos de saúde assegurados". … fazer escolhas e decidir que cuidados deve o SNS prestar. Deixando outros de fora.
Até o discurso do secretário-geral do SIM, Carlos Arroz parece alinhado: “para grandes males, grandes remédios” … Se o dinheiro não chega e os profissionais são poucos, (não sei se são poucos, mas, se fossem muitos como seria?) então “concentrem-se serviços para evitar dispersão”. Só não compreendo que se insira na mesma lógica a exigência à MS de apresentação “urgente” de uma proposta de grelha salarial “digna e justa, de acordo com a penosidade, insalubridade e risco do trabalho médico” … “e de uma proposta de concurso de assistente graduado sénior”. Como se dissesse: tudo pode ser, mas não se belisque a Corporação.
Na mesma linha, de defender que o MS se ocupe com aquilo que pode melhorar o SNS, entendo a lista de oportunas perguntas de Amorim (onde foi que já tinha ouvido este discurso tão estruturado?). Partilho a convicção de que, principalmente quando os recursos são escassos, é boa estratégia optimizar a decisão e os recursos instrumentais que esta não pode dispensar, como sejam a qualidade, suficiência, disponibilidade e difusão da informação. Também por isso, as perguntas, além de oportunas, parecem-me boas. Deixe apenas que lhe apresente mais duas:
- Por que não incluir uma experiência – já que não se espera coragem para mais! – de 3 a 6 HH a funcionar durante dois ou três anos com regime de exclusividade para todos os seus profissionais, e com rigorosa avaliação anual (de qualidade, de produtividade e de recursos consumidos)?
- A quem faremos as perguntas com a esperança de receber respostas?
Como bem suspeita o Tavisto, as dificuldades que atravessamos são estruturais. Medidas conjunturais podem ser necessárias, mas, mesmo quando bem concebidas e implementadas, são eficazes apenas enquanto se mantém a conjuntura. O que delas se poderá esperar também o diz o Tavisto: “se nada de profundo mudar o actual cenário repetir-se-á”, depois de um PEC, outro se lhe colará como indispensável.
Na verdade, e confinando-nos apenas à área social e da saúde, o que temos é, de há muito, um problema estrutural, de raiz e de hábitos (maus hábitos) incorporados. Mesmo situando-nos no grupo de países que mais privilegiam e mais recursos afectam à saúde, pelo menos em termos de unidades paritárias de poder de compra, o SNS não consegue dar a resposta exigível para esse nível de afectação de recursos, e manter-se no limite dos recursos atribuídos; assim contribui, ano a ano, para o problema global do crescimento da dívida. O que significa que o Estado Social e, dentro dele a Saúde, evoluíram a ritmo superior ao da produção da riqueza, esquecendo que há uma factura que o país, mais cedo ou mais tarde (azar nosso: exigem que seja agora!), tem de pagar. Se não corrigirmos a rota, estaremos a dar plena razão a Vital Moreira: está armada uma “Bomba de Relógio” (“Se nada mudar, é o próprio SNS que fica em risco. Ou a situação se inverte, ou caminhamos para uma situação complicada”). Isto é, são precisos ganhos de eficiência e impor rigor financeiro, como também diz VM.
Jorge Simões vai ainda mais longe e “defende medidas austeras ajustadas ao clima de contenção que vão do recuo nos medicamentos gratuitos, à revisão do pagamento de horas extraordinárias aos médicos, passando pelo fecho de serviços de saúde duplicados”.
Pedro Pita Barros diz que "a diminuição do desperdício é sempre um objectivo e há aqui alguma margem ainda a ser ganha…” Mas… "O crescimento da procura de cuidados de saúde continuará a fazer-se sentir. … A médio prazo é necessário actuar sobre o que faz crescer a procura, … passando por uma definição clara das terapêuticas e produtos de saúde assegurados". … fazer escolhas e decidir que cuidados deve o SNS prestar. Deixando outros de fora.
