terça-feira, julho 17

Greve dos médicos

 A derrota do governo e dos seus papagaios
A greve dos médicos não foi uma teimosia nem uma decisão inútil. Ao contrário, foi uma necessidade perante a arrogância de Paulo Macedo.
A greve dos médicos constituiu uma pesada derrota para o governo e para a política do ministro da saúde. Na coluna dos derrotados, estão também os habituais papagaios de serviço - alguns comentadores e editorialistas – e outros, menos habituais mas que, desta vez, vieram em socorro de quem os nomeou e lhes paga, o ministro Paulo Macedo: alguns, muito poucos, diretores hospitalares prestaram-se a esse triste papel. Agora, deviam demitir-se perante a dimensão da greve.
Todos preocupadíssimos com a falta que os médicos iriam fazer à população naqueles dois dias de greve. Gente que nunca levantou um dedo contra a falta de médicos de família, a quebra dos stocks de sangue, a diminuição dos transplantes, o fecho da MAC e de centenas de SAPs e extensões de centros de saúde, o regresso das listas de espera, o aumento das taxas moderadoras, a redução de centenas de milhar de consultas nos hospitais e centros de saúde do SNS, tudo obra do ministro da saúde no curto período de um ano.
Sobre isto – que é o que mais importa - nem uma palavra. Perderam em toda a linha: os portugueses compreenderam, aceitaram e apoiaram a greve dos médicos, a maior de sempre e, como tal, a que maior impacto teve no funcionamento dos serviços de saúde. A derrota desses papagaios é a maior vitória da greve: toda a população percebeu que os médicos lutam e querem um SNS mais capaz de responder prontamente e com qualidade às necessidades dos doentes.
A qualidade do SNS é a qualidade dos seus profissionais. As carreiras são a garantia dessa qualidade através de uma formação exigente. O lema da greve foi muito claro: médicos de carreira sim, médicos tarefeiros não. O governo só quer poupar mesmo que isso seja feito à custa da qualidade dos cuidados prestados. O governo quer médicos tarefeiros, à hora, colocados por empresas de aluguer de mão de obra, hoje uns amanhã outros, pagos a preço de saldo. Tal como quer fazer com os enfermeiros.
A greve dos médicos não foi uma teimosia nem uma decisão inútil, como é voz corrente entre aqueles papagaios. Ao contrário, foi uma necessidade perante a arrogância de Paulo Macedo. E foi de grande utilidade porque obrigou o ministro a regressar às negociações do novo regime de trabalho dos médicos com base na contratação coletiva das carreiras médicas, na realização de concursos para preencher as vagas existentes e na suspensão da contratação de médicos tarefeiros a não ser em casos urgentes e devidamente justificados. Em breve saberemos se o ministro cumpre aquilo com que se comprometeu…
João Semedo, esquerda net, 16.07.12

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