segunda-feira, outubro 24

Equação impossível


2. Este orçamento não corta nas “gorduras” do Estado, mas pura e simplesmente no poder de compra da classe média. E corta de uma maneira violenta e desigual. Se o pretendido é um caminho recessivo não o podiam ter feito melhor.
Este governo empunhou como bandeira o corte das despesas excessivas do Estado e a reestruturação da Administração Pública. Perfeitamente de acordo. Mas, descobriu tarde demais que esse trabalho leva muito tempo até se verem resultados. É que é um trabalho de persistência e de método e não de fusões a eito. Como não há tempo para o fazer vá de cortar no que está à mão, com uma força desmedida para atingir um défice obsessivo.
E como grande parte das medidas tanto do lado da despesa como da receita (muitas delas mal balanceadas) vão ter um elevado impacto no crescimento interno, parece-nos perfeitamente irrealista contar com uma redução do PIB de apenas -2,8.

3. Numa economia carente de financiamento, assusta a forma como não se desbloqueiam os problemas do financiamento bancário, vital para as nossas empresas investirem e exportarem. Há já muitos casos de empresas que têm encomendas firmes destinadas à exportação e não as concretizam por falta de financiamento. Duas medidas urgentes deviam ser tomadas: a) renegociar com a Troika o rácio de 120 (para o crédito concedido/depósitos) imposto à banca, procurando que esse rácio venha a ser atingido de forma mais progressiva e mais correcta; b) enquanto o estado não diminui as dívidas com as instituições financeiras, permitir que parte dos famosos 12 mil milhões autorizados pela Troika sejam autorizados como colaterais para os bancos financiarem as exportações e as empresas com novos investimentos produtivos que permitam um melhor equilíbrio da nossa balança comercial. Claro que para isso é necessário negociar, que parece não ser aptidão deste governo. E não se venha dizer que não é possível, porque o caso da não aplicação da redução da taxa social única é exemplo claro que se pode negociar.

4. Este Orçamento é uma não solução, porque não se socorre de todas as variáveis que tem ao seu alcance. Torna-se numa equação impossível porque não tem em conta a variável tempo. Venho defendendo, há muito, essa abordagem realista. Recentemente, vários comentadores políticos (e não só) deram especial relevo a esse facto. Precisamos de cerca de 6 anos para atingir os objectivos/ défices propostos no memorando de entendimento. Economias muito mais fortes (casos do Reino Unido e da Catalunha) do que a nossa adoptaram prazos semelhantes. É urgente negociar, tendo em conta a variável tempo. Com realismo e inteligência chegaremos a uma equação possível. Só nos podemos indignar senão houver essa inteligência.

Carlos Oliveira Cruz, blog sedes, 24.10.11 link

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2 Comments:

Blogger Tavisto said...

Os bancos nacionais recusam-se a receber os 12 mil milhões que lhe forma destinados pela Troika, parte do montante do empréstimo concedido ao País. Por que será?
Já ouvi duas justificações: Tal implicaria uma maior vigilância da actividade bancária privada e os banqueiros não gostam de ser controlados; ou, tal obrigaria os bancos a abrir-se ao crédito de maior risco e risco é coisa que também não lhes agrada.
Sejam estes ou outros os motivos, uma boa razão deve haver para que quem tem fome recuse comida.

11:58 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Os bancos recusam receber os 12 mil milhões de euros porque querem mais e exigem, p. exº., que o Estado liquide as dívidas do seu sector empresarial (SEE).
Isto é, só o sector dos transportes públicos acumulou, durante os anos, uma dívida de 17 mil milhões de euros (segundo afirmou há 2 dias o Sec. Estado dos Transportes no forum da TSF)...
Como sabemos, o sector dos transportes representa uma pequena parte do endividamento do SEE. Mas só esta pequena "tranche" representa mais do que a troika aparece a "oferecer" (a impor).

Aliás, o Estado para fazer face ao defice publico (desorçamentando-o) "forçou" as empresas públicas a endividarem-se. Acabou capturado pelas administrações, foi "obrigado" a pagar-lhes com privilégios e, em simultâneo,"descurou" a (boa) gestão dessas empresas. O resultado está à vista.

Concluindo: os bancos têm de ter "paciência" porque - como todos suspeitamos - os portugueses serão "convocados", em nome de uma situação de emergência, a pagar. Enquanto existirem portugueses passivamente espoliáveis a liquidez do sistema bancário está assegurada.
E a colecta valerá muito mais do que os "pindéricos" 12 mil milhões de euros que estão comtemplados no "pacote de resgate"...

Este é o filme onde um sector aparentemente esfomeado recusa engolir migalhas. Querem o bolo todo!

11:41 da tarde  

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