Até o discurso do secretário-geral do SIM, Carlos Arroz parece alinhado: “para grandes males, grandes remédios” … Se o dinheiro não chega e os profissionais são poucos, (não sei se são poucos, mas, se fossem muitos como seria?) então “concentrem-se serviços para evitar dispersão”. Só não compreendo que se insira na mesma lógica a exigência à MS de apresentação “urgente” de uma proposta de grelha salarial “digna e justa, de acordo com a penosidade, insalubridade e risco do trabalho médico” … “e de uma proposta de concurso de assistente graduado sénior”. Como se dissesse: tudo pode ser, mas não se belisque a Corporação.
Na mesma linha, de defender que o MS se ocupe com aquilo que pode melhorar o SNS, entendo a lista de oportunas perguntas de Amorim (onde foi que já tinha ouvido este discurso tão estruturado?). Partilho a convicção de que, principalmente quando os recursos são escassos, é boa estratégia optimizar a decisão e os recursos instrumentais que esta não pode dispensar, como sejam a qualidade, suficiência, disponibilidade e difusão da informação. Também por isso, as perguntas, além de oportunas, parecem-me boas. Deixe apenas que lhe apresente mais duas:
- Por que não incluir uma experiência – já que não se espera coragem para mais! – de 3 a 6 HH a funcionar durante dois ou três anos com regime de exclusividade para todos os seus profissionais, e com rigorosa avaliação anual (de qualidade, de produtividade e de recursos consumidos)?
- A quem faremos as perguntas com a esperança de receber respostas?
Aidenos
Etiquetas: Aidenós, Politica de Saúde
20 Comments:
Será por Junho que vamos ter conhecimento das medidas que a comissão para a reforma hospitalar vai propor. Tenho esperança que a medida aqui sugerida por Aidenos, ou algo semelhante, possa vir a ter acolhimento.
Confesso desconhecer em absoluto os trabalhos da dita comissão, é porém com expectativa que aguardo as suas propostas.
Caro Aidenós não posso estar mais de acordo com a sua proposta …”de 3 a 6 HH a funcionar durante dois ou três anos com regime de exclusividade para todos os seus profissionais, e com rigorosa avaliação anual (de qualidade, de produtividade e de recursos consumidos)?”…, Trata-se de uma proposta inteligente e de carácter estratégico que confrontaria o SNS com o potencial da sua energia, capacidade de serviço e eficiência. Como o meu amigo imaginaria as consequências para o “status quo” e para o equilíbrio desta tão “conveniente” combinação público-privado seriam desastrosas. É por isso que o acompanho na sua percepção relativa à necessidade de coragem. Neste momento estamos, claramente, no fim da linha para garantir o SNS tal como muitos de nós o “pensam”. Infelizmente a retórica proclamatória, as manifestações de intenção e os preconceitos “morais” de nada lhe servem. Na verdade é preciso fazer a “prova de vida” do SNS através de respostas inovadoras e de resultados concretos. A não ser assim o SNS será, com toda a certeza, desmantelado.
“Conseguimos imaginar mas não seria, certamente, a mesma coisa”…
Caro Aidenós ainda a propósito de boas ideias não resisto a partilhar consigo e com os restantes amigos do SaudeSA algumas reflexões adicionais:
Imagine, por mero absurdo, que o MS queria acabar com o problema de utentes sem médico de família? Imagine, igualmente, por absurdo que tinha uns assessores que faziam análise estratégica, económica e de custo efectividade? Imagine que decidiam introduzir transparência no processo de gestão electrónica de listas de utentes por MF? Suponha que introduziam processos dinâmicos de monitorização dessas listas? Que decidiam não considerar nas respectivas listas utentes não utilizadores há mais de dois anos (é que existem de facto milhares de cidadãos que não utilizam o MF apesar de estarem registados nos CS)? Imagine que a gestão desta fracção (muito importante) era feita com flexibilidade? Que era proposto aos MF aumentar, globalmente, o número de inscritos com incentivos remuneratórios e profissionais? Imagine que se desenvolviam mais ULS, com integração efectiva, baseada na cooperação inter-institucional e inter-profissional no processo de gestão de cuidados e resposta às populações? Suponha que, à semelhança do que está a acontecer um pouco por todos os países, se encarava de frente a reperfilagem de competências e se atribuíam novos papéis à enfermagem e às outras profissões de saúde? Imagine que se lançavam as USF tipo C e, à semelhança destas, em todas as USF’s se introduzia no processo de contratualização incentivos à boa prática prescritiva, à prescrição de genéricos, à racionalidade nos MCDT’s e, finalmente, incentivos remuneratórios à “fidelização” dos doentes com incentivos às USF’s que retivessem mais os seus utentes em detrimento da utilização inapropriada dos SU dos hospitais.
