quinta-feira, março 17

Trocas e baldrocas

Acordo da Saúde com a indústria farmacêutica só dura três meses link

«Se houver desvios às metas da despesa com medicamentos o Governo promete descer preços.
O Governo recuou e já não vai descer o preço dos medicamentos em Abril, ao abrigo da revisão anual que compara os preços dos medicamentos em Portugal com os de outros quatro países. Mas afinal, o acordo ontem assinado coma indústria farmacêutica não é válido para dois anos, mas só por três meses. É que o ministério da Ana Jorge vai vigiar a despesa do Estado com medicamentos a cada três meses e se houver derrapagens poderá aplicar imediatamente o mecanismo de revisão anual e descer os preços. “A revisão anual do preço dos medicamentos, prevista para Abril de 2011, é adiada por três meses. Isto é, se no âmbito do processo de monitorização da despesa surgirem indícios de desvio às metas acordadas, está prevista a revisão de preços como instrumento de correcção”, explicou ao Diário Económico fonte oficial do Ministério da Saúde. Para isso, será publicada uma portaria que altera a revisão anual dos preços.

Há cerca de três semanas o secretário de Estado da Saúde, Óscar Gaspar, tinha garantido que em Abril os medicamentos iam ficar mais baratos. Entre a decisão de descer o preço de 190 medicamentos ou apenas de dois, o Governo optou pela segunda hipótese. Contas feitas, o Estado poupa 21% na despesa com medicamentos nos próximos dois anos (o equivalente a 354 milhões de euros), a indústria farmacêutica ganha a garantia da estabilidade legislativa dos preços e o utente... não se sabe.
Questionado sobre quais as vantagens que o protocolo traz aos consumidores, o secretário de Estado da Saúde respondeu que “não é possível fazer essa extrapolação”, porque “essa conta não foi feita do lado dos meus serviços”. Óscar Gaspar deixou apenas uma certeza: “nenhum medicamento ficará mais caro para o cidadão com este acordo, nem este ano”.

Nas últimas semanas a Apifarma (associação que representa a indústria) tinha vindo a alertar o Governo para as consequências de uma nova descida de preços (que rondaria os 5%), acenando como risco demais desemprego, desinvestimentos e deslocalizações na indústria farmacêutica. Como contrapartida, a indústria vai descer o preço dos dois medicamentos campeões de vendas - omeprazol (para o estômago) e sinvastatina (colesterol) - em 38% e 30%, respectivamente.
E compromete-se ainda em assegurar que a despesa total do Estado com medicamentos não ultrapassará aos 1.440 milhões de euros em 2011 e os 1.320 milhões em 2012. Caso contrário, “a indústria farmacêutica compromete-se a devolver ao Estado a parte remanescente”, esclareceu ontem a ministra Ana Jorge.
O Governo reduz assim a despesa com medicamentos vendidos nas farmácias em 234 milhões de euros este ano, e em mais 120 milhões de euros em 2012, face ao valor de 2011. No total, o Estado terá uma poupança extra de 80 milhões nos medicamentos vendidos em ambulatório e de 20 milhões nos medicamentos consumidos em meio hospitalar, por comparação com que o que estava inscrito no Orçamento do Estado para 2011.

O argumento da poupança para o Estado não é suficiente para convencer os partidos da oposição das vantagens do acordo. João Semedo, do Bloco de Esquerda acusa o Governo de se “mentir aos portugueses” e de se “render” às exigências da indústria, enquanto Teresa Caeiro, do CDS-PP, diz que o Executivo “teima em ser forte com os fracos e fraco com os fortes”, penalizando “sempre os mesmos”. O BE acredita mesmo que os medicamentos vão ficar mais caros em consequência de alterações às comparticipações: “Mantendo-se os preços sem descer e diminuindo as comparticipações no preço dos medicamentos, anunciada no PEC IV e que a ministra hoje [ontem] não rejeitou, os portugueses vão pagar mais caros os medicamentos”, diz Semedo. Ana Jorge anunciou ontem que está a preparar uma revisão na metodologia das comparticipações, sem garantir que isso implique reduções que prejudiquemos utentes. »
DE 17.03.11

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3 Comments:

Blogger e-pá! said...

PEC IV
Ministério das Finanças e Administração Pública
ACTUALIZAÇÃO ANUAL DO PROGRAMA DE ESTABILIDADE E CRESCIMENTO:
PRINCIPAIS LINHAS DE ORIENTAÇÃO
11 de Março de 2011 linkAssegurar o ajustamento orçamental
Medidas de redução da despesa: 2,4% do PIB (1,6% em 2012 e 0,8% em 2013)

(slide 7 - item 4 )

- Redução de custos com medicamentos e sub-sistemas públicos de saúde,
aprofundamento da racionalização da rede escolar, aumento da eficiência no aprovisionamento e outras medidas de controlo de custos operacionais na Administração Pública…

Slide 14:

Prosseguir a Agenda de Reformas Estruturais

Saúde: pacote de medidas com o objectivo de aumentar a eficiência e reduzir os custos no SNS. Prosseguir o esforço de redução de despesa anunciado em Dezembro 2010 (comparticipações, controlo da despesa com medicamentos e MCDT, racionalização da rede de cuidados primários, secundários e outras estruturas) com um aprofundamento da intervenção nesses domínios e redução de despesa com sub-sistemas públicos de saúde.

Reprodução (parcial) do power-point editado pelo Ministério das Finanças

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Raciocínios simplex-like:

- A estratégia de atirar o barro à parede já não cola… e provoca crises políticas incontroláveis;

- Não vale a pena deitar foguetes porque o que virá a seguir será pior;

- Portanto, se o Estado está apostado na redução de custos com medicamentos, se a APIFARMA não baixa preços, quem é o mexilhão?

Re: O utente. (simplex!)

Moral da História: o deputado João Semedo tem razão.

11:26 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Penso que é uma medida da maior gravidade e que, neste momento, tomar esta decisão significa violar a lei, porque a lei exige que haja uma revisão anual dos preços tendo em conta os preços de referência dos quatro países da Europa que servem de referência à formação dos preços

Bernardino Soares, DD 16.03.11

11:45 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Aquilo que posso garantir aos portugueses é que este acordo permite que não haja outro tipo de medidas que podiam ser penalizadoras para os cidadãos. O que está no PEC IV é uma remissão clara para o anunciado em 2010. Não está em cima da mesa nenhuma mexida no sistema de comparticipação
Óscar Gaspar, JP, 17.03.11

11:49 da tarde  

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