sexta-feira, julho 20

Alguns encerramentos são insensatos


JP - Como membro da anterior comissão que reorganizou a rede de urgências o que pensa deste relatório de reavaliação?
Luís Campos - Em primeiro lugar a ideia de avaliar a reforma das urgências, como aliás qualquer reforma implementada, é fundamental. A nossa comissão já tinha, de resto, proposto um grupo de trabalho que monitorizasse a reforma de 2008 e fosse fazendo os ajustamentos necessários. Esta comissão avalia o grau de implementação da rede de 2008, mas falta-nos conhecer o real impacte ao nível da qualidade dos cuidados prestados aos doentes urgentes. Não sabemos, [por exemplo], se permitiu poupar vidas dos doentes politraumatizados. Por outro lado a proposta desta comissão é muito mais lata do que a definida em 2008, na medida em que inclui propostas sobre rede de referenciação, sistema de helicópteros, informatização dos serviços de urgência, indicadores de qualidade, entre outros.

JP - Concorda com as propostas?
Luís Campos - O grande critério estabelecido pela anterior comissão — haver um ponto de rede de urgência a menos de 30 minutos para, pelo menos, 90% da população — é cumprido pela proposta desta comissão, na medida em que isso é conseguido para 94,9% da população. Agora, nós entramos em linha de conta com outros critérios que não estão incluídos nesta proposta, como seja sinistralidade, risco industrial, variação sazonal e outros. Em relação à proposta concreta de encerramentos ou despromoção de nível de urgência, há situações que correspondem apenas à implementação do despacho de 2008. É o caso de algumas situações que permaneciam apenas até à integração em centros hospitalares ou melhoria das acessibilidades. Como exemplos temos Chaves, Mirandela, Fafe, Santo Tirso, Montijo e Peniche. As questões mais complicadas estão relacionadas com os SUB. A diminuição proposta de 45 para 34 é muito expressiva. Há casos em que, como disse, se trata apenas de implementar a proposta anterior. Existem outros em que a proposta é discutível mas aceitável. No entanto há situações em que me parece insensato o encerramento proposto, como são os casos de Lagos e Loulé, que são urgências caracterizadas por um movimento significativo, acima das 100 admissões por dia, com grande variação sazonal e em que o encerramento iria provocar uma sobrecarga intolerável paras urgências mais próximas. Fechar Lagos, por exemplo, signifi ca que poríamos a população de Sagres a 50 quilómetros de Portimão. O mesmo acontece em relação a Tomar, que é um núcleo populacional muito expressivo. Outro exemplo é o de Agualva- Cacém (que no relatório aparece como não SUB, mas que está a atender casos urgentes), porque serve a população de Sintra superior a 400 mil pessoas e serve de tampão ao Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) cuja urgência que funciona nos limites. Outro caso de diferente natureza é o de Idanha-a-Nova, que propusemos em 2008 e não está a funcionar. Se pensarmos na vastidão daquela região inóspita, é fácil perceber que aquela população beneficiaria muito com um SUB na Idanha ou mesmo em Penamacor.

JP - Portugal tem demasiados pontos de urgência, quando comparado com outros países?
Luís Campos - Eu acho que não tem demasiados pontos de urgência, se comparamos o número de urgências médico-cirurgicas ou polivalentes. Temos um número comparável ou mesmo inferior a outros países europeus. No entanto é preciso ver que temos um nível, o Serviço de Urgência Básica, que não existe em muitos outros países. Definir uma rede de urgências tem que ser em função das características do país. É preciso ver que em 2005 havia 73 serviços de urgência médicocirúrgicos ou polivalentes, dos quais 55% em hospitais com menos de 200 camas, o mínimo para que um hospital funcione para doentes agudos, e nós propusemos a redução para 44. Já é uma concentração muito substancial que nos parece trazer mais qualidade à rede urgências.

JP - E o que pensa da passagem de algumas urgências polivalentes para médico-cirúrgicas?
Luís Campos - Em relação à região do Porto, acho perfeitamente admissível que haja apenas duas urgências polivalentes, atendendo à população. Quanto aos Covões, isso decorre da criação do Centro Hospitalar de Coimbra.

JP - Mas a urgência dos Covões até foi fechada durante o período nocturno, o que penso ser inédito...
Luís Campos - Sim, não há urgências que fechem à noite. Se fecham à noite não são urgências. Essa é a definição que está consignada na lei portuguesa.