Imagine um sistema de saúde e o nosso SNS com este tipo de práticas? E qual seria o impacte na respectiva sustentabilidade?
É caso para dizer (parafraseando os publicitários) “conseguimos imaginar mas não seria, certamente, a mesma coisa”…
Negar a evidência
Se existe algo que todos aqueles que se interessam pelo sistema de saúde têm como certo é que este blog faz parte das leituras quotidianas de centenas de profissionais do sistema de saúde bem como de muita gente ligada aos meios políticos, académicos e jornalístico. Todos sabemos, igualmente, que o SaúdeSA é lido com muita atenção, diariamente, na João Crisóstomo.
O mérito deste sucesso vai por inteiro para o Xavier e para a sua equipa que tiveram o engenho e, sobretudo, a persistência no caminho de consolidação de um importante espaço de opinião e de livre debate onde, não raras vezes, vemos publicados textos de grande interesse e qualidade.
Neste sentido é verdadeiramente surpreendente que, ao fim de tanto o tempo, ninguém no MS tenha sido sensível a tantos e tão oportunos alertas aqui deixados a propósito de muitas das questões que têm vindo a ensombrar o SNS.
São múltiplos os exemplos.
Há quanto tempo se vinha alertando para o risco que o SUCH corria fruto do desvario da sua equipa de gestão? Como foi possível deixar passar tanto tempo, negligenciando o risco, reconduzindo equipas e renovando apoio político? O mesmo se passará, ainda, com outras instituições como é o caso, aqui tantas vezes referido, do Centro Hospitalar do Médio Tejo?
Porque razão se deixou prosseguir a aventura PPP permitindo que ex-dirigentes do SNS “travestidos” de gestores privados tenham andado, durante meses, a “vandalizar” os hospitais públicos destruindo equipas e serviços?
Porque razão se deambulou tanto na política do medicamento levando a situação ao mais profundo dos descalabros? Para quê o ziguezaguear dos preços, das margens e das comparticipações que culminou com o grave impulso populista (oriundo directamente da PCM para ganhar eleições) cujo resultado está à vista de todos?
Porque razão se deixou resvalar a reforma dos CSP e degradar os hospitais fechando os olhos e fazendo ouvidos de mercador ao risco previsível de desastre em matéria de recursos humanos?
Porque razão (conhecida a realidade dramática das contas públicas) se andou (com a conivência da PCM) a prometer aos Sindicatos aquilo que nunca seria possível de concretizar?
A fase que se vive, actualmente, no MS faz-nos recordar o bom e velho conselho de Theodore Roosevelt quando referiu: …”Se fracassar, ao menos que fracasse ousando grandes feitos, de modo que a sua postura não seja nunca a dessas almas frias e tímidas que não conhecem nem a vitória nem a derrota”…
O que todos desejamos é que a derrota deste governo e deste MS não seja também a derrota do SNS.
Caro Xavier
Há muito que não escrevia nada aqui no Saúde SA, mas os últimos posts aqui publicados por vários autores, todos em ”defesa do SNS e da sua sustentabilidade contra o PEC e a favor do Estado Social” contra a Ministra da Saúde, a sua equipa, o Governo, o PM etc. acusações de “resultados catastróficos, fruto da sua actuação politica”, pedidos de “demissão” a “incompetência da governação”, de listas de “perguntas/programa”, revela a oportunidade escolhida por alguns para ajustar conta com a Ministra, por ter conseguido apaziguar as hostes e resolver a “trapalhada” das Urgências, negociar um ACT e carreiras médicas, contratar médicos cubanos, pondo a nu muitas das opiniões também aqui expressas de que não existiam falta de médicos, por ter recolocado a defesa do SNS na agenda política do Governo? Muitos dos que agora pedem a sua demissão, são incapazes de discutir o contexto e os protagonistas dos que governaram os Hospitais nos últimos anos, põe-se de fora, quando sempre estiveram dentro, alguns mesmo com pé dentro e outro fora, não criticam nem atacam agora CC ou FR, porque afinal pertencem à família. Confundem o essencial com o secundário, auguram agora como no passado a desgraça, menosprezam, omitem ou desvalorizam os resultados obtidos sejam de saúde, ou na Reforma dos Cuidados de Proximidade, nas listas de espera cirúrgicas ou na área do medicamento, estão contra a centralização mas têm alergia à tutela das ARS sobre os Hospitais, alimentam a argumentação neoliberal e o PSD, sustentam até as suas opiniões nos pareceres da ERS e o Tribunal de Contas, sem os analisarem e criticarem e sem perceberem que estes estão apostados em “dar lições de governação”.
