sábado, março 12

Um Medico



Um Medico de Fabrizio de André
Tradução livre

Em criança queria curar as cerejeiras
Quando olhado para os seus rubros frutos julgava-os feridos
Para mim a saúde deixara-os
Com as brancas flores da cor a neve
Que entretanto tinham perdido

Um sonho, foi um sonho que muito durou
Por isso jurei que seria médico
Mas não por um deus nem por prazer
Foi para que as cerejeiras voltassem a florir
Foi para que as cerejeiras voltassem a florir

E quando finalmente fui médico
não quis trair o menino pelo homem
E muitos vieram e chamavam-se “gente”
cerejeiras doentes em todas as estações .

E os colegas em conluio os colegas contentes
por lerem no meu coração a vontade de amar,
enviaram-me o melhor dos seus clientes,
com o diagnóstico escrito na face em todos igual:
doente de fome incapaz de pagar.

Só então entendi e fui obrigado a entender
que ser médico é apenas um mister
que ciência não a podes oferecer ás pessoas
se não quiseres padecer do mesmo mal,
se não queres que o sistema te lixe por fome.

E o sistema seguro é agarrar-te pela fome
nos teus filhos e na tua mulher que já te despreza,
então fechei num frasco aquelas flores de neve,
o rótulo dizia: elixir de juventude.

E um juiz, um juiz com face humana
enviou-me desfolhar os crepúsculos numa prisão
Inútil para o mundo e para os meus dedos
Carimbado para sempre como desonesto e aldrabão
Professor doutor desonesto e aldrabão.

Paolo Casella

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