JP - O que preconiza para a região de Lisboa? Concorda com as sugestões deste grupo?
Luís Campos - Lisboa provavelmente não precisa de quatro SUP durante a noite. Bastaria um ou dois à noite, período em que passariam a funcionar como urgências médicocirúrgicas. Relativamente ao Garcia de Orta (Almada) e Évora, são hospitais que de facto não se equiparam e não evoluíram para SUP. Mas estas são situações que devem ser vistas ao nível das Administrações Regionais de Saúde e da decisão política. Se a decisão for de manter, o facto de não ter capacidade de responder num determinado nível, quer apenas dizer que tem que se investir nesses hospitais. Por outro lado, a rede de urgências está ligada à definição da rede hospitalar e essa coerência tem que ser decidida de forma integrada.

JP - A verdade é que, depois da vossa proposta, houve hospitais que investiram na remodelação e reequipamento dos seus serviços de urgência e que agora se vêem confrontados com a hipótese de fecho, como é o caso de Santo Tirso.
Luís Campos - Acho que as ARS deviam impedir investimentos que não se enquadram nas redes definidas. São investimentos que visam impor situações de facto mas que representam sinais de desperdício, intoleráveis nestes tempos.

entrevista de Alexandra Campos, JP 19.07.12

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5 Comments:

Blogger DrFeelGood said...

O que existe até agora são apenas “estudos técnicos”, sublinha Manuel Teixeira.

A reestruturação da oferta hospitalar, que inclui a reorganização das urgências e dos serviços de atendimento permanente, terá de avançar até ao final deste ano, revelou ontem o secretário de Estado da Saúde, Manuel Teixeira, em Évora.

"O Governo terá de ter, até ao final do ano, um plano específico sobre a reorganização da oferta hospitalar e nessa reorganização está a da urgência hospitalar, mas também os serviços de atendimento permanente", adiantou o governante. De acordo com o secretário de Estado, "o memorando da ‘troika' exige que, no final do quarto trimestre, tem de haver um plano aprovado" sobre a reestruturação da oferta hospitalar.

Manuel Teixeira falava aos jornalistas, no Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), depois de assistir a uma consulta por telemedicina e de proceder ao lançamento do acesso das instituições de saúde do Alentejo à Plataforma de Dados de Saúde
DE 19.07.12

É mais uma prendinha do Ministro da Saúde no sapatinho dos portugueses

10:40 da manhã  
Blogger DrFeelGood said...

O PSD de Santo Tirso mostrou-se hoje "apreensivo" com o eventual encerramento do serviço de urgência daquele concelho e disse esperar que o Governo "tenha em conta a espiral de perdas" no Hospital.

Em comunicado, a Comissão Política da Concelhia (CPC) de Santo Tirso do PSD disse discordar das conclusões do relatório da Comissão para a Reavaliação da Rede Nacional de Emergência e Urgência (CRRNEU), que prevê o encerramento de vários serviços de urgência no país, entre os quais o deste concelho.

"Apreensivo" com o eventual encerramento da urgência, o partido espera que o Governo, responsável pela aprovação do relatório, "tenha em conta" que, desde o encerramento da maternidade, em 2006, o Hospital de Santo Tirso tem assistido a uma "espiral de perdas constante".

Relembrou ainda que, agora integrado no Centro Hospitalar do Médio-Ave, o Hospital de Santo Tirso "perdeu para o Hospital de Famalicão" vários serviços, entre os quais a urgência médico-cirúrgica, o bloco de cirurgia, o serviço de ginecologia, a urgência de ortopedia e o internamento de pediatria.

Foram igualmente reduzidos outros serviços, como o de otorrinolaringologia e o encerramento, às 22:00, da urgência de pediatria e, às 00:00, a radiologia, assim como algumas análises passaram a ser feitas, a partir das 14:00, em Famalicão, aonde "muitas vezes" se verificou "o caos" no serviço de urgência.

"É também do domínio público que a urgência de Santo Tirso não é mais do que a placa giratória do Hospital de Famalicão. Mesmo em atos médicos de menor importância, os pacientes são aconselhados a dirigir-se às urgências de Famalicão", acrescentou o CPC do PSD.

Embora tenha "consciência da importância das reformas que o país precisa de fazer", o PSD de Santo Tirso reiterou que "não pode concordar" que o concelho continue nesta "espiral de perda, que penaliza ainda mais uma população já socialmente fragilizada", recordando que este se encontra entre os "quatro com maior taxa de desemprego e entre os cinco mais atingidos pela depressão".

"Achamos estranho e lamentamos que o senhor presidente da Câmara e a maioria socialista, nos últimos anos, tenham assistido pacificamente ao esvaziamento do Hospital de Santo Tirso e, agora, venham derramar lágrimas de crocodilo", frisou.