Mas sobretudo esquecem que a actual crise financeira, económica e social, que atravessamos, deveria ser encarada como um desafio para olharmos de frente a forma como vivemos. Criámos ambientes insalubres, barulhentos, obesogénicos, que criaram um ciclo vicioso de doença-saúde, reduzindo o bem-estar individual e colectivo, aumentando os gastos energéticos e comprometendo a viabilidade de sistemas de saúde, públicos, universais, justos e equitativos.
Questões como as mudanças climáticas, a sustentabilidade da economia, a alimentação, os transportes, os espaços verdes, a sustentabilidade dos sistemas de saúde e as desigualdades em saúde, estão hoje na ordem do dia. A actual crise económica e financeira que atravessa o mundo desenvolvido terá fortes implicações sobre as despesas públicas e as despesas em saúde e poderá por em causa os resultados de saúde obtidos nos últimos 60 anos. Esta circunstância abre a porta para o debate e a oportunidade para encararmos os problemas, os serviços de saúde são no mundo desenvolvido grandes consumidores de recursos, energéticos, financeiros e humanos, mas se olharmos a sociedade e percebermos que se as pessoas mais desfavorecidas dispusessem do mesmo nível de saúde que as mais favorecidas, existiria um maior número de pessoas a levarem uma vida saudável e a requererem menos cuidados de saúde. Reduzir-se-iam os custos com a Saúde, os gastos energéticos desnecessários, poupar-se-ia dinheiro que serviria para tratar doenças inevitáveis e diminuir as causas das desigualdades em saúde.
... (cont)
Avicena
...
Uma abordagem de saúde centrada nos cuidados de proximidade, que favoreça a participação dos cidadãos, ajudará a diminuir as desigualdades e a diminuir a procura intensiva dos serviços de saúde. Investir dinheiro público em medidas como: a promoção de espaços verdes, alimentação saudável ou transporte activo, produzirá benefícios tanto para a saúde como para a diminuição do consumo de energia. Mas as oportunidades para criarmos uma vida saudável, devem ser distribuídas de maneira a favorecer as pessoas com baixos rendimentos e assim ajudarem a reduzir as suas vulnerabilidades aos problemas de saúde. Deixem de olhar para o “umbigo” por muitos ganhos que obtivermos na melhor gestão dos serviços e em particular dos Hospitais (e são bem necessários), coloquem na agenda a luta contra as desigualdades em saúde, a coesão social e lutem por reorientar os serviços para os cuidados de proximidade e estarão a dar passos para a sustentabilidade do SNS. Mas olhem que os Hospitais há muito que deixaram de ser o centro do Mundo.
Avicena
Caro Avicena
Respeito a sua fé na senhora ministra.
O seu comentário, no entanto, resume-se a um monte de disparates.
Caro Avicena
Não vou discutir os seus pontos de vista que me parecem óbvios.
Fiquei com a impressão (não me leve a mal) que lhe calhou a espinhosa missão de vir plantar "Setas pra cima" aqui no SaudeSA.
Caro Avicena
O direito à opinião é livre. A sua posição pró política de Saúde do Governo e do desempenho da Ministra da Saúde, é tão respeitável como a dos que entendem o contrário. Porém, já me parece de mau gosto que pretenda colar quem discorda às posições neoliberais de Passos Coelho, não distinguindo a crítica construtiva do frete político-partidário.
Não percebo, também, por que, ao invés de postar livre e de forma singela, a sua respeitável opinião neste espaço, se dirige expressamente ao responsável do blogue. Desta forma dá a entender que pretende, de alguma forma, que Xavier seja mais selectivo nas opiniões que entende destacar neste espaço.
