A ministra enfermeira
Espanta-me o vazio das declarações de Ana Jorge. As palavras da ministra da Saúde funcionam como anestesia geral para todos os males, alergias e doenças da alma. Parece que está sempre tudo bem. O facto de ser pediatra talvez tenha alguma coisa a ver com infantilização a que nos sujeita com carinho de enfermeira. Crise? Cortes? Risco de paralisação do SNS em 2011 por causa da razia de mais de mil milhões de euros no orçamento? Responde Ana Jorge sem levantar a voz, docemente: "Há sempre a possibilidade de fazermos uma gestão diferente que permita levar a uma redução dos custos em determinadas áreas, sem pôr em causa a qualidade e os tratamentos." A sério? Saúde e milagres não casam, mas Ana Jorge quer acreditar que sim. O antecessor, o feroz Correia de Campos, convenceu Sócrates que um dos grandes males do ministério da Saúde era a suborçamentação crónica. Todos os anos eram aprovados orçamentos ridiculamente baixos que, por isso mesmo, ninguém cumpria. O resultado era dramático: derrapagens, mais dívidas e indiferença na gestão hospitalar. Correia de Campos travou parte dessa hemorragia e fez com que, pela primeira vez, as contas fossem levadas a sério e os cuidados de saúde melhorassem.
Pois é: Ana Jorge atirou tudo para os cuidados intensivos. Em 2011 talvez até fosse possível congelar a despesa - não aumentava nem diminuía face a este ano -, mas um corte superior a 10% implica uma amputação extraordinária do dinheiro disponível. Ora bem, para operar esta multiplicação dos pães - melhor saúde com muito menos recursos -, a estratégia teria de ser bem definida e explicada. Teria de ser credível para conseguir ser executada. Evidentemente, não é o caso. Até hoje, não se sabe o que vai acontecer. Além de generalidades ("vamos fazer uma gestão diferente"), Ana Jorge gere tudo num terrível e enigmático silêncio. Que saudades da frontalidade de Correia de Campos.
André Macedo, DN 11.12.10
Pois é: Ana Jorge atirou tudo para os cuidados intensivos. Em 2011 talvez até fosse possível congelar a despesa - não aumentava nem diminuía face a este ano -, mas um corte superior a 10% implica uma amputação extraordinária do dinheiro disponível. Ora bem, para operar esta multiplicação dos pães - melhor saúde com muito menos recursos -, a estratégia teria de ser bem definida e explicada. Teria de ser credível para conseguir ser executada. Evidentemente, não é o caso. Até hoje, não se sabe o que vai acontecer. Além de generalidades ("vamos fazer uma gestão diferente"), Ana Jorge gere tudo num terrível e enigmático silêncio. Que saudades da frontalidade de Correia de Campos.
André Macedo, DN 11.12.10
Olinda
Etiquetas: Ana Jorge, bater no fundo
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home