O partido apelou por isso ao ministro da Saúde, Paulo Macedo, que "tenha em conta a realidade social" de Santo Tirso e que considere, nomeadamente, "as acessibilidades e a mobilidade", orientando a sua "decisão com a sensatez que se impõe" e que passa por "manter" a urgência no concelho e "reforçar e recursos para melhorar os serviços que esta presta".

A CRRNEU prevê o encerramento de 16 serviços de urgência classificados enquanto tal num despacho de 2008, sendo estes os de Valongo, Oliveira de Azeméis, Idanha-a-Nova, Tomar, Montemor-o-Novo, Estremoz, Serpa, Lagos, Loulé, Macedo de Cavaleiros, Fafe, Santo Tirso, Peniche, Agualva-Cacém, Montijo e Lisboa (Hospital Curry Cabral, cujo encerramento já se efetivou).

Na proposta entregue ao ministro Paulo Macedo, sugere-se também a redução de valências de algumas urgências, pelo que assim ficam a funcionar como urgência 73 pontos no país: 10 urgências polivalentes (as mais completas), 29 de urgência médico-cirúrgica e 34 de urgência básica.

Lusa/19.07.12

10:43 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Valongo, 20 jul (Lusa) - Cerca de meia centena de pessoas manifestaram-se hoje, à porta do Hospital de Valongo, contra o encerramento parcial das urgências, no seguimento da apresentação de um estudo que prevê o encerramento deste serviço hospitalar.

Os populares, com vários cartazes com palavras de ordem contra o primeiro-ministro, exigiam a continuidade do funcionamento durante 24 horas do serviço de urgências do Hospital de Valongo, dias depois de ter sido divulgado o estudo da Comissão de Reavaliação da Rede Nacional de Emergência e Urgência, e que prevê o encerramento do serviço de urgência de Valongo e de outros 15 serviços classificados como tal.

O presidente da Comissão Política Concelhia do PS de Valongo, José Manuel Ribeiro, que também esteve presente na manifestação, admitiu que "a população não pode viver na incerteza e precisa de saber o desfecho desta situação".

"Hoje há uma urgência a funcionar 24 horas, mas queremos saber se isso vai continuar. Essa é uma resposta que não pode ser dada pelo presidente, simplesmente porque ele não sabe qual é. A resposta tem que ser dada pelo ministério ou pela Administração Regional de Saúde (ARS)", esclareceu José Manuel Ribeiro, que vincou ainda: "Nós estamos aqui para assumir a nossa postura contra o encerramento e para mostrar que vamos fazer tudo para que isso não aconteça".

De manhã, o presidente da Câmara de Valongo, João Paulo Baltazar, já havia garantido que "o encerramento do serviço de urgências do Hospital de Valongo não estava sequer em causa" e considerou "inútil a organização de manifestações contra o encerramento".

"Acho inútil na medida em que estamos a falar de uma coisa que não está prevista. Se vamos queimar cartuchos por uma coisa que não é real, perdemos a credibilidade um dia que realmente exista motivo para manifestar. Nesta altura, posso afirmar que o encerramento das urgências não está em causa e vou fazer tudo para que nunca esteja", afirmou o autarca.


Lusa/20.07.12

9:31 da tarde  
Blogger tambemquero said...

O governo do PSD/CDS tem vindo a impor decisões profundamente lesivas dos interesses das populações e dos utentes ao promover o encerramento de inúmeros serviços de saúde.
Face à crise e às medidas economicistas que estão a ser impostas ao povo português corre-se o risco de sérios retrocessos pondo em causa o acesso de milhares de utentes ao Serviço Nacional de Saúde. É reconhecido internacionalmente que o SNS é um dos de melhor qualidade não obstante os ataques que há muitos lhe são deferidos e que foi graças a ele que Portugal atingiu níveis de qualidade na saúde que países muito mais ricos estão longe de atingir.
A ofensiva agora em curso não visa a melhoria do SNS mas a sua degradação e a criação de melhores condições para a gula do sector privado.
A DORP do PCP por diversas vezes denunciou a redução de serviços, designadamente do número de camas em hospitais e a redução de profissionais de saúde em resultado do congelamento das carreiras profissionais, da arbitrariedade dos contratos individuais de trabalho e de processos de reestruturação, num processo escandaloso de encerramento de serviços públicos para favorecer os privados.
Este rumo de destruição do Serviço Nacional de Saúde (SNS) – iniciado por anteriores governos – tem agora uma nova e mais grave etapa com novas ameaças de encerramento dos serviços de urgência em Valongo e em Santo Tirso e com a despromoção das urgências dos hospitais de Amarante, da Póvoa de Varzim e de Vila Nova de Gaia. Uma perspectiva profundamente lesiva dos interesses da população do distrito e geradora de graves injustiças e problemas sociais, como se comprova pelos exemplos:

Santo Tirso
O serviço de Urgências médico-cirúrgicas foi convertido recentemente em serviço de urgência básica, tendo o hospital recebido obras significativas de melhoramento neste sector. O funcionamento do serviço de urgências neste Hospital não acarreta custos financeiros acrescidos, uma vez que o apoio médico é feito pelos médicos do internamento. Agora, paira a ameaça de encerrar definitivamente o serviço de urgência neste Hospital que serve a população do concelho de Santo Tirso, da Trofa e de algumas freguesias de Paços de Ferreira e da Maia. A concretização desta decisão favorece os privados instalados e poderá conduzir ao despedimento de trabalhadores afectos ao serviço de urgência.

Valongo
O estudo divulgado propõe o encerramento total de todo o serviço de Urgências. Segundo informações da Administração do Centro Hospitalar S. João, no qual se inclui o Hospital de Valongo, nos últimos 4 anos, as urgências de Valongo foram utilizadas por 231 000 utentes, ou seja, em média por 60 mil pessoas/ano e 160 pessoas/dia. Assim se demonstra que se trata de um serviço muito procurado. O PCP sabe que está em discussão no Ministério da Saúde a substituição do serviço de urgências por uma "ambulância de piquete", procurando iludir a população quanto à real (in)capacidade de resposta às suas necessidades. O Hospital de Valongo serve actualmente os concelhos de Valongo e algumas freguesias de Paredes e Gondomar, totalizando cerca de 220/230 mil pessoas. A confirmar-se o encerramento das urgências, o único serviço de saúde a funcionar 24h/dia é recentemente inaugurado Hospital Privado de Alfena.

Porto, 18 de Julho de 2012
A DORP do PCP

9:34 da tarde  
Blogger tambemquero said...

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Amarante
Após em 2007 o serviço de urgência do Hospital de São Gonçalo ter sido despromovido para um serviço de urgência básico com actividade cirúrgica, este serviço sofre uma nova despromoção, sendo-lhe retirada a valência cirúrgica. A concretizar-se, este “plano” irá obrigar a que milhares de utentes tenham de percorrer distâncias ainda maiores para o Centro Hospitalar Tâmega e Sousa, em Penafiel.

Póvoa de Varzim
O Hospital da Póvoa de Varzim está integrado no centro hospitalar Póvoa/Vila do Conde. Foram já encerradas as urgências do Hospital de Vila do Conde. Agora querem cortar ainda mais, reduzindo valências das urgências do Hospital da Póvoa, passando de serviço de urgência médico-cirúrgica para serviço de urgência básica, sendo este o único serviço público de urgências a funcionar nos concelhos de Vila do Conde e Póvoa de Varzim, ficando o serviço público de urgências médico-cirúrgicas mais próximo em Matosinhos (forçando a população à utilização da A28, recentemente portajada por via do fim das SCUT). Mais uma decisão que, a concretizar-se favorece os privados que têm unidades construídos e outra, de grandes dimensões, em construção.

Vila Nova de Gaia
O mais populoso concelho do distrito, cujo hospital abrange ainda parte significativa da população do norte do distrito de Aveiro, servindo aproximadamente 500 mil pessoas. Nos últimos tempos têm-se registado problemas de falta de material (consumíveis) e crescem as denúncias da falta de condições dignas de funcionamento do serviço de urgências. Em vez de construírem as novas instalações há muito prometidas, propõem a redução de serviços, passando de Serviço de Urgência polivalente para serviço de urgência médico-cirúrgica.

A DORP do PCP não aceita que a submissão ao Pacto de Agressão que o PS, o PSD e o CDS assinaram com a troika estrangeira imponha o afastamento de milhares de pessoas do acesso à saúde. A saúde não pode ser entregue ao negócio, nem o acesso aos cuidados um privilégio. A Saúde é um direito constitucional que o Estado tem a obrigação de assegurar e que o governo que não pode sabotar nem entregar a privados.A DORP apela à população da região para que lute e resista a estes ataques aos seus elementares direitos, contra estes encerramentos, pela defesa do SNS e a derrota do pacto de agressão e a política de direita.

Porto, 18 de Julho de 2012
A DORP do PCP

9:35 da tarde  

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