Não conheço pessoalmente Xavier, ou poderemos eventualmente conhecer-nos (quem sabe!). Como frequentador e colaborador assíduo deste blogue, estou seguro que o seu grau de isenção está acima de qualquer suspeita.
Considero pois esta sua intervenção um lapso. Concordará comigo que o que mais se deseja é que a livre discussão de ideias e opiniões, prossiga sem condicionamentos.
O secretário de Estado da Saúde anunciou ontem em comunicado a revogação do mandato da presidente do conselho de administração do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH), Paula Nanita, que será substituída no cargo por Nelson Baltazar a 23 deste mês.
Paula Nanita reagiu afirmando que não vai permitir “ofensas” à sua honra e a “instrumentalização política” deste organismo. A ainda presidente do SUCH frisou que tomou conhecimento da revogação do seu “mandato a meio apenas através da comunicação social e de alegadas declarações ou comentários que aos mesmos terá dirigido o senhor secretário de Estado da Saúde”. Alegou ainda que não tem “qualquer notícia” de Óscar Gaspar desde 26 de Abril passado, uma “situação um tanto paradoxal e desconfortável face às notícias vindas a lume (desde o dia 18 de Maio)”. Esta situação “exigiria outra frontalidade na sua abordagem”, defende.
No comunicado, o secretário de Estado adianta que aceitou o “pedido de renúncia do cargo” apresentado pela vice-presidente do SUCH, Joaquina Matos.
JP 05.06.10
Trapalhadas...
“Tudo jóia” no universo das PPP’s (à Portuguesa)
...”A ministra da Saúde, Ana Jorge, garantiu este sábado, em Braga, que os direitos dos trabalhadores do Hospital de São Marcos – gerido pelo grupo Mello Saúde – serão salvaguardados, quando abrir o novo estabelecimento hospitalar da cidade…”
Provavelmente da mesma forma como foram “salvaguardados” os casos dos patologistas clínicas do Hospital de Cascais (PPP) ou seja “empandeirados” para um qualquer hospital público sobrante. Na verdade há que garantir a eficiência dos grupos privados e continuando a afundar a rede pública.
…”Ana Jorge – que conversou com os manifestantes – insistiu na tese de que «os postos de trabalho estão garantidos», mas foi lembrando que a reforma da Administração Pública alterou as regras no funcionalismo do sector: «Tem de haver uma forma diferente de estar e é importante que assim seja para que Portugal também avance», sublinhou”…Mais que não seja vai Portugal e o SNS avançando para o abismo.
…”O porta-voz dos manifestantes, o enfermeiro Fernando Fernandes, disse aos jornalistas que a maioria dos profissionais do São Marcos teme pelo futuro, já que quer a direcção do Hospital quer a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte têm colocado a hipótese de virem a perder regalias. «Os contratos que iremos celebrar individualmente com o grupo Mello Saúde não respeitam os direitos adquiridos e, inclusivamente, podem acarretar uma perda monetária», afirmou. Garantiu que no local estavam médicos, enfermeiros, auxiliares e utentes – que alegadamente terão sido prejudicados com a gestão privada da unidade de saúde – e que não foram convocados por nenhum sindicato. «Estamos numa situação indefinida, pois não sabemos como vai ser a transição para novo hospital, mas já sabemos que iremos trabalhar mais horas e receber menos salário», afirmou”…
Fica aqui o desafio: o MS e as ARS podiam dar “estas liberdades” aos gestores dos hospitais públicos que eles, seguramente, também fariam o milagre da eficiência tão pujantemente proclamada pelas gestões PPP e quejandas.
A rede de cuidados continuados vai ser reforçada em dois mil lugares, tendo em vista responder às necessidades dos utentes. A segunda fase do programa Modelar antecipa apoios previstos de 2016 para 2013. Ao mesmo tempo, permite a criação de mais emprego. link
JN 06.06.10
OS BASTARDOS DA II REPÚBLICA!
No Hospital de S.JOÃO (PORTO)há seis gestoresnão clínicos (alguns jovens diplomados em Adminiatração Hospitalar e outros que nem Administradores Hospitalares são) que auferem remunerações equivalentes a Administrador de 1ª classe acrescida de um subsídio de direcção de 750 euros, mais um subsídio de carência (alguém sabe o que é isto!) igualmente de 750 euros (num caso é de 990 euros). Auferem portanto um vencimento de cerca de 5200 euros por mês. No Hospital Geral de S. António os gestores auferem todos uma remunarção equivalenete à remuneração de Administrador de 1ª classe, mesmo os que são Administradores Hospitalares récem.diplomados.Os Administrdaores de carreira que já são de 1.ª classe nada auferem mais. No IPO do Porto, um técnico de informática foi recentemente nomeado Director de Serviço passando a auferir 5000 euros por mês, 16 meses por ano. Os restantes gestores ao verem esta remuneração exigiram também aumentos. Auferiam cerca de 1600 euros por mês, passram a auferir 3000 euros mais 10% de subsídio de direcção, num total portanto de 3300. Estamos a falar em remunerações recentes pagas em tempo de crise.
Que nome dar a este tipo de gestão?
Isto são apenas exemplos visíveis de uma gestão bastarda.
Poderiam dar-se mais exemplos. Não faltam exemplos da completa irresponsabilidade de gestão, a coberto da incompetência da tutela que de nada sabe e de nada quer saber.
Até quando teremos de aturar esta gente?
A ler...
Um aviso para os entusiastas de "soluções administrativas" e um alerta para os pós-modernos defensores de inevitáveis "cortes cegos".link
GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS NOS HOSPITAIS EPE: «GESTÃO-CEBOLA»
A transformação dos hospitais em empresas supostamente traria ganhos de produtividade que passariam também pela diminuição do número de trabalhadores: menos quantidade, melhor qualidade. Nada disso se passou. A autonomia de gestão dada aos Conselhos de Administração veio a traduzir-se no agravar da gestão «da cebola», camadas sobre novas camadas. Cada novo Conselho de Administração junta à camada de boys admitida pelo anterior Conselho de Administração, nova camada e assim sucessivamente. Tem sido assim com os boys do PSD como também com os boys do PS. Com uma diferença, estes são bem mais rascas.
Vejamos que se replica, contudo, em todos os hospitais EPE. No Hospital de S. João (Porto) o número de trabalhadores passou, em 7 anos, de 4581, em 2001, para 5379, em 2008. Verifica-se, contudo, que o número de trabalhadores, que tinha diminuindo em 2002 e 2003, aumentou abruptamente a partir da gestão empresarial do hospital. De 4451, em 2003, passa para 4800, em 2004, 5.105, em 2005, 5.237, em 2007 e 5379, em 2008. No final de 2009 o número será próximo dos 5.500.
Pode bem dizer-se que a emprezarialização do Hospital de S. João serviu para criar uma coutada de 1000 novos boys que pouco vieram acrescentar ao hospital, a não ser despesas. Não vieram trazer know-how que antes já não existisse ou não pudesse facilmente ser adquirido. Paralelamente foram-se acumulando funcionários nas prateleiras, alguns em prateleiras douradas. A febre anti-funcionalismo público, anti-carreiras, a «fuga para o direito privado», a «new public managmente», é paleio que tem servido, nesta como noutras áreas da gestão «pública», para encobrir uma gestão ruinosa do erário público. A última funcionária a ser emprateleirada no Hospital de S. João foi a, até há bem pouco tempo, Directora do Departamento de Recursos Humanos que passou para assessora do Presidente do CA tendo a Direcção dos Recursos Humanos sido entregue a uma Direcção colegia (três elementos), de elementos de uma empresa de consultadoria que já vinha a «mamar» no HSJ.
Os Hospitais EPE não sabem, ou não querem saber, que, como empresas públicas, estão a gerir dinheiros públicos. O Ministério da Saúde, se fosse um bom gestor, que não tem sido, devia estar atento a tudo isto. Não tem estado.
Mil boys, pasme-se. Num só hospital. Representam para uma valor remuneratório médio de 1000 euros, mais cerca de um milhão de vencimentos por mês, 14 milhões por ano.
E que não dizer dos investimentos que a maioria dos HH EPE vêm fazendo. Outra área onde estão a ser gastos milhões inutilmente, sem estudos prévios, sem priorização das necessidades. Apenas por mero capricho, «política de betão», «gestores-empreiteiros» (pequenas mentalidades) que querem passar a ser considerados «gestores-arquitectos» (pelas grande obras).
Os hospitais precisam de nova gestão. Mas precisam também, sobretudo, de uma Ministério atento, responsável e competente.
Como alguém disse, as crises podem ser oportunidade, de ouro na busca de soluções para as ultrapassar – e para prevenir outras no futuro.
Assim deverão proceder a União Europeia e os seus Estados-membros perante o terramoto causado pela crise financeira originada nos Estados Unidos há dois anos.
Na verdade, trata-se de uma tripla crise. Primeiro, foi a crise do sector financeiro, com a bancarrota ou ameaça de bancarrota de instituições financeiras, o aperto no crédito, a queda das bolsas. Segundo, foi a crise económica e social, em consequência daquela, traduzida na redução drástica da procura, do investimento e da actividade económica, com consequências dramáticas no desemprego.
Finalmente, veio a crise das finanças públicas traduzida no súbito aumento dos défices orçamentais e no disparo da dívida pública, por causa da perda receita fiscal e do agravamento da despesa pública.
Mercê de medidas coordenadas a nível da União, estas três sucessivas crises foram enfrentadas com maior ou menor determinação e acerto. O sector financeiro foi salvo, à custa de maciço apoio do Estado. A retoma económica está em curso, em virtude de vastos programas de estímulo público. A crise orçamental está a ser combatida, mediante dolorosos programas de austeridade.
Dois anos depois, a Europa está em vias de saída da mais grave crise financeiro-económica desde a grande recessão dos anos trinta do século passado. Para esse sucesso contribuíram as lições dos erros então cometidos, bem como a experiência entretanto acumulada. Mas foi decisivo também o facto de agora haver a União Europeia e de as respostas terem sido dadas num quadro da integração económica e política europeia. Sem as acções tomadas a nível da UE, a crise teria tido um impacto bem mais profundo e duradouro do que teve.
Mas seria impensável que depois disto tudo ficasse na mesma e voltássemos ao business as usual. Impõem-se reformas profundas e ambiciosas.
A crise do sector financeiro revelou a carência de regulação e de supervisão dos mercados financeiros, sobretudo a nível da UE, bem como a falta de mecanismos de resgate ou de falência de bancos, sem necessidade de recurso ao orçamento do Estado. Num mercado financeiro integrado, como é o da União, impõe-se a criação de um sistema de supervisão “federal”, capaz de superar a fragmentação dos sistemas de supervisão nacionais. Para prevenir a repetição futura de resgate público das instituições financeiras privadas à custa dos contribuintes, impõe-se a criação de fundos alimentados por contribuições das próprias instituições, calculadas em proporção dos seus activos e dos seus riscos.
Se o combate à recessão económica implicou a coordenação dos pacotes de estímulo público a nível da EU, não é admissível que se perca a oportunidade para instituir mecanismos permanentes de coordenação das políticas económicas nacionais, desde logo para atenuar os desequilíbrios macro-económicos dentro da União, promover o crescimento e combater o défice de competitividade externa da própria economia europeia.
A crise orçamental, com maior impacto nos países onde a retracção económica
foi mais pronunciada ou onde a situação das finanças públicas era estruturalmente mais débil, veio obrigar a exigentes programas nacionais de austeridade e de reequilíbrio orçamental. O abcesso grego veio revelar a possibilidade de “falência soberana” dentro da zona euro, por impossibilidade de refinanciamento da sua dívida. Daí a necessidade de encarar a criação de um mecanismo de empréstimos ad hoc, que os pais fundadores da moeda única não tinham julgado necessário.
...
JP 08.06.10
...
Se a União e os Estados-membros foram em geral eficazes e expeditos na resposta à emergência das sucessivas fases da crise – com excepção da lamentável demora na resposta ao colapso da dívida grega, que salpicou outros países e ameaçou a própria estabilidade do euro –, já tem sido extraordinariamente lenta na montagem das instituições e dos mecanismos pós-crise.
O pacote da regulação e de supervisão financeira, apresentado pela Comissão Europeia há quase um ano, arrasta-se há meses no Parlamento Europeu, sujeito à pressão dos lóbis financeiros. A questão do financiamento do resgate ou encerramento de bancos só agora foi objecto de uma comunicação da Comissão Europeia, propondo a criação de fundos nacionais alimentados por contribuições dos bancos (o que é uma solução “coxa”, comparada com a alternativa de um fundo europeu, mais congruente com a já elevada integração do mercado financeiro europeu).
A ideia de maior coordenação europeia das políticas económicas nacionais tem marcado passo, entre a visão mais integracionista da Comissão Europeia e de alguns Estados-membros (como a França e a Espanha), que propõem um verdadeiro “governo económico” da União, e as visões minimalista de outros, com a Alemanha à cabeça.
O Conselho Europeu criou um grupo de trabalho, coordenado pelo seu próprio presidente, Von Rompuy, mas concedeu-lhe um mandato até ao fim do ano (!) para apresentar o seu relatório. Tendo sido arrepiadoramente lenta na resposta à crise orçamental grega e à contaminação que ela produziu noutros países, a União já foi bem mais expedita na apresentação de medidas para debelar e prevenir novas crises orçamentais, incluindo a fiscalização das contas nacionais, o controlo prévio da disciplina orçamental e a punição dos prevaricadores. Mas a ideia de um mecanismo permanente para ajuda aos países em dificuldades orçamentais excepcionais continua a ser objecto de especulação sem resultado.
Vital Moreira, JP 08.06.10
Alinhado é uma acusação grave já que é coisa que nunca fui e, espero, nunca serei. Mas quando se escreve ao jeito de caça piolhos, atacando a tudo o que mexe e pescando frases e citações descontextualizadas, não admira que aqui apareça alinhado com Pedro Pitta Barros e Jorge Simões, admiráveis personalidades mas a anos luz do meu conceito de SNS.
O termo alinhado pode, efectivamente, ter um sentido pejorativo, de submisso ou de acrítica ou subservientemente concordante seja com o que for. No texto postado pelo Saudesa, nada me parece inculcar que seja esse o entendimento a fazer. Registo, não obstante, o pronunciamento do Dr. Carlos Arroz sobre o qual nada tenho que dizer. Assim como sobre a distância que separa o seu conceito de SNS do que perfilham Pedro Pitta Barros ou Jorge Simões. Afinal, apenas pretendi salientar o que qualquer dos três sugeriu para conviver com a escassez de recursos disponibilizados ao SNS.
Caro sns,
Permita-me que lhe diga que o alerta para a situação de risco inaceitável que o SUCH corria (e corre) chegou “em primeira mão” à tutela pela própria administração do SUCH, que terá até indicado ao Ministério da Saúde diversos cenários para ultrapassar a situação financeira insustentável da organização.
O SaúdeSA terá feito um aviso também, com uma outra abordagem, própria de quem não tem em sua posse todos os dados.....
É sabido que o SUCH ultrapassa uma situação financeira difícil, mas atribuir essa situação a “desvarios da sua equipa de gestão” é especulativo e infundamentado. Ao que sei esta equipa sempre se regeu pela transparência e rigor, partilhando e acolhendo as aprovações da tutela e dos seus associados relativamente às suas mais importantes decisões de gestão.
O problema do SUCH não reside na equipa de gestão, seja ela qual for. Não tem a ver com frotas, prémios e vencimentos (questões amplamente divulgadas e extravasadas na comunicação social e já publicamente respondidas). Refiro apenas dois pontos: a dívida de clientes (problema histórico do SUCH e com agravamento vertiginoso) e as contingências criadas em torno do projecto de serviços partilhados que o SUCH criou e desenvolveu a pedido da tutela, nomeadamente o regime de adesão livre por parte das instituições do SNS, desde sempre identificado como factor critico de sucesso
O primeiro ponto será minimizado a curto prazo: o SNS estará agora a recepcionar os montantes relativos a pagamentos da ADSE e julgo que regularização de pagamentos em atraso se assuma como prioritária.
Quanto ao segundo ponto, aguarda-se com expectativa a decisão politica que se impõe - tornar vinculativa a adesão do SNS aos Serviços Partilhados em Saúde operacionalizados agora pela EPE que deveria ter entrado em actividade no dia 1 de Junho.
Saúde Sem Filtro
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